Na briga pela Prefeitura de BH, só 15,6% dos eleitores optam pela esquerda
ELEIÇÕES 2024
Na briga pela Prefeitura de BH, só 15,6% dos eleitores optam pela esquerda
Mais de 60% dos entrevistados na última DATATEMPO indicaram preferência pela direita ou centro
Mauro Tramonte, Bruno Engler, Fuad Noman e João Leite são os nomes mais bem colocados numericamente na última pesquisa DATATEMPO, do início do mêsFoto: O TEMPO
A preferência atual do eleitor por nomes mais ligados à direita expressa na última pesquisa DATATEMPO mostra que a esquerda precisará se reinventar para ser competitiva na disputa de outubro. Segundo o levantamento, os quatro primeiros colocados numericamente são de direita ou de centro, e a maior parte dos eleitores indica preferência por nomes desses dois campos. A pesquisa foi realizada entre 31 de maio e 3 de junho e registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) sob o número 06115/2024.
Dos entrevistados, 41,1% indicaram voto em políticos da direita, em especial os deputados estaduais Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL) – ainda há os nomes da ex-secretária Luísa Barreto (Novo) e do senador Carlos Viana (Podemos). Pré-candidatos de centro tiveram 20,1% dos votos, com destaque para o prefeito Fuad Noman (PSD) e o ex-deputado João Leite (PSDB), além do presidente da Câmara de BH, Gabriel Azevedo (MDB). Ou seja, mais de 60% dos entrevistados não citaram intenção de votar na esquerda. Enquanto isso, 15,6% escolheram representantes desse campo, com foco nos deputados federais Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT).
Pesa ainda o histórico das últimas eleições gerais, quando nomes da direita saíram vitoriosos em BH. Mesmo com Lula (PT) vencendo em nível nacional, na capital ele perdeu para Jair Bolsonaro (PL) por 54,25% a 45,75% no segundo turno. Romeu Zema (Novo), que venceu no primeiro turno, também ganhou na capital, apesar da grande popularidade de Kalil, que era prefeito. Zema foi escolhido por 46,5%, enquanto Kalil teve 42,5%. Em 2018, Bolsonaro e Zema também saíram vitoriosos na capital.
Na DATATEMPO mais recente, Tramonte lidera com 22,8% dos votos. O desempenho dele o descolou dos demais pré-candidatos, em um cenário estimulado com 11 nomes. Depois dele, o mais bem colocado é Engler, com 10,1%. Em seguida, estão o atual prefeito, Fuad Noman (9,4%), João Leite (9%), Duda (7,7%), Carlos Viana (6,8%) e Correia (6,2%). Ou seja, o primeiro nome da esquerda aparece numericamente na quinta posição (a margem de erro da pesquisa é de 2,83 pontos percentuais).
Tendência
A cientista social e analista da DATATEMPO Bruna Assis afirma que há uma afinidade crescente de parte significativa do eleitorado com ideias de direita em BH. “É uma tendência que se fortaleceu no país. Essa inclinação dos eleitores da capital pode estar impulsionando os candidatos mais alinhados à direita a um desempenho melhor nas pesquisas”, explica. “No entanto, é importante considerar que estamos ainda no início da campanha. A pesquisa espontânea revela que cerca de 65% dos eleitores não têm um candidato em mente, indicando que o debate eleitoral não está suficientemente presente entre o eleitorado, que tende a se envolver mais conforme a campanha avança. Esse contexto tende a favorecer candidatos mais conhecidos, que, no caso de Belo Horizonte, são nomes que conversam mais com a direita, como Tramonte, Viana e João Leite”, completa.
Christopher Mendonça, professor de ciência política no Ibmec, avalia que a esquerda perdeu espaço no contexto de BH devido ao apoio que deu ao governo de Fuad Noman, mesmo que o pré-candidato à reeleição seja de centro. Durante a gestão, houve amplo apoio do PT ao atual prefeito. “Fuad não entregou o que prometeu. Quando isso ocorre, há a substituição (por outras figuras políticas)”, explica.
Com isso, abriu-se espaço para a direita crescer. Inclusive, no cenário atual, o professor acredita que o cenário deve se estabelecer entre dois candidatos de direita no segundo turno – em um embate entre Mauro Tramonte e Bruno Engler. “A esquerda precisa pautar outros contextos (de outras cidades, Estados ou o país) para desmentir os ruídos existentes”, acrescenta Mendonça. Ele cita, por exemplo, trazer à tona atuações de outras lideranças de esquerda em Minas e no Brasil que tenham feito boas gestões para ampliar a força dos argumentos dos pré-candidatos em Belo Horizonte.
‘BH é uma cidade conservadora’
O professor da UFMG Camilo Aggio afirma que a esquerda precisa se reestruturar e diz que o campo ideológico foi “arrasado completamente” por gestões como a de Fernando Pimentel (PT) no Estado. “A esquerda em BH está acéfala. Para um amplo espectro do eleitorado, a esquerda não tem conseguido representar prioridades e demandas dos cidadãos”, explica.
Outro ponto é a encarnação de um bolsonarismo pulsante em Bruno Engler. “BH é uma capital que, se fosse país, teria elegido Bolsonaro. O conservadorismo é muito forte. O próprio catolicismo chega a dialogar com o ultraconservadorismo do neopentecostalismo, que é essa base evangélica do bolsonarismo. Grande parte dos votos (de Engler) vem daí”, define.
Esquerda não se une no primeiro turno: ego é entrave
A união dos nomes de esquerda, o que poderia dar mais força ao campo, não parece que vai ser uma construção automática, diante, inclusive, de uma dificuldade histórica de fazer agrupamentos eleitorais – há 36 anos a esquerda não sai unida já no primeiro turno de eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo analistas, o ego é parte do problema.
Neste ano, o padrão se mantém – apesar de Bella Gonçalves (PSOL) e Rogério Correia estarem unidos, nenhum dos dois abriu mão da cabeça de chapa. Duda Salabert também mantém sua pré-candidatura mesmo com acenos do PT. O professor de ciência política Christopher Mendonça avalia que a dificuldade ocorre por “briga de egos”. “Na esquerda, isso é mais forte por serem nomes muito populares, enquanto na direita há uma maior convergência em razão da força do Bolsonaro”, afirma.
A cientista política Érica Baptista avalia ainda que a esquerda tem tido uma dificuldade muito grande de se organizar. “Ela vem lutando para se manter viva, e o sucesso eleitoral é muito mais ligado à força de alguns atores do que a força de uma construção política-ideológica”, analisa. “A esquerda tem uma dificuldade histórica de penetração de seus discursos, produz uma série de comunicações que não têm adesão”, acrescenta. Para ela, os candidatos precisam apostar no personalismo e na construção de uma imagem independente dos partidos e da ideologia para serem viáveis. “É o que aconteceu com a Marília (Campos) em Contagem. Muitas pessoas que não votam na esquerda, no PT, votaram na Marília porque ela é uma boa prefeita”.