Computador de agente secreto demitido pela Abin intriga PF

Computador de agente secreto demitido pela Abin intriga PF

Paulo Cappelli

Computador de agente secreto demitido pela Abin intriga PF

Perícias feitas pela PF em computador de agente secreto demitido da Abin não conseguiram apontar culpa em vazamento de informação sigilosa

 

PF faz operação para apurar crime cometido por agente secreto da Abin

Polícia Federal (PF) apreendeu o computador e o celular de um agente secreto demitido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em fevereiro, por suspeita de vazar uma informação sigilosa.

Até o momento, contudo, a perícia feita pela PF nos equipamentos não conseguiu concluir se o servidor em questão foi, de fato, o responsável pelo vazamento. A análise da principal prova, a foto de um monitor, intrigou os dois peritos que se debruçaram sobre o material. A coluna teve acesso ao inteiro teor da investigação.

 

O inquérito apura se o servidor Cristiano Ribeiro fotografou a tela de seu computador, na sede da Abin, para municiar uma reportagem sobre Flávio Bolsonaro e Alexandre Ramagem, então chefe da agência, em 2020.

Ao apontar um suposto desvio de finalidade na Abin, a matéria reproduzia um organograma detalhando os chefes de cada setor na agência. Por descuido, o agente secreto deixou aparecer uma parte da borda do computador. Veja, abaixo, o documento vazado e outros detalhes da investigação.

O procedimento administrativo disciplinar (PAD) aberto pela Abin usou o critério de exclusão para apontar o suposto autor do vazamento. Ribeiro e outros 18 servidores acessaram o organograma na caixa de e-mail, mas só Ribeiro, segundo a corregedoria, usava um monitor com características semelhantes à da foto.

“A espessura de borda lateral do monitor AOC, modelo M2470PWH, é compatível com a quantidade de borda visível na imagem vazada. Além disso, a forma contínua e texturizada do monitor é compatível com a da imagem analisada, inclusive quanto aos efeitos de difusão da luz na textura”, diz trecho do documento produzido pela corregedoria da Abin.

PF diz ser impossível atestar uso do monitor

A perícia da Polícia Federal, contudo, diz não ser possível garantir que o monitor que aparece na foto é o mesmo que, à época do vazamento, era usado por Ribeiro. A PF fez operações de busca e apreensão tanto na sede da Abin quanto na residência do agente, em Brasília.

Diz o laudo produzido por dois peritos da Polícia Federal ao comparar o computador de Ribeiro com o da imagem vazada:

“A borda lateral (ou moldura) do monitor retratada IMAGEM_QUESTIONADA é apenas parcialmente visível, não sendo possível atestar sua compatibilidade (ou incompatibilidade) com o MONITOR_QUESTIONADO apreendido em diversos aspectos relevantes, como dimensões, formato e textura.

Em especial, os efeitos de reflexão da luz na superfície da borda lateral no monitor retratado na IMAGEM não são passíveis de caracterização por fatores como contraste, resolução e artefatos de compressão”.

A PF continuou:

“Tanto o MONITOR_QUESTIONADO apreendido quanto o monitor retratado na IMAGEM_QUESTIONADA apresentam suas telas circunscritas a uma moldura lateral na cor escura. A moldura no MONITOR_QUESTIONADO apresenta pequeno relevo em relação ao plano da tela.

Em relação à IMAGEM_QUESTIONADA questionada, não é possível determinar se a correspondente moldura apresenta relevo em relação ao plano da tela por fatores como contraste, resolução e artefatos de compressão”.

Por fim, concluiu a PF:

“Levando-se em consideração o material encaminhado e os exames realizados, por meio da verificação das convergências e divergências observáveis entre os materiais confrontados, sua relevância e recorrência, os peritos concluem que as evidências obtidas nem suportam nem se contrapõem à hipótese de que o objeto de interesse representado na IMAGEM_QUESTIONADA é o objeto MONITOR_QUESTIONADO apreendido e apresentado como suspeito”.

Casa Civil

O procedimento administrativo disciplinar (PAD) aberto pela Abin culminou com a demissão de Ribeiro em fevereiro deste ano. Na esfera judicial, contudo, o caso segue aberto. E passados três anos do início do inquérito policial, instaurado em março de 2021, a PF ainda trabalha para concluir seu relatório final.

O caso corre em segredo na 12ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, que apura o crime de violação de sigilo funcional. Se a Justiça considerar que Ribeiro é inocente, o ex-servidor poderá anexar o processo a um pedido de readmissão feito à Casa Civil da Presidência da República.