A guerra na Ucrânia e a diplomacia do sabonete

Os EUA rifaram a Ucrânia para a Rússia, levando a primeira a crer que teria o apoio da OTAN, que não se concretizou, e, em compensação, apertaram o cerco contra a indústria alemã, a única no bloco OTAN capaz de competir com a sua, forçando a Alemanha a desistir do Nord Stream 2 e enviando para esse país 7 mil militares.

A guerra na Ucrânia e a diplomacia do sabonete

A guerra na Ucrânia e a diplomacia do sabonete

Felipe Quintas·

A guerra na Ucrania e a diplomacia do sabonete

 

Os EUA rifaram a Ucrânia para a Rússia, levando a primeira a crer que teria o apoio da OTAN, que não se concretizou, e, em compensação, apertaram o cerco contra a indústria alemã, a única no bloco OTAN capaz de competir com a sua, forçando a Alemanha a desistir do Nord Stream 2 e enviando para esse país 7 mil militares.

A Rússia sai como grande vencedora, mas os EUA também atingem seus objetivos. Quem perde é a Europa, particularmente a Alemanha, que, do alto da sua prepotência europeísta, é colocada de joelhos pelos EUA.

Espremida entre os EUA e a Rússia, a Europa tende cada vez mais a se dividir entre duas zonas de influência, uma estadunidense e outra russa, tal como na Guerra Fria, mas com muito mais intensidade agora, devido ao declínio do nacionalismo dos países europeus, que ainda era significativo no pós-guerra mas deixou de ser nas últimas décadas em razão da utopia transnacionalista da União Européia. A Europa desaparece cada vez mais do primeiro plano da História, ocupado por grandes países – no momento, EUA, Rússia e China.

O Brasil, até o momento, tem se saído bem, mantendo de pé a aproximação estratégica com a Rússia sem arriscar se submeter às sanções dos EUA. O interesse do Brasil nisso tudo é que o tensionamento entre EUA e Rússia e o fortalecimento de Rússia e China ampliem a multipolaridade, que é a única configuração internacional pela qual o Brasil pode estabelecer seus próprios projetos. Mas, para fazer uso dela, é preciso que o Brasil não seja sancionado pelos EUA nem por ninguém. Daí que a diplomacia do “sabonete” seja a única adequada para nós nas atuais circunstâncias.