Seminário internacional discute os 60 anos do golpe de 1964 em perspectiva histórica e comparada

Seminário internacional discute os 60 anos do golpe de 1964 em perspectiva histórica e comparada

Seminário internacional discute os 60 anos do golpe de 1964 em perspectiva histórica e comparada

Evento reúne pesquisadores nacionais e internacionais, de 20 a 23 de março na USP; inscrições estão abertas até o dia 15 de março e são gratuitas para professores da rede pública de ensino e demais interessados

 

Filme brasileiro sobre a ditadura militar, A Portas Fechadas será exibido no evento – Foto: Divulgação

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No período de 20 a 22 de março será realizado o seminário internacional 1964-2024: A Ditadura Brasileira em Perspectiva Histórica e Comparada, no Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, no campus da USP no bairro do Butantã. Organizado pelo Núcleo de Apoio e Cultura sobre a Comissão Nacional da Verdade – Brasil  (NACE CNV-Brasil) da USP, o evento tem como objetivo reunir especialistas em ditadura brasileira para debater, em profundidade, as últimas tendências historiográficas na área. Segundo os organizadores, serão discutidas perspectivas comparadas que deem luz ao autoritarismo brasileiro por meio de outras experiências autoritárias, sobretudo na América Latina, além de perspectivas que priorizem o papel dos desrespeitos a minorias e das resistências identitárias. Dirigido a alunos de graduação e pós-graduação e professores da rede pública de ensino estadual das disciplinas de História, Geografia, Sociologia, Filosofia e Língua Portuguesa, as inscrições são gratuitas e devem ser feitas até o dia 15 de março via formulário neste link (o formulário está no fim da página).

O seminário está dividido em sete eixos temáticos. O primeiro tem como tema Ditaduras e a Guerra Fria latino-americana, e vai reunir trabalhos que dialoguem com a literatura da chamada Guerra Fria latino-americana e a Guerra Fria global, refletindo sobre o papel de atores locais e internacionais para a supressão de liberdades democráticas no continente, as diferenças e semelhanças entre as experiências autoritárias da região, as conexões internacionais e transnacionais de instituições e atores latino-americanos, além de recortes de longo prazo que coloquem o período da Guerra Fria latino-americana em larga perspectiva histórica, a partir de diversos olhares e objetos – da economia à cultura, ao papel das Forças Armadas na sociedade ao ativismo trabalhista, indígena, estudantil, religioso, racial e de gênero.

O segundo eixo, Autoritarismo e repressão de Estado, vai discutir, em perspectiva comparada, transnacional ou mesmo a partir de olhares nacionais, regionais e locais, a forma e o conteúdo do autoritarismo institucionalizado pela ditadura brasileira, enfatizando de que forma ações, organizações e ferramentas autoritárias impactaram em diversos aspectos da vida social brasileira. Esse eixo também buscará refletir sobre a maneira pela qual se construiu a ascensão e queda do aparato autoritário brasileiro, com suas contradições e limites, incluindo resistências e pressões de grupos da extrema direita militar e civil no sentido de um aprofundamento ditatorial.

Ditadura e a vida cultural é o assunto do terceiro eixo, que vai refletir sobre o papel das artes, nas suas mais variadas expressões, não apenas como forma de resistência contra a ditadura brasileira em si, mas também como expressão de grupos e atores sociais que sofreram violações de direitos humanos no contexto autoritário. Também vai abordar pesquisas que analisem em profundidade a maneira pela qual a ditadura brasileira impactou o mundo artístico, indo de censura a promoção de agendas e atores no universo cultural, valorizando aspectos que  deem vozes a minorias historicamente silenciadas. 

Movimento de resistência contra a carestia de vida durante a ditadura militar – Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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O quarto eixo, Sociedade civil, participação e resistência, vai refletir sobre diferentes formas de participação de atores da sociedade civil, inclusive as de natureza colaborativa e/ou de associação a instituições estatais e lideranças militares, no contexto da ditadura brasileira. Esse eixo também privilegiará análises sobre conteúdos e formas de resistência, armada e não armada, por parte de atores da sociedade civil contra a ditadura, com exceção daquelas de cunho artístico-cultural (contempladas pelo eixo 3). Conexões internacionais e transnacionais de grupos da sociedade civil brasileira, sejam daqueles que apoiavam ou contestavam o regime, serão particularmente valorizadas, assim como perspectivas que lancem luz sobre a participação e/ou resistência de diferentes grupos sociais ao regime, como, por exemplo, camponeses, trabalhadores urbanos, estudantes, empresários, lideranças religiosas, mulheres, indígenas, pretos e membros da comunidade LGBTQIA+.

O último eixo vai discutir A ditadura no pós-ditadura e a justiça transicional, refletindo sobre como a ditadura sobreviveu ao processo de redemocratização brasileiro do final da década de 1980, seja do ponto de vista político-institucional, em particular devido à manutenção de entulhos autoritários, seja por meio de representações, narrativas e percepções que buscaram tornar presentes atores e agendas do período ditatorial. Da mesma maneira, esse eixo privilegiará o tema da justiça transicional no Brasil, seus limites, insuficiências e contradições, envolvendo desde as atividades de instituições como a Comissão de Anistia, Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e a Comissão Nacional da Verdade até, em particular, a questão das graves violações de direitos humanos ainda silenciadas e/ou ausentes do processo transicional, sobretudo aquelas envolvendo minorias sociais, como indígenas e LGBTQIA+. 

Além disso, será exibido o documentário A portas fechadas (2023), de João Pedro Bim, com debate após a projeção com presença do diretor e dos professores da USP Eduardo Morettin, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), e Marcos Napolitano, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que também integram a comissão organizadora do evento. O filme retrata a reunião do Conselho de Segurança Nacional para promulgar o AI-5, que ocorreu em 13 de dezembro de 1968, e que, apesar de ter sido gravada, ficou secreta por décadas. Além disso, mostra como, no cinema e na televisão, a ditadura elabora sobre si mesma imagens de redenção nacional. Haverá também lançamentos de livros. 

A Comissão organizadora reúne, além de Eduardo Morettin e Marcos Napolitano, os professores Angélica Müller (Universidade Federal Fluminense -UFF, pós-doc IRI-USP); Alessandra Castilho (Faculdades Metropolitanas Unidas-FMU, doutora, IRI-USP/King’s College); Dária Jaremtchuk (Instituto de Estudos Avançados-IEA-USP); Felipe Loureiro (IRI-USP, coordenador da comissão) e Gianfranco Caterina (pós-doc IRI-USP). E a Comissão Organizadora Internacional: Daniel McDonald (Oxford); Eleonora Natale (King’s College); Thamyris Almeida (Dartmouth) e Rafael Ioris (Denver).