O Plano Brady e o golpe da conversão da dívida externa brasileira, por Luís Nassif

O Plano Brady e o golpe da conversão da dívida externa brasileira, por Luís Nassif

O Plano Brady e o golpe da conversão da dívida externa brasileira, por Luís Nassif

Mas foi Maílson quem comandou um dos maiores golpes da história: a permissão para conversão da dívida externa em cruzados

Luis Nassif[email protected]

 

Nicholas Brady e o ex-MInistro Pedro Malan

Um dos episódios menos estudados da moderna história do país, foi a proposta de securitização da dívida externa brasileira, proposta pelo então Ministro da Fazenda de José Sarney, Luiz Carlos Bresser Pereira.

Acompanhei de perto aquela operação, por via indireta. A ideia veio de Paulo Brito, da Cotia Trading, e de Roberto Gianetti da Fonseca. Ambos se associaram na Silex, um fundo financeiro, importando um operador dos Estados Unidos, e se prepararam para o novo mercado que surgiria.

Por aqueles tempos, tinha o programa Dinheiro Vivo na TV Gazeta e havia lançado a newsletter Guia Financeiro, brilhantemente editada pelo amigo Sérgio Sister. A Cotia tinha acabado de recuperar uma bolada de US$ 1 bilhão que estava retida na Nigéria. Nosso repórter, William Salazar, teve um almoço com Paulo Britto e veio com a informação de que ele queria se associar à Dinheiro Vivo.

Paulo era um bom visionário e deu-se conta de que, com a mídia digital, haveria espaço para novos bancos de investimento ligados a publicações financeiras. A aventura durou pouco. Montei a Agência, divulgávamos nossas informações pela CMA – que distribuía sinais da bolsa. Mas éramos sempre passados para trás, na hora do balanço de assinaturas.

A Silex acabou se associando à Broadcast, um sistema de transmissão de dados através de sinais de FM. Não fosse uma briga entre os dois sócios, o projeto teria futuro.

Mas, no que importa, a proposta de securitização da dívida prosperou. Mas foi torpedeada fora e dentro do país. Fora do país por Nicholas Frederick Brady, o Secretário do Tesouro do país. Dentro, por inúmeros grupos que queriam faturar em cima da securitização.

Bresser saiu do governo, entrou a trágica gestão de Maílson da Nóbrega, que apresentou a mina de ouro da época: a conversão da dívida externa brasileira em moeda nacional. 

Houve inúmeros aventureiros de olho no botim. Um deles chegou a apresentar um plano de exportação de casas de madeira para Angola, pela construtora Mendes Júnior.

Mas foi Maílson quem comandou um dos maiores golpes da história: a permissão para conversão da dívida externa em cruzados, dependendo exclusivamente da autorização do Banco Central, sem nenhuma espécie de licitação, disputa ou deságio.

Foi essa operação que permitiu ao ex-presidente do Banco Central, Fernão Bracher, tornar-se sócio do austríaco Banco BI Creditanstalt no BBA (de Bracher e Beltran Martinez, ex-diretor do Bradesco) e a João Sayad montar o SRL (de Sayad, Felippe Reichstul e Francisco Luna). A conversão provocou uma enorme emissão de moeda interna, que ajudou na hiperfinflação do período Mailson.

O Credistantalt era um banco controverso, que fechou em 2002 na Áustria, no bojo de um escândalo financeiro que envolveu Karlheinz Grasser, que era o Ministro das Finanças na época do colapso. Grasser foi condenado a oito anos de prisão em 2020.

Aparentemente, não contaminou o BBA. No mesmo ano da quebra do Credistantalt, o BBA acabou vendido para o Itaú. Na ocasião, já era o maior banco de investimento do país, depois que Pedro Moreira Salles liquidou o banco de investimentos do Unibanco que, desde os anos 80, dominava o mercado brasileiro.