A visão da extrema-direita sobre o Brasil

A visão da extrema-direita sobre o Brasil

A visão da extrema-direita sobre o Brasil

     

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Por EDELBERTO BEHS*

A sociedade preconizada pela extrema-direita no Brasil está alicerçada em contrassensos, próximos aos descritos por Ray Bradbury em Fahrenheit 451, uma comunidade onde bombeiros não são os que debelam chamas, mas que jogam gasolina sobre livros, estejam onde estiverem, em casas ou bibliotecas, para eliminá-los.

É um mundo de cabeça para baixo, como quer a ultradireita brasileira. Invasores dos três poderes em Brasília eram velhinhas desfilando com Bíblias debaixo do braço; não cabe punição aos engenheiros do golpe, entre eles o capitão, porque, afinal de contas, o golpe não se concretizou. Então, cabe anistiá-los, mesmo sem julgamento!

Nessa sociedade invertida, UTIs servem de estúdio para filmagens de comercial de capacetes para motociclistas; o presidente da República não se importa com a saúde da população, pois “chega de mimimi, aí, estou com covid”. E tanto faz se morrerem 400 ou 700 mil pessoas, afinal de contas, presidente não é coveiro.

As universidades são antros de maconheiros, comunistas disfarçados de pesquisadores. Deveriam estar em Cuba ou na Venezuela. Trabalhador que defende direitos trabalhistas é estúpido, pois ali adiante não terá mais vagas de trabalho disponíveis, tamanha a carga tributária para empresários.

As instituições da democracia só atrapalham. Melhor que não existam. E as primeiras que devem ser extintas são o STE e o STF. Imagina, o STE confiar em urnas eletrônicas! Precisa acabar com isso e voltar com o voto impresso, pois esse é garantido.

Pastores e crentes vão para os ministérios da República. São ministros nos dois sentidos, o temporal e o espiritual. E daí, se sair uma negociata com Bíblias, isso pouco importa, porque no nosso governo, a gente garante, não tem corrupção.

Nas relações internacionais, o comandante dos patriotas sabe com quem buscar o diálogo: garçons que servem os comensais. Patriotas elogiaram a “vachina”, o que agradou nossos parceiros comerciais. As “feias” não se estupra, embora possa “pintar um clima” com meninas que se preparam para sair na balada.

Embora o nosso lema seja “A verdade vos libertará”, o que mais se faz é mentir, vilipendiar, agredir, atacar a imprensa, de preferência as jornalistas, pois têm aquelas que “querem dar o furo”. São palavras de um político do baixo clero que foi ser presidente e que se acha muito respeitador e competente.

Sobre a História, patriota acha que negros africanos vieram fazer turismo no Brasil a partir do século XVI. No Brasil virado de cabeça para baixo, segundo o ideal da extrema-direita, comunidades indígenas apareceram em terras de Santa Cruz quando portugueses já viviam aqui. O Brasil só foi descoberto por Pedro Álvares Cabral porque a Terra é plana.

Militar serve para dar golpe de Estado ou ser um poder moderador, e ministro do meio ambiente trata de fazer passar a boiada para que ninguém observe o que está sendo devastado na natureza. Patriota não acaba com o INSS porque serve pra tirar uma grana de aposentados e manda a conta para o próximo governo.

Agora, vejamos a cereja do bolo do momento. O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marcos Rubio, afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, do Brasil (não dos EUA!!!), pode sofrer sanções nos States, com base na Lei Magnitsky. A lei permite que o país todo poderoso do mundo aplique sanções unilaterais contra estrangeiros acusados de corrupção ou violações sistemáticas dos Direitos Humanos.

Ora, não seria por corrupção a acusação contra Xandão, mas sim, violação dos Direitos Humanos. Ou seja, um governo que se associa a Netanyahu na matança de mulheres, crianças, idosos, civis em Gaza, que mais se envolveu em guerras e conflitos armados no último século, o único Estado a fazer uso da bomba atômica contra numa guerra, se arroga o direito de arbitrar sobre Direitos Humanos!

Talvez Trump queira constranger o Judiciário brasileiro, como o fez no seu país. Ele conseguiu da Suprema Corte dos EUA uma “liberação incondicional”, mesmo sendo réu em 34 processos. É o primeiro presidente estadunidense condenado a assumir o poder.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: Ex-Presidente da República Jair Bolsonaro acompanhado do Senhor ex-Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, posam para fotografia / Alan Santos/PR