“Bolsonaro já tem mentiras prontas e ajudou milícias”, diz Barroso

Presidente do TSE afirma que o mandatário antecipou a estratégia dele, que é: ‘não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que a urna eletrônica tem vulnerabilidades’

“Bolsonaro já tem mentiras prontas e ajudou milícias”, diz Barroso

“Bolsonaro já tem mentiras prontas e ajudou milícias”, diz Barroso

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O ministro do STF e presidente do TSE, Luís Roberto Barroso (foto: Nelson Jr./SCO/STF)

Presidente do TSE afirma que o mandatário antecipou a estratégia dele, que é: ‘não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que a urna eletrônica tem vulnerabilidades’

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou, no sábado, em entrevista a “O Globo”, que, quando o assunto é urna eletrônica, Jair Bolsonaro “não precisa de fatos, a mentira já está pronta”. “Ele antecipou a estratégia dele, que é: não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades”, apontou Barroso.

Para o ministro, as investidas de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas revelam “limitações cognitivas e baixa civilidade”, enquanto favorecem a atuação de milícias digitais — uma relação investigada pela Polícia Federal. O ministro afirma que Bolsonaro facilitou a vida desses grupos ao divulgar dados sigilosos do inquérito que apurava um ataque hacker à Corte.

“Ainda na gestão anterior do TSE, houve uma tentativa de invasão (do sistema). Foi instaurado um procedimento sigiloso no TSE, um inquérito sigiloso na Polícia Federal no qual foram requeridas informações sensíveis sobre a arquitetura interna do TSE e esse material foi colocado na rede social do presidente. O presidente facilitou a vida das milícias digitais”, disse o presidente do TSE.

Barroso também falou do controle que a sociedade tem que exercer sobre as plataformas digitais. “Liberdade de expressão não é liberdade para vender arma. Não é liberdade para propagar terrorismo, para apologia ao nazismo. Não é ser um espaço para que marginais ataquem a democracia. Portanto, ninguém quer censurar plataforma alguma, mas há manifestações que não são legítimas. É justamente para preservar a democracia que não queremos que estejam aqui livremente plataformas que querem destruir a democracia e a liberdade de expressão”, observou o ministro Barroso.

 

Sobre uma suposta “desconfiança” das Forças Armadas, alardeada por Bolsonaro, Barroso disse que” o que há de minimamente verdadeiro: há um representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições. Em dezembro, ele apresentou uma série de perguntas para entender como funciona o sistema. Elas entraram às vésperas do recesso. Em janeiro, boa parte da área técnica do TSE faz uma pausa, e agora as informações solicitadas estão sendo prestadas e vão ser entregues na semana que vem. Só tem perguntas”.

Para Barroso, Bolsonaro está deturpando os fatos. “Não há nenhum comentário. Não falam de vulnerabilidade. Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a largada. Ele lança mão dos questionamentos feitos pelo representante das Forças Armadas, quando, na verdade, tudo o que foi feito foram algumas perguntas e, antes de ter recebido as respostas, já disse que tem vulnerabilidades”, afirmou.

“Ele antecipou a estratégia dele, que é: não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta”, destacou o ministro.

Barroso garantiu que o tribunal vai garantir eleições livres. “O TSE assegurará eleições livres, limpas e seguras. A polarização existe em todo o mundo. E a democracia tem lugar para liberais, para progressistas e para conservadores. Ela só não tem lugar para os que querem destruí-la. Acho que já superamos os ciclos do atraso, e não acho que haja risco de retrocesso, apesar de termos tido alguns maus momentos recentes”, salientou.

Sobre esse “maus momentos”, o ministro lembrou de alguns. “Comício do presidente na porta do quartel-general do Exército, tanques na Praça dos Três Poderes, a minguada manifestação do 7 de setembro com discursos golpistas de desrespeito a decisões judiciais e ataques a ministros. Tudo isso eu acho que mais revela limitações cognitivas e baixa civilidade do que propriamente um risco real”, disse.