UM PRESIDENTE ERRÁTICO

“Os que tentaram nos roubar em 64, tentam nos roubar agora. Lá atrás pelas armas, hoje pelas canetas”.

UM PRESIDENTE ERRÁTICO

UM PRESIDENTE ERRÁTICO

“Os que tentaram nos roubar em 64, tentam nos roubar agora. Lá atrás pelas armas, hoje pelas canetas”.

“Ouvi o ‘nine’ falando que eu vou perder a eleição e vão prender a minha família toda. Tá achando que vão me intimidar dando recado?”

“Podemos ter uma nova crise, eleições conturbadas…Imagina acabarmos e pairar para um lado ou para outro a suspeição de que elas não foram limpas…”

As três frases acima foram pinçadas de discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) proferido a empresários na última segunda-feira, 16 de maio, em São Paulo. Tenso e visivelmente descontrolado, em meio a gritos e muitos palavrões, o titular do Planalto parecia disposto a ingressar em uma guerra. Um passo além do seu conhecido estilo.

É fato que o mandatário há tempos adota a tática do “morde e assopra”. Ataques a instituições, como o Supremo Tribunal Federal e a Justiça Eleitoral, são seguidos de afagos e declarações de que tudo está sendo jogado “dentro das quatro linhas”. O 7 de setembro do ano passado e os dias posteriores aos eventos do conturbado feriado representam o exemplo mais acabado dessa realidade.

Agora, porém, algo se moveu, ao que tudo indica. Bolsonaro parece estar sentindo de fato a pressão que tem origem em diferentes frentes. Inflação fora de controle, que afeta a todos e tem forte peso eleitoral; combustíveis em viés de alta, cenário que não se altera mesmo com mudanças no câmbio e nos comandos da Petrobras e do ministério de Minas e Energia; denúncias de corrupção em setores do governo; e a dificuldade em crescer nas pesquisas de intenção de voto, com o ex-presidente Lula (PT) mantendo uma liderança confortável.

Hoje, o presidente da República parece mais e mais inclinado à sua vertente autoritária. O Bolsonaro dos sete mandatos de deputado federal, que defendeu até mesmo o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso e homenageou torturadores do regime militar, volta a seu estado puro. As máscaras caem, literal e figurativamente.

A continuar mantendo esse padrão de comportamento, a campanha à reeleição correrá riscos adicionais. A classe média, em conjunto com os evangélicos, que em boa parte ainda dão suporte a seu projeto mais radical e ideológico, com o aumento do custo de vida, paulatinamente vem se afastando. Igualmente investidores tendem a abandonar o presidente. Na comunidade internacional, desde que se tornou um “pária”, o questionamento aos rumos do Brasil aumentará ainda mais.

Faltando menos de cinco meses para as eleições, Bolsonaro parece uma nau à deriva, sem qualquer projeto econômico ou social a curto e médio prazos. Caso queira mudar o jogo e tornar-se efetivamente competitivo na disputa sucessória, o hoje errático presidente necessita de uma radical correção de rumo. Do contrário, ficará restrito ao seu eleitorado mais fiel, radical e ideológico, insuficiente para reconduzi-lo ao Planalto.

André Pereira César
Cientista Político