Mourão, o candidato

O vice-presidente tem sido figurinha fácil no Rio Grande do Sul, estado pelo qual vai disputar uma vaga para o Senado. Como parte da estratégia, até trocou o sotaque carioca pelo gaúcho

Mourão, o candidato

Mourão, o candidato

O vice-presidente tem sido figurinha fácil no Rio Grande do Sul, estado pelo qual vai disputar uma vaga para o Senado. Como parte da estratégia, até trocou o sotaque carioca pelo gaúcho

Crédito: Romério Cunha

EM CAMPANHA O vice-presidente em visita à Fenasoja, no município gaúcho de Santa Rosa (Crédito: Romério Cunha)

 

 

Eleições 2022

ARTHUR LIRA Segundo na sucessão, também deixou o País para não inviabilizar sua reeleição (Crédito:Divulgação)

A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas o vice-presidente, Hamilton Mourão, recém-filiado ao Republicanos, tem sido presença constante em agendas oficiais no seu estado natal, o Rio Grande do Sul, por onde anunciou que vai disputar uma vaga no Senado. Visita a obra de hospital, inauguração de estrada e aeroporto regional, almoço com empresários, participação de cerimônia de abertura de feiras, tudo é motivo para os “compromissos oficiais” de Mourão por Porto Alegre e várias cidades do interior gaúcho. Até para “ato de outorga do título de cidadão de Alegria” o vice viajou, no dia 30 de abril.

Mesmo quando está no gabinete da vice-presidência em Brasília, no Planalto Central, Mourão acha um jeito de se fazer presente nos pampas, seja recebendo prefeitos do interior gaúcho, seja por meio de entrevistas para a imprensa local. Nas últimas semanas, vários prefeitos tiveram audiência com o general – aparentemente o pré-requisito era ser gaúcho, porque foram recebidos apenas prefeitos do Rio Grande do Sul. Mesmo em Brasília, ele não deixa os conterrâneos. Frequentemente, diretamente do gabinete, vem concedendo entrevistas para veículos de imprensa regionais.

Mas o vice prioriza o corpo a corpo. No dia 8 de abril, saiu de Brasília rumo a Pelotas, para participar da inauguração da duplicação de duas rodovias federais, a BR 116 e da BR 392. No mesmo dia também esteve em Bagé, para visitar as obras da Unidade de Radioterapia da Santa Casa de Caridade do município. Em Passo Fundo, entregou as obras de ampliação do aeroporto regional, de onde retornou para o Distrito Federal.

Gaúcho de Porto Alegre, Mourão se fixou em várias regiões durante sua carreira militar. Passou grande parte da vida no Rio de Janeiro, onde até hoje tem residência, mas morou também no Amazonas. Quando se lançou como vice na chapa de Bolsonaro, em 2018, estava morando na capital fluminense, onde presidia o Clube Militar. Depois de tanto tempo na cidade, passou a ter sotaque carioca, com o “s” e o “r” característicos. Isso agora virou um problema para sua pretensão política. Depois de assumir que é pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, voltou a falar com sotaque gaúcho. Trocou pelo menos por ora a cultura da “praia com uma gelada” para o “churrasco com chimarrão” – naturalmente, com a devida ênfase no “r” dobrado.

RODRIGO PACHECO Pela primeira vez o presidente do Senado, segundo na linha de sucessão, assume a Presidência (Crédito:Ueslei Marcelino)

A candidatura tem feito o general cumprir uma logística complicada. Na ausência de Bolsonaro, ele evita assumir a Presidência. Tem sido obrigado a se deslocar para o exterior quando o chefe não está no País. O Uruguai é o destino nesta sexta-feira, 6. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), segundo na linha de sucessão, também está fora, em Nova York. Se assumissem a presidência a menos de seis meses das eleições, eles ficariam impedidos de disputar as eleições de outubro – Lira tenta a reeleição. Em razão dessas circunstâncias, quem assume, e pela primeira vez, é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), terceiro na linha sucessória. Eleito em 2018, não vai disputar as próximas eleições porque o mandato de senador é de oito anos, e ele ainda tem mais quatro pela frente.

Curiosamentre, o Uruguai, para conde viajou Mourão, foi o destino escolhido por outro ilustre gaúcho que, também por razões políticas, teve que passar um tempo fora do Brasil. O ano: 1964. O nome: João Goulart. A razão: o então presidente tinha sido deposto por um golpe militar.