O mês de agosto. A história. As crendices
O mês de agosto. A história. As crendices
Para muitos o mês de agosto está associado a tragédias, a história e a crendice popular de que o período é aziago e impregnado de maus presságios. Machado de Assis, senhor das palavras e frasista por convicção assinalava que quando a morte encontra um Goethe ou Voltaire parece que esses grandes homens na idade extrema a que chegaram, precisam de entrar na eternidade e no infinito sem nada dever à terra que os ouviu e admirou.
A História do Brasil é prenhe de acontecimentos que registram tragédias que transformaram a Nação no mês de agosto. O episódio mais dramático entre outros, foi o suicídio do então Presidente Getúlio Vargas no dia 24 de agosto de 1954.
Premido por tenaz campanha empreendida pelo jornalista Carlos Lacerda no seu jornal Tribuna da Imprensa e na Câmara Federal contra o seu Governo, o então presidente temendo a deposição e a possibilidade de ser preso na chamada República do Galeão, reduto de militares e golpistas, foi conduzido ao ato extremo.
Para o desenlace um fato foi determinante. O atentado ao jornalista Carlos Lacerda patrocinado pelo chefe da segurança do Presidente, Gregório Fortunato, sem o conhecimento do mesmo que resultou na morte do Major Rubens Vaz, que dava cobertura e proteção a Carlos Lacerda.
A morte do Presidente Getúlio Vargas no dia 24 de agosto de 1954 completou 70 anos no dia 24 de agosto deste ano. Seu sacrifício impediu o Golpe de Estado pela comoção popular. Porém a quebra da ordem democrática foi só interrompida. Dez anos depois maus brasileiros implantaram uma ditadura que durou 21 anos. O Golpe Militar de 1964.
Seja como for, o legado de Getúlio Vargas foi enorme: Consolidação das Leis do Trabalho; criação da Fábrica Nacional de Motores; Criação do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); Criação do Vale do Rio Doce; Criação do Conselho Nacional do Petróleo; Instituição da Carteira do Trabalho e mais uma intensa lista.
No campo político as tragédias não ficaram somente na morte de Vargas. Miguel Arraes de Alencar, ex-governador de Pernambuco e líder progressista morreu na mesma data 13 de agosto do seu neto Eduardo Campos.
No período da ditadura que começou em 1964 o ditador Costa e Silva sofreu uma trombose cerebral sendo substituído por uma junta militar. Seu vice era Pedro Aleixo que foi impedido de assumir a presidência provocando grave crise institucional.
Nos anos mais críticos do período ditatorial o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro na Via Dutra, o opala que o levava chocou-se com um caminhão.
Aconteceu também no mês de agosto grave tragédia com enorme dimensão na vida social e literária do Brasil, o assassinato de Euclides da Cunha (1866 – 1909), escritor, jornalista e autor de Os Sertões, obra literária com viés histórico dividida em três partes: a Caatinga (o ambiente); o Sertanejo (o homem) e a Luta (a insurgência).
Sobre a Caatinga, dizia Euclides: “A travessia das Veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Sobre o Sertanejo foi categórico: “Antes de tudo um forte”, sobre a Tragédia de Canudos foi arrasador: “decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões”.
Euclides da Cunha na literatura era um Pré-modernista e no campo social tinha posição militante no enfrentamento das causas sociais não comungando com o academicismo inútil.
Pois bem, essa figura extraordinária foi vítima de uma tragédia causada pela infidelidade de sua mulher Anna de Assis, que se apaixonara por um jovem cadete chamado Dilermando de Assis, 17 anos mais jovem do que ela. Revoltado, Euclides da Cunha tentou matar o amante porém foi morto pelo mesmo. Era o dia 15 de agosto de 1909. O fato ficou notório como a Tragédia da Piedade.
Embora não tenha nascido no mês de agosto, Vinícius de Moraes fez esse verso:
A mulher de Leão brilha na escuridão.
A mulher de Leão, mesmo sem fome pega, mata e come.
A mulher de Leão não tem perdão.
As mulheres de Leão, leoas são
Poeta, operário, capitão.
Cuidado com a mulher de Leão.
Alguns consideram que a superstição do mês de agosto teve origem em Portugal onde as mulheres não se casavam durante esse mês e teria surgido na época das grandes navegações, quando as embarcações navegavam, temendo viuvez precoce.
As bombas atômicas foram lançadas e Hiroshima e Nagasaki, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, pelos Estados Unidos.
Eu pessoalmente não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem!
* Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor Consultivo e Fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex-repórter do Jornal Correio da Manhã (RJ).