Romper a camisa de força do BC exige estratégia e menos rompantes, por Luis Nassif

Romper a camisa de força do BC exige estratégia e menos rompantes, por Luis Nassif

Romper a camisa de força do BC exige estratégia e menos rompantes, por Luis Nassif

A mera mudança da Lei do Teto, por limites de despesas mais racionais, não será suficiente para acabar com essa dança irresponsável do câmbio.

Luis Nassif[email protected]

 

Vamos por partes:

  1. São corretas as críticas de Lula à condução da política monetária pelo Banco Central. Não há nada que explique o diferencial entre a taxa Selic e a expectativa de inflação. Há indícios de boicote do mercado à política econômica de Lula.
  2. Não há a menor lógica de um Banco Central independente, cuja única meta é a redução da inflação, e sem nenhum limite aos danos que sua política poderá acarretar à economia.

Roberto Campos Neto comporta-se como o médico que atende uma criança com infecção. E, para garantir o controle da infecção, ministra o dobro da dose recomendada de antibiótico, pouco se importando com as sequelas no organismo infantil.

Dito isso, trata-se de pensar nas estratégias adotadas para superar esse boicote intencional do Banco Central. E o presidente da República explicitar críticas não é a estratégia mais adequada.

A economia está em mãos racionais. Na Fazenda, tem Fernando Haddad e um grupo de formuladores de mercado. No BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um grupo de diretores do mercado, em um conselho presidido por André Lara Rezende. Posto que a especialidade de André não são investimentos estratégicos, permite-se suspeitar que sua presença por lá visa engrossar estudos e discussões sobre o Banco Central e a política monetária.

Na outra ponta, tem-se uma opinião pública completamente contaminada pelos bordões do mercado. Qualquer suspiro contra a Lei do Teto é relacionada com a alta do dólar. E, se o dólar cai, recorre-se ao truque retórico de afirmar – sem nenhuma base fática – que, não fosse a fala de Lula, teria caído mais ainda. E danem-se as influências externas, a melhoria do emprego nos Estados Unidos, os movimentos internacionais dos juros.

Não se trata de um jogo racional, mas de décadas de anticiência, de incapacidade absoluta de estabelecer relações de causa-e-efeito entre política monetária e inflação.

O modelo de metas inflacionárias é de um primarismo pornográfico, com a intenção única de não apenas preservar o capital, em relação à inflação, mas de lhe proporcionar ganhos. A ideia é que a taxa de juros da economia tem que ser alguns pontos superior à inflação esperada.

De um lado, permite-se que o mercado super avalie as expectativas de inflação. Depois, define-se uma taxa de juros neutra – isto é, que impede pressões de preços -, em geral vários pontos acima da inflação esperada.

No fundo, a única variável de ajustes é o câmbio. Aumentando os juros, atrai mais dólares. Mais dólares entrando promovem uma valorização do real, reduzindo preços de produtos exportáveis – importados ou exportados.

Acontece que o câmbio estável é uma das principais variáveis para o investimento produtivo – seja interno mas, principalmente, externo. Ou seja, para atender o mercado, contamina-se o ambiente econômico para o investimento produtivo externo.

É evidente que esse tipo de política – mantida pelo governo Lula até a crise de 2008 – foi a principal responsável pela desindustrialização e pela estagnação da economia brasileira.

A mera mudança da Lei do Teto, por limites de despesas mais racionais, não será suficiente para acabar com essa dança irresponsável do câmbio. Mas a desmontagem dessa armadilha exigirá, primeiro, impor as novas teses em discussões mais aprofundadas.

Depois, gradativamente, romper com o terraplanismo da mídia, incapaz de uma discussão mais aprofundada do problema.

Enquanto isto não ocorrer, os desabafos de Lula não ajudarão nessa batalha.