Frente Ampla e Unidade Popular 

"A unidade é a bandeira da esperança".  João Amazonas

Frente Ampla e Unidade Popular 

Frente Ampla e Unidade Popular 

Paulo Vinícius da SIlva

"A unidade é a bandeira da esperança". 

João Amazonas


¿Por qué no unirnos?
Y luchamos como hermanos
Por la Patria que está herida
Nuestra Patria la que amamos

Dispersos. Alí Primera

Desde menino, eu me encantei com essa riqueza dos comunistas, ainda quando pequenos, miram longe, e fazem sua política virar realidade, e com esse espírito devemos agir para salvar o Brasil. A pátria está em grave perigo. Essa é a régua para medir a discussão em torno da Frente Ampla ou de Esquerda como caminhos para tirar o Brasil da crise que vivemos, agônica sob Bolsonaro. De lá para cá, muitas foram as críticas à Frente Ampla, defendida pelo PCdoB, e o debate não cessa. A renitência decorre da justeza da posição, de sua efetividade.

No Genocídio, nas poucas vezes em que o povo ganhou, foi graças à Frente Ampla. Ganhamos quando a esquerda influenciou além de suas hostes, quando pôde articular mesmo seus adversários e teve o apoio da maioria do povo. Na eleição de Rodrigo Maia à Presidência da Câmara, na primeira vitória do Auxílio Emergencial, na Lei Aldir Blanc, na CPI da COVID, em todas essas situações, evidenciou-se a única tática vitoriosa sob a égide do Golpe, a de Frente Ampla. Por que? Porque fomos golpeados e somos minoria no sistema político deformado. Não adiantam apenas votos da esquerda. E não há quem possa salvar a política de quem não sabe sequer contar.

O impeachment de Dilma foi um Golpe, a Presidente afastada sem crime foi o símbolo da violação da Soberania Popular, sob cuja égide vige e sangra o Brasil. Temer jamais teria o voto dos brasileiros e brasileiras para presidente, foi eleito indireta e dolosamente por uma maioria do Congresso que estava a mando de Eduardo Cunha. Bolsonaro só foi eleito graças à manipulação e à fraude, além da conivência e omissão de agentes políticos, da imprensa golpista e do Supremo, que negou ao povo brasileiro o direito de ter Lula na disputa de 2018. Até no segundo turno, menosprezaram o perigo assassino que hoje nos mata. Portanto, o que houve aos últimos três mandatários do Brasil deixa claro que, nas eleições de 2022, até voto é possível que valha.

Mas, que Brasil sobrará para ser administrado? Quem escapará vivo?! Eles respeitarão o resultado e o governo? Teremos maioria? Tais perguntas importam porque esclarecem que a eleição leva apenas a uma parte do poder. Nessa teia, e com a CIA "mexendo os pauzinhos", foi graças ao julgamento "superior" do ápice da pirâmide de classes brasileira, que chegamos a essa hecatombe que varre o país em todos os campos. A Pátria sofre, sangra, morrem centenas de milhares de pessoas, as empresas quebram, a vida piora para todos, os museus incendeiam, e os ladrões, milicianos e fascistas cometem seus crimes à luz do dia, esfaqueando a Nação Brasileira, destruindo-lhe as riquezas, como um banquete de hienas.

É esse período aziago, em que o poder do voto popular foi "suspenso" em favor dos votos dos Deputados e Deputadas, Senadores e Senadoras, ou dos juízes em todos os níveis, eis o tempo em que lutamos. Não nos é dado escolher, muitas vezes, nem o campo de batalha, nem as armas que temos à mão, só nos resta o engenho e a determinação de lutar. Por isso, precisamos de mais política e força de massas, e menos de fanfarrões cujas frases não mudam a vida.

A Frente Ampla é uma tática justa em situações de extrema defensiva, mas não se resume a uma política defensiva, muito ao contrário. Não é uma tática nova, foi defendida e aplicada pelos comunistas, e seu êxito foi demonstrado historicamente em situações desesperadoras, a exemplo da luta contra o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Certamente, nunca foi uma tática unânime, mas objeto de acerba polêmica no seio da Terceira Internacional. Todavia, foi a partir destas alianças amplas e inclusive com setores burgueses (mas salvaguardadas pela força da URSS), que foi possível isolar e, por fim, bater o nazi-fascismo.

Churchill, Roosevelt e Stalin, os Três Grandes que enterraram o nazi-fascismo em estátua que os celebra na Crimeia.


Por que? A tática da Frente Ampla é a única que pode permitir dividir inclusive o campo adversário, no Brasil sequestrado pelo entreguismo, pelas milícias e pela corrupção. A Frente Ampla não privilegia os adversários do passado, mas os imprescindíveis aliados do presente, sem cujos votos, não será possível levar ao justo Impeachment o Presidente genocida, entreguista e inimigo da democracia.

Afora essa questão de matemática simples, mas que definirá se Bolsonaro segue a presidir impunemente o genocídio do povo brasileiro, até 31 de dezembro de 2022, existe uma questão bem mais profunda, que se refere ao bolsonarismo representar parte importante do campo politico brasileiro, fato infeliz e transcendente que deve nos levar à radical concepção democrática da Frente Ampla.

As monstruosidades que saem da boca de Bolsonaro chegam no nosso vizinho, estão nas nossas famílias e até em nossas casas. A conciliação de que devemos ser capazes é ainda mais ampla e profunda. A Frente Ampla é a própria possibilidade da reconciliação nacional, encontrarmos a saída desse delírio capitalista, o triste Brasil sob Jair Bolsonaro. Até esse dia, há muito o que fazer, muito que unir, pois a desunião foi semeada como um câncer.

O que o Brasil vive hoje, não foi um raio sob um céu azul, mas foi preparado meticulosamente, sendo o nosso país um dos palcos das chamadas Guerras Híbridas. Nelas, as fragilidades da construção da Nação, são exploradas como tensões no seio do povo. E chagas, como a escravidão, o racismo, a opressão da mulher e as desigualdades militam para destroçar a própria Nação Brasileira, que nos cumpre defender nessa hora de crise.

Com o advento da internet e das redes sociais e smartphones, uma crescente alienação se afirma diante de pessoas que passam a ter duas vidas, em paralelo: a vida real e aquilo que dizemos ser a nossa vida nas redes sociais. Afora isso, há todo um mundo para além de nós. O big data é o olho que tudo vê, que junta as pontas de tantas pistas digitais sobre nossas almas. É esse mapa consolidado e íntimo que passa a guiar a propaganda política e o marketing digital.

É nesse novo contexto, que fenômenos antigos são reciclados, a exemplo da eficácia da propaganda nazi-fascista, que hoje é o próprio núcleo moral do que se popularizou como Fake News. Assim, não é à toa que essa parcela imensa (imagine, 20% ou mais) esposa ideias flagrantemente mentirosas, preconceituosas, que dialogam não apenas com os fatos, mas com aspectos recônditos e problemáticos de nossa psique num mundo em profunda crise. Chegam ao ponto absurdo de mentir contra as vacinas que podem lhes salvar.

É esse ambiente de ideias doentio e anômalo que é sustentado à força de vultosos recursos, que somente de relance vislumbramos. O capital financeiro é rentista e parasitário, e é ele que dirige a orgia, é ele que enche os bolsos enquanto as guerras se sucedem e o mundo afunda.

As ideias de extrema direita, as campanhas anti-vacina, o fundamentalismo religioso rasteiro e preconceituoso, o niilismo e o hedonismo, a ridicularizacão universal, o humor do ódio e do preconceito, o racismo, o consumismo ecocida, todo esse chorume é nutrido a partir de bilhões de dólares que escorrem para as redes sociais da mesa do capital financeiro, e a partir de uma clara lógica: dividir para reinar. Mais uma vez querem que a mentira, mil vezes, repetida vire uma verdade, mas não!

Assim, a relevância de Bolsonaro e da mentira é financiada, e a divisão nacional é o ferramental do imperialismo em seus propósitos desestabilizadores. No passado, face a uma nova fronteira tecnológica - a do rádio e da TV, das demonstrações de massas, dos jornais e do discurso - o nazi-fascismo pôde mesmerizar parte da opinião pública e levá-la até o cadafalso e à hecatombe. Essas ferramentas foram atualizadas, e é seu uso que vivenciamos no Brasil e alhures, nova forma de dividir as sociedades e causar-lhes a ruína. Quem ganha com isso?


Essa é a verdadeira guerra cultural, que venceu no Brasil, desde 2013, porque atingiu seu principal objetivo: dividir de modo inconciliável o nosso povo, porque esse é o objetivo central da Guerra Híbrida, impedir que as nações possam construir um novo sistema mundial multipolar, em meio à notável ascensão chinesa sob seu socialismo de mercado.

À pretensão de unipolaridade estadunidense, proclamada ao fim da URSS, vemos se sucederem tempos de mudança, naquilo que Bolívar chamava de "equilíbrio do universo", qual seja, o próprio Mapa do Mundo. Assim, seja contra a China, seja contra a Rússia, seja contra Cuba, seja contra o Brasil, o imperialismo estadunidense trabalha insone para dividir e pôr em guerra os irmãos, as famílias e os povos que lutam por sua independência e desenvolvimento. A essa imensa força dissolvente, é que somos chamados a afirmar o Brasil, a Democracia e o Desenvolvimento.

Por isso, a Frente Ampla é imprescindível, e não é manobra defensiva, muito ao contrário, é a única ofensiva que verdadeiramente importa para um povo sangrado como o nosso. Como é possível, hoje, termos mais de 554 mil mortos, a contar, e persistirmos divididos como estamos, em vez de nos unirmos para deter o genocídio?!

Vivemos todas as semanas sucessivas violações da democracia e ameaças reiteradas de Golpe, que visam às eleições de 2022, feitas por ninguém mais que o Presidente da República. Por todo o país, uma massa de manobra foi mobilizada a se armar, e infiltra-se nas forças policiais e nas próprias forças armadas, como vemos diariamente. Não há razão para otimismo quanto ao compromisso democrático de quem promoveu o genocídio Brasileiro. Toda a alegria com a liberdade e a devolução dos direitos políticos do Lula, com seu crescimento nas pesquisas, nada disso, por si só, pode nos tranquilizar. É preciso uma ampla retaguarda para resistir ao que se erigiu no Brasil, os maiores retrocessos e tragédia já vividos. Mas só isso também não bastará.

A necessidade de unidade é muito mais profunda. Por um lado, atinge a própria Nação Brasileira, vinculando-se à dimensão da Democracia e da Soberania, que é de unir a maioria absoluta dos brasileiros e brasileiras e isolar o bolsonarismo e a extrema direita. Mas, por outro, confunde-se com a nossa própria História de acordos pelo alto no Brasil. Do mesmo modo que eles golpearam Dilma, poderão golpear Lula ou qualquer outro(a). Que garantia teremos?!

Infelizmente, a vida não dá garantias. Mas, ensinou Guimarães Rosa, o que a vida pede de nós é coragem. Não podemos nos assombrar com o que teremos de fazer para isolar Bolsonaro. Sobretudo, deve nos incomodar profundamente a divisão da esquerda num momento de tão grande sofrimento do país, e em que o povo tem tanta clareza de que a saída passa por Lula, fato demonstrado em sucessivas pesquisas. Os caminhos tortuosos na História são a regra, e em vez de uma Frente Ampla sem o PT, ou de uma Frente de Esquerda sem os que votaram contra Dilma, a História nos leva para uma imprevista Frente Ampla com Lula, mas só se tudo der muito certo. Meu palpite é que Lula será o maior defensor da Frente Ampla

Diretas Já, PCdoB no Vale do Anhangabaú e as bandeiras encarnadas que os aliados tentaram proibir. 

 

Nós somos essa consciência avançada contra a burguesia, que age como uma pedra - lembro Drummond - no meio do caminho. A Frente Ampla é imprescindível. A unidade popular é imprescindível. Lula é imprescindível. E, historicamente, o papel do Príncipe Moderno, o Partido Comunista, tem sido exatamente esse, unir o líder, unir as massas, e saber aproveitar o momento histórico. Por isso, renitente, o PCdoB diz: Frente Ampla. E por isso, também, o PCdoB é a força mais consequente em defesa da unidade da esquerda. É preciso lembrar das lições do comunista Italiano Palmiro Togliatti contra o Fascismo:

Quando falamos de "adversários", não visamos as massas que estão inscritas nas organizações fascistas, social democratas, católicas, mas as massas que aderem a elas não são nossos adversários, são massas de trabalhadores que devemos fazer todos os esforços para conquistar.

A complexidade do tema da unidade é também observada em cada uma das vitórias da esquerda nas eleições latino-americanas, iniciando por Hugo Chávez, em 1998, eleito na Venezuela. Dizia Chávez liderar uma Revolução pacífica, mas armada. Não foram as guerrilhas urbanas ou rurais, não foi a tomada do Palácio de Inverno, foi uma mescla de eleição e poder popular, povo organizado e na luta. Verificamos em todas as experiências latino-americanas de governos progressistas o mesmo papel central da unidade das frentes político-sociais que chegaram ao governo, cuja prova de fogo foi o povo defender sua democracia nas ruas. E em todos os casos, demonstrou-se a falta que a amplitude e a unidade fazem, às vezes ao custo da derrota e do genocídio.

Assim, em vez de três caixinhas (luta de ideias, de massas, eleitoral), a experiência histórica recente mostra que é a sinergia dessas formas de luta, se atua em momento decisivos, que abre novos ciclos de acumulação política, e podem desbravar as veredas do desenvolvimento nacional. Ao veto dos golpes, das armas, da guerra híbrida, do impeachment sem crime, da desestabilização, é preciso opôr uma nova força de massas, uma nova institucionalidade e uma nova economia, sobre os escombros e mortos, vítimas do neoliberalismo bolsonarista. Carecemos de uma união que nasça, mas não cesse na esquerda.

Recordemos que nossa história recente é indelevelmente marcada pela Frente Brasil Popular, proposta pelos comunistas, ainda em 1989, e que foi decisiva na Encruzilhada Histórica vista por Amazonas. Foi uma ousadia, e abriu caminhos até hoje. E o nosso desafio é dirigir a ampla maioria do espectro político. Assim, não será Frente Ampla X Frente de Esquerda, de modo algum. Na verdade, sem a unidade da esquerda consequente, não lograremos a unidade ampla do povo brasileiro. Apenas a esquerda será insuficiente, mas sem sua unidade a derrota é certa. Será também necessário às forças de centro-direita purgarem o bolsonarismo, sob pena de serem a ele submetidos, como agora. Assim, não se trata apenas de ter votos em 2022, mas de garantir desde já o progressivo isolamento da extrema direita em defesa da democracia, o que só poderá ser feito articulando Frente Ampla e Unidade Popular.