Quem apadrinha o terrorismo?

Que país tem praticado e promovido o terrorismo como parte de sua política externa, até mesmo dentro de seu próprio país, devido à essência hegemônica e desumana de seu sistema, Cuba ou os Estados Unidos?

Quem apadrinha o terrorismo?

Quem apadrinha o terrorismo?

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Tradução: Roxana Baspineiro

Com cinismo excepcional, este país, cujo Estado praticou abertamente o terrorismo planetário com dolorosa impunidade, está agora em uma situação de total fratura e desordem interna - AFP
Nas intervenções na América Latina, a ilegal Doutrina Monroe tem sido respaldada e mantida

Por Pedro Monzón*

 

Que país tem praticado e promovido o terrorismo como parte de sua política externa, até mesmo dentro de seu próprio país, devido à essência hegemônica e desumana de seu sistema, Cuba ou os Estados Unidos? A história e os fatos são muito eloqüentes, façamos uma comparação.

Os Estados Unidos, tem um registro indiscutível neste terreno. Somente na América Latina e no Caribe, este país tem sido responsável por numerosos ataques e intervenções contra os direitos soberanos de nossos povos, os quais estão intimamente associados ao terror: se apoderou de quase metade do território do México em meados do século XIX, interveio militarmente em Porto Rico e Cuba em 1898, de modo que a primeira continua sendo uma colônia dos EUA e Cuba foi transformada em um país humilhado, reprimido e dependente até o triunfo da Revolução em 1º de janeiro de 1959.

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Também se apropriou do Canal do Panamá no início do século XX e interveio sucessivamente nesse país, incluindo a invasão criminosa de 1983.

Invadiu a Nicarágua no século XIX e ocupou seu território em 1912, de onde foi expulso por Sandino em 1933, um líder proeminente que foi assassinado, anos depois, precisamente com o apoio dos EUA. Financiou a criação dos Contras (grupo paramilitar), também na Nicarágua, com fundos derivados de drogas e forneceu armas a seus integrantes em 1981.

Os Estados Unidos ocuparam o Haiti por 19 anos a partir de 1915, invadiram e derrubaram o Presidente Aristide em 1983 e em 2004. Ocuparam a República Dominicana por 8 anos a partir de 1916 e apoiaram o ditador Trujillo e invadiram o país em 1965 para impedir a legítima restauração do Presidente Bosch.

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Os Estados Unidos intervieram em Honduras em 1924 e 2009 e apoiaram a destituição do presidente Zelaya e de Fernando Lugo no Uruguai. Derrubaram Jacobo Arbenz na Guatemala e intervieram na sangrenta luta "anti-insurgência" lá em 1966. Promoveram o golpe de Estado de 1964 contra João Goulart no Brasil.

Os Estados Unidos foram os criadores da Operação Condor nos anos 70 e 80, quando o país promoveu e apoiou as ditaduras de Hugo Banzer na Bolívia, Ernesto Geisel no Brasil, Alfredo Stroessner no Paraguai, Juan María Bordaberry no Uruguai e Jorge Rafael Videla na Argentina.

Foi o arquiteto do golpe de Estado no Chile e do assassinato de Allende em 1973 e apoiou a sangrenta ditadura de Pinochet. Apoiou a guerra anti-insurgência em Salvador nos anos 80 e invadiu Granada em 1983. Os Estados Unidos também têm sido um protagonista direto de repetidas tentativas de assassinato, golpes de Estado, guerra econômica e terrorismo contra a Venezuela de Chávez e Maduro.

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Nas intervenções na América Latina, a ilegal Doutrina Monroe tem sido respaldada e mantida enquanto no resto do mundo se apoiou em interesses hegemônicos que buscam acumular poder e recursos naturais, sem considerações humanas ou morais.

Os EUA causaram a morte de centenas de milhares de pessoas inocentes, idosos, mulheres e crianças em Hiroshima e Nagasaki ao lançarem bombas atômicas sobre a população civil. Apoiaram ditaduras sangrentas em outros países do mundo, como foi o caso do Apartheid na África do Sul.

Também são diretamente responsáveis pelas guerras criminosas que foram detonadas no Oriente Médio, que desestabilizaram a região e causaram milhões de mortos e migrantes. Encorajaram a criação de grupos terroristas e apóiam ativamente a política de extermínio de Israel contra o povo palestino.

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Os Estados Unidos saudaram a criação de prisões secretas e a prática deliberada de tortura em diferentes partes do mundo e, em particular, na prisão que fundou na base naval estabelecida e mantida pela força em Guantánamo, Cuba. Os Estados Unidos encheram o planeta de bases militares e é o país que dedica mais recursos ao desenvolvimento militar e às guerras de agressão.

Sua política de dominação contra Cuba começou muito antes da conquista da independência em 1959 e do estabelecimento do socialismo. Após o triunfo da Revolução, Cuba sofreu as agressões dos Estados Unidos com muita fúria.

As contínuas ações terroristas, as infiltrações e invasões armadas de nosso território nas montanhas e em Playa Girón, além do contínuo bloqueio econômico, comercial e financeiro que tem sido outro recurso difícil de gerar terror. Essas políticas causaram morte, sofrimento, muitas faltas materiais e retardaram o desenvolvimento de nossa economia.

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Com cinismo excepcional, este país, cujo Estado praticou abertamente o terrorismo planetário com dolorosa impunidade, está agora em uma situação de total fratura e desordem interna, causada pela política arrogante supremacista, racista e odiosa da administração Trump.

Essa administração imoral, desacreditada, sem vergonha, desprezível e caótica em sua fase final é justamente a que tem a audácia de acusar Cuba de apadrinhar o terrorismo, incluindo-a, mais uma vez, em uma lista espúria, arbitrária e injustificada, em consonância com sua política particularmente agressiva e criminosa.

Tal decisão, que terá um impacto adicional nas limitações de Cuba nos campos das finanças e do comércio, esconde o propósito de tornar a política anticubana trumpista duradoura, tentando amarrar as mãos do novo governo Biden com fatos consumados.

Poucos no mundo apoiam esta política por várias razões fundamentais: por um lado, a completa ausência de moralidade e poder legal dos Estados Unidos para estabelecer listas que qualificam outros países e, por outro lado, o prestígio de Cuba na arena internacional.

Isto é bem merecido, pois Cuba demonstrou ser um país inflexível e resiliente em termos de seu direito à independência e praticou uma política profunda e abrangente de justiça social, que persistiu apesar do bloqueio e dos períodos muito difíceis que a Revolução teve de suportar.

Uma terceira e muito importante razão é uma verdade reconhecida por todos: a política externa de Cuba tem sido um exemplo de solidariedade concreta, desinteressada e sem precedentes no mundo. O apoio aos movimentos anticoloniais e independentistas nacionais, o apoio na educação que tem garantido, entre outros resultados, a alfabetização de milhões de pessoas humildes no mundo.

A ajuda à saúde dos povos de muitos países desde o triunfo da Revolução, que ultrapassa 400 mil médicos em mais de 70 países. A assistência em Cuba a mais de 24 mil crianças contaminadas pela radioatividade em Chernobyl e algumas em Goiás, Brasil.

A criação da Missão Milagro que restaurou a visão de milhões de humildes latino-americanos e caribenhos. A criação da Escola Latino-Americana de Medicina para o estudo desta importante e humana carreira por cidadãos pobres de muitos países.

E mais recentemente, assim que a atual pandemia eclodiu, o apoio ativo do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Situações de Desastre e Epidemias Graves Henry Reeve a 40 países com 55 brigadas formadas por mais de 4.600 médicos e enfermeiros, um processo que continuará a salvar vidas, que é seu único objetivo.

Faz muito sentido então que uma frase derivada de um discurso de Fidel Castro, que é justamente uma comparação tácita das políticas de ambos os países, tenha ganhado popularidade: "Cuba exporta médicos, não bombas".

Fidel tinha o mesmo propósito de contrastar uma tarefa tão humana como o cuidado com a saúde dos seres humanos com guerras que causam morte, fome e desolação, quando chamou nossas as missões médicas internacionalistas de "exércitos de casacos brancos".

Este grande contraste entre as políticas dos dois países responde inequivocamente à pergunta que é o título deste artigo: Quem apadrinha o terrorismo?

Permitam-me, finalmente, destacar o caráter sério, imoral, absurdo e louco desta decisão dos Estados Unidos, concluindo com um comentário eloquente do renomado intelectual brasileiro Frei Betto sobre o assunto e que tive a oportunidade de ler recentemente:

"A administração Trump, que inclui Cuba na lista de países que promovem o terrorismo, é equivalente a Jesus ser condenado pelo Império Romano e pelos fariseus como um bandido, subversivo, herege e violador das leis divinas!”

 

*Pedro Monzón é Consul Geral de Cuba em São Paulo.