Manchetes de domingo

Sumario das notícias de domingo dos maiores jornais do Brasil.

Manchetes de domingo

 

Edição – Chico Bruno

 



Manchetes de domingo

FOLHA DE S.PAULO – País mais pobre e informal torna recuperação incerta
CORREIO BRAZILIENSE – Empresas apostam no segundo semestre
ESTADO DE S.PAULO – Compra de startup bate recorde com busca de cliente conectado
O GLOBO – Munição desviada do Estado foi usado em grandes crimes da última década


Resumo de manchetes

A Folha revela em manchete que a recuperação prevista para 2021 e 2022, não deve beneficiar a ponta de baixa renda, que tende a manter a informalidade da última década e travar um crescimento capaz de retirar da miséria os milhões nela jogados pela pandemia. Com o alastramento da Covid, o setor de serviços parou, e o mercado agonizou. A desigualdade entre ricos e pobres se ampliou em um país que já empurrara à informalidade, durante sua pior década em 120 anos, os menos qualificados.
A manchete do Correio mostra que apesar de cautelosos e preocupados com o possível retorno das restrições, devido à pandemia, empresários esperam um segundo semestre de crescimento econômico, caso a vacinação seja acelerada. O setor da construção civil, por exemplo, prevê crescimento. A Fecomércio, reforça que a flexibilização dos horários de funcionamento e os pacotes econômicos do GDF ajudaram a melhorar as previsões. De acordo com o secretário de Economia, André Clemente, o governador Ibaneis Rocha teve cuidado de implementar ações para manter investimentos em obras pelo DF e pagar salários dos servidores em dia.
O Estadão revela em manchete que para se manter atualizadas e conquistar mercado, empresas como Magazine Luiza, Via, B2W e Alpargatas têm ido às compras e a preferência é pelas startups, empresas ágeis no desenvolvimento de produtos digitais. O objetivo é acompanhar os hábitos de clientes cada vez mais conectados. De janeiro a abril, o número de aquisições cresceu 120% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 77 negócios, número maior do que em todo o ano de 2019. Neste ano, startups com soluções voltadas para o setor varejista lideram o ranking de fusões e aquisições, com 14% das operações, segundo a plataforma de inovação Distrito. Em 2020, as fintechs prevaleceram.
A manchete de O Globo revela que levantamento feito pelo jornal, em parceria com o Instituto Sou da Paz, identificou o uso de munições desviadas dos órgãos de segurança pública e das Forças Armadas em 23 grandes massacres, execuções, assaltos e apreensões nos últimos dez anos. As balas, disparadas em oito estados, deixando 83 mortos, faziam parte de lotes entregues às corporações para garantir a segurança pública. Mas com o descontrole sobre os depósitos e regras frouxas que reduzem a rastreabilidade, os projéteis alimentam a criminalidade, sem investigações profundas e a punição de culpados.

Notícia do dia: Nos últimos 10 anos, o número de startups no País cresceu numa média de 100% ao ano e alcançou a marca de 13,5 mil empresas, segundo associação do setor. Em 2020, foram injetados R$ 19,7 bilhões em investimentos. O movimento de aquisições de startups por grandes empresas só tem sido possível pelo amadurecimento do chamado “ecossistema” de inovação. De 2011 para cá, o número de startups cresceu numa média de 100% ao ano e alcançou a marca de 13,5 mil empresas, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Esse avanço ocorreu, sobretudo, por causa da enorme liquidez e redução das taxas de juros no mundo. No ano passado, o setor recebeu R$ 19,7 bilhões em investimentos, segundo dados da Abstartups. Com a queda da Selic, os investidores tiveram de buscar novas formas para remunerar o capital, e os fundos de venture capital – que apostam em startups – se tornaram opção. “De janeiro a abril, já temos investimentos da ordem de 70% do que foi destinado ao setor no ano passado (cerca de US$ 2,3 bilhões)”, diz o presidente da associação, Felipe Matos. Segundo ele, a pandemia trouxe uma nova realidade para a sociedade e criou oportunidades. A tecnologia ganhou grande presença com as necessidades das empresas para atender a população, o que impulsionou fusões e aquisições e aberturas de capital. “Temos hoje um ecossistema que floresceu com mais investimentos. Não é um sucesso do dia para a noite”, diz Daniel Chalfon, sócio da gestora de venture capital Astella Investimentos.

Notícias da 1ª página

Depreciação de bitcoin traz alívio para ambiente - O bitcoin derreteu. A moeda virtual, que chegou a valer US$ 64 mil em abril, encerrou a semana cotada a US$ 37,3 mil, uma queda de 42% desde seu auge. Se o comportamento do ativo nas últimas semanas decepciona e preocupa investidores e “mineradores”, ambientalistas comemoram. Há alguns anos, o bitcoin passou a ser apontado como vilão do meio ambiente. A nocividade da moeda ganhou ainda mais os holofotes após o bilionário Elon Musk afirmar que sua montadora de veículos elétricos, a Tesla, não aceitaria mais bitcoin como forma de pagamento devido ao potencial danoso da moeda. No começo do ano, porém, a empresa anunciou ter investido US$ 1,5 bilhão em bitcoin, o que pressionou o preço do ativo para cima. O dano causado por criptomoedas ao ambiente ocorre porque elas demandam grande volume de energia para existir. Um indicador desenvolvido pela Universidade de Cambridge aponta que o bitcoin consome, por ano, quase o mesmo volume que a Argentina inteira. Segundo outro indicador – o Bitcoin Energy Consumption Index, ou índice de consumo de energia do bitcoin –, o gasto estaria no mesmo patamar do da Holanda. A produção de bitcoins é feita por computadores que realizam cálculos matemáticos de alta complexidade. Esses computadores estão ligados a uma espécie de rede paralela na web. Tudo isso foi desenvolvido em 2009 por um programador anônimo de computação. Ele estabeleceu em seus códigos computadorizados que, a cada dez minutos, o software do bitcoin lança uma equação matemática diferente na internet. O computador que desvendar primeiro a fórmula é recompensado com um lote de 6,25 bitcoins. Hoje, um lote desses vale US$ 233 mil, ou R$ 1,2 milhão.

Orçamento secreto irrigou empresa ligada a políticos - Parte da verba do orçamento secreto revelado pelo Estadão foi parar nos cofres de empresas ligadas a políticos e também de firmas que já figuraram nas páginas de outro escândalo, a operação Lava Jato. Uma análise da destinação do dinheiro mostra estabelecimentos caseiros fechando contratos de dezenas de milhões de reais para compra de maquinário pesado. Na quarta-feira, dia 19, o subprocurador-geral da República junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Lucas Furtado formulou uma representação para que sejam apuradas possíveis irregularidades envolvendo as empresas contratadas com esses recursos. O assunto será agora investigado pela área técnica. “É óbvio – deve ser registrado por dever de ofício – que nem todas as empresas tenham atuado de forma ilícita na obtenção dos contratos. Cabe, contudo, ao controle externo, identificar padrões de atuação”, escreveu Furtado na representação. O esquema do orçamento secreto foi criado pelo presidente Jair Bolsonaro e operado com verba do Ministério do Desenvolvimento Regional, uma pasta loteada pelo Centrão. Com o aval do Planalto, um grupo de deputados e senadores pôde impor o que seria feito com ao menos R$ 3 bilhões. Toda negociação foi sigilosa e fere a lei orçamentária, o que pode levar o presidente a responder por crime de responsabilidade. A pasta comandada pelo ministro Rogério Marinho recebeu a maior parte dos recursos em 2020: R$ 8,3 dos 20,1 bilhões. O dinheiro foi usado pela própria pasta e por órgãos ligados a ela, como o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, a Codevasf (Codevasf). Uma das empresas na mira do TCU é a JND Representações. Ela fechou três contratos com a Codevasf no fim de 2020 para fornecer maquinário pesado, totalizando R$ 11,04 milhões. Um feito e tanto para uma microempresa aberta em 2018, sediada em um apartamento residencial e comandada por um jovem de 29 anos. A JND tem capital social de R$ 50 mil – ou seja, este é o valor do investimento inicial. Os contratos foram fechados em uma indicação do ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A sigla “JND” faz referência ao nome do dono. Jonathan Allison Dias é um engenheiro civil de 29 anos e de origem mineira. Sua empresa parece ser especialista em licitações da Codevasf: foram onze desde agosto de 2020. A firma não participou de outras licitações do governo. Em um dos certames, a Codevasf arrematou da JND seis motoniveladoras de 193 cavalos de potência e 17 toneladas de peso, por R$ 656,5 mil cada uma. O valor total é de R$ 3,9 milhões. No outro edital, a JND vendeu 11 escavadeiras hidráulicas por R$ 6,6 milhões. Em ambos os casos, os equipamentos foram comprados “com vistas a atender o Estado do Amapá”. Questionado pela reportagem, Jonathan Allison afirmou não ter qualquer conhecimento sobre a indicação de Alcolumbre e que sequer o conhece. “Minha empresa cumpre com todos os requisitos de qualificação exigidos pelo edital.” A Codevasf informou que os contratos vencidos pela JND “foram realizados no site oficial de Compras do Governo Federal, onde ficam registrados todos os atos praticados pelo pregoeiro responsável”. A empresa baiana Liga Engenharia Ltda não tinha contrato com o governo federal até setembro de 2019. Foi quando começou a ganhar uma série de licitações na Codevasf e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), órgãos aparelhados pelo Centrão. Em 1 ano e 3 meses firmou oito contratos com valores somados de R$ 58 milhões, dos quais já recebeu R$ 53 milhões. Um sócio da empresa é cunhado de um sobrinho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Pazuello pode depor outra vez - Antes protegido por um habeas corpus, agora o ex-ministro Eduardo Pazuello pode ser confrontado novamente na CPI da Covid sem o direito de ficar calado e sob ameaças mais agressivas de prisão no caso de falso testemunho. Aliás, a maioria dos depoentes que já passaram pela sabatina pode retornar à comissão que, desta vez, promete instalar uma equipe de checagem de fatos em tempo real. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), defende o serviço como uma atividade complementar, enquanto integrantes da base do governo alegam que a medida serve para a construção do relatório dentro de um script que já escolheu culpados. Na quarta-feira, está previsto votar o requerimento para uma reconvocação de Pazuello. A afirmação foi feita pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ontem, durante live do canal Grupo Prerrogativa. O senador definiu a passagem de general pelo Congresso como “hilária”, em razão das contradições feitas pelo depoente nos dois dias. “A presença do Pazuello é hilária. Porque ele consegue, de todos os fatos concretos, (...) criar uma versão de ‘um manda e o outro obedece’, como se fosse uma brincadeira. Por isso, ele está sendo convocado novamente”, afirmou. A ideia é pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para que não conceda um novo habeas corpus que proteja Pazuello de sofrer constrangimentos, como ameaças de prisão, e garanta o direito de ficar em silêncio ao ser questionado. “Espero que o Supremo permita que os nossos trabalhos possam ser feitos na forma normal. Não estamos aqui para matar, crucificar, enforcar alguém.”

Desigualdade na vacinação global ameaça alongar a crise - Em dezembro do ano passado, uma britânica então com 90 anos fez história ao receber a dose que inaugurou a vacinação contra a Covid-19 no mundo. Seis meses depois, mais de 1,6 bilhão de doses foram aplicadas. A maioria delas, porém, em braços de habitantes de países ricos. Com 15% da população mundial, esses países concentram quase metade das vacinas disponíveis. Enquanto um terço de seus habitantes recebeu ao menos uma dose, nas nações pobres a proporção é de apenas 0,2%. Assim como ocorreu com o acesso a respiradores e máscaras ao longo da pandemia, os países que tinham mais recursos e poder na geopolítica global chegaram primeiro e reservaram para si a maior parte dos imunizantes disponíveis. As primeiras compras foram feitas pelos EUA e pelo Reino Unido em maio de 2020, quando as vacinas ainda estavam em desenvolvimento. "Isso cria uma reserva de mercado. Os países disputam quem vai sair antes da crise econômica, e os que se posicionaram estrategicamente entraram na frente na fila da vacina, que é fundamental para essa retomada", diz o médico sanitarista Ulysses Panisset, da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), especialista em cooperação internacional na área da saúde. Como resultado, os Estados Unidos, por exemplo, têm quantidade suficiente para vacinar três vezes sua população e o Canadá comprou 10 doses por habitante. Enquanto isso, países como Guatemala, Honduras e Mali não imunizaram nem 1% de seus moradores, e seis países africanos nem começaram suas campanhas. O cenário é o que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, definiu, na última semana, como "apartheid das vacinas". Adhanom, que também classificou a situação como um "fracasso moral catastrófico", fez um apelo para que os países doem parte de seus excedentes ao Covax Facility, consórcio global criado para distribuir os imunizantes aos países de renda baixa e média. E não somente por altruísmo. Cientistas alertam que a reserva de doses pode se voltar contra os mais ricos. Se o vírus continuar circulando descontroladamente, pode sofrer mutações que resultem em variantes mais perigosas, como a B.1.617, que surgiu na Índia. Essas variantes se espalham pelo mundo e podem ser, eventualmente, resistentes às vacinas. Em suma, o chamado "vacinacionalismo" pode vir a ser contraproducente inclusive para aqueles países com imunização eficiente.

Sem mulheres, CPI da Covid soma casos de machismo - Não há nada de original no machismo, e a CPI da Covid está aí para provar. Vários expedientes comuns na tentativa de inferiorizar uma mulher deram as caras nas duas primeiras semanas da comissão, que já nasceu em dívida com a paridade de gênero. "Eu gostaria que vossa excelência, por favor, que vossa excelência ou o senhor não me interrompesse porque é uma linha de raciocínio..." Esta é a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pedindo ao depoente do dia, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que a deixe completar a fala. Na mesma quinta-feira (20), Tebet, que lidera a bancada feminina no Senado, teve seu discurso atravessado ao menos 11 vezes pelos homens na sala. O general é reincidente nesta prática corriqueira de homens contra mulheres, e um episódio ilustra bem o espírito da coisa. O então ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro se encontrou no dia 18 de janeiro com governadores. Escutou os homens em silêncio. Quando foi a vez de falar da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), achou razoável intervir várias vezes. As 11 senadoras representam 13,5% da Casa, fatia quase quatro vezes menos do que a proporção feminina na população. No colegiado destacado para investigar malfeitos no combate à pandemia, o número inicialmente caiu para zero. Entre os 18 titulares e suplentes, nenhuma mulher. As comissões são compostas por indicação dos partidos. No caso da CPI, após a composição ser firmada só com homens, as senadoras pleitearam o direito a uma representação que as permitisse discursar e fazer perguntas, ainda que não possam votar ou pedir documentos. O combinado foi aceito pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), mas nem todos os homens do grupo ficaram alegres com a ideia. No primeiro dia do acordo, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ia começar a falar quando foi cortada por um bate-boca entre Aziz e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), da base governista. O piauiense negou que houvesse um arranjo para garantir a participação feminina e disse que, se não havia mulheres na comissão, o problema era dos partidos. "Se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa", afirmou Nogueira. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), foi mais longe e argumentou que a fala das senadoras eleitas não poderia acontecer "ao arrepio da representatividade que o povo elegeu" e que dar voz à bancada seria "rasgar o regimento". Senadoras ouvidas pela Folha contam que os colegas pararam com os ataques públicos depois que Aziz se reuniu com os membros da comissão. Nos bastidores, porém, as queixas continuam.

Governo federal recebe avisos sobre possível nova onda - O governo federal vem recebendo alertas sobre a chegada de uma nova onda da pandemia de Covid-19 de secretários de estados e municípios. Segundo gestores do SUS (Sistema Único de Saúde) que participam das discussões, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) afirma ter preocupação sobre o cenário da crise sanitária, mas publicamente minimiza o risco de alta no curto prazo. Em documentos internos, a Saúde reconhece que é incerta a evolução da doença. "Não estamos vislumbrando isso nesse momento. A maneira adequada de se evitar terceira onda é avançar na campanha de vacinação", disse o ministro nesta sexta-feira (21). Ele afirmou que alguns estados e municípios já notaram "pressão sobre o sistema de saúde". "Isso se relete pela abertura que foi concedida nesses estados." Presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e secretário no Maranhão, Carlos Lula afirma que alertou Queiroga, nesta semana, sobre possível alta da doença. Para Lula, o recrudescimento da pandemia pode ser superior aos anteriores. "A gente já parte de um patamar muito alto", disse o secretário. Segundo ele, o SUS não tem estoque suficiente de insumos essenciais, como kits de intubação, e está perto do limite da expansão de leitos.

Reforma política quer afrouxar lei para ficha-suja - A um ano e meio das eleições, deputados tentam colocar de pé reforma política e eleitoral que tem como carros-chefes medidas já derrotadas na Câmara e no Judiciário. O debate que é visto por parlamentares e especialistas como uma cortina de fumaça para o afrouxamento de outros pontos da legislação. Há três comissões na Câmara debatendo alterações na legislação política e eleitoral. Entre as propostas estudadas está a flexibilização da Lei das Inelegibilidades —que foi tornada mais rigorosa pela Lei da Ficha Limpa, em 2010— e um freio ao poder do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de editar resoluções. Entre as propostas recicladas estão a implantação da impressão do voto eletrônico, a substituição do atual modelo eleitoral (o proporcional) para o chamado distritão e a volta do financiamento empresarial das campanhas. Apesar do barulho, as três propostas já foram rejeitadas pela própria Câmara ou pelo Judiciário. O voto impresso já foi declarado duas vezes inconstitucional pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em 2013 e 2020. O distritão foi rejeitado pela Câmara em 2015 e 2017. Por esse sistema, são eleitos os deputados e vereadores mais votados. Assim, o voto dado aos candidatos derrotados e o dado em excesso aos eleitos acabam, na prática, não tendo efeito. Hoje, vigora o sistema proporcional, em que o peso total dos votos recebidos por todos os candidatos do partido (mesmo os derrotados), além do voto na legenda, pesa no cálculo de distribuição das cadeiras entre as siglas. O financiamento empresarial das campanhas foi considerado inconstitucional pelo STF em 2015, no início do escândalo da Lava Jato, sob o argumento de que ele desequilibrava a disputa. Nos bastidores, a avaliação de congressistas é que esses temas, com muita resistência, têm o objetivo de desviar o foco de outras alterações consideradas prioritárias pelos partidos. É o caso das resoluções que o TSE edita para as eleições, várias delas consideradas abusivas na visão dos partidos. Em vez de interpretar a lei existente, o tribunal extrapola sua competência e legisla, criticam. "Nossa ideia é apenas deixar claro o poder de regulamentar, que não pode ir para além do que foi o legislador. O regulamento vem no sentido de esclarecer a lei, de executar a lei, portanto são regras internas, que devem valer internamente, jamais valer externamente", diz a deputada Margarete Coelho (PP-PI), uma das principais aliadas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ela é relatora da comissão que debate a revogação de toda a legislação eleitoral atual, que seria substituída por um único código eleitoral e processual eleitoral. Além da comissão relatada por Margarete, há uma outra que discute alterações políticas e eleitorais na Constituição —relatada pela deputada Renata Abreu (Podemos-SP)— e uma terceira que avalia a implantação do voto impresso, bandeira do bolsonarismo.

Na Caixa, Pedro Guimarães ‘poupa’ capital político - Em uma quinta-feira à noite, 21 de novembro de 2019, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e um grupo de assessores embarcaram num voo comercial de Brasília para Petrolina (PE), onde se hospedaram num hotel em frente ao Rio São Francisco. No dia seguinte, a comitiva participou de uma audiência com o prefeito Miguel Coelho, filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e almoçou num restaurante especializado em bode assado. Essa expedição foi uma das 97 viagens realizadas por Pedro Guimarães quase toda semana nos últimos 28 meses. Nesse período, ele visitou 147 municípios e percorreu 220 mil quilômetros nas 27 unidades da federação. Essas caravanas fazem parte do projeto Caixa Mais Brasil, cujo objetivo é aproximar a direção do banco de dirigentes, empresários e outros agentes locais. A meta é alcançar 166 visitas até o fim de 2022 — e faz brilhar não só os olhos de muitos políticos como também os de Jair Bolsonaro. Um dos aliados mais próximos do presidente e figura frequente nas lives semanais no Palácio da Alvorada — já participou de 22 —, Guimarães conheceu Bolsonaro em março de 2017. Naquele ano, o então presidenciável faria uma viagem internacional para conversar com investidores. Guimarães, que era sócio do Banco Brasil Plural, foi apresentado a Bolsonaro por um conhecido em comum do mercado financeiro. O economista ajudou na interlocução com os representantes do mercado na viagem e até na tradução. Durante a transição de governo, em 2018, o economista foi indicado para assumir a Caixa pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. No início, Bolsonaro torceu o nariz pelo fato de Guimarães ser genro de Leo Pinheiro, ex-executivo da OAS que foi preso na Operação Lava-Jato, mas chegou à conclusão de que o currículo do banqueiro justificava a aposta. E deu certo. A relação entre os dois se estreitou de tal forma que passaram a ter contatos frequentes. Bolsonaro ficou encantado com a iniciativa do executivo de botar o pé na estrada e ter contato presencial com os clientes da Caixa — que, em alguns casos, falam com o presidente da República por meio de videochamadas feitas do celular de Guimarães. As expedições pelo país afora também agradaram a diversos parlamentares. A programação das viagens costuma incluir apresentações típicas e manifestações folclóricas. A empreitada contempla redutos eleitorais de parlamentares aliados.

Destaques

Cortejando Bolsonaro, PP quer filiar três ministros - Em "namoro" com o presidente Jair Bolsonaro, o PP, do senador Ciro Nogueira (PI), um dos líderes do Centrão e atualmente um dos principais aliados do Palácio do Planalto, quer filiar três ministros do governo que devem disputar eleições em 2022. A ida do titular das Comunicações, Fábio Faria (de saída do PSD), deve ser oficializada em breve, e a legenda tenta atrair também Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Tereza Cristina (Agricultura). Um importante dirigente do PP afirma que as negociações com Salles e Tereza Cristina já estão encaminhadas. O ministro do Meio Ambiente está sem partido desde que foi expulso do Novo em maio do ano passado. Na semana passada, ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga exportação ilegal de madeira. Já a ministra ainda avalia a sua situação no DEM, partido no qual ingressou em 2017, após deixar o PSB. No caso de Faria, a mudança já é tida como um fato apenas à espera de oficialização. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, se reuniu recentemente com ele. O ministro manifestou o desejo de mudar de partido e teve o aval de Kassab, já que a sigla quer lançar uma candidatura independente em 2022 e, enquanto isso, prefere não ter ligação direta com o governo federal. A saída de Faria do partido seria em comum acordo com o PSD, segundo interlocutores de Kassab. Assim, o ministro, que é deputado federal pelo Rio Grande do Norte, não correria risco de perder o mandato. Ele quer disputar o Senado ano que vem.

Redes sociais, o Diário Oficial de Bolsonaro - “Foi apenas uma posição do agente político na internet”. Assim o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello definiu, em depoimento à CPI da Covid, a declaração do presidente Jair Bolsonaro desautorizando a assinatura do protocolo de intenção de compra de doses da Coronavac, que havia sido anunciada pelo ministério em outubro do ano passado. Questionado se houve ordem para suspender o acordo, o ex-auxiliar presidencial negou, afirmando que “uma postagem na internet não é uma ordem”. Eleito com uma campanha sem tempo significativo de TV e direcionada às redes sociais, Bolsonaro tem utilizado, ao contrário do que afirmou Pazuello, as plataformas digitais não só para ativar sua militância virtual, mas também para divulgar medidas de sua administração e sinalizar posições do governo desde que tomou posse. Anúncios de projetos de lei, nomeações para o primeiro escalão e até críticas a propostas em discussão na Esplanada dos Ministérios foram divulgados em primeira mão nos perfis pessoais de Bolsonaro nas redes, a exemplo da declaração de que o país não compraria a vacina. Desde o início do mandato, Bolsonaro já fez quase 4 mil publicações no Facebook, uma média de quatro postagens por dia. Desse total, 481 foram lives, entre elas suas transmissões semanais de quinta-feira. O Twitter, o YouTube e o Telegram também são canais importantes para sua gestão. Antes de negar a compra de vacinas Coronavac, Bolsonaro desautorizou, em setembro de 2020, a equipe econômica a propor mudanças em programas sociais e nas aposentadorias com o objetivo de criar o Renda Brasil, projeto que substituiria o Bolsa Família. O presidente usou justamente as redes para deixar claro que não aprovava a proposta e chegou a afirmar que o Renda Brasil estava “proibido” no seu governo até 2022.

Sem Bolsonaro, ministro da Cidadania vai representar o governo na Olimpíada - O ministro João Roma (Cidadania) confirmou que será o representante do governo brasileiro na Olimpíada de Tóquio, entre 23 de julho a 8 de agosto. Como o Painel mostrou, o presidente Jair Bolsonaro avisou a organizadores que não participará do evento. Se fosse, Bolsonaro provavelmente seria o único não vacinado da comitiva, já que o COI (Comitê Olímpico Internacional) providenciou imunizantes para toda delegação nacional. A última vez que o presidente da República ficou de fora de uma cerimônia de abertura do evento foi em 2004, em Atenas. Dilma esteve em Londres-2012, em campanha para Rio em 2016, enquanto Lula foi aos Jogos de Pequim-2008.

TSE já sinaliza que eleição de 2022 não terá voto impresso - Bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de grande parte dos seus aliados, a adoção de um sistema que gere a impressão do voto nas próximas eleições enfrenta uma dificílima tramitação no Congresso e, mesmo que esse obstáculo seja superado, o Tribunal Superior Eleitoral sinalizou à Folha não ter condições de implantar a medida para 2022. Escorados em notícias enganosas sobre uma suposta vulnerabilidade do atual sistema —suspeita jamais comprovada—, bolsonaristas capitaneiam a quarta tentativa de emplacar a comprovação impressa do voto dado nas urnas eletrônicas desde que elas passaram a ser adotadas, em 1996. Nas três tentativas anteriores, o Congresso aprovou a impressão do voto, mas em uma delas (2002) o próprio Legislativo a revogou. Nas duas seguintes (2009 e 2015), o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional a medida sob os argumentos, entre outros, de risco de violação do sigilo do voto e de afronta aos princípios de economia e eficiência na gestão dos recursos públicos. Em nota enviada à Folha, o TSE frisou que cumpre a Constituição e a legislação "tal como interpretadas pelo Supremo Tribunal Federal" e que o sistema de urnas eletrônicas é "confiável e auditável em todos seus passos". Segundo o tribunal, para adotar o voto impresso é preciso, em primeiro lugar, realizar uma licitação "pautada por rígidos trâmites administrativos e burocráticos", sem prazo de duração, "tendo em vista o tempo necessário para as especificações técnicas e a margem de imprevisibilidade decorrente dos procedimentos de qualificação e dos eventuais recursos administrativos e judiciais". Além disso, prossegue o TSE, é preciso que haja fornecedores capazes de atender uma demanda de mais de 500 mil urnas em todo o país. Por fim, há um longo processo de produção e testes, etapas de desenvolvimento do software, processos de armazenamento e custódia, transporte e treinamento. "A implantação do voto impresso envolve um procedimento demorado, embora não seja possível, neste momento, estimar sua duração."

54% rejeitam a nomeação de militares para cargos no governo - A maior parte da população rejeita a nomeação de militares para cargos no governo federal, de acordo com o Datafolha. Pesquisa feita pelo instituto nos dias 11 e 12 deste mês aponta que 54% dos entrevistados são contrários à presença dos fardados nesses postos, ante 41% que são favoráveis. Não souberam opinar 5% dos entrevistados. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O Datafolha ouviu de maneira presencial 2.071 pessoas em todo o país, e o nível de confiança é de 95%. Um ano atrás, o instituto também fez esse questionamento, e a rejeição às nomeações também venceu: 52% se disseram contrários à presença dos militares no governo, ante 43% favoráveis. Promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a indicação de militares para ministérios e outros cargos de relevância atingiu na atual gestão níveis inéditos desde o fim do regime militar, em 1985.

América Latina chega a 1 milhão de mortes por Covid-19, com Brasil à frente - O saldo de mortes pela Covid-19 na América Latina e no Caribe ultrapassou a marca de 1 milhão de pessoas na sexta-feira (21), de acordo com contagem da agência de notícias Reuters. O Brasil é quem conta mais óbitos na região, correspondendo a quase 45% das mortes. A marca é atingida em um momento de aumento dos casos confirmados de Covid-19 na região, que registra a maior taxa de mortalidade pela doença no mundo. Com os casos registrados em queda na Europa, na Ásia e na América do Norte e em níveis estáveis na África, a América do Sul é a única região do mundo onde a taxa de contágio segue em tendência de alta. Em vários países da região, a vacinação avança a passos lentos e os sistemas de saúde estão perto do limite, enquanto parte da população mais pobre não consegue realizar o isolamento social sem comprometer sua fonte de renda. Durante a última semana, as oito nações com maior número de mortes por Covid-19 registradas em relação ao tamanho da sua população ficavam na América Latina. Na média do mês de maio, a América Latina e o Caribe concentraram 31% das mortes por Covid-19 no mundo. A região tem somente 8,4% da população mundial. A média de mortes diárias em maio somando todos os países da região é de 3.872, abaixo da média de 4.558 em abril. Um aumento do total de casos na região, entretanto, acende o alerta de uma possível piora na pandemia. O Brasil é o país com mais óbitos registrados pela Covid-19 na América Latina, com um saldo de 446.309 mortes (44,6% do total de óbitos na região), de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins. Depois do Brasil, vêm o México (221.256 mortes) e a Colômbia (83.719). Já no ranking mundial de óbitos confirmados, o Brasil se mantém na segunda posição, ficando somente atrás dos Estados Unidos, que soma 589.643 mortes.

Lira esvazia agenda econômica priorizada por Maia - Desde que assumiu o cargo, em fevereiro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem se esforçado para evidenciar a nova fase harmônica entre Legislativo e Executivo, o que, na prática, tem se traduzido em atos que esvaziam a agenda do antecessor, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). No campo do ministro Paulo Guedes (Economia), a decisão mais emblemática foi a de encerrar a comissão especial que discutia a PEC (proposta de emenda à Constituição) 45, de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), seu adversário na disputa pela Presidência da Câmara e apoiado por Maia. O colegiado foi instalado em julho de 2019 para discutir o mérito da PEC, que teve a admissibilidade aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dois meses antes.

Discurso segue no mesmo tom - O desgaste político provocado pela CPI da Covid-19 levanta dúvidas sobre a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro mudar o discurso negacionista. Sofrendo com fatos negativos quase diários, o presidente acabou se tornando, ao menos em parte, vítima do que diz, já que suas falas negacionistas em relação à pandemia do novo coronavírus também alimentam a oposição no colegiado. Para parlamentares e cientistas políticos, porém, o governo deverá assumir um discurso dúbio, em que integrantes do primeiro escalão modularão de acordo com a necessidade para preservar o chefe do Executivo que, por sua vez, seguirá na mesma toada para manter os eleitores mais radicais. Mesmo os parlamentares da base do governo admitem que não há possibilidade de Jair Bolsonaro mudar o tom. Líder do DEM no Senado e principal nome da tropa de choque do governo na CPI, o senador Marcos Rogério defende que o presidente não precisa mudar de tom, e entende que, apesar das falas de Bolsonaro, o governo faz o que é necessário para o combate à pandemia. “O que tenho visto é o governo do presidente Bolsonaro agindo no sentido de dotar o país de todas as condições para o enfrentamento. Reforçou o orçamento de estados e municípios, contratou vacinas dos principais laboratórios com imunizantes disponíveis, tem trabalhado no sentido de garantir suporte”, argumentou.

Bolsonaro tenta minar bases petistas - Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha tentando verificar quais as suas chances de concorrer, em 2022, com apoios de antigos adversários num possível segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro, o capitão visita os estados onde obteve os menores percentuais de votação, em 2018, inaugurando obras. O piso de Bolsonaro, em 2018, foi justamente o Piauí, onde apenas 23% dos eleitores votaram nele no mano a mano contra Fernando Haddad (PT). No Maranhão, onde cumpriu agenda na sexta-feira, o presidente fechou o segundo turno com 26,7% dos votos. Dos cinco estados que o presidente visitou neste mês de maio, ele obteve mais de 50% dos votos em apenas dois, Mato Grosso do Sul (65,2%) e Rondônia (72,2%). Em Alagoas, Bolsonaro ficou com 40% dos votos. Embora o presidente esteja cumprindo a sua obrigação de levar obras e serviços à população, há um ditado que todos os parlamentares sempre reafirmam, “em política, não há coincidência”. E, com pouco alarde, o presidente vai colocando a foto do governo em estados onde o PT obteve a preferência, ainda que Lula fosse o candidato.

‘Sincerão’, Aziz se equilibra no fogo cruzado da CPI da Covid - Ao fim das três primeiras semanas de depoimentos na CPI da Covid, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), está convicto de que o governo cometeu uma série de erros no combate à pandemia. Mesmo expondo impressões críticas, o parlamentar assumiu um tom paternal ao liderar os trabalhos no fogo cruzado entre governistas e opositores, garantindo, até aqui, que ambos os lados pressionassem e defendessem os convocados. O estilo do senador resultou em reconhecimentos até de aliados do Planalto, minoritários na CPI que mais despertou atenção nos tempos de predomínio do Twitter e do Facebook, com potencial explosivo contra o governo de Jair Bolsonaro. “Esta CPI é diferente das outras porque é a primeira que está na casa de todos os brasileiros. Temos uma responsabilidade com as mais de 446 mil famílias enlutadas”, diz o senador ao Estadão. “Quem quiser politizar, vai precisar responder aos brasileiros. Não vou permitir politização. Estamos fazendo uma investigação com o máximo de isenção”, ressaltou. “E que todos os brasileiros recebam as suas duas doses de vacina.” Aos 62 anos, engenheiro civil e paulista de Garça – mas com carreira política feita toda no Amazonas –, Aziz não dispensa, no dia a dia da CPI, algumas alfinetadas para pontuar sua insatisfação com as respostas escorregadias dos convocados, alguns deles ex-ministros interessados apenas em adular o presidente da República. Quando o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sentado ao seu lado, recusou-se a responder ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), se concordava com o ponto de vista de Bolsonaro sobre o uso da hidroxicloroquina contra a covid, Aziz saiu-se com esta: “Até minha filha de 12 anos falaria ‘sim’ ou ‘não’”. No mesmo depoimento, tomou a liberdade de aconselhar Queiroga ao estilo “sincerão”. “Aconselho V. Exa. a ser bastante objetivo para que não haja, mais tarde, problemas pessoais para V. Exa., porque, pelo andar da carruagem, se troca de ministro como quem troca de camiseta.” Na oitiva de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), ligado ao Planalto, disse que o depoente estava sendo humilhado e induzido. Aziz retrucou: “Humilhado é 425 mil mortes neste Brasil. Essas pessoas estão sendo humilhadas porque não tem vacina no País. Ele? Ele está muito bem protegido, todo mês tem o dinheirinho dele para comer”, disse.

O ‘bê-á-bá’ da política, cada vez mais cedo - O professor universitário Hilton Pereira da Silva, de Brasília, se sente orgulhoso e até um pouco aliviado ao olhar para a filha Maria Luiza, de 13 anos, e perceber nela um interesse por política que ele próprio não pôde desenvolver nessa idade. “Minha infância foi vivida na ditadura. A discussão sobre política era muito restrita até para os adultos.” Hilton desejou que a menina tivesse uma formação diferente nesse aspecto e, junto com a esposa, decidiu que nenhum assunto seria tabu na criação dela. O resultado veio naturalmente. Há dois anos, Malu avisou que queria ter uma conta no Instagram e que fosse algo construtivo. Com a supervisão dos pais, ela criou a página “Estude como uma menina”, na qual compartilha seus estudos e pensamentos sobre temas como igualdade de gênero. Recentemente, Malu passou a publicar trechos de conversas que teve com personalidades femininas, procuradas por e-mail ou pelo próprio Instagram. A empresária Luiza Trajano, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) e a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, estão entre as entrevistadas de Malu. “A política está em tudo que fazemos. Em casa, na escola, mas também na água que a gente toma e no nosso alimento. Gosto de debater de forma civilizada e ouvir opiniões divergentes”, diz a menina. Malu integra uma geração que dificilmente vai ouvir que “política não é coisa de criança”, como muitos mais velhos que ela escutaram de seus pais. Para além do incentivo em casa, ela e seus colegas estão expostos a um incontável número de tuítes, “textões”, contas no TikTok, no Facebook e outras redes falando de temas como ações de governo, projetos de lei e investigações constantemente. Se os estímulos vindos de todo lado não podem ser ignorados, a preocupação de pais, escolas e instituições é que eles sejam absorvidos de forma positiva.

PT tira o pé e risco de impeachment míngua - O Planalto e seus aliados no Congresso conseguiram encontrar alento na atual conjuntura política, tão desfavorável a Jair Bolsonaro: a pressão pelo impeachment perde força na medida inversa em que Lula sobe nas pesquisas. Trocando em miúdos, nos bastidores, é sabido que até o PT vai tirando o pé do acelerador na corrida para derrubar Bolsonaro conforme o ex-presidente petista se fortalece eleitoralmente. Isso não significa, porém, que, daqui até o fim do mandato, o governo federal terá o caminho facilitado pela oposição, pelo contrário. Como não interessa tanto trocar Bolsonaro pela incógnita Hamilton Mourão, as oposições, com auxílio da CPI da Covid, querem fazer o governo continuar sangrando. O Centrão já havia sentido o gosto de sangue na água quando Arthur Lira alertou sobre o risco do impeachment. Agora, nesse grupo, a tendência é arrancar o que puder do governo e ver como Bolsonaro chegará em 2022. Um analista experiente pontua: se Bolsonaro permanecer enfraquecido, poderá ser abandonado pelo Centrão em 2022, que já tem líderes em conversas com Lula e com outros pré-candidatos. Em linhas gerais, a sensação entre políticos e analistas é de que o governo Bolsonaro nunca esteve tão perto da deterioração.