Nassif: Lemann produz o maior rombo da história; Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio

Nassif: Lemann produz o maior rombo da história; Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio
Nassif: Lemann produz o maior rombo da história; Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio
Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles são donos da gestora que detém 30% das ações da Americanas.

VOCÊ ESCREVE 13/01/2023 - 18h22

Nassif: Lemann produz o maior rombo da história; Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio


Por Redação

120


Lemann produz o maior rombo da história, por Luis Nassif

As Lojas Americanas esconderam passivos equivalentes à metade do seu patrimônio. É o maior escândalo do mercado de capitais brasileiro

Por Luis Nassif, no GGN

Jorge Paulo Lemann primou sempre pelas práticas mais nocivas do capitalismo financeiro. Ele não é um semeador de empresas, não é o investidor que desbrava novos mercados.

Na primeira metade dos anos 90, escrevi uma coluna na Folha mostrando como o mercado de capitais poderia ser um grande fator de reciclagem da economia.

Estava-se em um processo profundo de mudanças, com setores que desapareciam e outros que nasciam. Obviamente, é tarefa impossível a reciclagem ampla dos setores velhos para setores novos.

Aí entra o capital financeiro ajudando a financiar a nova geração de empreendedores ou a reciclagem dos empresários tradicionais.

Na época, ele estava investindo na Companhia de Cervejas Brahma. Recebi um telefonema de Paulo Guedes, que me disse que Lemann tinha lhe telefonado, comentando o artigo. Pela primeira vez, sentia-se participando de algum projeto de construção.

Guedes aproveitou para contar que tinha dito a Lemann para deixar de lado cervejas, porque a rentabilidade da renda fixa era imbatível.

Nem sei se a conversa existiu ou não. Só sei que, logo depois, Lemann adquiriu a Antárctica, em uma das operações mais escandalosas do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico).

Havia um protocolo do CADE analisando a distribuição dos revendedores pelo país, como um dos indicadores de concentração. O então presidente do CADE, Gesner de Oliveira, deixou de lado o sistema e recorreu a um Guia 4 Rodas para aprovar a operação.

Pouco depois foi constituída a Ambev, a rede de distribuidores da Antárctica foi esmagada e Lemann contratou como diretor Milton Seligman, um dos assessores de confiança de Fernando Henrique Cardoso que, a partir daí, tornou-se lobista da empresa.

Pouco depois, o Banco Garantia, de Lemann, caiu em uma armadilha do destino. O Banco Central iria adquirir títulos da dívida externa brasileira – o que elevaria o preço do papel no mercado internacional.

O Garantia foi informado antecipadamente (o pai de Gustavo Franco, do Banco Central, tinha participação no banco) se empanturrou de títulos, mas explodiu uma crise na Rússia, não prevista, que derrubou todos os títulos da dívida externa.

O Garantia quase quebrou, Lemann passou para frente e concentrou-se na Ambev e em outras empresas, usando as fórmulas mais deletérias do capitalismo.


Apoie o VIOMUNDO


Das empresas, queria apenas dividendos elevados. Escolheu setores tradicionais para não ter que investir em pesquisa, inovação e crescimento.

Sua estratégia consistia em atuar em mercados cartelizados, valer-se do poder do cartel, cortar custos, não investir em inovação. Só interessava dividendos generosos.

Como no caso na privatização da Telemar, em que seu grupo, mais outros três, adquiriram a Telemar e a depenaram.

Seu estilo começou a ser questionado quando adquiriu uma rede de alimentos e, por falta de pesquisas, não percebeu as mudanças trazidas pelo onda da comida natural.

No Brasil, sua atuação sempre foi deletéria. A forma como se apropriou da Eletrobrás é indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público.

Entrou como minoritário, no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos – que eram relevantes para o país – para garantir dividendos polpudos.

A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobrás indecente, tomando como base o valor contábil da empresa.

O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, que diluíram a participação estatal, e impuseram um acordo de acionistas pelo qual a União só tem direito a 10% dos votos, independentemente de sua participação acionária. Depois, com o dinheiro em caixa, proveniente do aumento de capital, a Eletrobrás recomprou suas ações.

A mídia comprou totalmente a tese de que a gestão privada seria mais eficiente.

Agora se tem o maior escândalo financeiro do mercado de capitais brasileiro, com a descoberta de que as Lojas Americanas esconderam passivos equivalentes a metade do seu patrimônio.

Não se trata de um rombo recente, mas construído ano a ano há mais de década. E por que isso?

Porque o 3G só se interessava em conferir o balanço trimestral e pressionar a diretoria para melhorar os dividendos.

São eles que passam a controlar a Eletrobrás, e certamente irão impor o poder de cartel da geração de energia, na primeira crise hídrica.

Ontem, o mercado fechou com a AMER3, o papel das Lojas Americanas, quase virando pó: R$ 2,72, 97% a menos do que o pico de R$ 75,19 de 4 de janeiro de 2021.