Manchetes de domingo

Compendio de notícias dos mais importantes jornais brasileiros. Fique à par.

Manchetes de domingo

Edição: Chico Bruno

 

Manchetes de domingo

O GLOBO – Pacheco: ‘Não admitiremos qualquer retrocesso’

 

Em meio ao acirramento da crise institucional, com ataques a representantes de outros poderes desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), chefe do Congresso refuta a hipótese de ruptura. Nesta semana, ele terá nova reunião com o comando da Aeronáutica e diz que as Forças Armadas estão alinhadas à defesa da democracia. Em entrevista, o parlamentar, cotado para disputar o Planalto, afirma que não é hora para debater eleição: “O Brasil não precisa de candidatos, mas de presidente para unificar o país”. 

 

O ESTADO DE S. PAULO – Universidades buscam pequenos doadores para bancar projetos

 

A lei dos endowments, de 2019, deu segurança jurídica para criar fundos patrimoniais nas universidades, mas jogou um balde de água fria: o veto a incentivos fiscais para doadores é considerado um entrave. Hoje, só um quarto das fundações de apoio a universidades já iniciou o processo de criação de endowments, revela levantamento do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa (Confies), com 50 fundações. A maior parte delas (78%) considera que incentivos fiscais são o quesito mais importante para alavancar os fundos. Apenas três já receberam doações. Como esses fundos não podem, por lei, ser criados na mesma conta da universidade, as fundações são um dos canais. “Não tem fundo endowment sem incentivo, não adianta fazer curso, treinamento”, critica Fernando Peregrino, presidente do Confies. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem feito capacitações para que as instituições de pesquisa criem endowments. Procurada sobre como superar a falta de incentivos, a pasta não se manifestou. Em 2019, o Ministério da Educação (MEC) propôs o Futurese, programa que previa captar recursos privados, dentre outras ações. A ideia, alvo de críticas e pouco discutida com as instituições, não saiu do papel. Procurado, o MEC não comentou.

 

CORREIO BRAZILIENSE – Luz mais cara dará tombo na economia

 

Economistas preveem que racionamento de energia poderá tirar até dois pontos percentuais do PIB no ano que vem, com queda no consumo e na produção. Famílias pagarão aumento da eletricidade duas vezes: na própria conta de luz e por meio dos repasses aos preços das mercadorias, feitos pela indústria e pelo comércio. Se não chover a partir de outubro, apagões se tornarão frequentes no país. Apesar dos alertas de que o fornecimento está no limite, governo diz que a situação está sob controle.

 

FOLHA DE S. PAULO – Emprego só volta em 2023 ao pré-pandemia, diz estudo

 

Projeções de economistas indicam que o desemprego deve permanecer alto no ano que vem e só voltar ao patamar pré-Covid em 2023. No trimestre encerrado em maio, o desemprego no país bateu em 14,6%, o que equivale a 14,8 milhões de pessoas, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Quando se olha para a população subutilizada, o número é ainda mais preocupante: 32,9 milhões. Além dos desafios impostos pela própria pandemia, o cenário eleitoral no ano que vem também deve prejudicar o crescimento e um aumento dos investimentos. O processo já vem sendo conturbado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que coloca em dúvida a confiança nas urnas eletrônicas e mantém um clima de confronto com ministros do Supremo Tribunal Federal. O economista da IDados Bruno Ottoni estima que, se o país crescer cerca de 5% este ano e 2% no ano que vem, deve levar até 2023 para o mercado voltar ao patamar pré-pandemia. 

 

Notícia do dia 

 

BB e CEF ameaçam deixar a Febraban por manifesto - A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ameaçam deixar a Febraban, entidade que representa os bancos no país, caso ela oficialize adesão a um manifesto articulado por Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O documento, que ainda está sendo redigido e que deve ser publicado nos próximos dias, mostra preocupação com a escalada da crise entre os Poderes, pede pacificação e defende as reformas. O ministro Paulo Guedes (Economia), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estão cientes do movimento dos bancos públicos. no início da semana passada, Caixa e BB comunicaram a decisão de deixar a Febraban, caso ela assinasse o documento. Ainda assim, no fim da semana, a entidade pôs em votação o tema, e a maioria aprovou a adesão. Tão logo o documento seja divulgado, Caixa e BB oficializam a saída da entidade. Segundo pessoas do governo que acompanham a discussão, um dos principais articuladores do desembarque é Pedro Guimarães, presidente da Caixa, que tem relacionamento muito próximo a Bolsonaro e seus filhos. No BB fala-se em "constrangimento" em participar de uma entidade que assina um documento com críticas a seu maior acionista, o governo federal. Indo além da crise envolvendo a Febraban, o governo está incomodado com as manifestações contrárias à gestão Bolsonaro feitas por empresários nas últimas semanas. A avaliação é que o setor empresarial subiu o tom.

 

As principais notícias de primeira página e os destaques do editor

 

“Comportamento de Bolsonaro é ridículo” - A pouco mais de um ano das eleições de 2022, os eleitores que não pretendem votar no presidente Jair Bolsonaro nem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — em torno de 40%, segundo as pesquisas de opinião — ainda aguardam a definição do nome que vai representar a chamada terceira via na disputa. Entre as forças políticas de centro, o PSD está bem avançado nessa discussão. Em breve, o partido deve ter entre os seus quadros o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que cogita deixar o DEM para concorrer ao Planalto. Em entrevista ao Correio, o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, diz confiar que Pacheco, caso confirme sua pré-candidatura, passará a ser mais conhecido nacionalmente e subirá na preferência dos eleitores. Segundo ele, o preparo intelectual, a habilidade política e o discurso conciliador que o senador tem adotado o levarão ao segundo turno da corrida presidencial. Durante a conversa, Kassab garantiu que o PSD nunca teve qualquer tipo de vínculo com o chamado Centrão — bloco partidário que negociou cargos em troca de apoio a Bolsonaro e que assume cada vez mais o controle do governo. O político diz, também, que o presidente dificilmente será reeleito, em razão dos erros do governo federal na condução da pandemia e dos “desgastes gerados por polêmicas e confusão” em torno da segurança das urnas eletrônicas. “O brasileiro fica estarrecido quando ele vem com ameaça à eleição — beira o ridículo. Nosso sistema (de votação por meio da urna eletrônica) é confiável e seguro. Ele é presidente da República, foi eleito democraticamente; não pode vir e ameaçar, por motivos realmente inexplicáveis, a realização da eleição”.

 

Não quero ruptura, mas existe limite, diz Bolsonaro - Em novo episódio da crise institucional provocada por ele mesmo, o presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado (28), durante um culto em Goiânia, que não deseja dar golpe ou causar ruptura, mas que "tudo tem limite". "Temos um presidente que não deseja nem provoca rupturas, mas tudo tem um limite em nossa vida. Não podemos continuar convivendo com isso", disse o presidente durante evento na Assembleia de Deus. Bolsonaro voltou a sugerir que não aceitará o resultado das eleições de 2022 caso seja derrotado. Para isso, projetou três alternativas para seu futuro: "Estar preso, ser morto ou a vitória". Ele também já disse mais de uma vez que só Deus o tira da cadeira de presidente. O presidente estimulou que líderes evangélicos participem de atos de viés golpista a favor do governo marcados para o feriado de 7 de Setembro.

Congresso pede 5.000 policiais para 7 de Setembro - A descoberta de que o coronel da Polícia Militar do estado de São Paulo, Aleksander Lacerda,  responsável pelo Comando de Policiamento do Interior, em Sorocaba (SP), compartilhava nas redes sociais conteúdos com ataques contra autoridades e os Poderes Judiciário e Legislativo, alertou as autoridades para o grau de partidarização e radicalização existente, atualmente, nas forças policiais. Essa captura ideológica é promovida explicitamente pelo presidente Jair Bolsonaro e são inúmeros os episódios, em todo o país, de incitação à violência contra as instituições e o não reconhecimento de uma ordem legal pelos agentes de segurança dos estados. E, com a aproximação do Sete de Setembro, data na qual o presidente pretende dar uma demonstração de força, autoridades e especialistas acompanham a presença de policiais nos atos governistas e que perigo significam para o Estado Democrático de Direito. Apesar do cenário de tensão, o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna, consultor de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), não vê risco de motim dos policiais. Mas sugere que, neste momento de preocupação de setores da sociedade civil, os governadores devem agir com estratégia, pois é deles o controle das corporações. “Não se deve esquecer que tratamos de homens e mulheres que precisam ser liderados. O perigo para a segurança pública só existe nos locais onde isso não foi observado. Caso haja algum risco, certamente a culpa não é de quem está nas ruas, mas de governantes que não sabem como gerir seus profissionais de segurança”, salienta.

 

Bolsonaro ignora Justiça - Em mais um ataque ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, em Goiânia, que, na Praça dos Três Poderes, “não somos três, somos dois. Executivo e Legislativo trabalham em harmonia”. Em nova demonstração de que não digeriu o arquivamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que “ninguém está acima da Constituição” e quem não se enquadrar nela “deve sofrer processo mais complexo”. Mas os ataques ao Judiciário não ficaram só nisso. Ele desafiou os ministros do Supremo a, no Sete de Setembro, comparecerem às manifestações e subirem ao carro de som para discursarem com ele. “Convido qualquer um dos 11 ministros do STF a ocupar o carro de som e falar com o povo brasileiro”, provocou, apesar de, atualmente, o Supremo ter apenas 10 ministros, pois a cadeira deixada por Marco Aurélio Mello não foi preenchida. Em mais um gesto contra o STF, Bolsonaro voltou a dizer que, caso haja mudança no marco temporal de demarcação de terras indígenas — que deve ir a julgamento na Corte na próxima quarta-feira —, a agricultura pode sair prejudicada. E ameaçou não reconhecer a decisão do Supremo. “Tenho duas opções. Não vou dizer agora, mas já está decidido qual é essa opção. É a que interessa ao povo e está do lado da nossa Constituição”, disse.

 

Firmas criam novos benefícios para reter talentos - Em dezembro do ano passado, Francielle Santos iniciava mais um dia de trabalho no setor de vendas da start-up de arquitetura ArqExpress, em Porto Alegre, quando sua chefe, a arquiteta Renata Pocztaruk, fez uma surpresa. Disse a Francielle que poderia escolher um cômodo da sua casa para ser reformado. Tudo por conta da empresa. Ela seria a primeira a desfrutar de um novo benefício estendido a todos os outros colegas. E escolheu repaginar a cozinha. — Imagina a felicidade. Mudaram o piso, a bancada, a cortina, a mesa. Até as cadeiras, olha que lindas — exibe Francielle, orgulhosa, numa entrevista por vídeo. Apesar de salário e os clássicos plano de saúde, vale-alimentação e transporte continuarem decisivos na hora de um profissional aceitar uma proposta de trabalho, as empresas estão tirando da cartola benefícios bem mais criativos para atrair e, principalmente, reter talentos. De terapia e massagem a ajuda na conquista da casa própria ou para ter um filho, passando por agenda livre e viagens, a tendência é oferecer facilidades que ajudem a equilibrar vida pessoal e profissional e reforcem laços de lealdade entre trabalhador e empresa. A estratégia pode custar menos para as empresas em meio ao paradoxo atual no mercado de trabalho. Enquanto há uma massa recorde de desempregados, profissionais mais experientes e qualificados são cada vez mais disputados. É um desafio global, que já crescia antes da pandemia. Numa pesquisa da consultoria internacional ManpowerGroup de 2019, 54% das empresas ouvidas no mundo relataram escassez de talentos, maior percentual em dez anos. Com a expansão do trabalho remoto na pandemia, a competição por essa pequena elite de profissionais ficou ainda mais acirrada. Se nem sempre é possível cobrir as ofertas salariais que os empregados recebem dos rivais, investir na relação com um pacote de benefícios “fora da caixinha” é a aposta de organizações de diferentes portes.

 

Clientes processam planos por remédios de Covid - Diante da negativa de planos de saúde em cobrir gastos hospitalares com medicamentos usados no tratamento da Covid-19, pacientes têm ingressado com ações judiciais para que as operadoras de saúde arquem com despesas que ultrapassam R$ 30 mil. Alguns dos remédios são usados fora da bula (off-label) na internação e, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), não têm cobertura obrigatória. Mas há jurisprudência favorável aos pacientes. Outros estão aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e devem ser cobertos. Segundo a Folha apurou com gestores de hospitais privados de São Paulo, o imbróglio envolve principalmente dois medicamentos: o antiviral remdesivir, aprovado pela Anvisa desde março para uso na Covid-19, e o anticorpo monoclonal tocilizumabe, indicado para artrite reumatoide e ainda sem aprovação no Brasil para a Covid-19. Não há um levantamento do número de ações contra os planos, mas quatro escritórios de advocacia de São Paulo contabilizam ao menos 120 casos desde o início do ano, entre ações ingressadas na Justiça e acordos extrajudiciais já realizados para a cobertura desses medicamentos e de outros que estão estão sendo usados nos hospitais, com a aprovação ou não da Anvisa. 

 

Balneário Camboriú triplica faixa de areia engolida por arranha-céus - A falta de sol, causada pelos famosos arranha-céus, e a estreita faixa de areia da praia que carimbam um dos principais pontos turísticos do litoral catarinense estão com os dias contados. Em apenas dois dias de trabalho, uma megaestrutura contratada para o alargamento da praia central de Balneário Camboriú já provocou mudanças na paisagem local.A intenção é retomar o cenário perdido ao longo de 70 anos de desenvolvimento da cidade e transformá-lo na segunda maior em faixa de areia do Brasil, perdendo apenas para Copacabana, no Rio de Janeiro. Hoje, são 25 metros de espaço até o mar. O objetivo é triplicar o trecho, chegando a 75 metros de areia –com possibilidade de retração de até 5 metros após um período de assentamento. Os trabalhos devem seguir até novembro e chamam a atenção dos moradores diante da complexidade e da amplitude. As primeiras imagens da obra, iniciada no domingo (22), já mostram uma expansão considerável do trecho central da praia.

 

Ex-capitã afegã teme por atletas - Ao ver o desespero de homens e mulheres para deixar o Afeganistão, Khalida Popal, 30, chorou. Quando questionada, tem dificuldade para encontrar uma palavra para definir o que sente. Raiva, tristeza, depressão, vazio. “Dormir tem sido algo bem difícil”, diz ela, procurada de forma constante por jornalistas nos últimos dias. Após o duplo atentado no aeroporto de Cabul na última quinta-feira (26), reivindicado pelo Estado Islâmico, ela postou vídeo em suas redes sociais gravado minutos após o ataque. Sua preocupação era que jogadoras de futebol da seleção do Afeganistão estavam nos arredores. Tentavam achar uma maneira de fugir do país. As autoridades americanas falaram em mais de 180 mortos. Khalida escreveu não saber se há ex-companheiras de equipe entre as vítimas. Ela faz campanha para que as autoridades do futebol ajudem a retirá-las do país. Khalida foi responsável por organizar a primeira seleção de futebol feminino do país. Era a capitã do time. Uma iniciativa que lhe deu liderança e protagonismo no esporte nacional. Mas que também lhe trouxe riscos e problemas. Uma das lembranças recorrentes é a de todas as vezes que foi chamada de prostituta. A ofensa era usada por homens e até grupos de mulheres do país ao verem meninas a praticarem esportes no Afeganistão. Por causa da modalidade em que começou quando criança, no início de maneira escondida, recebeu dezenas de ameaças de morte. Teve de abandonar sua terra natal em 2011 e hoje vive na Dinamarca. Criou a ONG Girl Power, que tem como objetivo dar a mulheres ferramentas para crescerem socialmente por meio do esporte.

 

EUA fazem ataque com drone a Estado Islâmico - Após os EUA matarem dois membros do Estado Islâmico que planejaram o atentado que deixou quase 200 mortos em Cabul, o presidente Joe Biden prometeu novos ataques contra o grupo terrorista islâmico e alertou que a situação ainda é "extremamente perigosa" no Afeganistão. “Esse ataque não foi o último. Vamos continuar a caçar qualquer pessoa envolvida nesse odioso atentado e fazê-los pagar”, declarou o democrata, em pronunciamento neste sábado (28). Mais cedo, o Departamento de Defesa americano esclareceu que o ataque com drones matou dois arquitetos do atentado de quinta (26) e deixou ferido um terceiro integrante da célula afegã do grupo terrorista, EI-Khorasan. "Posso confirmar que dois alvos do alto escalão do Estado Islâmico foram mortos, um foi ferido, e não sabemos de nenhuma vítima civil", disse o general Hank Taylor, sobre a operação realizada na madrugada deste sábado (horário local) numa região montanhosa perto da fronteira com o Paquistão. Biden também alertou sobre novas ameaças. “Nossos comandantes me informaram que é muito provável [que haja] um ataque nas próximas 24 horas a 36 horas. Eu determinei que tomem toda medida possível para priorizar a proteção das forças.” Na noite deste sábado, a embaixada dos EUA em Cabul emitiu novo alerta para que cidadãos americanos deixem imediatamente a área do aeroporto, incluindo o portão sul, o novo Ministério do Interior e a entrada próxima ao posto de gasolina Panjshir, e evitem ir até o local devido a uma "ameaça específica e crível".

 

País avançou em reformas, afirma Guilherme Gerdau - Nos 120 anos da Gerdau, que começaram com uma fábrica de pregos em Porto Alegre e seguiram com o foco em siderurgia, a diversificação para outras atividades deslanchou mais tarde e deve avançar na esteira da Gerdau Next, braço de novos negócios da empresa lançado em 2020. Guilherme Gerdau, hoje presidente do conselho de administração, diz que a companhia fez uma decisão acertada e madura em 2017 ao colocar na direção, pela primeira vez, um executivo que não pertence à família. O empresário diz que o momento agora é de uma intensidade que ela nunca viu nos mercados em que atua, com as fábricas operando a plena capacidade. Sobre as reclamações do setor da construção contra a alta no preço do aço, ele diz que começa a ver uma acomodação. O momento de turbulência econômica e política no país, segundo ele, pode ser olhado pelo copo meio cheio ou meio vazio. “Tivemos avanços nos últimos três, quatro anos no Brasil. Foram avanços de reformas importantes, independentemente da polarização”, diz. 

 

Para entidades, PMs devem participar, mas sem risco de ruptura - Policiais militares do país todo devem aderir aos atos de 7 de Setembro a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas não há risco de ruptura institucional, sustentam associações que reúnem praças e oficiais de diversos estados. Em meio a um recrudescimento da crise entre Poderes e de atritos entre governadores e forças de segurança, entidades defendem a presença dos agentes em protestos, desde que de maneira individual, e reiteram em parte as críticas aos gestores estaduais. Opinam, porém, que a temperatura das tropas é baixa na prática, porque os policiais sabem que se cruzarem a linha terão que responder disciplinar ou criminalmente. A preocupação real, dizem, é com salários e condições de trabalho. “Não é nada desse clima que estão pregando, está havendo uma superestimação”, afirma o coronel da reserva Marlon Teza, presidente da Feneme (Federação Nacional das Entidades de Oficiais Militares Estaduais), que reúne 51 associações e 75 mil filiados.

 

Atos desafiam poder público entre coibir ou tolerar pautas golpistas - A possibilidade de punição para mensagens de teor golpista e anticonstitucional que apareçam nos atos bolsonaristas de 7 de Setembro representa um desafio para autoridades, que precisam se equilibrar entre os princípios de liberdade de expressão e de estabilidade democrática previstos na Constituição. O ambiente institucional conflagrado, em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaça uma ruptura enquanto inflama seguidores a irem às ruas no Dia da Independência manifestarem apoio a ele e a pautas como ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), complica o debate sobre limites de atuação. Em São Paulo, onde apoiadores querem fazer da avenida Paulista o principal palco da mobilização, inclusive com a presença prevista de Bolsonaro, o Ministério Público Estadual diz que protestos de teor antidemocrático devem ser punidos, algo de que especialistas em liberdade de expressão discordam. Por outro lado, a Polícia Militar, que acompanha atos de rua e é responsável por identificar abusos e eventualmente intervir, está sob forte tensão. Em outra face da discussão, o direito constitucional de manifestação tem sido lembrado depois que a gestão João Doria (PSDB) proibiu qualquer ato com pauta antagônica à do bolsonarismo no dia 7 no estado de São Paulo. A medida afeta a oposição à esquerda, que tem protesto marcado para a data. Uma proibição desses atos é rechaçada por especialistas da área jurídica consultados pela Folha, por violar os direitos de expressão e de manifestação. Na avaliação de Sarrubbo, só é possível constatar o teor antidemocrático quando o protesto está em curso, e não de antemão. Pedidos explícitos de golpe militar e defesa de atos de violência contra opositores da esquerda não são novidade nos protestos de apoio a Bolsonaro. Questionado sobre a falta de atuação do MP em relação a atos passados, Sarrubbo afirmou que não abriu inquéritos porque o STF se encarregou do tema. 

 

Resistência a Mendonça reduz chance de pautas bolsonaristas no Supremo - A resistência do Senado em aprovar a indicação de André Mendonça para o STF (Supremo Tribunal Federal), como forma de retaliar o presidente Jair Bolsonaro pelas ameaças golpistas que tem feito à democracia, reduz as chances de pautas bolsonaristas prosperarem na corte. A ausência de mais um nomeado pelo chefe do Executivo no Supremo diminui a probabilidade, por exemplo, de integrantes do governo investigados na CPI da Covid terem sucesso em derrubar medidas aprovadas pela comissão, como tem feito o ministro Kassio Nunes Marques. Decisões que acenam à base eleitoral do presidente, como a que liberou as missas e cultos e a que autorizou a pesca de arrasto no Rio Grande do Sul, também se tornam mais difíceis de se repetir. Outro efeito da demora do Parlamento em chancelar a indicação do chefe do Executivo é o isolamento interno cada vez maior de Kassio Nunes. O primeiro indicado do presidente ao tribunal tem sido excluído de todas as articulações que definem as reações às ofensivas do Palácio do Planalto, como ocorreu na carta em apoio à urna eletrônica e na nota de apoio ao ministro Alexandre de Moraes, alvo de um pedido de impeachment apresentado por Bolsonaro. A resistência do Senado em aprovar Mendonça, porém, também pode curiosamente ser positiva para o chefe do Executivo. Está marcado para a próxima terça-feira (31) o julgamento que decidirá se o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) tem direito a foro especial perante o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Como o tema será analisado pela Segunda Turma, a ausência de um ministro no colegiado pode ajudar o senador. Isso porque, por se tratar de questão criminal, se o placar ficar empatado, a decisão é dada em benefício do investigado. Portanto, se o resultado do julgamento for 2 a 2, será o suficiente para que a tese da defesa de Flávio prevaleça.

 

Para se cacifar na 3ª via, Pacheco abusa do 'emcimadomurismo' - Cotado como um nome da terceira via na corrida ao Palácio do Planalto em 2022, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem adotado postura equilibrista ao alterar momentos de reação a arroubos autoritários de Jair Bolsonaro com complacência em relação a falas e ações do mandatário. Em momento de crise institucional e repetidas ameaças à democracia, a posição de Pacheco é alvo de crítica nos bastidores do Senado, com oposicionistas, independentes e até mesmo governistas pedindo postura mais firme do presidente do Congresso. Os críticos consideram a mudança de atitude ainda mais necessária, considerando-se que à frente da Casa Legislativa vizinha está o aliado do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), que silencia em situações delicadas, segue ao lado do governo na elaboração da pauta da Câmara e não dá indício nenhum de que pode analisar a abertura de um pedido de impeachment. Para congressistas, o jeito conciliador de Pacheco tem relação com a tentativa do senador de se cacifar como alternativa para fugir à polarização protagonizada por Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e efetivamente se colocar uma opção de centro na eleição do próximo ano. Apesar de ser filiado ao DEM, o PSD é um dos partidos que tentam atrair Pacheco para disputar a Presidência da República. Mesmo criticado, ele não indica que vai mudar a postura. O presidente do Senado tem dito a interlocutores que as falas extremadas de Bolsonaro são apenas retórica. Pacheco só adotará um posicionamento mais duro se o chefe do Executivo cruzar o que o senador definiu como "linha vermelha", que é o caso de quando as palavras viram ações. Exemplo recente foi a iniciativa de Bolsonaro de enviar ao Senado pedido de abertura do processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em menos de uma semana, Pacheco anunciou ter consultado a advocacia da Casa e decidido arquivar o processo.

 

Inquérito de interferência de Bolsonaro fortalece diretor-geral - A decisão de Alexandre de Moraes, do STF, de barrar a investigação de atos do atual diretor-geral da Polícia Federal no inquérito sobre a interferência do presidente Jair Bolsonaro fortaleceu Paulo Maiurino. A leitura de policiais experientes é a de que, desde que chegou, o diretor deu sinais de que agia sabendo que teria respaldo externo especialmente no Supremo e agora ficou provado que não era só impressão. O chefe da PF foi secretário de segurança do STF durante presidência de Dias Toffoli, de quem é próximo. O ministro foi um dos principais fiadores da sua indicação. Maiurino leva internamente bandeira semelhante à ala chamada garantista do Supremo e também do procurador-geral Augusto Aras, contra os ditos excessos da Lava Jato. A avaliação da nova diretoria, feita logo na chegada, é que o órgão estava descontrolado, acostumado com operações espetaculosas e envolto a vazamentos de dados. Para os críticos da gestão, no entanto, esses pontos são usados para justificar ações que, na verdade, miram fragilizar a independência da PF e conter investigações para evitar desgaste com autoridades. Com perfil político, o atual chefe da polícia estava fora da corporação há quase dez anos, trabalhando em funções de confiança, como no Supremo e no governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP). 

 

MP pede investigação sobre 'gasto inútil' com aviões - O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu para investigar se houve custo inútil de dinheiro público do governo federal, em janeiro, quando o ministério da Saúde e a Fiocruz contrataram aeronaves para buscar 2 milhões de vacinas da AstraZeneca na Índia. A Fiocruz gastou cerca de R$ 500 mil com a aeronave e a Saúde também contratou um avião da Azul, cujo valor pago no aluguel é desconhecido. As viagens para o transporte de vacinas nunca ocorreram porque o governo indiano não liberou as doses. Como mostrou a Folha, após a confusão, o Itamaraty negociou as mesmas doses em um valor abaixo do estipulado com a Fiocruz. O pedido de investigação é assinado pelo subprocurador-geral Lucas Furtado e também mira o suposto superfaturamento ou ato antieconômico na compra.

 

Não é toda decisão de juiz que deve ser obedecida - Número 2 da Secretaria da Cultura do governo federal, o ex-policial militar André Porciuncula tem defendido que não são todas as ações da Justiça que devem ser obedecidas. O presidente Jair Bolsonaro tem sinalizado que considera descumprir determinações do Supremo Tribunal Federal. "A ideia de que qualquer tipo de decisão proferida por um juiz se constitui em dogma sacrossanto, devendo ser obedecida cegamente, é a coisa mais absurda já criada", escreveu Porciuncula em suas redes sociais. "Havendo dúvidas legítimas sobre a legalidade, o próprio poder judiciário deve resolver as dúvidas. Sendo gritante e manifesta a ilegalidade, é dever constitucional ser sanada por qualquer um dos três poderes, que são obrigados, por força de lei, a preservar a ordem legal", acrescentou. Neste sábado (28), por exemplo, Bolsonaro indicou que não aceitará se o STF fixar entendimento de que a tese jurídica do "marco temporal" não se aplicará mais nos processos de demarcação de terras indígenas no país. "Se aprovado, tenho duas opções, não vou dizer agora, mas já está decidida qual é essa opção, é aquela que interessa ao povo brasileiro, aquela que estará ao lado da nossa Constituição", disse o presidente.

 

Só há ruído sob Bolsonaro porque instituições são fortes - Porta-voz de uma das principais consultorias de análises de risco do mundo, Christopher Garman, 51, tem levado a seus clientes uma avaliação menos alarmista sobre a possibilidade de uma ruptura institucional no Brasil, mas feito alertas pouco otimistas sobre a situação econômica. "No fundo, um quadro institucional tão robusto é que gera tanto ruído assim", diz à Folha o cientista político e diretor para as Américas na Eurasia Group, ao comentar a escalada autoritária do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a guerra declarada por ele a outros Poderes. "Em países onde as instituições não são tão fortes, não se gera ruído, e isso é ruim", afirma ele, minimizando o receio corrente de que os atos bolsonaristas de 7 de Setembro deem vazão a tendências golpistas do mandatário. Para Garman, Bolsonaro ainda tem chance de se fortalecer para as eleições de 2022, mas depende fundamentalmente de elementos que podem afetar neste ano sua popularidade para cima ou para baixo, como a criação do Auxílio Brasil e a iminente crise energética. Cético quanto à possibilidade de uma terceira via competitiva, o analista diz que "importa menos o nome" para uma candidatura alternativa e mais um espaço político para que o projeto decole —o que hoje, avalia, não existe.

 

CPI da Covid abre mão de investigar ministros e empresas - Chegando à reta final dos trabalhos, que devem se encerrar em setembro, a cúpula da CPI da Covid já admite deixar para trás algumas importantes linhas de investigação, seja por falta de tempo ou de consenso entre os senadores. A lista de itens que saíram do foco do colegiado traz desde importantes personagens do governo a gigantes da tecnologia, assim como indícios de descaso com a saúde da população indígena. O papel do atual ministro da Defesa e ex-ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, foi alvo de diversas sessões da CPI, já que ele comandava a pasta responsável por coordenar boa parte das ações de enfrentamento à pandemia, um posto estratégico. Havia requerimentos solicitando que o ministro fosse obrigado a depor, mas eles não foram apreciados. A convocação do diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que é próximo ao presidente Jair Bolsonaro, foi pedida três vezes, mas a CPI não chegou a votar o pleito. Dois requerimentos citam as suspeitas de uso da Abin para coletar informações contra governadores. Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), cita o tempo exíguo para justificar a dificuldade de se investir em todos as frentes. — Nós vamos ouvir todo mundo que precisa ser ouvido. Estou dedicado a simultâneas tarefas. Vamos acelerar a investigação nesses dias que faltam. Eu estou fazendo uma análise criteriosa, isenta dos documentos e das informações que estamos recebendo. E estou dedicado ao relatório do desenho que devemos apresentar no começo da segunda quinzena de setembro. A desinformação, abundante na pandemia, levou a comissão a aprovar em 23 de junho a convocação de representantes do Twitter, Facebook e Google. Antes disso, conforme mostrou O GLOBO em julho, as empresas de tecnologia já vinham procurando os senadores e trabalhando nos bastidores para sair do alvo. Ao fim, as suspeitas de ilegalidades na compra de vacinas praticamente monopolizaram a pauta e nenhum nome ligado às empresas foi convocado.

 

STF determina sigilo sobre dados de Ricardo Barros - A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou neste sábado que a CPI da Covid no Senado mantenha sigilo das decisões referentes ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que é investigado pelo colegiado. Pela decisão, o autor do requerimento, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), será o único com acesso aos dados sobre Barros. Outros parlamentares só poderão acessar as informações mediante solicitação com uma justificativa. Na semana passada, a ministra negou pedido de Barros para suspender suas quebras de sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático, determinadas pela comissão. A defesa, então, pediu a reconsideração da decisão alegando que houve vazamentos de dados à imprensa. Desta vez, diante do recurso, Cármen atendeu parcialmente o pedido. Ela manteve as informações sob sigilo na comissão, com novas restrições de acesso, e negou a possibilidade de abrir uma investigação para apurar os supostos vazamentos. A ministra ressalta que “haverá de ficar sob a força também de ato judicial, relativamente ao resguardo do sigilo e ao levantamento apenas por decisão deste Supremo Tribunal”.

 

PP negocia com opositores de Bolsonaro para 2022 - Ao escolher Ciro Nogueira para comandar a Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro pode ter criado uma saia justa para si mesmo em 2022. Se, por um lado, o novo ministro se tornou o fiador e articulador político do governo junto ao Congresso, de outro, é uma das principais lideranças do PP, partido do Centrão focado em seus próprios interesses eleitorais. Em pelo menos sete estados, há a possibilidade real de a sigla apoiar nomes críticos ao presidente da República, sendo que em três deles deve estar com seu principal adversário: Luiz Inácio Lula da Silva. As possibilidades de “traições” se concentram principalmente no Nordeste, onde o presidente enfrenta os menores índices de aprovação ao governo federal e, historicamente, Lula é mais competitivo. Em seis das nove unidades da federação daquela região, há chances de Bolsonaro estar num palanque diferente do PP ou, a depender do cenário, ter que dividi-los com concorrentes diretos na corrida pelo Palácio do Planalto. Ironicamente, este é o caso do Piauí, terra de Ciro Nogueira, que por anos a fio foi aliado de primeira hora do PT de Lula. Seu plano inicial é disputar a eleição para governador contra o candidato da situação, que será lançado pelo atual chefe do Executivo estadual, Wellington Dias (PT). O presidente do PP local, Julio Arcoverde, porém, tem dito que seu correligionário deve permanecer na Casa Civil. — É um consenso que o ministro Ciro ficará no ministério. Eu comungo da ideia de que não podemos definir o candidato no próximo ano. Tem que ser neste ano, a gente tem que virar em janeiro já com a chapa montada, com o candidato na rua, é só completar com as defecções que teremos na base — justificou Arcoverde em entrevista ao “Portal O DIA”. Nesse contexto, a tendência é que a legenda apoie Silvio Mendes, do PSDB. Os tucanos, entretanto, devem lançar candidatura própria à Presidência da República — o governador de São Paulo e desafeto de Bolsonaro, João Doria, é o favorito — e certamente contam com o palanque de Mendes no Piauí. Em outros redutos, o PP deve manter a parceria eleitoral com adversários ferrenhos do presidente: a aliança com o grupo de Flávio Dino (PSB), governador do Maranhão, já está quase certa. O partido ainda faz parte da base aliada de dois petistas da região: Camilo Santana, no Ceará, e Rui Costa, na Bahia. Nessas três unidades da federação, mais do que estar distante de Bolsonaro, a legenda do ministro da Casa Civil tem tudo para fechar com Lula. Também tende a se opor ao presidente em Pernambuco, onde apoiou o governador Paulo Câmara (PSB) nas últimas eleições e, possivelmente, em Sergipe, estado cujo mandatário, Belivaldo Chagas (PSD), venceu com o apoio de siglas de esquerda, entre elas o PT. Em São Paulo, maior estado do país, mais problemas: atualmente, o PP conversa com Rodrigo Garcia (PSDB), nome apoiado por Doria. Mesmo que essa negociação não avance, o plano B seria a candidatura de Geraldo Alckmin, que deve deixar o PSDB e está conversando com PSB e PSD, siglas distantes de Bolsonaro.

 

Sem bola de cristal, todos vão para a pista - O PT estranhou — e muito — o apoio do governador de Alagoas, Renan Filho, à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência da República. No outro extremo do espectro político, o presidente Jair Bolsonaro custa a entender a resistência de partidos aliados ao governo a fecharem desde já um compromisso com a reeleição. É que, apesar de Lula e Bolsonaro apostarem na polarização, grande parte dos parlamentares não acredita que os dois sejam as preferências consolidadas e reais da maioria da população para 2022. O MDB, por exemplo, vê fragilidades numa candidatura de Lula. Bolsonaro é instável e não representa uma escolha segura. Está tudo tão volátil que a terceira via é uma avenida aberta e a tendência é que surjam vários candidatos. Até aqui, Gilberto Kassab, tido como o maior CEO partidário do país, ficou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), como seu plano A, B e C, conforme ele mesmo disse em entrevista ao CB.Poder há quase um mês. O MDB tende a Tebet. O PDT mantém Ciro Gomes. O PSDB, brigando internamente para lançar um nome. Pelo menos, até novembro, cada um ficará no seu quadrado.

 

No Centrão insatisfação escancarada com o Planalto – O PL, de Valdemar Costa Neto, e os Republicanos, ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, já não escondem a possibilidade de abandonar o projeto de reeleição em 2022. Nos últimos dias, dois deputados do PL expostos nas redes críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, antes restritos às rodas de conversas dos parlamentares. Altineu Côrtes, líder da legenda no Rio, disparou um vídeo pedindo a saída de Guedes em sua lista de contatos no WhatsApp para minimizar o aumento das contas de luz. "Olha, ministro, você está atrapalhando o governo Bolsonaro", disse ele. No mesmo dia, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), foi ao Twitter e também atacou Guedes, por sua "desconexão com a realidade do povo". O PL fica chateado com Bolsonaro após entender que a nomeação de Flávia Arruda na Secretaria do Governo, em março, significava pouco para a sigla. A princípio, o antecessor de Flávia na Pasta, ministro Luiz Eduardo Ramos, não lhe permitiu fazer todas as nomeações que gostaria na articulação política. Então, com a chegada de Ciro Nogueira à frente da Casa Civil, a ministra definitivamente perdeu a oportunidade de exercer qualquer destaque na relação do Planalto com o Congresso. Nas conversações, o PL externa abertamente que quer mais espaço no governo. Ao contrário do partido de Valdemar Costa Neto, os republicanos são mais discretos em sinais de insatisfação. A legenda, que comanda o Ministério da Cidadania com o deputado João Roma, passou a ter um estilo mais questionador no auge da crise da Universal em Angola, quando, em maio, líderes brasileiros da igreja foram denunciados no país por lavagem de dinheiro e os pastores foram expulsos do país e enviados de volta para o Brasil. O homem forte do bispo Edir Macedo na Universal, seu genro Renato Cardoso, apareceu em vídeos na Record TV criticando a "omissão" do governo brasileiro no episódio.

 

É preciso mais - No TSE, a avaliação é de que há condições técnicas para cassar a chapa Bolsonaro-Mourão em decorrência das quatro ações judiciais que correm na Corte por supostas irregularidades cometidas durante a campanha — entre elas, o abuso de poder econômico e o uso indevido das redes sociais. O que ainda não existe são as condições políticas.

 

Grupos cívicos e de renovação recalculam rota diante de ameaças à democracia - As ameaças à democracia fizeram grupos cívicos que em 2018 foram mais associados à pauta da renovação definirem a defesa das instituições como a principal bandeira para 2022. Raps, RenovaBR, Acredito, Agora e Livres veem a contenção de retrocessos como urgência. A leitura é que o bolsonarismo fez escancarar a diferença entre quem defende a democracia e quem faz pouco caso dela. Agora, alguns desses grupos tentam separar o joio do trigo ao avaliar que pode ter sido um erro acreditar que qualquer um é bem-vindo para renovar a política. O Acredito tem participado de atos contra Bolsonaro e as lideranças que se candidatarem terão de se comprometer a atuar contra a tentativa de reeleição do atual presidente. “A urgência agora é a defesa da democracia”, diz o cofundador Frederico Lyra Netto. A Raps, cujas lideranças estão espalhadas por 29 siglas, deixa claro que preza pela diversidade, mas destaca que um de seus principais valores é a defesa da democracia. “Estamos todos preocupados com os riscos à ordem”, diz Mônica Sodré. Da diretora-executiva do RenovaBR Irina Bullara: “As prioridades de quem busca a renovação são diferentes a depender do contexto político. A democracia é o único caminho possível. Ela deve ser fortalecida e jamais interrompida. Seguiremos para 2022 com o mesmo propósito: selecionar e qualificar mais democratas.” Para o Livres, o foco estará na prática. Mano Ferreira afirma que a boa prática política se dá no cultivo da cultura democrática e no aperfeiçoamento do processo político via mudanças legislativas. O Agora, como destaca Leandro Machado, tem se manifestado em relação ao “descalabro” do governo e se aliado a outros grupos em movimentos como o Super Impeachment. Expoente dos grupos cívicos em 2018, Felipe Rigoni (PSB-ES) resume uma visão comum entre líderes dessas entidades: a de que a polarização tende a piorar o cenário de ameaças à democracia. “Os grupos têm papel fundamental na qualificação do debate público e uma das principais ações, agora, é ajudar na criação de uma candidatura de terceira via no centro democrático.” Até aqui. Tabata Amaral (PDT-SP) defende unir quem pensa diferente, mas com uma linha bem riscada no chão: “Vamos continuar a denunciar as manobras de quem usou democracia para se eleger só para instalar um projeto autoritário. Vamos buscar convergências e unir pessoas de todo o espectro político na defesa da nossa democracia”.