Prates ou como o excesso de vaidade engole o vaidoso, por Luís Nassif

Prates ou como o excesso de vaidade engole o vaidoso, por Luís Nassif

Prates ou como o excesso de vaidade engole o vaidoso, por Luís Nassif

Prates só ficaria se conseguisse entregar o que Lula queria: investimentos no país, estímulo às empresas nacionais e geração de emprego.

Luis Nassif[email protected]

 

 

Há um ditado mineiro que diz que excesso de esperteza engole o esperto. Mas o excesso de vaidade acaba com a esperteza e engole o homem. O caso clássico é do ex-presidente da Petrobras, Jen Paul Prates.

Já contei aqui a versão mais consistente sobre a saída de Prates: a falta de bom senso e a forma como se indispôs com Lula.

Vamos a mais algumas informações, para entender melhor sua personalidade, e como ela liquidou com sua carreira pública.

Prates surgiu na política como suplente de senador de Fátima Bezerra, pelo Rio Grande do Norte. Assumiu o senado quando Fátima foi eleita governadora do estado. Logo ali, a vaidade se tornou má conselheira. Julgou ter adquirido o direito de ser o candidato ao governo do estado nas eleições seguintes. Foi lhe dito que seria impossível: Fátima Bezerra era candidata natural à reeleição. Alegou então que o PT ficaria em débito com ele, que não tinha nem história nem biografia política.

Por falta de alternativas de Lula, tornou-se presidente da Petrobras, e logo se indispôs com o Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e com o Ministro-Chefe da Casa Civil, Rui Costa.

Como Rui barrava qualquer acesso a Lula, foi-lhe sugerido que, em alguma cerimônia em que estivesse com Lula, solicitasse pessoalmente um encontro. Foi o que fez. O encontro foi marcado para a manhã de uma sexta-feira. Mas Prates alegou que tinha compromisso no Rio de Janeiro, e não poderia comparecer. O cargo de presidente de uma das maiores companhias do mundo lhe subira à cabeça. Em nenhum momento entendeu que se tratava de um cargo político, não de um cargo institucional. E ele recusava um encontro com o presidente da República e, mais do que isso, com Lula.

Lula, como sabe qualquer pessoa que tenha acompanhado sua carreira política desde o Sindicato dos Metalúrgicos, tem horror à arrogância. Ali, Prates começou a traçar seu destino na Petrobras, que só poderia ser alterado se conseguisse entregar o que Lula queria: investimentos no país, estímulo às empresas nacionais e geração de emprego.

E não entregou. Aliás, os jornalistas que estão criticando Lula, por pretender direcionar os investimentos da Petrobras, deveriam, ao menos, entender o que ele pretende da empresa.

A Petrobras tem uma função pública e obedece às diretrizes do governo de plantão. Com Bolsonaro, sua missão era esvaziar os cofres da empresa em favor dos acionistas. Em 2022, a distribuição de dividendos superou o próprio lucro da empresa, em uma atitude que seria condenada em qualquer empresa privada. E a imprensa deixou por isso mesmo.

Prates desconsiderou todas as prioridades legítimas do governo. Mais que isso, queria utilizar os recursos da empresa em grandes negócios.

Estava claro que a Petrobras deveria se tornar uma empresa de energia. No ano passado, não construiu uma eólica sequer. Com empresas nacionais ociosas, Prates pretendeu montar uma parceria com a norueguesa Equinor, para projetos de geração de energia eólica em alto mar.

Especialistas apontaram o disparate.

As primeiras informações davam conta que o pacote com a Equinor permitiriam 14,5 GW de geração potencial, correspondendo a mais da metade dos projetos eólicos já existentes em terra, ao custo assombroso de US$ 70 bilhões.

Os especialistas indagavam: em um país com dimensões continentais e com um dos melhores ventos do mundo para a produção de energia em terra firme, faz sentido investir em eólicas no mar? E para gerar uma energia muito mais cara do que outras fontes renováveis.

Pior foi a maneira como decidiu enfrentar o lobby de Alexandre Silveira e Rui Costa, em favor do uso do gás para as termoelétricas. Prates foi aconselhado a não avançar nesse embate. Embora seja um dos políticos menos confiáveis do país, Silveira é uma peça com que conta Lula para o jogo político em Minas Gerais.

Além disso, Silveira e Rui Costa dispunham de um argumento matador. Quando se perfura um poço de petróleo, extrai-se petróleo e gás. Há várias maneiras de tratar o gás, dependendo das circunstâncias e da infraestrutura disponível. Se não se quer bancar o custo de levar o gás para a terra, pode-se queimá-lo, liberá-lo na atmosfera ou fazer uma reinjeção de volta ao poço. Prates optou pelka reinjeção do gás.

Foi sugerido a Prates um projeto campeão, que esvaziaria o discurso da dupla termoelétrica, Silveira e Costa: extrair o gás e propor a Lula uma Bolsa Gás equivalente ao Bolsa Família – já que o gás representa um custo alto para famílias de baixa renda. Ignorou todas as sugestões. Estava mais interessado em altos negócios, como a parceria com a Equinor, ou a recompra de parte das refinarias vendidas.

Não avançou um milímetro nas prioridades do governo, de reconstrução dos estaleiros nacionais – o que garantiria investimentos na indústria nacional e geração de empregos. 

A pá de cal foi quando desobedeceu Lula e absteve-se de votar na assembleia da companhia que decidiu sobre os dividendos extraordinários.

Aí surgiu a alternativa Magda Chambriard. Antes de convidá-la, Lula ouviu Dilma Rousseff – com quem Magda já havia trabalhado -, que elogiou sua atuação, como executiva eficiente e disciplinada.

Aconselhado pela vaidade, Prates cometeu a última tolice, de anunciar que sairia atirando e se desfiliaria do PT. Ali acabou sua carreira política.