Investigações da PF mostram que joias e presentes entregues a Bolsonaro começaram a ser negociados nos EUA em junho de 2022

Investigações da PF mostram que joias e presentes entregues a Bolsonaro começaram a ser negociados nos EUA em junho de 2022

Investigações da PF mostram que joias e presentes entregues a Bolsonaro começaram a ser negociados nos EUA em junho de 2022

A Polícia Federal afirmou que um novo conjunto de presentes oficiais deixou o Brasil alguns meses depois. A mala embarcou no avião presidencial, que levou Jair Bolsonaro para os Estados Unidos no fim do mandato.

Por Jornal Nacional

 

 

Polícia Federal afirma que negociação de presentes e joias entregues a Jair Bolsonaro começou ainda em junho de 2022, nos Estados Unidos

 

As investigações mostram que joias e presentes entregues a Jair Bolsonaro começaram a ser negociados nos Estados Unidos ainda em junho de 2022.

Em junho de 2022, a equipe de Mauro Cid solicitou ao Gabinete de Documentação Histórica a lista dos relógios recebidos de presente pela Presidência até aquele ponto do mandato de Jair Bolsonaro.

No dia 2 de junho, um ajudante de ordens recebeu a lista de 37 itens com os dados dos fabricantes de cada um, como solicitado. Quatro dias depois, Mauro Cid retirou do acervo um kit de joias composto por um relógio da marca Rolex de ouro branco, um anel, abotoaduras e um rosário islâmico entregue a Bolsonaro em uma viagem oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.

 

No dia 8 de junho, Bolsonaro e Cid viajaram aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas, em Los Angeles. Segundo a Polícia Federal, Mauro Cid levou, no voo oficial da FAB, o kit de joias.

Os investigadores afirmaram que ele não voltou para o Brasil com a comitiva e que levou as joias para a casa do pai, Mauro Cesar Lourena Cid, que ocupava, desde 2019, um cargo no escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex, em Miami.

PF localizou, a partir da análise de dados armazenados na nuvem do celular de Mauro Cid, um comprovante de depósito da loja no valor de US$ 68 mil — Foto: JN

PF localizou, a partir da análise de dados armazenados na nuvem do celular de Mauro Cid, um comprovante de depósito da loja no valor de US$ 68 mil — Foto: JN

No dia 13 de junho, Mauro Cid viajou para a Pensilvânia para vender o relógio Rolex de ouro branco e outro relógio da marca Patek Philippe. A PF localizou, a partir da análise de dados armazenados na nuvem do celular de Mauro Cid, um comprovante de depósito da loja no valor de US$ 68 mil nessa mesma data. Esse valor corresponde a R$ 332 mil.

 

Os dados da conta no BB Américas, que recebeu o depósito, foram informados ao filho por mensagem pelo pai de Mauro Cid, Lourena Cid. Segundo a PF, em seguida, Mauro Cid voltou para Miami e, possivelmente, vendeu ou expôs à venda o restante dos itens do chamado kit ouro branco em um complexo de lojas.

Um relatório do Coaf, enviado à CPI dos Atos Golpistas e obtido pelo g1, apontou transações financeiras consideradas atípicas nas contas de Lourena Cid. O relatório destaca que, de fevereiro de 2022 a maio de 2023, ele movimentou quase R$ 4 milhões - entre valores recebidos e enviados.

 

Novo conjunto de presentes oficiais deixou o Brasil em dezembro

 

A Polícia Federal afirmou que um novo conjunto de presentes oficiais deixou o Brasil alguns meses depois. A mala embarcou no avião presidencial, que levou Bolsonaro para os Estados Unidos no fim do mandato.

Em 30 de dezembro de 2022, Jair Bolsonaro, Mauro Cid e uma comitiva viajaram no avião presidencial para Orlando, nos Estados Unidos. Segundo a Polícia Federal, mensagens do celular de Cid indicaram que estaria levando consigo uma mala específica, que deveria ter como destino a casa de seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, na cidade de Miami.

 

Reflexo de rosto de Lourena Cid na caixa de uma das esculturas que seriam vendidas — Foto: JN

Reflexo de rosto de Lourena Cid na caixa de uma das esculturas que seriam vendidas — Foto: JN

Segundo a PF, essa mala continha duas esculturas douradas: uma árvore e um barco. A escultura da árvore é semelhante à recebida por Jair Bolsonaro em novembro de 2021, em uma viagem ao Bahrein. No dia 4 de janeiro de 2023, quando Lourena Cid já estava com a mala, o filho Mauro Cid pediu para ele “não esquecer de tirar fotos”.

O pai enviou, então, uma sequência de fotos dos dois objetos. Em uma delas, é possível ver o reflexo de rosto de Lourena Cid na caixa de uma das esculturas. Mauro Cid enviou ao pai endereços de lojas que compram e vendem produtos de ouro e outros metais preciosos.

 

Em 18 de janeiro, em mensagens trocadas com Marcelo Câmara, assessor do ex-presidente, Mauro Cid disse:

 

“Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil - aquele navio e aquela árvore -, elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro. Então, eu não estou conseguindo vender”.

 

“Kit rose”, um conjunto de itens masculinos da marca Chopard — Foto: JN

“Kit rose”, um conjunto de itens masculinos da marca Chopard — Foto: JN

A Polícia Federal destacou que, neste mesmo voo de dezembro, Mauro Cid possivelmente levou para os Estados Unidos o chamado “kit rose” - um conjunto de itens masculinos da marca Chopard que o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu em uma viagem a Arábia Saudita.

 

Segundo a PF, Cid também tentou vender o kit contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe e um relógio em um leilão da empresa Fortuna Auction, em Nova York, em fevereiro. O valor esperado de arrecadação era entre US$ 120 mil e US$ 140 mil, mas não houve comprador.

No dia 1º março de 2023, Mauro Cid e Marcelo Câmara voltaram a conversar sobre o kit rose, que não foi leiloado em Nova York. Mauro Cid disse:

 

"Está lá em Nova York. Tá descendo ainda, né?"

 

Na conversa, segundo a PF, os dois falaram possivelmente sobre recursos financeiros de Jair Bolsonaro em posse de Lourena Cid. Mauro Cid disse:

 

"E o resto e meu pai não conseguiu sacar tudo. Ele sacou seis, né? E depois vai, vai, vai sacando o resto".

 

Rolex de ouro branco que teria sido recuperado após ser vendido nos EUA — Foto: JN

Rolex de ouro branco que teria sido recuperado após ser vendido nos EUA — Foto: JN

 

 

Frederic Wasseff recomprou relógio para cumprir decisão do TCU

 

Em março de 2023, o Tribunal de Contas da União começou a discutir sobre a necessidade da devolução das joias de ouro branco e diamantes ao acervo presidencial. Foi então que auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro começaram uma operação para recuperar e repatriar o kit de joias.

Mauro Cid, Osmar Crivelatti e o advogado Frederick Wassef articularam o retorno do kit de joias para o Brasil. Em 8 de março de 2023, Mauro Cid encaminhou para Crivelatti o link da página da loja Precision Watches e outra mensagem contendo o endereço. Foi nessa loja que o relógio foi vendido em 13 de junho de 2022.

Em uma troca de mensagens entre Osmar Crivelatti, Mauro Cid e Marcelo Câmara, Osmar Crivelatti pede para que Mauro Cid "segurasse a manobra", se referindo à recuperação do relógio na loja da Pensilvânia. No dia seguinte, há vários registros de interação de Mauro Cid com Wassef.

No dia 15 de março de 2023, o Tribunal de Contas da União discutiu sobre a necessidade de que Bolsonaro devolvesse as joias ao acervo presidencial. No mesmo dia, Mauro Cesar Barbosa e Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro e atual advogado do ex-presidente, conversam sobre a possibilidade de cassação da decisão do ministro Augusto Nardes, do TCU, que colocou Bolsonaro como fiel depositário das joias presenteadas pelo governo árabe e entregue ao então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.

 

Mauro Cid disse:

 

“Parece que vão cassar a decisão de Augusto Nardi”.

 

Fabio Wajngarten respondeu:

 

“Vão mesmo. Por isso era muito melhor a gente se antecipar”.

 

PF concluiu que o relógio Rolex Day-Date foi recuperado no dia 14 de março de 2023 pelo advogado Frederick Wassef — Foto: JN

PF concluiu que o relógio Rolex Day-Date foi recuperado no dia 14 de março de 2023 pelo advogado Frederick Wassef — Foto: JN

A Polícia Federal concluiu que o relógio Rolex Day-Date foi recuperado no dia 14 de março de 2023 pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil na data de 29 de março de 2023.

No dia 2 de abril de 2023, Cid e Wassef se encontraram em São Paulo - momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid, que retornou para Brasília na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

A Polícia Federal também detalhou outra operação para recuperar os demais itens do “kit ouro branco”: o anel, abotoaduras e o rosário islâmico. Semanas após a recuperação do relógio, Mauro Cid, voltou aos Estados Unidos e procurou um representante de um banco americano.

Troca de mensagens entre Mauro Cid e Osmar Crivelatti após saque feito pelo ex-ajudante de ordens nos EUA — Foto: JN

Troca de mensagens entre Mauro Cid e Osmar Crivelatti após saque feito pelo ex-ajudante de ordens nos EUA — Foto: JN

Segundo a PF, ele, seu pai, Lourena Cid, e o ex presidente Jair Bolsonaro possuem ou possuíam conta bancária neste banco. Cerca de dois meses depois, a PF encontrou na casa de Mauro Cid um comprovante de saque no valor de US$ 35 mil. A PF disse que Mauro Cid sacou o valor nos Estados Unidos no dia 27 de março de 2023.

 

No mesmo dia do saque, Mauro Cid encaminha mensagem para Osmar Crivelatti:

 

“Resolvido!”.

 

Crivelatti comemora:

 

“Excelente. Ihuuuuuu".