Trump disse que seria “cool” invadir Venezuela e pediu ajuda a Xi Jinping para se reeleger, segundo Bolton
Depois de o Governo ter entrado com uma ação para impedir a publicação das memórias do ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, alguns trechos vazaram na imprensa
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As memórias de John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional do presidente Donald Trump entre abril de 2018 e setembro de 2019, estão carregadas de revelações explosivas, o que explica a batalha jurídica em que se encontra. Um dia depois que o Departamento de Justiça ter entrado com uma ação contra o autor tentando bloquear a publicação do livro, alegando que continha informações consideradas sigilosas, o The Washington Post, que o define como “a dissecação mais substantiva e crítica do presidente até esta data por parte de um membro de sua Administração”, publicou alguns trechos.
De acordo com o jornal, Bolton descreve um comandante-em-chefe “errático” e “surpreendentemente desinformado”. O ex-conselheiro afirma, segundo o The New York Times, que o presidente Trump não sabia que o Reino Unido era uma potência nuclear e que perguntou se a Finlândia fazia parte da Rússia.
O livro revela, de acordo com o Post, como Trump pediu ajuda ao presidente chinês Xi Jinping para ganhar as eleições de 2020, em um episódio semelhante ao que deu lugar ao impeachment do presidente republicano. Bolton descreve vários momentos em que Trump buscou favores ou apoio de líderes totalitários, segundo o Post, e como muitos desses líderes manipularam Trump apelando de maneira simplória às suas obsessões. Assim, Bolton relata que, em uma ligação telefônica em maio de 2019, o presidente russo Vladimir Putin comparou o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó a Hillary Clinton, no que o veterano falcão republicano define como “uma brilhante exibição de propaganda ao estilo soviético” para fortalecer o apoio a Nicolás Maduro. As alegações de Putin, escreve Bolton, “persuadiram Trump”.
Não é a única menção ao país sul-americano no livro, cuja publicação está prevista para a próxima terça-feira. O presidente, escreve Bolton, segundo o jornal, chegou a dizer que invadir a Venezuela seria “cool” e que o país “é realmente parte dos Estados Unidos”. O ex-conselheiro descreve uma considerável inconsistência e frequentes hesitações de Trump em relação à Venezuela. Em 2018, para se conectar com suas bases na Flórida, falou com força de seu desejo de derrubar Maduro. Mas Bolton afirma que o presidente tampouco tinha clareza em apoiar Guaidó, e pouco depois de que os Estados Unidos o reconheceram como presidente legítimo manifestou sua preocupação, pois lhe parecia uma “criança” em contraste com o “forte” Maduro e cogitou uma retificação.
Dado o cargo que o autor ocupou, o livro, intitulado The Room Where It Happened: A White House Memoir (A Sala Onde Tudo Aconteceu: Memórias da Casa Branca), de 592 páginas, se concentra em decisões e episódios da política externa. “O padrão era a obstrução à justiça como estilo de vida”, explica Bolton, de acordo com outros trechos publicados pelo The New York Times, que afirma que o ex-conselheiro falou sobre suas preocupações ao procurador-geral William Barr. Alguns críticos apontam que Bolton deveria ter contado tudo isso ao Congresso durante a investigação do impeachment de Trump e não em um livro com um contrato de dois milhões de dólares.
PABLO GUIMÓN
Sobre suas relações com a China, sempre de acordo com o Post, o livro descreve um jantar de trabalho com o presidente Xi, durante a cúpula do G20 realizada no Japão em junho de 2019. Xi se queixou com Trump sobre as críticas à China nos Estados Unidos, e o republicano deduziu que estava se referindo aos democratas.
“Então, surpreendentemente, desviou a conversa para as eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos, aludindo à capacidade econômica da China de afetar as campanhas”, escreve Bolton, de acordo com os trechos publicados. “Enfatizou a importância dos produtores rurais e do aumento das compras chinesas de soja e de trigo no resultado.”