Manchetes de domingo 27/06/2021

As notícias dos maiores veículos de comunicação do país

Manchetes de domingo 27/06/2021

 

Edição – Chico Bruno

Manchetes de domingo 27/06/2021

 

As notícias dos maiores veículos de comunicação do país

FOLHA DE S.PAULO – Oposição quer usar prevaricação em novo pedido de impeachment
Manchete do jornal revela que o relato do deputado Luis Miranda (DEM-DF) à CPI da Covid sobre conduta do presidente Jair Bolsonaro ao ser alertado de supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin deu um novo impulso ao superpedido de impeachment articulado por partidos da oposição. Segundo Miranda, Bolsonaro disse que pediria investigação da Polícia Federal, mas não se encontrou registro de inquérito. Para oposicionistas, isso enquadraria o presidente em crime de prevaricação – deixar de praticar um ato para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. A área jurídica que elabora o pedido de impeachment, encontrou um dispositivo na lei dos crimes de responsabilidade que dará sustentação à estratégia. Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, disse que também acionará a Procuradoria-Geral da República. Na sexta-feira, Miranda disse ainda à Comissão Parlamentar de Inquérito que o presidente ligou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), às supostas irregularidades nas negociações para a compra da vacina. O deputado nega ter participado do processo. As entidades que têm encabeçado os atos pelo impeachment de Jair Bolsonaro decidiram antecipar de 24 para 3 de julho uma nova mobilização.

CORREIO BRAZILIENSE – “Não há democracia sem direito à diversidade”
Na manchete o jornal destaca entrevista da idealizadora do premiado projeto Mulheres Inspiradoras, inclusive com reconhecimento internacional, Gina Vieira Ponte. Crítica da cultura patriarcal e misógina, que prepara garotas para serem submissas aos homens. “É preciso educar as meninas, desde cedo, para se sentirem fortes, inteligentes, capazes e em plenas condições de serem protagonistas das suas histórias”, afirma. Mulher e negra, a brasiliense diz não haver um dia em que não tenha de lidar com o machismo e com o racismo. Mas nunca desistiu de lutar contra situações adversas. Sua arma, a educação. A professora propõe mudanças profundas no ensino. “Precisamos de uma geração capaz de questionar os paradigmas que nos trouxeram até aqui, que são baseados na lógica da exploração de uns, em condições precárias de vida, para que outros possam acumular riqueza. Este é um modelo esgotado de sociedade”.

O GLOBO – Centrão tem cargos estratégicos na gestão da pandemia
A manchete revela que posições-chaves na cadeia de aquisição de vacinas pelo Ministério da Saúde estão ocupadas por apadrinhados do chamado Centrão. A Secretaria de Vigilância em Saúde é comandada por farmacêutico indicado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Já o diretor do Departamento de Logística tem entre seus padrinhos o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), deputado que teria sido citado por Bolsonaro após denúncia sobre compra da vacina Covaxin.

O ESTADO DE S.PAULO – Ações de Bolsonaro buscam ampliar seu apoio entre policiais
A manchete alerta para as intenções do presidente ao dar isenção de IPI na compra de automóveis, crédito imobiliário e promessas de uma nova lei orgânica da Polícia Militar e da Polícia Civil para esvaziar o poder dos governadores. Essas são medidas com as quais o presidente Jair Bolsonaro busca garantir apoio dos policiais para sua campanha à reeleição em 2022. Bolsonaro também nutre planos de politizar e aumentar a representatividade das forças estaduais no Congresso. Um de seus interlocutores nesse campo é o deputado Victor Hugo (PSL-GO), ex-líder do governo na Câmara. Na mira de Bolsonaro estão nomes influentes da área que já deram demonstrações públicas de apreço ao presidente, como o comandante-geral da PM do DF, coronel Márcio Vasconcelos, e o comandante da Academia da PMDF, coronel William de Araújo. No governo, Bolsonaro espalhou policiais em áreas técnicas, em núcleos que fomentam a narrativa política e ideológica nas redes e até em postos que exigem interação com a CPI da Covid.

Notícia do dia: O historiador Adriano de Freixo avalia que a cooptação das forças de segurança pelo bolsonarismo representa risco de ruptura democrática. Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o historiador Adriano de Freixo avalia que a cooptação das forças estaduais pelo bolsonarismo representa risco de ruptura democrática. Em entrevista, ele diz estar em curso um processo de “bolsonarização das polícias” que não se converte em aprimoramento da política pública de segurança.

Primeiras páginas dos jornais

Múltis retomam planos para investir no Brasil - A melhora das perspectivas de crescimento da economia e o avanço da vacinação contra a covid-19, ainda que lento, já fazem empresas multinacionais retomarem os planos de investimento no Brasil, antes paralisados ou prejudicados por causa da pandemia. Nos últimos meses, tem crescido o número de companhias estrangeiras que anunciam novos projetos de expansão, aquisições ou aportes de capital no País. O grupo português de distribuição e geração de energia EDP, por exemplo, anunciou recentemente um plano de investir R$ 10 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos. A montadora francesa Renault pretende aplicar R$ 1,1 bilhão em sua linha de produção já neste ano e no próximo. A marca de alimentos e bens de consumo Nestlé, da Suíça, fará um investimento de R$ 900 milhões em suas fábricas no País. Já a norueguesa Equinor, do setor de petróleo e gás, revelou este mês que planeja investir US$ 8 bilhões, ao lado de empresas parceiras em um consórcio de exploração de petróleo, para iniciar a extração no campo de Bacalhau, na Bacia de Santos, que deve começar a operar em 2024. “Temos uma perspectiva de longo prazo. Até 2030, esperamos investir mais de US$ 15 bilhões”, diz Veronica Coelho, presidente da Equinor no País.

‘É óbvia a prevaricação’ - Líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS) conseguiu extrair durante o depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) na CPI da Covid a revelação de que o presidente Jair Bolsonaro teria mencionado o nome do líder da Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), quando foi informado sobre supostas irregularidades envolvendo o processo de importação da vacina Covaxin. Advogada e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a parlamentar avalia que há indícios de prevaricação no governo Bolsonaro e só resta saber quem cometeu o crime. A parlamentar ainda afirma que Bolsonaro ficou refém do Centrão e, por isso, não teria levado a denúncia do caso Covaxin à Polícia Federal.

‘Não vão ganhar no tapetão’, diz Bolsonaro, sobre CPI - Em discurso realizado após a realização da motociata em Chapecó, o presidente Jair Bolsonaro não abordou diretamente as acusações feitas pelo deputado Luís Miranda de que teria citado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, como responsável por um esquema de corrupção no Ministério da Saúde. Bolsonaro, entretanto, atacou a CPI da Covid e afirmou que 'não vão ganhar no tapetão'. O presidente participou de um passeio de moto com milhares de pessoas na cidade do interior de Santa Catarina neste sábado. O presidente deu carona ao prefeito João Rodrigues (PSD), a quem chamou de "nosso querido, velho amigo". O político já foi condenado e preso por fraude em licitação. Em 2018, passava o dia na Câmara e a noite na penitenciária da Papuda. No palanque, Bolsonaro fez ataques aos senadores da CPI da Covid, ao Supremo Tribunal Federal e ao ex-presidente Lula, seu provável adversário em 2022. Na sexta, em depoimento à CPI da Covid, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) afirmou que levou ao presidente denúncias sobre um suposto caso de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin. — Só uma coisa me tira de Brasília: é o nosso Deus. Não vão ganhar no tapetão ou inventando narrativas. O Brasil ainda passa por um momento difícil. Desde o começo eu falei que tínhamos dois problemas, o vírus e o desemprego. Eu fiz a minha parte, eu não fechei um botequim sequer — afirmou. O presidente voltou a atacar os integrantes da CPI e repetiu que a oposição está tentando "ganhar no tapetão". —Temos uma CPI de sete pilantras. Que não querem investigar quem recebeu dinheiro, apenas quem mandou o dinheiro. Lamentavelmente, o Supremo decidiu pela CPI e decidiu também que governadores estão desobrigados de comparecer à mesma. Querem apurar o quê? No tapetão não vão levar.

Centro vê Bolsonaro derretendo - O depoimento do deputado Luis Miranda (DEM-DF) à CPI da Covid nesta sexta-feira (25) gerou forte impacto em setores não ligados ao bolsonarismo, como os partidos de centro e de oposição. Ainda que tenham visões diferentes sobre o governo federal, eles concordam que o episódio apresenta grande poder de dano a Jair Bolsonaro, que atravessa processo de derretimento. Para o centro, aprofunda-se o processo de rejeição pública ao nome do presidente. Para a oposição, pode ser combustível para o início do processo de impeachment. Para lideranças de partidos de centro, independentemente da concretude das denúncias, as suspeitas turbinam o processo de derretimento de Bolsonaro. "Diante dos fatos apresentados, não há pressão governista que possa impedir a CPI de ir a fundo nessa questão. Caso contrário, será o desgaste de seus integrantes e o fim da própria CPI", diz Gilberto Kassab, presidente do PSD. Para esses líderes de partidos de centro, contribuem para o derretimento do presidente a CPI da Covid, a crise da Covaxin e todo o caldo de crises protagonizadas por Bolsonaro: a demissão de Ricardo Salles em meio a investigações da Polícia Federal; o ato de tirar máscaras de crianças em público; e os ataques de fúria contra jornalistas. Esses líderes fazem parte de siglas do centro político, que é diferente do centrão, base de sustentação de Bolsonaro, composto por siglas mais conservadoras, como PP e Republicanos.

Contratação suspeita fugiu de regras e foi feita a jato - O governo Jair Bolsonaro assinou a toque de caixa o contrato de R$ 1,61 bilhão para a compra da vacina indiana Covaxin, sem atender a tempo a um conjunto de dez recomendações feitas pela consultoria jurídica do Ministério da Saúde, formada por integrantes da AGU (Advocacia-Geral da União). A consultoria concluiu um parecer pela viabilidade jurídica do processo de compra, “condicionada ao atendimento das recomendações” descritas no documento. O ministério deveria, por exemplo, cercar-se de cuidado sobre a qualidade da vacina, justificar por que dispensou uma pesquisa de preços, apresentar uma razão para a contratação de 20 milhões de doses e definir qual seria a posição da Precisa Medicamentos, a intermediadora do negócio, se representante ou distribuidora dos imunizantes fabricados pelo laboratório indiano Bharat Biotech. A Folha teve acesso à íntegra do processo administrativo relacionado à contratação da Precisa e da Bharat Biotech, onde constam os pareceres jurídicos da AGU. O parecer elaborado após análise da minuta do contrato, que fez as dez recomendações, foi concluído às 14h09 de 24 de fevereiro deste ano. Às 19h38 do mesmo dia, pouco mais de cinco horas depois, o Ministério da Saúde enviou um ofício à representante da Precisa, Emanuela Medrades, convocando-a para a assinatura do contrato. A convocação estabelecia que o prazo para essa assinatura era de três dias. O contrato entre Ministério da Saúde e Bharat Biotech, representada pela Precisa Medicamentos, foi assinado às 14h28 do dia 25, pouco mais de 24 horas após a conclusão do parecer jurídico.

Partidos se unem contra voto impresso - Em videoconferência na manhã deste sábado (26), onze partidos discutiram o sistema eleitoral e se colocaram contra a proposta de mudança para voto impresso, bandeira de Jair Bolsonaro. Estiveram presentes os presidentes do PSDB, MDB, PP, DEM, Solidariedade, PL, PSL, Cidadania, Republicanos, PSD e Avante. Na reunião, afirmaram ter confiança no atual sistema de votação e apuração. A ideia é aumentar o número de partidos na defesa da manutenção do modelo de agora. "O mais importante do encontro foi juntar partidos mais à esquerda e mais à direita, todos eles contra o voto impresso. Todos confiando no sistema atual, lógico que com a garantia de transparência nem fraude no sistema", afirma o deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. "Foi importante os partidos todos esses terem se posicionado em defesa do atual sistema. Isso definitivamente mata o assunto na Câmara. Esses partidos representam mais de 2/3 da Casa. Acho que o assunto vai ser enterrado", completa.

Destaques

Governo Bolsonaro pensa com a bunda, diz Ítala Nandi - A autocensura nunca foi a marca de Ítala Nandi, titular do primeiro nu frontal do teatro no país. Em 1967, sob a tutela do regime militar, a atriz falou à revista “Realidade” sobre sexualidade e desquite e declarou, em tom crítico, que “a única liberdade de que goza a mulher brasileira é a de escutar o homem, curvando a cabeça”. A edição acabou apreendida por ofender a moral e os bons costumes. Cinco décadas depois, o desprendimento ao abordar os temas de seu tempo se mantém, e Ítala fala com pouca reserva sobre o governo Jair Bolsonaro. “Ele é um ‘Bolsonero’, ‘Bolsolini’. Todos eles [Nero, Mussolini] se foderam. Será que ele acha que tudo bem? Que ignorância, que falta de perspectiva. Aquela coisa do revólver... Porra, enfia esse revólver no cu. Que saco! Vão dar o cu, é o que eles estão precisando.  Caramba, por que esse tipo de atitude com um país que poderia ser a mudança do mundo?”, diz à coluna. “Eu acredito que o que vai, volta. Isso não tem erro. A maldade que eles estão fazendo com o povo brasileiro vai voltar para eles. É inevitável. Eles não têm cabeça, eles pensam com a bunda, e isso vai voltar.” Aos 79 anos de idade, a atriz já se prepara para celebrar sua chegada aos 80, que serão completados no próximo ano. Neste domingo (27), ela exibe na plataforma #EmCasaComSesc o solo performático “Paixão Viva”, em que revisita suas mais de seis décadas de carreira. “Pode ser que quando vá ao ar, todo mundo ache uma droga, mas eu estou achando o máximo.”

Presidente ameaçado, e Lula jogando solto - A mais recente pesquisa Ipec suscitou duas impressões entre a classe política: 1) Jair Bolsonaro está próximo de atravessar o Rubicão da rejeição e enfrentar uma sangria desatada de perda de popularidade: o índice de desaprovação ao governo bateu 49% (a “linha vermelha” do derretimento, segundo “pesquiseiros”, é de 55%). 2) Lula volta a ser vidraça e começará a “apanhar” de outros atores que não sejam apenas o presidente e Ciro Gomes (PDT): se o petista ficar sem marcação, continuará a transformar a insatisfação geral em intenção de voto. Quem lida com as chamadas pesquisas qualitativas diz que os 49% de intenções de voto em Lula estão um pouco inflados pelo “recall” eleitoral e pela percepção de que ele é o único antagonista de Bolsonaro em campanha aberta. Na outra ponta, cresceu o “ódio” a Bolsonaro, ou seja, há mais gente naquela turma que transferiu para o fígado a responsabilidade pela escolha de seu candidato. A ordem de grandeza está perto de 20%, segundo as pesquisas. O apoio a Jair Bolsonaro recuou pelo segundo mês consecutivo nas redes sociais. Em junho, até o dia 24, era de 19,2%, segundo levantamento da MAP, agência de inteligência em análise de dados e mídia, a partir da análise diária de amostra de 1,1 milhão de posts nas redes sociais. Em abril, o apoio a Bolsonaro nas redes sociais era de 36,7% e, em maio, caiu para 25,8%. É o menor apoio ao presidente desde março, quando fechou em 11,4%.

PSD se descola de candidatos do centro e mira maiores colégios eleitorais - Dez anos após deixar o DEM para fundar o PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab aposta em lançar candidaturas nos três maiores colégios eleitorais do País e fala em um nome próprio na disputa presidencial para manter o partido entre os cinco maiores do Brasil. Ausente dos movimentos que ensaiaram formar uma frente ampla de centro para tentar quebrar a polarização entre o PT e o presidente Jair Bolsonaro, o dirigente mantém uma distância regulamentar do Palácio do Planalto e o selo de “independente” da agremiação no Congresso enquanto conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre 2022. O partido teve um crescimento considerável nas eleições municipais do ano passado, saltando de 538 para 634 prefeitos eleitos, mantendo-se como o 3.º do País com mais municípios. Com 35 deputados federais, o PSD tem a quarta maior bancada da Câmara e um ministro (Fábio Faria, das Comunicações), mas tenta se desvencilhar do centrão, o consórcio de partidos que dá sustentação ao presidente da República. “O PSD não tem problemas de convivência com partidos do centro, mas desde o início não integra esse bloco”, disse. Desde o final do ano passado Kassab passou a se dedicar às articulações do PSD para 2022. A prioridade do partido, afirma, vai ser crescer “com qualidade”. “Nossa meta é continuar entre os cinco principais partidos do Brasil depois das eleições”, disse. Sua prioridade até agora é avançar em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Sem solução fácil - Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) virou um incômodo para o Planalto. Se o presidente Jair Bolsonaro o afasta da função, passa a ideia de que o deputado Luis Miranda falava a verdade, e o capitão simplesmente abafou o caso. Se o mantém, deixa seu governo exposto a ataques diários, uma vez que Barros será chamado à CPI, e virá à tona, inclusive, sua pressão para “enquadrar” a Anvisa, em fevereiro, além da relação próxima com o presidente, ao ponto de Bolsonaro nomear a esposa do deputado, a ex-governadora paranaense Maria Aparecida Borghetti, para substituir o ex-ministro Carlos Marun, na vaga do conselho de Itaipu, no mês passado, conforme divulgado pelo próprio governo à época. Para completar, os aliados do presidente estão convictos de que a resultante de todo esse imbróglio será mais uma trava às reformas, em especial, a administrativa. Barros diz, com todas as letras, “não é nada contra mim” e se afirma à disposição para prestar todos os esclarecimentos, mas, ainda assim, avaliam alguns, perdeu as condições de liderar o processo dessa reforma. O presidente do Partido Progressista, senador Ciro Nogueira, está com a sua legenda em pé de guerra. É que um grupo de filiados desconfia que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem insuflado o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a balançar Ricardo Barros (PP-PR) da liderança do governo. Há menos de dois meses, houve um movimento, com a ajuda de Lira, para tentar tirar Barros do cargo de líder. Bolsonaro não cedeu, e a ala mais afinada com Barros tentou desestabilizar a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda. Agora, o presidente terá de reconfigurar sua articulação política.

A boquinha para mulher de Barros - Dois dias antes de Jair Bolsonaro ter dito "isso é coisa do Ricardo Barros" para Luís Miranda, de acordo com o relato do deputado à CPI, quando detalhou as irregularidades na negociação para a compra da vacina indiana, o presidente concedeu uma audiência ao seu líder na Câmara. De acordo com um tuíte de Barros, do dia 18 de março, ele e Bolsonaro tiveram uma "boa conversa". A postagem foi ilustrada com uma foto de ambos no gabinete presidencial. E, em 6 de maio, apesar de informado do rolo na negociação para a compra das vacinas indianas, Bolsonaro nomeou Maria Aparecida, mulher de Barros, para uma cadeira no conselho de administração de Itaipu — aliás, uma vaga disputada, uma vez que cada conselheiro recebe R$ 27 mil mensais para comparecer a reuniões que acontecem de dois em dois meses. Alguém que olhasse essa sequência de fatos bem que poderia repetir o presidente e dizer: "Isso é coisa do Bolsonaro".

Brasil é exceção nas Américas na concessão de cargos para militares - Em meio a polêmicas envolvendo a grande participação de militares da ativa no governo Jair Bolsonaro, o Brasil é um ponto fora da curva no continente americano. Com exceção da Venezuela, integrantes das Forças Armadas que não estão na reserva foram afastados da política na região. Nos Estados Unidos, como na grande maioria dos países do continente e do mundo democrático, regras internas limitam o envolvimento de militares da ativa em governos civis. Em agosto de 2018, durante uma visita ao Brasil, o então secretário de Defesa dos EUA, general James Mattis, foi perguntado por um general brasileiro sobre o assunto. A resposta de Mattis, que precisou de autorização do Senado americano para assumir o cargo, foi taxativa: “Temos de ser muito cuidadosos, por exemplo, evitando participar de campanhas (eleitorais)”. Naquela época, muitos militares estavam animados com a eventual vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, e a resposta de Mattis causou decepção. O então secretário de Defesa dos EUA participou de um coquetel na Escola Superior de Guerra do Rio. — Nada se assemelha ao que estamos vivendo no Brasil hoje. Os exemplos históricos mais parecidos seriam Portugal depois da Revolução dos Cravos ou a Turquia. A presença de militares no governo, num regime democrático, é um problema — afirma Octávio Amorim Neto, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Réus em ação de improbidade continuam no governo - O governo Bolsonaro abriga pelo menos dois suspeitos de envolvimento em um escândalo de 2017 relativo ao pagamento adiantado de R$ 19,9 milhões a uma empresa sócia da Precisa Medicamentos, responsável pela negociação de R$ 1,6 bilhão em doses da vacina indiana Covaxin. Em 2018, Davidson Tolentino e Tiago Queiroz viraram réus com outras três pessoas, entre elas o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), então ministro da Saúde, em uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) por improbidade administrativa. Mesmo respondendo ao processo, Tolentino e Queiroz ganharam cargos de destaque em redutos controlados pelo Centrão. Entre 2018 e 2020, Tolentino ficou de fora da administração federal. Em julho do ano passado, após Bolsonaro selar aliança com o Centrão, foi nomeado para uma diretoria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Já Queiroz foi nomeado, em maio de 2020, secretário nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), comandado por Rogério Marinho. Tolentino ganha R$ 33 mil por mês; e Queiroz, R$ 16 mil. O caso denunciado pelo MPF envolve a Global Gestão em Saúde, que, segundo a Receita Federal, é uma das sócias da Precisa, empresa responsável pela negociação da Covaxin com o governo federal. Em 2017, a Global fechou um contrato com o Ministério da Saúde para fornecer medicamentos para doenças raras. Segundo a denúncia do MPF, apesar de ter recebido R$ 19,9 milhões adiantados, a Global não forneceu os medicamentos conforme o contrato. O escândalo de 2017 envolve a Diretoria de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde, a mesma que, agora, quatro anos depois, chama a atenção da CPI da Covid, do MPF e do Tribunal de Contas da União (TCU) por conta das suspeitas de irregularidades no contrato para a compra da vacina indiana. Neste mês, o MPF disse que identificou indícios de crimes na compra da Covaxin e pediu que o caso passasse a ser investigado na esfera criminal. Segundo a ação movida pelo MPF em 2018, na época em que o contrato com a Global foi firmado, Tolentino era o diretor da DLOG. No caso envolvendo a Global Saúde, as investigações do MPF apontam que ele teria pressionado um servidor de carreira do ministério para assinar pagamentos antecipados à Global. Em nota, a Codevasf disse que as nomeações para as suas diretorias respeitam a legislação e que a “competência de nomeação e destituição de diretores pertence ao Conselho de Administração da empresa”. O MDR não se manifestou. A defesa de Queiroz disse que ele não iria se manifestar. O GLOBO tentou contato com Tolentino e sua defesa, mas as chamadas não foram atendidas. Barros nega ter havido irregularidades no contrato firmado em sua gestão na Saúde.