Primárias no Chile consolidam políticos jovens e marcam preferência do eleitorado por propostas da esquerda

Coalisão Aprovo Dignidade, de esquerda, obteve 55% dos votos totais, enquanto Chile Vamos, de direita, obteve 45%; Daniel Jadue, favorito em todas as pesquisas, ficará fora do pleito

Primárias no Chile consolidam políticos jovens e marcam preferência do eleitorado por propostas da esquerda

 

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Primárias no Chile consolidam políticos jovens e marcam preferência do eleitorado por propostas da esquerda

 

Coalisão Aprovo Dignidade, de esquerda, obteve 55% dos votos totais, enquanto Chile Vamos, de direita, obteve 45%; Daniel Jadue, favorito em todas as pesquisas, ficará fora do pleito

ALDO ANFOSSI

La Jornada La Jornada

Santiago (Chile)
 

As eleições primárias presidenciais no Chile concluíram com as inesperadas e rotundas vitórias dos candidatos Gabriel Boric, da coalizão de cinco organizações esquerdistas da Frente Ampla, e do independente direitista Sebastián Sichel, da oficialista coalizão Vamos por Chile.

Ambos os vencedores são absolutamente inesperados: Boric só conseguiu em meados de maio reunir às pressas e em apenas algumas semanas as 34 mil assinaturas que necessitava para se inscrever como aspirante presidencial de seu partido Convergência Social.

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Já Sichel, um diletante ex-ministro piñerista que passou por vários cargos governamentais e sem nenhum arraigo organizacional consistente, impôs-se contra todas as possibilidades, e por muito, ao favorito da centro-direita. 

Boric, de apenas 35 anos, é um ex-dirigente dos estudantes universitários que, em 2011, junto aos secundaristas protagonizaram protestos em massa por reformas do sistema educacional, e que agora é deputado. Ele se impôs com 60% das preferências sobre Daniel Jadue, o candidato do Partido Comunista e reeleito prefeito pela segunda vez da populosa comuna de Recoleta, em Santiago, e que figurava como favorito nas pesquisas. 

Sichel, 46 anos, um neoliberal renegado de sua origem democrata-cristã e que passou por diferentes agrupamentos antes de fixar-se na direita, venceu ao favorito aspirante Joaquín Lavín, da pinochetista União Democrata Independente (UDI); ao ex-ministro e ex-deputado Maria Desbordes, do direitista partido Renovação Nacional (RN); e Ignacio Briones, um recém-chegado à política, ex-ministro da Fazenda piñerista e representante do neoliberal partido Evolução Política (Evo Poli).

Com quase 95% dos votos apuradps, o pacto Aprovo Dignidade (Boric + Jadue) somava um 1,652 milhão de sufrágios diante de 1,276 milhão do pacto Chile Vamos (Sichel + Lavín + Desbordes + Briones). Aproximadamente, 55% da oposição frente a 45% da direita.

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O independente e ex-ministro Sebastian Sichel e o jovem deputado e ex-líder estudantil Gabriel Boric, respectivamente

Pancadas no establishment político

As vitórias de Boric e Sichel são verdadeiras pancadas no establishment político. Ninguém dava um peso para eles há apenas alguns dias, nunca foram favoritos nas pesquisas que erraram brutalmente mais uma vez, ambos enfrentando maquinarias de reconhecida experiência que operavam contra eles. 

"É uma derrota, primeiro, para a direita, que teve 45% dos votos diante dos 55% da esquerda; que se inclinaram diante de um independente apoiado pelos empresários e os poderes fáticos. Segundo, é uma derrota para o PC [Partido Comunista], que fica fora da competição quando seu líder encabeçou por um bom tempo as pesquisas. Finalmente, é um triunfo de uma nova geração de políticos, jovens e com ideias inovadoras”, opinou Mauricio Morales, acadêmico da Universidade de Talca.

"O que ocorre é o fim de um ciclo de políticos experientes que dão passagem a uma nova geração. Deverão romper desde o centro, não têm mais espaço. Seguramente, Sichel e Boric não descuidarão os extremos que formam parte de suas coalizões, o que poderia abrir espaço no centro para a candidatura da Unidade Constituinte (UC)”, agregou Morales.

Erros da velha Concertação

Isso de UC se refere à velha Concertação, a coalizão que integraram (e integram informalmente) os partidos Democrata Cristão, Socialista, Pela Democracia e Radical, que por seus erros ficaram sem competir este domingo e que agora pretendem levantar uma candidatura. 

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A analista Lucia Dammert, da Universidade de Santiago, disse que “a direita votou por um independente, mais jovem e menos vinculado com o passado”, enquanto “na esquerda, o sectarismo de Jadue lhe fez muito dano”. 

"Sichel conseguiu mostrar-se como independente, afastado do passado, representante de um Chile meritocrático. Boric cresceu porque mostrou que pode ser sério e ademais por sua abertura para a conversação com outras forças, muito menores e isso ajuda”. 

As eleições presidenciais serão em novembro.

Aldo Anfossi, especial para La Jornada desde Santiago do Chile

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Tradução: Beatriz Cannabrava