Manchetes de domingo 20-02-2022

Notícias de domingo extraídas dos maiores jornais brasileiros

Manchetes de domingo 20-02-2022

Edição de Chico Bruno 

 

Manchetes de domingo 20-02-2022

O GLOBO – Licença para atirador abastece o crime organizado no país

 

O ESTADO DE S.PAULO –  Tecnologia turbina empregos em cidades médias do País

 

CORREIO BRAZILIENSE – Famílias têm hoje até cinco gerações de consumidores

 

FOLHA DE S.PAULO – Telegram tem representante no Brasil há 7 anos e evita TSE

 

Destaques de primeiras páginas e do editor

 

Licença para matar - Levantamento feito pelo O GLOBO em Tribunais de Justiça de todo o país identificou 25 caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) envolvidos com milícias, grupos de extermínio e facções do tráfico em nove estados. Armas e munição, liberadas em maior quantidade para a categoria no governo Bolsonaro, municiam assaltosa bancos e sequestros e são fonte "legal" para criminosos. 

 

Vagas pelo país - Vendas online, serviços de entrega, call centers e infraestrutura para o home office são alguns dos ramos de atividade que fizeram cidades como Osasco (SP) e Novo Hamburgo (RS) se destacarem na criação de postos de trabalho. Dos 20 municípios com maior crescimento porcentual na geração de vagas com carteira assinada, apenas quatro são capitais. A mais bem colocada, Palmas (TO), está na 14ª posição. Cidades produtoras de calçados, roupas e têxteis também tiveram bom desempenho. Elas apresentavam capacidade ociosa e, diante da procura por diversos produtos que enfrentaram dificuldades de importação, conseguiram atender o mercado. 

 

Gerações de consumidores - De 1940 para os dias atuais, mostra pesquisa do IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros teve um acréscimo de 31,1 anos. A longevidade fez com que numa mesma família possam conviver, hoje, até cinco gerações com hábitos de consumo e objetos de desejo diferentes. Aos 80 anos, Elda Maria Fonseca é mãe de Joselma, 60, avó de Danilla, 41, e bisavó de Larissa, 24. Enquanto a caçula e a mãe, Danilla, costumam fazer compras on-line, dona Elda não se adaptou ao mundo digital. Não usa sequer WhatsApp. Joselma, apesar de sempre ter trabalhado como analista de sistemas e da familiaridade com as novas tecnologias, diz que se identifica mais com a mãe do que com a filha e a neta. "Ainda sou 'old school' e curto o analógico. Talvez, até mais que a minha mãe", brinca.

 

Telegram ignora TSE e STF - O Telegram, aplicativo de mensagens utilizado pela militância bolsonarista para difusão de desinformação, conta com representante no Brasil há sete anos para atuar em assunto de seu interesse junto ao órgão do governo federal encarregado do registro de marcas no país, ao mesmo tempo em que ignora chamados da Justiça brasileira e notificações ligadas às eleições. Os poderes de representação foram conferidos pelo empresário russo Palev Durov, um dos fundadores e CEO da empresa, ao escritório Araripe & Associados, com sede no Rio de Janeiro. Enquanto isso, a plataforma tem escapado de ordens e pedidos de autoridades brasileiras, inclusive do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal), que fazem tentativas de contato sobre demandas envolvendo publicações na rede social. A Folha teve acesso a procurações assinadas por Durov e que compõem o processo do registro da marca do aplicativo de mensagens instantâneas em tramitação no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). A primeira delas é datada de fevereiro de 2015. De acordo com os documentos, os advogados do escritório foram nomeados para "representar o outorgante [Telegram] perante as autoridades administrativas ou judiciais do Brasil" com o objetivo de "obter e defender direitos relativos a propriedade industrial". Eles estão autorizados também a "receber citações judiciais relativas à matéria de propriedade industrial". À Folha o escritório se limitou a confirmar a existência de contrato vigente para atuar em nome do aplicativo "exclusivamente" em assunto de propriedade intelectual. Afirmou que, por razões legais, não poderia divulgar nomes e outros detalhes sobre a relação comercial mantida com a empresa com sede em Dubai, nos Emirados Árabes.

 

Valdemar tenta garantir controle na campanha de Bolsonaro - A campanha nem começou oficialmente, mas o dirigente do PL Valdemar Costa Neto tenta concentrar as principais decisões práticas. Até o momento, escolheu o advogado eleitoral e tenta emplacar o marqueteiro do seu partido. Na quarta-feira (16), como informou a Folha, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Tarcísio Vieira de Carvalho Neto foi escolhido para atuar neste período. Valdemar foi responsável por contatar Tarcísio e o martelo foi batido enquanto Bolsonaro sequer estava no Brasil. O dirigente do PL tenta ainda emplacar o marqueteiro do partido, Duda Lima, na equipe que auxiliará os trabalhos. Quem acompanha a escolha do time de auxiliares avalia que Valdemar está tentando garantir que terá voz durante a campanha e controle das decisões. Além de Valdemar, fazem parte do núcleo decisório o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e o filho 01 do mandatário, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

 

Federação entre PT e PSB esfria - Em meio aos desentendimentos entre PT e PSB para a formação de uma federação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ter um encontro com o ex-governador Márcio França (PSB) na tentativa de resolver um dos principais entraves na negociação entre os partidos: a eleição de São Paulo. O PT está decidido a lançar o ex-prefeito Fernando Haddad (SP) na disputa pelo governo paulista. Já França não abre mão de se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes pelo PSB. Sem resolver essa questão, tanto petistas como integrantes do PSB avaliam que a federação, que prevê a união formal dos partidos ao longo de quatro anos, tende a não sair do papel. Além desse, há outros imbróglios que travam o acordo entre as siglas, que também conversam com PV e PC do B para formar a união de partidos. Entre eles, estão a disputa aos governos do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo, preocupações sobre o cenário nas eleições municipais em 2024 e divergências a respeito da composição do órgão que comandará a federação. Irritado com os rumos das negociações, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, chegou a afirmar a aliados na semana passada que, se o PT não ceder em algumas demandas, são difíceis as chances de a união ser concretizada. Lula, por sua vez, tem dito a pessoas próximas querer muito a federação e ainda haver a possibilidade de ela ser realizada.

 

Cidadania decide se unir ao PSDB em federação - O Cidadania decidiu compor uma federação partidária com o PSDB em reunião do diretório nacional neste sábado (19). Os tucanos saíram vencedores após discussões que envolveram também o PDT, do pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (CE), e o Podemos, que cogita lançar o ex-juiz Sergio Moro (PR) para a disputa ao Palácio do Planalto. O PSDB tem o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato ao Executivo federal. O órgão da cúpula do Cidadania chegou à decisão após votação em dois turnos. No primeiro, o PSDB obteve 54 votos, ante 37 para o PDT e 14 para o Podemos, e houve 5 abstenções. Na rodada final, os tucanos foram escolhidos por 56 dirigentes e o PDT por 47, com 7 abstenções. De acordo com nota do Cidadania, "agora as Executivas dos dois partidos irão aprofundar as negociações sobre as regras da federação. Entre elas, a que estabelece prioridade na aliança para governadores candidatos à reeleição". Em reunião anterior, o diretório nacional do Cidadania havia decidido integrar uma federação, porém com a manutenção da pré-candidatura do senador Alessandro Vieira (SE) na eleição presidencial. Todavia, logo após a divulgação do resultado, a campanha de Doria enviou nota a jornalistas sinalizando que a federação terá o tucano à frente da chapa no pleito de outubro.

 

Preocupação entre os tucanos - O governador de São Paulo, João Doria, é um dos maiores entusiastas da federação entre PSDB e Cidadania, num momento de divisão interna de seu partido. Nas últimas semanas, o gestor paulista se reuniu duas vezes com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), cotada para ser vice na chapa do tucano. No próprio PSDB, contudo, há preocupação com o fato de Doria não decolar nas pesquisas para a eleição de outubro. Em levantamento da Genial/Quaest, divulgado no último dia 9, ele aparece em quinto lugar, com 2% de intenção de voto para o Planalto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 45%, lidera a pesquisa, seguido pelo o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 23%. O ex-governador Ciro Gomes (PDT) e o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) aparecem com 7% cada um.

 

Kassab esgarça limites com jogo múltiplo - Não que seja exclusividade dele nesta fase de incertezas do jogo eleitoral, mas uma passada de olhos pelas falas e movimentações recentes do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, pode dar a impressão aos mais desavisados de que o ex-ministro esteja afoito ou até perdido. Mas há estratégia, e das sofisticadas, segundo correligionários e potenciais aliados ouvidos pela Folha. Isso explicaria a existência simultânea do discurso de que o partido terá candidato próprio à Presidência da República, da insinuação (desmentida um dia depois) de aliança com o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno e do flerte em alguns estados com o PDT de Ciro Gomes. À primeira vista conflitantes, todas as hipóteses cabem hoje no balaio do ex-prefeito da capital paulista, que em 2011 fundou o Partido Social Democrático com a antológica definição de que a legenda não seria "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro". A marca do pragmatismo é apontada no universo político como a razão de Kassab para empurrar as conversas até o limite em que seja possível ter algum grau de certeza de que estará perto do projeto com maior chance de vitória, ao lado do objetivo maior de engordar as bancadas da sigla. A pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), no entanto, já é descartada, dentro e fora do PSD, diante da postura vacilante do senador. O próprio Kassab indicou concordar com isso ao abrir diálogo com o tucano Eduardo Leite e demonstrar empolgação com o nome do gaúcho.

 

Kassab: Leite é opção "extraordinária" - O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou, ontem, que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), é uma “extraordinária alternativa” ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na disputa pelo Palácio do Planalto. Na sexta-feira, o gaúcho indicou a empresários que deve concorrer à Presidência da República. Kassab reiterou o convite para que Pacheco dispute o Planalto pelo PSD, mas disse que o parlamentar ainda avalia se aceitará ou não entrar na corrida eleitoral. A decisão do presidente do Senado deve ser tomada em breve, segundo o dirigente partidário. Kassab disse que ficaria “muito feliz” em ter Pacheco como candidato. “Caso contrário, é evidente que o Eduardo Leite é uma extraordinária alternativa”, acrescentou, em entrevista à rádio Jovem Pan. O presidente do PSD aproveitou para elogiar Leite. Disse que ele é uma pessoa “muito respeitada” e um governador “qualificadíssimo”. De acordo com Kassab, a ideia de convidar o gestor para se filiar ao partido e concorrer à Presidência foi levada a ele pelo diretório estadual da sigla no Rio Grande do Sul. “Vamos aguardar, porque o importante é que o partido terá candidatura própria à Presidência da República”, frisou Kassab, que se encontrou com Leite na segunda-feira, em São Paulo.

 

Itamaraty diz lamentar crítica da Casa Branca - O Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota divulgada neste sábado (19), que lamenta o teor das declarações da porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, sobre a fala em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que é solidário à Rússia. "As posições do Brasil sobre a situação da Ucrânia são claras, públicas e foram transmitidas em repetidas ocasiões às autoridades dos países amigos e manifestadas no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirma o Itamaraty, no comunicado. "O Ministério das Relações Exteriores não considera construtivas, nem úteis, portanto, extrapolações semelhantes a respeito da fala do presidente."

 

Brasil em rota de colisão com a Casa Branca - A reação da Casa Branca ao posicionamento “solidário” do presidente Jair Bolsonaro em relação à Rússia é, seguramente, a primeira consequência concreta de uma viagem de parcos resultados diplomáticos para o Brasil. Na ótica dos governistas, a visita se justifica porque o Brasil mantém relação com a Rússia no âmbito dos Brics e tem aparente interesse em ampliar o comércio de fertilizantes. Essas circunstâncias, no entanto, são insuficientes para justificar um encontro presencial com Vladimir Putin — muito menos de dar declarações inoportunas em um momento de conflito iminente na Ucrânia. Ao colocar-se “do lado oposto da comunidade global”, o Brasil provoca um desgaste com a administração de Joe Biden que poderia ter sido evitado. A nota oficial do Itamaraty, divulgada ontem em resposta à crítica emitida pela porta-voz da Casa Branca, somente piora o mal-estar diplomático. Com o episódio Putin, Bolsonaro acumula mais óbices com a administração Biden. A solidariedade ao autocrata russo se soma ao apoio declarado a Donald Trump e à desídia no combate ao desmatamento. Trata-se de atos que inviabilizam o apoio norte-americano a interesses brasileiros, como o ingresso na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Conselho de Segurança da ONU.

 

Brasileira que esteve na invasão do Capitólio é presa - Uma brasileira que esteve na invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, em Washington, foi presa na última quarta-feira (16) em sua residência, em Indian Park Head, no estado de Illinois. A Justiça americana acusa Leticia Vilhena Ferreira de entrar ou permanecer conscientemente em edifício restrito sem autorização legal e de entrada violenta e conduta desordeira no território do Capitólio —cuja estrutura inclui barreiras e postos de segurança operados pela polícia do Congresso. De acordo com o processo, Leticia disse que não conseguiu ver o discurso de Trump e acabou seguindo a multidão, entrando no Capitólio e passando cerca de 20 minutos no local, onde tirou fotografias e fez vídeos. Imagens de câmeras de segurança anexadas à ação mostram a brasileira no interior do prédio, vestindo uma "jaqueta Michael Kors e um gorro vermelho com o nome 'Trump'". O processo de Leticia não detalha por quanto tempo ela ficará presa. A Folha não conseguiu localizar a defesa da brasileira. Ao menos mais um brasileiro também esteve envolvido na invasão. Eliel Rosa se declarou culpado de parte das acusações e foi condenado a 12 meses de pena condicional. Outro invasor de origem brasileira, Samuel Camargo, também foi preso e indiciado, mas ainda não teve o caso julgado; ele aguarda a sentença em liberdade.

 

Internações de crianças por Covid saltaram de 284 para 2.232 - A recente explosão das internações infantis por Covid supera em muito a curva geral de aumento durante a onda associada à variante ômicron no Brasil. Levantamento com dados do Ministério da Saúde revela que o número de crianças menores de 12 anos hospitalizadas com complicações da doença saltou de 284 em dezembro para 2.232 em janeiro. Uma escalada de 686%. Desde o início da pandemia, o Brasil ainda não havia visto tantas internações pediátricas por Covid em um só mês. Foram 70% a mais em relação a janeiro do ano passado e 11% acima de março, pico dos atendimentos no país em todas as faixas etárias. Entre as demais idades, que concentram a maioria da população, a alta de dezembro para janeiro foi proporcionalmente menor, de 395%. As hospitalizações de adolescentes e adultos subiram de 7.399 para 36,6 mil, puxadas especialmente pelos idosos. Apesar do aumento expressivo, essa quantidade é bem inferior aos 95,8 mil atendimentos em janeiro do ano passado e aos 228,3 mil registrados em março, no auge da pandemia.

 

Discrição e firmeza no comando do TSE - Com as eleições às portas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá um novo presidente a partir de terça-feira. O ministro Edson Fachin assume o comando da Corte numa espécie de mandato-relâmpago, pois entrega o cargo, em agosto, para o ministro Alexandre de Moraes. Considerado discreto e sereno, Fachin tem mostrado pulso firme diante dos sucessivos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Judiciário, em especial ao TSE. O chefe do Executivo, rotineiramente, coloca em dúvida a lisura e a segurança das urnas eletrônicas. Também acusa Fachin, Moraes e o atual presidente do TSE, Luís Roberto Barroso de querer torná-lo inelegível na “base da canetada” para favorecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas de intenção de voto para outubro. O magistrado mandou uma série de recados ao chefe do Executivo e a seus apoiadores, afirmando que vai combater ameaças do populismo autoritário. Ele conduzirá o TSE até 17 de agosto, quando completará o segundo biênio como integrante efetivo do tribunal. Um dos principais desafios será controlar a disseminação de notícias falsas contra o sistema eleitoral.

 

Miséria no Rio - Não bastasse o sofrimento infligido pelas chuvas descomunais, os cidadãos do Rio de Janeiro assistem a baixarias entre o governador Claudio Castro (PL) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSB). Nas redes sociais, Castro chamou Freixo de “o maior oportunista que já conheceu” e “espécie de Zé do Caixão da política”. Em resposta aos ataques, Freixo disse que o momento não é de briga e, sim, de união. De fato, melhor seria se o governador, o deputado e outros representantes do Rio de Janeiro   unissem esforços conjuntos no estado e em Brasília para que tragédias como a que ocorreu em Petrópolis não sejam tão devastadoras. E poupassem o eleitor de discussões inúteis e lamentáveis.

 

Magistrados deixam a toga e atuam em casos bilionários de recuperação judicial - O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) instaurou procedimentos nos últimos anos para investigar a conduta de magistrados que conduzem ou conduziram casos de falências e recuperações judiciais. Em um deles, um juiz foi aposentado compulsoriamente em razão de uma suposta atuação irregular ao lado de um administrador judicial. Em outra, um magistrado teve de prestar esclarecimentos sobre sua relação com uma parte no processo. Nos últimos quatro meses, o Estadão apurou episódios em que juízes pediram demissão para integrar bancas e consultorias que atendem empresas em dificuldades financeiras, cujos processos, pouco antes, tramitavam sob a responsabilidade dos magistrados. Os casos se referem a algumas das maiores recuperações judiciais do País. Segundo a Constituição, juízes estão impedidos por três anos de migrar para a advocacia nas comarcas em que atuaram. Na pandemia de covid-19, 1,3 mil companhias recorreram à legislação falimentar do Brasil para enfrentar débitos classificados como impagáveis. A crise sanitária, na prática, aqueceu ainda mais esse segmento, marcado por disputas e denúncias de irregularidades. Há, de fato, muito dinheiro envolvido. As maiores dívidas, porém, são de anos anteriores à chegada da covid-19. Envolvem empresas investigadas pela Operação Lava Jato, como Odebrecht, OAS, Sete Brasil e Oi. Juntas, chegaram a ter R$ 190 bilhões pendentes com credores. A remuneração dos advogados é calculada sobre porcentuais dessa grandeza. São pagamentos legais, que atraem renomados escritórios de advocacia. Nas varas de recuperações, contudo, acusações de fraude e de má conduta de juízes e administradores indicados pela Justiça atraem a atenção de órgãos de controle e autoridades.

 

Deputados usam ‘código’ para carimbar emendas do orçamento secreto - Na novela do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão no ano passado, deputados usaram um truque para burlar a falta de transparência da ferramenta e conseguir carimbar de forma “codificada” o seu apadrinhamento nas verbas enviadas aos seus redutos eleitorais. O deputado federal Leur Lomanto Junior (DEM-BA), por exemplo, colocou sempre R$ 25 ou R$ 0,25 no fim de cada indicação, ao enviar R$ 4,3 milhões para municípios da Bahia no ano passado – 25 é o número do DEM nas urnas. Da mesma forma, o líder do Podemos na Câmara, o deputado Igor Timo (MG), indicou dez repasses no valor de R$ 275 mil para dez municípios mineiros com o código “19”, o número de sua sigla. “Como alguns órgãos recebem emendas destinadas por diversos parlamentares, às vezes com valor idêntico, minha assessoria buscou uma forma de facilitar a visualização na hora da publicação”, disse Leur à Coluna. O deputado federal baiano diz que todas as emendas de relator são “devidamente publicadas na Comissão Mista de Orçamento” da Casa. No entanto, não há informações detalhadas e públicas sobre emendas de relator em 2020 e 2021. Timo disse que as emendas de relator não saem com a autoria, “mesmo havendo um trabalho árduo, justo e sério de articulação política” para isso. “Por isso, para que houvesse a identificação dos recursos, optamos por colocar desta forma, para constatar que tais recursos são de minha autoria”, disse Timo à Coluna.

 

Policiais em disputa - A desenrolar do ano eleitoral aguçou a disputa pelo apoio de uma categoria frequentemente cortejada pelo presidente Jair Bolsonaro: a polícia. Governadores de 17 estados já deram aumentos salariais ou enviaram para debate  propostas de reajuste às assembleias — há casos de medidas especificamente voltadas para o grupo e benefícios mais amplos, que incluem também outros servidores. Nas dez unidades restantes da Federação, há várias acenos, como projetos de reestruturação de carreira, compra de equipamentos e aumento de caixa. Paralelamente, o chefe do Palácio do Planalto, que viu o Congresso aprovar na semana passada uma medida provisória do governo que ampliou o crédito para que membros das forças de segurança comprassem imóveis, planeja enviar um texto que amplia a "retaguarda jurídica", um pleito antigo de agentes envolvidos em operações. Segundo estimativa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, universos das forças de segurança têm cerca de 18 milhões de pessoas, somando servidores da ativa e reserva, cônjuges e filhos. Na tentativa de reduzir seu alto índice de rejeição e levantar alguns pontos nas urnas, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato à presidência, foi um dos que lançaram uma mão de reajustes para policiais civis e militares. A categoria receberá um aumento de 20%, o dobro do que foi anunciado para boa parte das categorias do funcionalismo público no início do ano. 

 

Mourão privilegia reduto eleitoral em viagens oficiais - O vice-presidente Hamilton Mourão deu prioridade em suas viagens oficiais ao Rio Grande do Sul, por onde deseja concorrer ao Senado. Desde o início do governo, Mourão já passou 31 dias no estado, de acordo com a sua agenda oficial. Os outros locais mais visitados são São Paulo (27 dias) e Rio de Janeiro (21 dias). O vice-presidente nasceu em Porto Alegre e passou parte da sua carreira militar no estado. Na sexta-feira, Mourão esteve na tradicional Festa da Uva, realizada no município de Caxias do Sul. Foi a sua segunda viagem para o estado neste ano. Em 2021, ele esteve lá em 12 dias. Em 2020, foram quatro dias e, em 2019, 13. Ao decidir sair candidato pelo Rio Grande do Sul — outra opção era o Rio de Janeiro —, Mourão se colocou no meio de uma disputa interna na base aliada do presidente Jair Bolsonaro: tanto o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) como o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) querem ser candidatos ao governo estadual. Na última semana, Mourão disse que é “praticamente” certo que ele vai se filiar ao Republicanos. A outra opção era o PP, partido de Heinze. De acordo com o presidente do Republicanos no Rio Grande do Sul, deputado federal Carlos Gomes, a decisão sobre qual coligação ele vai integrar ainda não foi tomada.

 

Bolsonaro tenta retomar uma velha amizade. E recebe um 'não' - Com dificuldades de formar palanques nos estados, Jair Bolsonaro tem tentado se aproximar de antigos aliados que foram deixados pelo caminho durante seu governo. Recentemente, enviou emissários para falar com Alberto Fraga, com quem mantinha uma amizade de 40 anos. O ex-deputado cotado para o comando do diretório do União Brasil no Distrito Federal, porém, não quis saber de papo. Eles estão rompidos desde o ano passado, quando sua mulher morreu vítima da Covid.  

 

Orçamento secreto turbina caixa de estatal deficitária - Quase metade dos R$ 7,3 bilhões que entraram no caixa da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em 2020 e 2021, o equivalente a R$ 3,3 bilhões (valores corrigidos pela inflação), é a partir das chamadas emendas do relator, mecanismo pelo qual os parlamentares destinam recursos públicos para seus endereços eleitorais sem serem identificados. Além disso, das 12 Superintendências da empresa pública, pelo menos oito são comandadas por afilhados de chefes políticos, muitos deles ligados ao Centrão, um grupo conhecido mais por seu pragmatismo eleitoral do que por suas orientações ideológicas. A Codevasf foi criada em 1974 para apoiar o desenvolvimento das regiões pobres do Vale do Rio São Francisco. Com o passar dos anos, a empresa expandiu sua área de atuação e passou a cobrir regiões que estão a quilômetros do velho Chico, muitas vezes para abrigar aliados dos que estão no poder. Uma parte relevante deste quadro foi projetada pelo atual governo. Durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro, a Codevasf conquistou quatro novas vagas — Goiânia, Palmas, Macapá e Natal. Destes, três foram entregues apolíticos. Superintendente Degoi e Abelardo Vaz Filho, ex-assessor do senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Ao assumir o cargo no ano passado, Vaz Filho disse que agiria sob "orientação" de Vanderlan, Bolsonaro e da "bancada federal no Congresso".