Pentágono admite ter financiado 46 laboratórios biológicos na Ucrânia

Em março, a Rússia já havia apresentado, em reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, documentação comprovando experimentos para produção de armas biológicas em solo ucraniano 

Pentágono admite ter financiado 46 laboratórios biológicos na Ucrânia

Pentágono admite ter financiado 46 laboratórios biológicos na Ucrânia

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Laboratórios biológicos realizavam experimentos com antraz e cólera entre outros patógenos (Takayuki Hamai - AFP)

Em março, a Rússia já havia apresentado, em reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, documentação comprovando experimentos para produção de armas biológicas em solo ucraniano com financiamento e supervisão do Pentágono

O Pentágono reconhece que financiou 46 laboratórios biológicos na Ucrânia nos últimos 20 anos. A declaração foi divulgada nesta quinta-feira (09).

Esta é a primeira vez que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos divulga o número de tais instalações que seu governo implantou na Ucrânia, em um documento paradoxalmente intitulado ‘Ficha informativa sobre os esforços de redução de ameaças de armas de destruição em massa’.

Em uma série de briefings iniciados em março, os militares russos apresentaram evidências do envolvimento do Pentágono no financiamento desses laboratórios na Ucrânia. No início de maio, Igor Kirilov, chefe das tropas de proteção radiológica, química e biológica da Rússia, acusou Kiev de lançar um ataque biológico contra a região separatista de Lugansk e de realizar “experimentos desumanos” em pacientes ucranianos. 

Outras evidências sugeriram experiências de armar drones para dispersar patógenos particularmente perigosos incluindo peste, antraz e cólera.

No momento em que as forças russas avançavam em território ucraniano, os norte-americanos correram a destruir materiais comprometedores que evidenciavam os experimentos com capacidade agressiva incluindo ogivas com capacidade de disseminar patógenos.

Interessante que quem confessou a preocupação ao Senado dos EUA foi a mesma oficial da Casa Branca que atuou para estimular o golpe de 2014 contra o governo legítimo da Ucrânia: Victoria Nuland.

“A Ucrânia tem instalações de pesquisas biológicas e, de fato, estamos bastante preocupados de que as forças russas estejam buscando tomar controle delas e por isso estamos trabalhando com os ucranianos sobre como prever que qualquer destes materiais de pesquisa caia nas mãos das forças russas se elas se aproximam”, declarou.

Igor Kirilov informou que Moscou pediu ao Congresso dos EUA para, além de investigar os programas biológicos, realizar uma pesquisa oficial de pessoas envolvidas no financiamento de bio-laboratórios na Ucrânia.

 

E, na sequência, divulgou os nomes de alguns dos funcionários que participaram da organização da pesquisa biológico-militar na Ucrânia, já de conhecimento dos russos. Segundo Kirilov, entre eles estão representantes de empreiteiros do Pentágono, como Lance Lippencott, David Mustra, Mary Guttieri, Scott Thornton.

O especialista destacou “a participação no financiamento dessas atividades por estruturas próximas aos atuais líderes norte-americanos, incluindo o fundo de investimento Rosemont Seneca, que era dirigido por Hunter Biden”, filho do atual presidente norte-americano.

“Os laboratórios biológicos no território ucraniano   representam um perigo não apenas à Rússia, como também para toda a Europa. A operação especial russa na Ucrânia visa, entre outras coisas, acabar com esta ameaça”, afirmou, de posse da documentação, o Ministério do Exterior da Rússia.

Estranhamente, apesar de ter sido o braço militar do governo norte-americano, o Pentágono, a ser utilizado nas operações com laboratórios biológicos e não órgãos ligados à saúde, o Pentágono jura que a ação foi parte de “um projeto pacífico de saúde pública”, ao invés de desenvolver armamentos.

Diz ainda que o trabalho desses biolaboratórios teria sido “frequentemente” (assim, de forma vaga, sem dizer qual frequência) realizado em parceria com órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

No entanto, no mesmo documento o Pentágono tropeça na narrativa ao confessar que a iniciativa “aprovada pelo Congresso” visava, entre outras coisas, “oferecer assistência em encontrar emprego bem remunerado a milhares de ex-cientistas soviéticos com conhecimento especializado WMD [armas de destruição em massa] e material relacionado a WMD e sistemas de seu lançamento”.

Em reunião do mês de março do Conselho de Segurança da ONU, convocada pela Rússia em regime de urgência, seu representante nas Nações Unidas, Vassili Nebenzya, já apontava para a participação central do Pentágono no financiamento dos biolaboratórios em solo ucraniano: “Há fatos verdadeiramente perturbadores sobre a limpeza urgente pelo regime de Kiev de vestígios de um programa militar-biológico, realizado por Kiev com o apoio do Departamento de Defesa dos EUA.”

Segundo Nebenzia, “foram realizados experimentos biológicos extremamente perigosos, destinados a aumentar as características patogênicas do antraz” e outras doenças mortais.

Como resultado das investigações, o diplomata forneceu detalhes do projeto UP-4, que foi realizado em laboratórios biológicos em Kiev, Kharkov e Odessa com o objetivo de estudar a probabilidade de transmissão de infecções perigosas por aves migratórias.