Reitor da Unisinos rejeita homenagem de Brasília

Padre Marcelo Aquino fez protesto contra as políticas do governo federal na área de educação.

Reitor da Unisinos rejeita homenagem de Brasília

Reitor da Unisinos rejeita homenagem de Brasília

Padre Marcelo Aquino fez protesto contra as políticas do governo federal na área de educação.

O reitor da Unisinos, Marcelo Fernandes de Aquino, rejeitou a nomeação como Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores.

A homenagem foi publicada no Diário Oficial da última sexta-feira, 26. Aquino declinou em carta enviada ao Itamaraty nesta segunda, 29.

“Declino de receber essa condecoração, em virtude da atual incapacidade do governo federal de dar um rumo correto para as políticas públicas para as áreas de educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia”, resume o reitor da Unisinos na carta, que circula nas redes sociais e foi tema na imprensa nacional.

Veja a carta:

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Sediada em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, a Unisinos foi fundada em 1969 e é uma universidade privada administrada por jesuítas, hoje entre as mais importantes do Brasil, com cerca de 20 mil alunos.

O Times Higher Education (THE), referência mundial na avaliação de reputação acadêmica, aponta a universidade gaúcha como uma das três melhores instituições de ensino superior privadas do país.

A Unisinos conta também com um parque tecnológico, o Tecnosinos, que é um destaque nacional e abriga grandes empresas multinacionais como a SAP e brasileiras, como a Meta.

Aquino foi nomeado reitor em 2006, um período turbulento para a Unisinos, que deu algumas guinadas bastante radicais sob o comando do novo reitor. 

Doutor em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, versado em idealismo alemão (não exatamente uma leitura amena), Aquino é conhecido internamente na universidade pela cordialidade e bom humor, aliada ao detalhismo e exigência.

Como a maioria dos seus colegas da Companhia de Jesus, Aquino não é o tipo de pessoa que toma decisões intempestivas, ou faz alguma coisa sem deliberar cautelosamente as consequências.

Instituída pelo presidente João Goulart em 1963, a Ordem de Rio Branco é uma das condecorações mais prestigiadas do governo brasileiro, concedida a pessoas em todos os campos de atuação.

(Interessados em numismática vão gostar de saber que a medalha associada traz no seu brasão a expressão latina Ubique Patriae Memor, que o Barão de Rio Branco usava para marcar os livros de sua biblioteca e significa “Em qualquer lugar, terei sempre a Pátria em minha lembrança”).

O grau de Cavaleiro é o máximo, podendo ser concedida a um máximo de 60 pessoas. É uma bela medalha:

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A decisão de Aquino de renunciar à homenagem acontece depois que 20 cientistas rejeitaram a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedida pelo presidente Jair Bolsonaro no começo do mês.

Além disso,  mais de 200 cientistas e personalidades que integram a Ordem Nacional do Mérito Científico divulgaram uma carta em protesto à exclusão dos pesquisadores Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados com a homenagem. 

A honraria concedida a ambos foi revogada no dia 5, um após a condecoração, e teria ocorrido porque os cientistas são responsáveis por trabalhos que desagradaram ao governo.  

Lacerda, por exemplo, é um autor de um dos primeiros estudos sobre a ineficácia da cloroquina no tratamento de pacientes afetados pela covid-19.

A manifestação de Aquino, no entanto, pode ser considerada um passo adiante, porque a Ordem de Rio Branco não tem conexão direta com o presidente, partindo do Ministério das Relações Exteriores.

Depois da saída em março de Ernesto Araújo, um dos grandes representantes da ala mais ideológica do bolsonarismo, o ministério retomou a sua existência discreta.

Aquino é ainda uma figura de relevância maior no meio da educação superior do que os pesquisadores que se manifestaram até agora, sendo o líder de uma universidade de porte nacional, envolvida em articulações relevantes no ecossistema de inovação gaúcho.

É provável que o reitor da Unisinos tenha conversado com seus pares em outras universidades e mesmo outras instâncias dentro da Igreja Católica antes de tomar uma decisão como a atual, o que dá um peso ainda maior à sua manifestação.