O mais grave da reunião do Copom foi a unanimidade, aponta Paulo Kliass

O mais grave da reunião do Copom foi a unanimidade, aponta Paulo Kliass

O mais grave da reunião do Copom foi a unanimidade, aponta Paulo Kliass

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Diretoria do BC. Foto: Divulgação

“Eles seriam derrotados, seria 5 a 4, mas na hora que saísse o comunicado vai estar dito que tem gente na diretoria do BC, e que a partir de janeiro vai ser maioria, que pensa diferente e que dá para ser diferente”, argumentou

O economista Paulo Kliass comentou nesta quinta-feira (20), à TV Fórum, a decisão do Copom, do Banco Central, do dia anterior, quarta-feira (19), e disse que o resultado parecia a “crônica da morte anunciada”. Segundo ele, “o Copom, principalmente nesta gestão que começou na época do Bolsonaro, canta exatamente o desejo dos setores do financismo, da nata da oligarquia da banca privada do Brasil”.

“E esse pessoal já estava dizendo que não dava para continuar nem mesmo com aquelas reduções cosméticas e micrométricas que aconteceram ao longo das últimas reuniões. Na última reunião antes dessa já houve a redução do ritmo da queda dos juros e agora foi mantida neste nível pornográfico e estratosférico”, apontou.

 

Kliass destacou que “o mais relevante dessa reunião foi, por outro lado, a unanimidade. É óbvio que você vai ter ‘n’ interpretações para o que isso significou do ponto de vista simbólico. Mas não podemos ignorar que algumas horas antes dessa reunião, o presidente Lula deu uma declaração pública dizendo que a única coisa que estava desajustada na nossa economia era a conduta do presidente do BC, Roberto Campos Neto”.

“Lula tinha toda razão, por conta daquela exploração política, Campos Neto, estando cotado para ser ministro de um eventual governo Tarcísio, quer dizer, o cara é bolsonarista e não esconde isso para ninguém. E por outro lado é um ortodoxo, conservador e neoliberal na política econômica, na política monetária e não esconde isso de ninguém”, prosseguiu Kliass.

Ele lembrou que “Lula indicou quatro diretores. Entre eles está Gabriel Galípolo que era secretário executivo do Ministério da Fazenda, de Haddad. Ele é um dos cotados para ser presidente do Banco Central.

“Na última reunião esses quatro diretores indicados por Lula haviam divergido e disseram que deveria continuar a queda de meio ponto. Aquela reunião não foi unânime. Desta vez, contrariando o que o Lula disse, votaram unanimemente pela manutenção dessa taxa. Então as análises são, primeiro, Lula teria saído enfraquecido, porque ele diz uma coisa e os indicados por ele não votam com essa orientação. É uma leitura”, observou.

“Agora, o mais relevante é que o campo progressista, o campo que não concorda com essa ortodoxia suicida do Banco Central de mostrar para a sociedade que a economia não é uma ciência exata, por um lado, e, por outro lado, que existem alternativas a essa política monetária arrochada que o Roberto Campos Neto está levando, e que o Lula está criticando”.

 

“Eles seriam derrotados, seria 5 a 4, mas na hora que saísse o comunicado vai estar dito que tem gente na diretoria do BC, e que a partir de janeiro vai ser maioria, que pensa diferente e que dá para ser diferente”, argumentou.

“Segunda leitura, o Lula disse que queria alguém com muita experiência, etc, para ser presidente do BC. Se o Galípolo votou mais uma vez com Roberto Campos Neto, muita gente está dizendo que, talvez, o Lula não esteja com tanta confiança nele porque foi uma desmentida pública na avaliação, na proposta e no diagnóstico do Lula. Então, isso eventualmente abriria espaço para o Lula indicar um outro presidente ou presidenta para o BC. Essa é outra leitura”, prosseguiu Kliass.

“O mercado financeiro fez um alarde sobre o BC estar rachado. Que isso seria um problema. É bobageira para ganhar dinheiro na especulação”, afirmou.

O economista apontou que “o mercado financeiro fez um alarde sobre o BC estar rachado. Que isso seria um problema. É bobageira para ganhar dinheiro na especulação. Todo mundo sabe que o presidente Lula, em tese, tem uma diferença com essa abordagem. E ele é o presidente da República e vai pode indicar, a partir de janeiro, uma outra pessoa para ocupar a presidência do BC”.

“Aí, vamos querer saber, se o Lula está com interesse político de manter uma trajetória de redução da Selic e de retomada de um projeto de desenvolvimento econômico e social, etc. Essa é a dúvida que fica no ar, porque até o momento ele tem usado muito o gogó, como se brinca, para falar, para bater no BC, etc, mas, no conjunto, no frigir dos ovos da política econômica, levada à frente pelo Haddad, com aval do Lula, é importante se dizer, não é nada muito diferente do que tem sido feito do ponto de vista dos desastres dos últimos seis anos. No essencial, é óbvio que não é exatamente a mesma coisa”, afirmou Kliass.

“No conjunto, no frigir dos ovos da política econômica, levada à frente pelo Haddad, com aval do Lula, é importante se dizer, não é nada muito diferente do que tem sido feito do ponto de vista dos desastres dos últimos seis anos. No essencial, é óbvio que não é exatamente a mesma coisa”

Kliass concluiu dizendo que Lula “não pode perder a chance de mudar, afinal daqui a alguns dias vai se completar um ano e meio dos quatro anos desse terceiro mandato. O Lula dizia, eu quero fazer quarenta anos em quatro. Já passou um ano e meio e fez muito pouco. Tem que acelerar o ritmo das mudanças senão ele corre o risco de perder o bonde da história”, advertiu o economista.