2022 está chegando

Logo de início vou me desculpando se o leitor foi atraído pelo título e esperava ler um texto acerca das eleições que vão ocorrer no Brasil em 2022. Não é nada disso.

2022 está chegando

2022 está chegando

Por Isaac Roitman.

Redação

 

Cerimônia troca de bandeiras do Brasil (foto de Fábio Pozzebom, ABr)

Logo de início vou me desculpando se o leitor foi atraído pelo título e esperava ler um texto acerca das eleições que vão ocorrer no Brasil em 2022. Não é nada disso.

No dia 7 de setembro de 2022 será o bicentenário da Independência do Brasil marcada pela famosa frase de Dom Pedro I: “Independência ou Morte”. Pelo menos duas perguntas são pertinentes após 200 anos daquele episódio histórico. A primeira é se devemos celebrar o bicentenário da independência. A segunda é se somos realmente um país independente.

Respondendo à primeira pergunta, diria que não temos motivos e argumentos consistentes para uma celebração. Se revisitarmos a história brasileira nos últimos dois séculos, vamos identificar muito sofrimento e injustiças da maioria da sociedade brasileira e infelizmente testemunhar e viver uma realidade perversa com pano de fundo de uma desigualdade social crescente.

Para responder a segunda pergunta, é preciso revisitar os últimos 200 anos do Brasil. Após o “Grito do Ipiranga” o Brasil “deixou” de ser uma colônia portuguesa e passou a ser uma nação “independente”. Com esse evento, o país organizou-se como uma monarquia onde Dom Pedro I foi o imperador. A partir de 1870 a monarquia brasileira passou a ser questionada por diversos setores da sociedade brasileira que passaram a defender o fim da monarquia e a implantação da república.

Nesse novo cenário, as formas de controle social pouco mudaram. Nas camadas mais altas da pirâmide econômica, as oligarquias locais assumem o poder da máquina pública gerenciando seus próprios interesses. Chegamos aos dias de hoje com um modelo estrutural semelhante permeado por avanços e retrocessos nas políticas sociais.

É importante para a resposta se somos verdadeiramente independentes analisar, entre outros, alguns cenários atuais. No país que é proclamado como celeiro de alimentos para o mundo, milhões de brasileiros estão passando fome. O Brasil é dependente de multinacionais em várias áreas, como a de pesquisa e processamento de fármacos, devido à incapacidade gerada pela falta de investimentos em Ciência e Tecnologia. Um bom exemplo foi a fala de soberania e autonomia no combate da pandemia da Covid-19 através de vacinas.

O Brasil tem uma cultura que é mal valorizada e que expressa os costumes brasileiros através da música, dança, artes cênicas, artes visuais e outras manifestações. Ser uma colônia cultural é tão grave como ser uma colônia econômica.

Na verdade, o Brasil não é um país soberano e independente. Segundo a historiadora Isabel Lustosa, “um país independente é aquele que tem total autonomia para cuidar de todas as coisas que acontecem nos limites geográficos de suas fronteiras. Ser independente é ser uma nação governada de acordo com o que foi definido pelo povo a partir de suas tradições ou convicções sem que o governo de qualquer outro país possa interferir. Ser independente é ser capaz de decidir sobre o regime político que lhe convém, sobre a maneira de organizar a administração, a economia, a política e as demais instituições sociais”.

Precisamos proclamar nossa real independência e celebrarmos essa conquista. Talvez 2022 possa ser um ano de inflexão, com a implantação de um projeto que possa resultar em termos um país justo, harmonioso, onde o amor, o bem-estar e a felicidade estejam ao alcance de todos/as os brasileiros/as.

 

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2022-2030 o Brasil e o Mundo que queremos.