‘Só vão ficar cinco ou seis partidos no Brasil’, diz presidente do PCdoB

A presidente do PCdoB, Luciana Santos, aposta na federação para a sobrevivência da legenda.

‘Só vão ficar cinco ou seis partidos no Brasil’, diz presidente do PCdoB

 

‘Só vão ficar cinco ou seis partidos no Brasil’, diz presidente do PCdoB

BRASIL

 

A presidente do PCdoB, Luciana Santos, aposta na federação para a sobrevivência da legenda. Leia a entrevista.

Como recebeu a decisão do Flávio Dino de deixar o partido?

A gente lamenta. Pela expressão que ele tem, uma história de 15 anos no partido, era importante que participasse dessa saída de maneira mais coletiva. Mas é um amigo e aliado. Não rompeu com o PCdoB. Manteve os dois deputados federais do Maranhão.

Qual será o futuro do PCdoB se o Congresso não aprovar as federações partidárias?

A luta da federação é o que coesiona o partido até o momento. Esgotado esse esforço, caso não passe, não temos posição ainda. É uma construção interna. Como alternativa nos marcos legais tem a fusão ou incorporação. Em 2018, quando não atingimos a cláusula de desempenho, fizemos um processo no qual o PPL se incorporou ao PCdoB. Era uma legenda de muita convergência histórica e programática. Foi um processo que fez bem ao partido.

Se a Federação for aprovada, tem algum partido que naturalmente seria federado com o PCdoB? O PSB?

Todos esses do nosso campo político estariam abertos a essa construção. A questão é que a federação é uma aliança nacional, por isso depende do cenário da disputa presidencial. Vão vingar as candidaturas ao centro? As candidaturas evoluirão? Hoje está dada essa polarização.

O PCdoB caminha para apoiar o Lula?

A nossa história é de uma aliança básica com o PT desde 1989. Mas é um processo de diálogo. Não há porque precipitar uma posição. Em 2018 Manuela foi nossa pré-candidata à Presidência da República. Estamos nessa mesa de discussões. Quanto mais espaços ocuparmos, melhor. Acho bem vindo os movimentos do centro da política, do João Doria, Mandetta, Ciro. Eles são importantes para, mais na frente, se unirem para derrotar Bolsonaro. A gente defende com muita firmeza a frente ampla como tática geral.

Como está a situação da esquerda em Pernambuco? Há uma reaproximação do PSB com o PT?

O governador Paulo Câmara tem feito gestos de retomada de um diálogo com o ex-presidente Lula. O PSB até alguns meses atrás estava em um caminho de buscar um plano alternativo, de filiação de uma personalidade do centro da política. Não é a primeira vez. Lá atrás, ainda com Arraes vivo, o PSB chegou a filiar o (Anthony) Garotinho como alternativa à Presidência da República. Chegaram a filiar o Joaquim Barbosa em 2018, mas ele não topou. Esse tipo de aposta unifica muito o partido. Em 2020 houve uma aliança básica do PSB, PDT, Rede e PV. Fizeram uma mesa de reciprocidade nacional. Mas Lula passou a defender um discurso mais explícito e arrojado de frente. Em Recife em 2020 o PSB e o PT foram para o 2° turno na capital (Recife), e isso deixou resquícios. Foi um embate muito duro. Mas Paulo (Câmara) e Lula têm demonstrado disposição de retomar o diálogo.

Por que o PCdoB não consegue superar a cláusula de barreira?

A luta institucional dos partidos comunistas não é um fenômeno particular do Brasil. O partido nunca passou de 15 deputados federais, mas é influente. O PCdoB elegeu uma presidente da Câmara (Aldo Rebelo) mesmo tendo 12 deputados na bancada. Isso faz parte de um estigma que se deu desde os tempos soviéticos da guerra fria. É sistemático. Nunca deixou de existir. Toda agenda progressista foi tratada como comunista. Um dos argumentos do golpe de 1964 é que estava em curso a implementação do comunismo no Brasil. Hoje o comunismo aparece até na voz de Juliana Paes, os delírios comunistas. Até a família Marinho foi acusada de comunista. Há uma narrativa muito ofensiva anticomunista. Bolsonaro chegou a eleger o Flávio Dino como seu principal inimigo no começo do governo. Nós pagamos o preço da polarização extrema. Mas o problema da cláusula não é só do PCdoB. Só vão ficar 5 ou 6 partidos no Brasil.

Ainda cabe no mundo atual um programa marxista-leninista?

Nós somos o partido do socialismo. Nossa perspectiva é a construção do socialismo no Brasil. Para isso temos um caminho, que é um novo projeto nacional de desenvolvimento. Nossa base de pensamento é o marxismo leninismo. O principal partido comunista do mundo, o chinês, se referem a Confúcio

Roberto Freire questiona o centenário do partido em 2022. Qual é o partido comunista original: o Cidadania, PCB ou PCdoB?

Se a gente for olhar do ponto de vista da data histórica, somos da mesma matriz de 1922. Em 1956, no 20° Congresso da antiga União Soviética, do relatório do Krushev, houve um certo racha dos partidos no mundo todo. Pedro Pomar, João Amazonas e Maurício Grabois faziam parte da direção do PCB, que era Partido Comunista do Brasil. Nessa cisão o PCB conseguiu manter o nome. A maioria dos dirigentes permaneceu, inclusive Prestes. Mas do ponto de vista do fundamento, nós é que mantivemos a perspectiva do socialismo. Nós continuamos a se autodeclarar marxistas, leninistas e defensores do socialismo científico. É aí que reside a polêmica.