MANCHETES DE DOMINGO 27-02-2022

O GLOBO – Civis comandam resistência em Kiev com fuzis e molotovs FOLHA DE S.PAULO – Forças russas atacam o centro de Kiev

MANCHETES DE DOMINGO 27-02-2022


Edição de Chico Bruno 

Manchetes de domingo 27-02-2022

O GLOBO – Civis comandam resistência em Kiev com fuzis e molotovs

O ESTADO DE S.PAULO – Conflito provoca maior êxodo interno na Europa em 20 anos

CORREIO BRAZILIENSE – O drama dos civis sob fogo cruzado

FOLHA DE S.PAULO – Forças russas atacam o centro de Kiev

Destaques de primeiras páginas, fatos e bastidores mais importantes do dia 

Resistência ucraniana - O Exército da Rússia expandiu sua ofensiva contra a Ucrânia ontem alegando que Kiev rejeitou negociações, em meio uma inesperada resistência na capital ucraniana e em outras grandes cidades do país, que causou baixas consideráveis aos russos. As forças de defesa da Ucrânia resistiram fortemente à invasão russa ontem, lutando para manter o controle da capital, Kiev e outras cidades. Seus esforços tiveram efeito. Houve intensos combates nas ruas e rajadas de tiros e explosões puderam ser ouvidas em Kiev. Informações da inteligência ocidental diziam que o avanço russo havia parado. Na tarde de ontem, a velocidade do avanço da Rússia na Ucrânia diminuiu, provavelmente em razão de dificuldades logísticas e “forte resistência ucraniana”, disse o Ministério da Defesa do Reino Unido em comunicado baseado em atualizações de inteligência.Em apenas três dias, mais de 150 mil pessoas já deixaram a Ucrânia rumo a países vizinhos, como a Romênia e a Polônia, na maior onda de re- fugiados internos na Europa desde o conflito de Kosovo, no fim dos anos 1990. A ONU estima que esse número pode chegar a 5 milhões de pessoas se a guerra se estender. O enviado especial a Kiev, Eduardo Gayer, acompanhou a viagem de 24 horas de trem entre a capital ucraniana e Varsóvia, na Polônia. Os passageiros eram na maioria mulheres e crianças que deixavam os homens para trás, impedidos de sair do país. Muitos seguiam viagem apenas com a roupa do corpo.

Rússia sofreu severas baixas durante invasão - Segundo relatório das forças armadas ucranianas, divulgado no sábado, 26, a Rússia tem sofrido severas baixas durante a invasão dos últimos dias. Os militares ucranianos afirmam que o inimigo já perdeu 3.500 soldados, 14 aviões, 8 helicópteros, 102 tanques, 536 veículos armados BBM, 15 metralhadoras pesadas e um míssil BUK em seu ataque ao País. Além disso, a Ucrânia afirma que vem barrando avanços russos em todas as frentes. Segundo as forças armadas ucranianas, a Rússia falhou em tentativas de usar tanques e outros veículos militares para romper as defesas de Kiev. As forças ucranianas também teriam impedido uma ofensiva russa na região de Kharkiv, onde a luta continua. Na cidade de Okhtyrka, a defesa estaria resistindo em uma guerra urbana. As informações ainda indicam que os sistemas de defesa aérea teriam repelido com sucesso ataques de jatos russos, enquanto a força aérea ucraniana teria causado sérios danos a soldados e equipamentos militares do inimigo em Kiev, Chernigov e na região de Kherson. Em um comunicado à imprensa no sábado, 26, o Ministério da Defesa russo não reportou perdas do seu lado durante a invasão, listando apenas baixas em equipamentos militares ucranianos. Além disso, na sexta, o porta-voz do Ministério russo da Defesa, Major General Igor Konashenkov, afirmou não terem havido quaisquer casualidades do seu lado. Um comunicado do Ministério da Defesa Britânico, por sua vez, considera que "as casualidades russas são provavelmente mais pesadas e maiores do que o previsto ou admitido pelo Kremlin”.

Rússia excluída da rede Swift - As potências ocidentais vão banir um seleto grupo de bancos russos da rede Swift, uma importante artéria do sistema financeiro internacional. Desde quinta-feira, os Estados Unidos defendiam a medida, mas a Alemanha, forte dependente da importação de gás da Rússia, resistia. Na noite de ontem, o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, anunciou a anuência do país, que se juntou a EUA, Canadá, França, Itália, Grã-Bretanha e Comissão Europeia (CE). Da Bélgica, a presidente da CE, Ursula von der Leyen, disse que “o mundo está mais determinado do que nunca a isolar a Rússia economicamente”. Segundo ela, as sanções, planejadas em Bruxelas, são necessárias porque o exército russo está “cometendo atos bárbaros” e, em consequência, os aliados ocidentais vão “impor o preço mais alto possível por essas agressões, e isolar ainda mais o país do sistema financeiro e econômico internacional”.

YouTube bloqueia monetização - O YouTube decidiu bloquear a possibilidade de alguns canais russos, como o da RT, monetizarem seu conteúdo devido “às circunstâncias excepcionais” na Ucrânia, que vem sendo atacada por Moscou desde a última quinta-feira. A plataforma informou que também limitou o acesso ao RT (antes chamado Russia Today) e a outros canais russos em território ucraniano. A receita com o YouTube é obtida por meio da ativação de anúncios nos vídeos. 

Sinais trocados da diplomacia brasileira - Depois de voltar atrás e anunciar nas redes sociais o resgate dos cerca de 500 brasileiros que vivem na Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou, ontem, que a posição da diplomacia brasileira em relação à guerra no Leste Europeu “sempre foi clara”. No entanto, o chefe do Executivo vem, desde o início do mandato, dando sinais trocados nessa área, que podem custar caro ao país, de acordo com especialistas. “A posição do Brasil em defesa da soberania, da auto-determinação e da integridade territorial dos Estados sempre foi clara e está sendo comunicada através dos canais adequados para isso, como o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), e por meio de pronunciamentos oficiais”, escreveu Bolsonaro. Em outra postagem, disse que o governo retirou cerca de 50 brasileiros da Ucrânia para países vizinhos e que deixou de prontidão aviões da FAB para o resgate. Na sexta-feira, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador do Brasil Ronaldo Costa Filho foi mais duro do que Bolsonaro costuma ser em relação à invasão da Ucrânia. Ao lado de outros 10 países, condenou a Rússia e afirmou que o Brasil está “profundamente preocupado” com o descumprimento dos russos da Carta da ONU. Contudo, no mesmo dia, o Brasil não assinou uma carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) criticando a operação militar russa rumo a Kiev, de acordo com informações do jornal O Globo, assim como Argentina, Bolívia, Nicarágua e Cuba. O governo brasileiro também não apoiou comunicado semelhante do Mercosul. Procurado, o Itamaraty não comentou o assunto até o fechamento desta edição.

Invasão da Ucrânia racha grupos bolsonaristas - Enquanto a comunidade internacional repudia a invasão da Ucrânia por tropas russas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) hesita e seu governo não apresenta resposta uniforme. Para David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita, um dos fatores que explicam essa atitude é o racha dentro da base ideológica bolsonarista. De acordo com ele, há, de um lado, grupos inspirados em organizações que surgiram na Ucrânia quase dez anos atrás num contexto de reação anti-Rússia. Ele cita como exemplo a ativista radical Sara Winter, que comandou ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal). De outro lado, Steve Bannon, estrategista da campanha eleitoral de Donald Trump em 2016 e próximo dos Bolsonaro, defende o presidente russo Vladimir Putin como um dos principais líderes de um movimento contra as instituições modernas. Diante desse impasse, diz Magalhães, Bolsonaro não se mexe. "Ele sempre teve o cuidado de manter incandescente sua base ideológica. Para isso, não é bom que a militância esteja fracionada. Uma posição de certa neutralidade mantém essa unidade ideológica, não cria fricção." Além desse, pesam outros fatores, como o fato de Bolsonaro ter acabado de voltar de viagem à Rússia e os interesses do setor agroexportador. A esquerda brasileira, por outros motivos, também não se mostra uniforme na crise europeia, diz Magalhães. "Tem uma esquerda que entende que, independentemente da natureza do regime, qualquer tipo de resistência ao imperialismo e aos EUA é válida."

Ofensiva de Putin desafia o Brasil e as democracias - O ataque devastador da Rússia à Ucrânia estabeleceu um muro entre as nações que prezam a democracia e aquelas que impõem o autoritarismo como prática política. Assim como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, as democracias ocidentais estão sob a ofensiva de um regime autoritário, que pretende levar às últimas consequências sua demonstração de poderio militar e de força política. Ao lançar o exército russo sobre Kiev, Vladimir Putin mostra à Uniao Europeia, à ONU e aos Estados Unidos que não pretende dar ouvidos a apelos democráticos, como a soberania dos países e a valorização do diálogo diplomático. Internamente, Putin segue o roteiro das ditaduras: reprime à mão de ferro protestos contra a operação militar na Ucrânia, além de controlar as informações publicadas na imprensa russa. O ato de guerra de Putin desafia os regimes democráticos a reagirem com firmeza — e não apenas com palavras — em nome da autodeterminação dos povos. Nesse sentido, o Brasil atuou de maneira lamentável ao longo da semana. Diferentemente da maior parte das nações, o governo demorou a condenar de forma inequívoca o ataque russo. Mais do que uma desarticulação na política externa, essa postura tíbia se deve ao apreço do presidente Jair Bolsonaro por líderes autocratas, a exemplo de Putin, Vicktor Orbán e Donald Trump.

Telegram bloqueia contas de bolsonarista - O Telegram bloqueou neste sábado (26) três canais ligados ao influenciador bolsonarista Allan dos Santos. A ação é decorrente de uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Após ignorar decisões do próprio Moraes e tentativas de contatos de autoridades que atuam no combate à desinformação, essa foi a primeira ordem judicial brasileira cumprida pelo aplicativo. Allan é investigado em inquérito de relatoria do ministro sob a suspeita de fazer parte de milícia digital que atua no ataque a instituições, como o Supremo. Nesta sexta-feira (25), o Painel antecipou que Moraes ameaçava bloquear o Telegram pelo prazo inicial de 48 horas, além de aplicar multa diária de R$ 100 mil, caso não suspendesse os perfis ligados a Allan. Neste sábado, em providência que não é comum, o gabinete do ministro divulgou nota à imprensa para comunicar o cumprimento do que ele determinou. Em um canal do serviço de mensagens não alcançado pela decisão do magistrado e que conta com quase 15 mil pessoas inscritas, Allan disse que não foi "derrubado" pelo aplicativo. "Não é o meu canal que foi derrubado. É o Brasil que está no mesmo patamar da China, da Coreia do Norte, de Cuba etc", disse, em publicação postada por volta das 17h30. "Vocês que estão no Brasil é que não podem acessar. As pessoas que estão aqui nos Estados Unidos podem acessar normalmente. Porque, aqui, eles estão em país livre", afirmou.

Ciro aposta em retração de Bolsonaro - Com uma mistura de intuição própria, tendências do eleitorado e otimismo sobre alianças, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) traçou uma estratégia alongada para sua candidatura à Presidência com a qual acredita conseguir ir ao segundo turno, a despeito do que mostram as atuais pesquisas. Os cálculos se baseiam na expectativa de derretimento do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e na redução da vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir da desconstrução do ex-presidente na campanha eleitoral —para a qual o pedetista, outrora aliado, quer contribuir fortemente. Em sua quarta campanha ao Planalto, Ciro divide a terceira colocação nas pesquisas com o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), em patamar próximo dos 8%, insuficiente para incomodar os dois favoritos. O ex-ministro ataca ambos, em manobra que até aqui soou pouco efetiva para atrair antipetistas e antibolsonaristas. Ele argumenta que a vontade de mudança será o "estado de espírito" dos brasileiros em outubro. Ciro reiterou nos últimos dias seu entendimento de que a eleição terá caráter plebiscitário, colocando sob escrutínio a continuidade ou interrupção da era Bolsonaro, mas com a grande diferença de que os ventos que normalmente sopram a favor de um mandatário no poder estão virados. A análise leva em conta os altos índices de rejeição e de desaprovação do presidente.

Valdemar repete estratégia para engordar o PL - O presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, repete 20 anos depois a estratégia de se aliar a um candidato a presidente da República para engordar a bancada federal do partido. "Já tenho indicações de que, semanas após a posse de Lula, será um pulo para vários deputados federais entrarem no PL", disse ele em 2002, ao se coligar com o PT. Na época, seu partido ofereceu o então senador José Alencar (MG) para a vaga de vice ao petista, um movimento que provocou diversas reações, mas acabou sendo fundamental para suavizar a imagem de Lula junto ao mercado financeiro e facilitar sua vitória eleitoral. Agora, após filiar Jair Bolsonaro na sigla, o dirigente estima aumentar a bancada de 43 deputados para mais de 60 já na janela de transferência partidária, em março. Na eleição de outubro, o objetivo é ainda maior, chegar a quase 70 parlamentares.

Leite usou R$ 1,2 milhão de recursos públicos do partido em prévia - O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assim como seus adversários na prévia tucana de novembro do ano passado, gastou R$ 1,2 milhão de recursos da legenda na campanha interna. O valor vem do fundo partidário, ou seja, é dinheiro público. Derrotado pelo governador de São Paulo, João Doria, ele agora ameaça migrar para o PSD para disputar a Presidência da República. A situação provoca críticas do tesoureiro tucano, César Gontijo. "Só garantimos os recursos porque os candidatos se comprometeram a ficar no partido se perdessem, caso contrário não teríamos feito. Se ele [Leite] sair depois de usar dinheiro público vai ser uma insensatez", diz. 

Candidatos ignoram proibição e escancaram campanha política - De outdoors nas cidades a eventos festivos nos grotões, a campanha política antecipada tem driblado o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pré-candidatos e partidos – tanto aliados do governo como da oposição – fazem corpo a corpo e usam as redes sociais em pedidos dissimulados de votos, a seis meses do início oficial da propaganda política, que, por lei, só começa em 16 de agosto. Em 2018, o TSE considerou que publicidade antecipada não está configurada apenas no “vote em”, mas também em expressões que permitam concluir a defesa pública da vitória do candidato. Com isso, a legislação e a jurisprudência proíbem pedidos explícitos e implícitos de voto neste período. Especialistas ouvidos pela reportagem associam o aumento de santinhos impressos e virtuais à reforma eleitoral de 2015. Ela reduziu de 90 para 45 dias o prazo de campanha, mas institucionalizou a figura do período da “pré-campanha”, com penas brandas, geralmente multas, para a maioria das infrações. Isso permitiu “dribles” na Justiça Eleitoral. No TSE, há pelo menos sete representações por campanha antecipada contra o presidente Jair Bolsonaro – que deve concorrer à reeleição –, em 2021 e 2022. No dia 15, o ministro Raul Araújo negou liminar para aplicar multa a Bolsonaro e a associações agropecuaristas por outdoors que promoviam o presidente e traziam mensagens como “#em2022vote22”. A hashtag faz referência ao número do PL, partido do presidente. Araújo entendeu que não havia comprovação da autoria das placas nem provas de que Bolsonaro tinha conhecimento prévio delas. Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou.  

Arquivos e contas online de quem já morreu viram caso de Justiça - João Victor Neves, de 20 anos, morreu em um acidente enquanto pedalava em Santos, em abril de 2021. Só depois o irmão dele, Lucas Neves, de 31 anos, se deu conta de que já não tinha mais a maioria das fotos com o parente. Isso porque os arquivos armazenados no celular de Lucas haviam sido perdidos. Fora aquilo, restava pouco: umas dez fotos e a conversa na caixa de mensagem do Instagram. A família entrou na Justiça para pedir acesso aos arquivos do iPhone de João Victor. “Hoje me dói muito ver que não tem muita conversa salva entre nós dois. São pequenas coisas que doem e que a gente vê que não dava muita importância”, diz Lucas. Em janeiro deste ano, a Justiça determinou o acesso ao material. Decisões sobre a chamada herança digital são raras no Brasil, que ainda não tem lei específica sobre acesso a arquivos e contas online de alguém que morreu. “É um caso pioneiro (o de Neves). Até porque encontramos casos que buscavam acesso a perfis em redes sociais, e o nosso busca os arquivos de um celular”, diz Marcelo Cruz, um dos advogados responsáveis pela ação. O problema, porém, ainda não foi resolvido. O pedido inicial foi de acesso ao celular, mas a Apple afirmou, segundo consta nos autos do processo, não ter informações sobre as senhas de desbloqueio de tela e disse que só seria possível conceder dados salvos na nuvem, nos servidores da empresa. Mas o e-mail que Lucas imaginava ser o particular de João era uma conta secundária.

PCC e PMs da Rota faziam segurança da máfia da Saúde - A máfia das Organizações Sociais de Saúde se associou a integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) para transportar dinheiro desviado de hospitais e unidades de saúde. Os policiais cuidavam da segurança do transporte do dinheiro para impedir que a organização criminosa fosse roubada na Grande São Paulo enquanto integrantes da facção faziam o mesmo trabalho no interior paulista. Interceptações telefônicas feitas pela Operação Raio X mostram que um grupo de PMs do batalhão trabalhava para Moizes Constantino Ferreira Neto. Administrador do hospital Antonio Giglio, em Osasco, na Grande São Paulo, Ferreira Neto foi recrutado para o grupo pelo médico Cleudson Garcia Montali, condenado a 200 anos de prisão como líder da organização criminosa que atuava em quatro Estados, desviando cerca de R$ 500 milhões. A segurança de Ferreira Neto estava a cargo do sargento Marcelo dos Santos Ferreira e de outros três policiais da Rota. Em novembro de 2019, o policial fez, a pedido do chefe, um depósito de R$ 327 mil na conta de um outro investigado no caso – o dinheiro era uma das parcelas do pagamento de uma fazenda. Outro PM – Diogo Barbosa Medeiros – foi flagrado nos áudios transportando dinheiro para a organização e planejando uma vingança contra criminosos que roubaram o carro de um filho de Ferreira Neto. A atuação de policiais e de criminosos era abertamente comentada pelos integrantes da organização. 

PGR não vê indício de crime de Bolsonaro no caso Iphan - O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, defendeu perante o Supremo Tribunal Federal a extinção de pedido para que o presidente Jair Bolsonaro seja investigado por advocacia administrativa em razão de suposta interferência no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo Medeiros, os fatos narrados na queixa-crime não ensejam abertura de inquérito por “falta de provas convincentes da materialidade” do crime. A ação contra Bolsonaro ocorreu após ele dizer que “ripou todo mundo do Iphan” após o empresário Luciano Hang ter uma obra paralisada. Medeiros alegou que não houve advocacia administrativa. “Não houve acompanhamento de processo ou formulação de pedido a funcionário competente em beneficio da empresa de Luciano Hang, inexistindo qualquer prova nesse sentido”, escreveu. 

Divisão do bolo - Com permissão para abertura de até 6 mil bingos e cassinos e mais de 300 autorizações para operação do jogo do bicho, o projeto de legalização dos jogos, aprovado pela Câmara, criou uma expectativa de arrecadação que agora é alvo de interesse de governos estaduais e de prefeituras. Esse deve ser um dos principais pontos de debate no Senado, a próxima etapa na tramitação da proposta. A projeção de parlamentares e especialistas é de que a exploração de bingos, cassinos e pontos do jogo do bicho pode representar R$ 4,5 bilhões por ano em tributos para o governo federal, que, de acordo com o texto, encaminhará um terço deste valor para estados e municípios. A possibilidade de que a nova legislação, além de regularizar atividades já existentes, amplie a oferta física e virtual de jogos no país, tem levado agentes públicos a se preparar para pleitear uma fatia maior na distribuição desses recursos. O projeto cria um tributo único, a Cide-Jogos, com alíquota de até 17% sobre a receita bruta de jogos, e não prevê a incidências de outros impostos, como o ISS. Secretários municipais de Fazenda argumentam que a atividade não pode ser isenta do imposto, recolhido por prefeituras sobre prestação de serviços. O relator do projeto, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), afirma que dialogou com representantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e com o Comitê Nacional dos Secretários Estaduais de Fazenda(Comsefaz). O GLOBO procurou governadores dos nove estados mais populosos, que concentrarão o maior número de licenças para jogos, e apenas o do Rio se pronunciou. O governador Cláudio Castro (PL) afirmou, por meio de nota, que a projeção econômica da legalização dos jogos é positiva, e que a medida deve fomentar o turismo, gerar emprego e renda, e impulsionar o desenvolvimento regional. “A combinação geraria ganhos inegáveis, possibilitando ao estado se consolidar ainda mais como destino turístico para as Américas e o mundo”, disse ele, no texto. O faturamento total estimado pelo relator do projeto para bingos, cassinos e jogo do bicho é de R$ 40 bilhões. As loterias da Caixa, citadas como parâmetro para as estimativas, tiveram R$ 18,4 bilhões em apostas em 2021, dos quais 30% foram pagos em prêmios. Do montante recolhido pela Cide-Jogos, após serem descontados prêmios pagos pelos operadores, restaria R$ 1,4 bilhão a ser dividido entre o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Os valores restantes serão destinados a fundos nacionais de cultura, saúde e segurança pública, e também para a Embratur. 

A escalada do ódio - Quando figuras como Bruno Aiub, o Monark, defendem aberta e publicamente o nazismo — no caso específico do YouTuber, a criação de um partido nazista no Brasil —, elas falam para um público que vem se expandindo de forma expressiva nos últimos anos. Dados da ONG Anti-Defamation League (ADL) mostram que hoje o Brasil é o país no mundo onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, concentrados, de acordo com monitoramento do Observatório da Extrema Direita (formado por acadêmicos de mais de dez universidades brasileiras e de outros países) e de pesquisa da professora Adriana Dias, da Universidade de Campinas (Unicamp), nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os últimos dados em mãos dos pesquisadores consultados, passados com exclusividade para O GLOBO, confirmam que São Paulo é o estado com maior presença de grupos, chegando a um total de 137, dos quais 51 estão na capital. Também foram encontradas células de extrema direita em Piracicaba, Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos. Em todo o país, já são mais de 530 células extremistas que, em relatório feito nos primeiros meses deste ano, Adriana dividiu em categorias, de acordo com suas ideologias, como Hitlerista/Nazista, Negação do Holocausto, Ultranacionalista Branco, Radical Catolicismo, Fascismo, Supremacista, Criatividade Brasil, Masculinismo Supremacia Misógina e Neo-Paganismo racista. Em 2019, a especialista detectou 334 células. No Rio de Janeiro, foram encontrados 36 grupos, 15 deles na capital. Entre os bairros cariocas com maior presença de células de extrema-direita estão Méier, Tijuca e Copacabana. Em Niterói, os pesquisadores identificaram outras duas agrupações. Uma delas se apresenta como Cali, e foi responsável pelo ataque à produtora do grupo de humor Porta dos Fundos, em 2019. — Desde 2018, o Brasil se transformou no país com maior crescimento de grupos de extrema direita. Este fenômeno tem a ver com a eleição de Jair Bolsonaro que, num nível subterrâneo, está vinculado a estas ideologias. Hoje, estima-se que 15% dos brasileiros são de extrema direita — afirma Michel Gherman, membro do Observatório da Extrema Direita, professor de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Instituto Brasil-Israel.

Flávio Bolsonaro atua como líder informal no Senado - O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem atuado informalmente como uma espécie de líder do governo no Senado, posto que está vago há pouco mais de dois meses, desde a saída de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Nos corredores do Congresso, ele é tratado como um representante direto de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro. A percepção de que Flávio é um atalho para o gabinete presidencial é tamanha que alguns colegas se queixam de que ele deveria tomar ainda mais a frente das negociações que dizem respeito ao governo. A pressão aumentou desde que Bezerra Coelho saiu de cena, justamente após perder um embate com o primogênito de Bolsonaro. A trincheira que separou o então líder oficial, Bezerra, do informal, Flávio, se deu em torno da disputa por uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU), cuja indicação cabia ao Senado. Bezerra era candidato ao posto. O filho do presidente, contudo, deixou claro que o favorito do governo era Antonio Anastasia (PSD-MG), que venceu a batalha. Magoado, o então líder entregou o cargo. Um senador que acompanhou o embate de perto diz que é nessas horas que os parlamentares veem quem realmente fala pelo governo na Casa. Flávio quase sempre mantém as articulações políticas restritas aos bastidores. Pesa a seu favor a boa relação que nutre com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Uma das vezes em que Flávio atuou explicitamente pela aprovação de uma matéria foi justamente para apoiar um projeto de Pacheco que facilitava a aquisição de vacinas contra a Covid-19, em fevereiro do ano passado. À época, o governo era criticado pela demora em viabilizar a compra de imunizantes.

Venda do ‘kit covid’ cai até 61% - O discurso bolsonarista a favor do uso do ineficaz “kit covid” perdeu respaldo entre a população, mesmo com o recente aumento do número de casos da doença, com a variante Ômicron. Dados mostram que de novembro de 2021 até o fim de janeiro, vendas de ivermectina caíram 61% em comparação ao mesmo período em 2020/2021. O medicamento chegou a ter alta de 921% em relação ao pré-pandemia. A busca por hidroxicloroquina também caiu significativamente: 42%. O levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e da consultoria IQVIA para a Coluna representam derrota para o bolsonarismo, que ao longo da pandemia insistiu na tese do tratamento da covid-19 com essas drogas. A principal hipótese para explicar a baixa nas vendas desses medicamentos é que a população preferiu a vacina, sobretudo diante da queda no número de mortes e casos graves da doença. “A ciência está vencendo a desinformação. Contam muito os resultados pós-vacinação, como a queda nas taxas de mortalidade, e as sucessivas manifestações das sociedades científicas a favor da medicina baseada em evidências”, avaliou o farmacêutico Wellington Barros, do CFF. Estados em que Jair Bolsonaro saiu vitorioso no 2.º turno de 2018 estão entre os que registraram maior queda na venda de hidroxicloroquina em farmácias. Amazonas puxa a lista (-72%). Mato Grosso do Sul (-65%), Paraná (-64%) e Santa Catarina (-61%) aparecem na sequência. São Paulo registrou baixa de 45%. Apesar da queda nos últimos meses, o patamar de venda de medicamentos do kid covid ainda preocupa. “Embora a tendência seja de declínio, é um índice muito alto ainda”, disse Walter da Silva Jorge João, presidente do CFF.