Mortes de Jango, JK e Lacerda são investigadas em 'Conspiração Condor', com lançamento para 2025

Mortes de Jango, JK e Lacerda são investigadas em 'Conspiração Condor', com lançamento para 2025

Mortes de Jango, JK e Lacerda são investigadas em 'Conspiração Condor', com lançamento para 2025

Visitamos o set do longa que transforma em ficção mortes em série de opositores da ditadura: ‘Não é uma história onde tudo está claro', diz diretor

Por   — São Paulo
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Mel Lisboa: atriz é protagonista da trama
Mel Lisboa: atriz é protagonista da trama — Foto: Andradina Azevedo

 

Nas últimas semanas, a tranquila cidade de Iguape, a 200 quilômetros da capital paulista, teve seus moradores mais atentos que o normal enquanto caminhavam nas ruas ou paravam em suas janelas. O pequeno município, de 29,1 mil habitantes, foi tomado pela produção do filme chamado “Conspiração Condor” — previsto para estrear no segundo semestre do ano que vem. O motivo da curiosidade além, é claro, da chance de ver alguns dos atores e atrizes na gravação foi a escalação de ao menos 300 locais para trabalhar como figurantes nas filmagens, além de outros 25 profissionais envolvidos na realização, contabiliza a produtora Liz Reis.

O roteiro — cuja construção, diz o diretor André Sturm, tem 50% de realidade e 50% de ficção — começa em agosto de 1976, logo após a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek em um acidente de trânsito. A fatalidade se torna uma pulga atrás da orelha da jornalista Silvana (vivida por Mel Lisboa), que passa a investigar o caso. Em dezembro daquele ano, o também ex-presidente João Goulart morre de parada cardíaca e, em maio do ano seguinte, é Carlos Lacerda quem perde a vida, vítima de um infarto.

— Sou apaixonado por história. Em 2016, estava lendo algumas coisas e descobri como ocorreu a morte do Lacerda, e comecei a pensar que assim como ele, Juscelino e Jango tinham morrido de maneira estranha num período de nove meses. Pensei que ali havia uma história a ser contada, um roteiro. É uma trama, uma conspiração — diz André Sturm, que volta à direção dezesseis anos depois de seu último filme, “Bodas de Papel”. — O filme é um thriller político, cheio de nuances, não é uma história onde está tudo claro. A protagonista, inclusive, é apolítica. Ela não é de esquerda nem de direita. Ela apenas ficou intrigada com esse caso.

 

 

Mel Lisboa, em cartaz com a concorrida montagem de “Rita Lee, uma autobiografia musical” e recentemente no filme “Maníaco do Parque”, do Prime, teve uma lição de casa grande após topar o papel. Sturm sugeriu a ela uma seleção de filmes com foco em investigações para oferecer inspiração na hora de viver a protagonista.

Entre os eleitos pelo diretor estava "Todos os homens do presidente" (1976), sobre o caso Watergate, e mais "A Trama" (1974), em que um candidato à presidência é assassinado. Ambos dirigidos pelo nova-iorquino Alan J. Pakula.

— Gosto dessa coisa de você criar uma possibilidade além da história, dentro de uma ficção— afirma Mel. — Embora não seja esse o foco da história, é interessante ver como a Silvana, no filme, é uma mulher à frente do seu tempo, sem filhos e sem casamento. É alguém que se viu desafiada, diante de uma situação que ela estava de saco cheio do trabalho. Ela vai se emaranhar junto com a trama.

Na trama, Mel Lisboa tem a ajuda vacilante de outro jornalista — este argentino — vivido por Dan Stulbach (que aproveitou a oportunidade para gastar sua habilidade falando espanhol). O ator, que também esteve no elenco do filme “Ainda Estou Aqui”, visto por pelo menos 2 milhões de brasileiros até o final desta semana, comemora o surgimento de produções cinematográficas que miram na história do Brasil. Pedro Bial ainda fará uma participação especial no papel de Carlos Lacerda e a atriz Maria Manoella ainda faz uma terceira jornalista na trama.

— Como quase tudo o que aconteceu no Brasil, existe uma névoa (na história). Felizmente, estamos redescobrindo por diversos caminhos. A minha geração estudou no final da ditadura, os colégios não tratavam esse período de maneira aberta e crítica — afirma Dan. — Acho que uma das grandes curtições de assistir algo que é inspirado na realidade é poder justamente pesquisar e descobrir o que é ficção e o que é realidade.

*A repórter viajou a convite da produção