EVANGÉLICOS NA POLÍTICA, NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA
EVANGÉLICOS NA POLÍTICA, NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA
Moacyr Pinto
Bastante atual, livro especificado no final deste texto, trabalha com a evolução histórica em seus vários aspectos, inclusive nos teológicos, para situar os evangélicos no centro das disputas pelo poder político na maioria dos países da America Latina na atualidade, com ênfase no Brasil, onde na última década foram se associando aos planos e concepções de Bolsonaro, além de outros segmentos religiosos, econômicos e políticos com perfis conservadores ou mesmo de extrema direita, com o objetivo de construir um projeto de poder em oposição tanto à concepção liberal de Estado democrático, como às políticas públicas voltadas para os direitos humanos e a redução das desigualdades sociais. Sem proselitismo, com muitas informações estatísticas, históricas e teóricas, essa obra “acadêmica” contém muitas informações que poderão nos ajudar a entender, por exemplo, porque a educação pública e laica e a ciência passaram a ser massacradas, tanto no discurso como na prática, pela oposição que, obviamente, acabam fazendo aos dogmas representados pelo conjunto de interesses e valores “religiosos” que exigem a sujeição do “crente” ao discurso único e exclusivo do seu líder religioso. IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO SUGERIDA ACIMA Mais que os “marcos regulatórios” para estabelecer normas e leis que as tais Big Techs e todos os que fazemos uso das mídias sociais precisamos respeitar, acima de quaisquer outros interesses, principalmente os econômicos; mais do que a criação do “nosso exército libertador”, necessário, capaz de travar diariamente o embate com a mentira e as pregações fascistas veiculadas minuto a minuto pela internet; precisamos construir uma educação livre e libertadora, de qualidade, que não esteja apenas voltada para a formação de mão-de-obra para um mercado de trabalho cada vez mais difícil de ser identificado e a unidade-escola deve ser nosso ponto de partida, com os professores sendo preparados e motivados a serem educadores públicos, promotores do livre debate, com seus alunos, pais e toda a comunidade do seu entorno; neles incluídas as lideranças religiosas que aceitarem respeitar as regras de um jogo que não passa apenas pelas igrejas e santuários. Assim, talvez venhamos a entender e enfrentar de verdade os “tão assustadores” atos de violência que na maioria das vezes, quase sempre, são praticados por pessoas da nossa convivência. NÃO PRECISA HAVER UMA GUERRA RELIGIOSA NO BRASIL. TAMBÉM NÃO PODEMOS SUBMETER O CONJUNTO DA SOCIEDADE À DOMINAÇÃO DE ALGUNS, EM NOME DO “POVO BRASILEIRO” Há um bom tempo vinha sentindo necessidade de entender melhor a questão religiosa no Brasil. Com a forte queda na diferença percentual entre os cristãos católicos em relação aos genericamente chamados de evangélicos no país, a questão religiosa, juntamente com a militar, essa por razões nossas velhas conhecidas, passou a nos desafiar no campo político. Mais ainda, o desafio que a questão religiosa trouxe aos democratas e progressistas no país foi crescendo em importância à medida que ao crescimento dos evangélicos, em sua maioria conservadores, deu-se um forte crescimento do conservadorismo entre os católicos, fruto das doutrinas e metodologias carismáticas trazidas dos EUA e do avanço do conservadorismo no seio das classes médias no país nas últimas décadas - tendência também observada em outras partes do mundo -; além do “golpe de mão” dado pela cúpula da igreja católica mundial na “Teologia da Libertação”, de tanta expressão na América Latina, ela que fazia contraponto às alas conservadoras da Igreja, além de contribuir, ao menos parece, para conter o avanço dos evangélicos entre os cristãos. Em período mais recente, os cristãos conservadores, evangélicos e católicos, ambos os grupos francamente predominantes nas suas várias denominações e tendências, resolveram deixar de lado as diferenças, especialmente na última década, até o ponto de passar a haver mais identificação do que confrontos entre os dois grupos, tanto em relação às escolhas partidárias e eleitorais como aos posicionamentos dos seus representantes em relação às leis e políticas públicas que tratam particularmente dos valores morais, tais como as políticas de gênero nos campos da educação e da saúde. Tudo piorou quando a maioria significativa dos evangélicos e fatia de peso, tanto eleitoral como político, do catolicismo decidiu apoiar Bolsonaro para presidente da república, em 2018, ao mesmo tempo que se juntou a setores econômicos e sociais tão aparentemente díspares, mas tão conservadores e reacionários e anti-democráticos quanto para eleger governadores e uma maioria absurda no Congresso Nacional. A lâmpada amarela acendeu: onde iremos chegar? Até onde vai tudo isso? É necessário entender para agir com qualidade, para defender o Brasil da intolerância e do fascismo. Defender as liberdades democráticas, com respeito aos direitos de todos e justiça social! O livro aqui anunciado foi publicado no Brasil em 2020 e seus autores e a instituição que patrocinou a pesquisa e o publicou não têm nenhum compromisso com as posições aqui manifestas, por esse não especialista no assunto, que teve a sorte de receber por email o PDF da obra de um amigo intelectual amante da leitura e muito qualificado na área das ciências humanas e sociais, a quem agradeço muito. As eleições de 2022 foram vencidas “na casca” para a presidência da república e todos estamos sabendo o que houve no processo da posse; sem contar o difícil quadro dos resultados obtidos nos estados e na composição do Congresso Nacional, para os fins aqui defendidos. Independente de tudo, a questão religiosa, também dinâmica e mutável, taí, com todo o seu peso.