CHAME OS DE SEMPRE.
CHAME OS DE SEMPRE.
João Franzin
O governo Lula está indo bem. O presidente tem feito um esforço admirável para consolidar, no governo, a frente ampla política que criou as condições para sua eleição.
A direita está irritada, sem orientação efetiva, até porque Lula transita bem em todos os setores sociais e políticos - e sua viagem aos Estados Unidos consolida sua condição de estadista, de peça fundamental na geopolítica.
Um das bases de Lula, não a maior, nem a mais forte, é o sindicalismo. O movimento, em abril passado, realizou a Conclat - dali, extraiu um documento alentado, com propostas e reivindicações. Um documento maduro, ao qual o próprio Lula, dia 13 de abril, se referia, "não como uma pauta, mas praticamente um plano de governo".
O ponto central desse documento é a política de aumento real para o salário mínimo, que beneficia perto de 50 milhões de brasileiros, movimenta o mercado interno, põe mais comida na mesa do pobre (se não picanha, coxão mole, vá lá).
Lula, evidentemente, sofre pressão do braço econômico de seu governo, que, sejamos honestos, não tem condições de enfrentar o capital financeiro e o grande capital. Diante disso, a área econômica tenta empurrar com a barriga as demandas sindicais e trabalhistas. Mas, pra isso, precisa de uma desculpa.
A área econômica não pode se apoiar nas teses da direita, que foi por nós derrotada. Mas precisa de uma escora, uma desculpa.
Esse apoio cumpanhero vem agora por um documento de três Centrais Sindicais e alguns pensadores de segundo escalão, que metem no meio do caminho um documento que altera a estrutura sindical e nos obrigará a mudar o Artigo 8º da Constituição (que tantas vezes o ex-presidente tentou violar). Uma proposta, encoberta pela discurseira da esquerda nutella, que é tudo o que os liberais e neoliberais pediram aos céus.
Ora, com isso se posterga a definição do salário mínimo e da redução do imposto nos salários (o que traria mais renda para a base da pirâmide aos setores intermediários, que ganham de dois a cinco mínimos).
A direita, quando não quer queimar a ponta dos dedos, escala setores da esquerda pra tirar as castanhas do braseiro. É o caso. Mas tem quem aceite fazer esse serviço? Tem. Sempre teve.
Portanto, a nossa pauta em linha reta tirada na Conclat, e referendada por Lula naquele encontro na Casa de Portugal SP, passa a caminhar no saibro, em pista cheia de cascas de banana.
A proposta que circula ("em caráter interno", alegam) está gerando uma imensa confusão e reabre os rachas no movimento cuja unidade ajudou a derrotar o bolsonarismo.
Eu ganho o que dizendo isso? Ganho nada. Mas ante o absurdo do documento não vou me omitir. E mais: o que se busca, do ponto de vista político, é aproveitar a vitória eleitoral (que foi de todo o campo democrático) pra impor uma hegemonia que o processo histórico não construiu.
Você quer ganhar dinheiro e ter poder, tudo bem. Mas não venha com modelos sem lastro na experiência. Não venha com espertezas. A direita, ilustres, é mais esperta do que todos nós juntos!
João Franzin, ativista sindical desde 1979; jornalista sindical desde 2 de maio de 1985.