IDENTIDADE SOCIALISTA DO PCdoB? AFINAL, O QUE É ISSO?

IDENTIDADE SOCIALISTA DO PCdoB? AFINAL, O QUE É ISSO?

IDENTIDADE SOCIALISTA DO PCdoB?AFINAL, O QUE É ISSO?

   Raul Carrion

 

    Em artigo anterior, intitulado “A ‘MISTERIOSA’ IDENTIDADE DO PCdoB”, procurei mostrar o quão é errônea a pretensão de buscar uma nova “identidade” para o nosso Partido, talvez mais “palatável” para os dias atuais, quando enfrentamos uma ofensiva da contrarrevolução, no mundo e no Brasil.

     Inicialmente, questionei a opinião daqueles que dizem que PCdoB está perdendo a sua identidade por se aliar eleitoralmente ao PT e que isso nos tornava um “puxadinho do PT”.

    Ora, é um equívoco achar que a identidade de um Partido Comunista se expressa através das alianças que os comunistas precisam fazer nos processos eleitorais e nas lutas sociais.

     A identidade dos comunistas se define através das suas bandeiras imediatas (táticas) e futuras (estratégicas). É aqui que devemos buscar os problemas que podem estar dificultando firmar a nossa identidade junto ao povo.

     Mesmo que aceitássemos a falsa tese de que são as alianças eleitorais que vincam a identidade dos comunistas, caberia perguntar qual seria a saída para isso?

     Não realizar nenhuma aliança eleitoral e marcharmos sozinhos?

     Fazer alianças com forças de centro e centro-direita (PMDB, PSD, PSB, PDT)?

     Ou privilegiar alianças com correntes sectárias, de caráter trotskista, como o PSOL, que, no Rio Grande do Sul é hegemonizado pelo MES, defendeu a Lava-Jato e apoiou o impedimento de Dilma? Que na América Latina ataca a heroica Cuba, a Venezuela e a Nicarágua? Que afirma que a luta fundamental que ocorre no mundo nos dias de hoje é entre as “democracias” (EUA? União Europeia?) e as “autocracias” – entre as quais inclui a China, Vietnã e demais países socialistas e, evidentemente, a Rússia, Irã, Bielorrússia e outros países que resistem ao imperialismo? Que apoia a Ucrânia nazista, títere da OTAN, contra a Federação Rússia que, cercada pela OTAN, trava uma luta pela sua sobrevivência como nação soberana?

     Não me parece que isso nos ajude a afirmar a nossa identidade revolucionária...

     Em segundo lugar, fiz uma crítica da tão badalada “Nova Política” – defendida por algumas(uns) camaradas – que nunca passou de uma expressão vazia de conteúdo, nunca esclarecida...

     Da mesma forma, afirmei que nenhuma bandeira parcial, por mais importante que seja – como a defesa da soberania nacional, a emancipação das mulheres, a luta antirracista –, é capaz de expressar a identidade dos comunistas.

     Tomei em mãos, então, a famosa “Lanterna de Diógenes” para buscar a tão “misteriosa” identidade comunista, concluindo pelo óbvio – ao que parece esquecido por muitos – de que a identidade do Partido Comunista do Brasil não é definida pelas alianças que realiza, por uma pretensa “Nova Política”, pelo seu patriotismo, pela defesa da emancipação das mulheres, pelo seu caráter antirracista, por sua oposição a todo o tipo de opressão e discriminação, mas sim por sua luta anticapitalista e anti-imperialista e pela edificação uma nova sociedade, sem explorados e sem exploradores, em uma primeira etapa socialista e em uma segunda etapa comunista!

     Exatamente por isso, somos o partido – dentre todos os que existem no Brasil – mais radicalmente "antissistema"!

     Mas, consciente de que não podemos compreender a nossa identidade socialista e comunista como uma pregação “principista” e que o caminho ao socialismo exige passos prévios, destaquei a proposta do PCdoB de um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento” – capaz de fortalecer a soberania nacional (sem o que o socialismo é impossível), de ampliar as liberdades democráticas (condição básica para as transformações socialistas) e de assegurar a valorização do trabalho frente ao capital –, proposta umbilicalmente ligada à nossa identidade socialista.

     Sinteticamente, o NPND aborda a “transição ao socialismo” – não a "transição socialista" – e é o caminho apontado pelo PCdoB para aproximar o Brasil do socialismo 

     Explicitada a nossa identidade – forjada em mais de um século de lutas e registrada nas resoluções dos nossos congressos – é preciso que esta não se resuma a uma “declaração de princípios”, mas se expresse no dia a dia das nossas lutas.

     Aqui, cabem perguntas.

     Temos conseguido mostrar ao nosso povo, no cotidiano de suas lutas, a necessidade de superar o capitalismo e temos deixado claro que os seus problemas imediatos só serão resolvidos de forma definitiva com a eliminação da exploração e da opressão capitalistas?

     Temos denunciado, de forma viva os crimes do imperialismo e as mazelas do capitalismo, apontando as suas causas e responsáveis?

     Temos nos preocupado o suficiente em divulgar as experiências socialistas e seus avanços na China, Vietnã, Cuba, Coreia do Norte, Laos? Inclusive, as conquistas do socialismo na URSS e no Leste Europeu, antes da degeneração revisionista?

     Temos feito uma ampla propaganda da nossa proposta de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimentos que – mais do que uma mera distribuição de renda – exige a priorização do desenvolvimento econômico e tecnológico do país, o fortalecimento da soberania nacional, a ampliação das liberdades democráticas e a garantia dos direitos dos trabalhadores?

     Que este é o caminho para a construção de uma nova sociedade, sem explorados e exploradores, mais humana, mais justa e mais feliz?

     Temos travado com determinação a luta contra o grande capital financeiro, que se apropria de 50% do orçamento nacional? Pela Reforma Urbana? Pela Reforma Agrária? Pela redução da jornada de trabalho? Pela democratização dos meios de comunicação de massas?

     São essas e outras questões que vincam a nossa identidade junto ao povo e não as nossas eventuais alianças eleitorais.

     Em muitas dessas questões o PCdoB, no que está ao alcance de suas forças, tem jogado um papel de destaque; em outras questões, tem deixado a desejar. Sobre isso, temos que nos debruçar autocriticamente, buscando as formas de corrigir as nossas deficiências.

     É preciso que sejamos os batalhadores mais abnegados pelas reivindicações imediatas das massas – o que nos fará sermos reconhecidos por elas – mas sem deixar de lhes apontar o caminho da verdadeira emancipação social, pois – como nos ensinam Marx e Engels, no “Manifesto do Partido Comunista” – o que nos diferencia dos demais partidos é que os comunistas “lutam para alcançar os fins e os interesses imediatos da classe operária, mas no movimento presente representam simultaneamente o futuro do movimento.”

     Firmar a nossa identidade junto ao povo é um grande passo, mas não é o suficiente.

     Ainda é necessário construir um partido numeroso; enraizado nos trabalhadores; estruturado em organizações de base; com capacidade de comunicação com as amplas massas, com dirigentes e militantes forjados teórica e ideologicamente e que coloquem o projeto coletivo acima de seus projetos pessoais.

     Essa é uma árdua tarefa, principalmente para um partido perseguido como o nosso.

     Mas é tema para outra reflexão.