João Goulart Filho relembra amizade do pai com Rubens Paiva e diz que país precisa aprender o que foi a ditadura
admin
Mar 30, 2025 11:10
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João Goulart Filho relembra amizade do pai com Rubens Paiva e diz que país precisa aprender o que foi a ditadura
Ex-deputado defende investigação sobre as mortes de Jango, Juscelino e Carlos Lacerda
O ex-deputado João Goulart Filho, filho do presidente deposto pelo Golpe Militar de 1964, João Goulart, relembrou a relação do pai com o também deputado federal Rubens Paiva, preso e morto pela ditadura militar. Em entrevista ao programa Bem Viver, no quadro Conversa Bem Viver, Goulart Filho destacou a amizade e a militância política dos dois parlamentares.
Ele recorda que seu pai e Rubens Paiva eram filiados ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e mantinham um forte laço de companheirismo dentro e fora do parlamento. Segundo ele, ambos se mantiveram fiéis às suas convicções políticas, especialmente ao enfrentar adversários em comum.
Antes do golpe de 1964, o governo de João Goulart incentivou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o financiamento estrangeiro de candidaturas oposicionistas.
“Foram eleitos 174 com dinheiro estrangeiro, com dinheiro vindo diretamente do Departamento de Estado para financiar parlamentares que estivessem contra o governo João Goulart, para que as reformas de base não fossem implantadas. E isso vazou, em certo momento vazou. E o meu pai, o presidente Jango, pediu à bancada do PTB que instalasse a CPI do Ibade. E essa CPI foi relatada, ele pediu que o Rubens Paiva relatasse essa CPI para se investigar aqueles deputados e senadores que foram eleitos com dinheiro de multinacionais e dinheiro de um caixa dois do Departamento de Estado americano.”
Para Goulart Filho, o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que retrata a jornada de Eunice Paiva em busca da verdade sobre o marido, cumpre um papel essencial ao manter viva a memória da ditadura e destacar a necessidade de justiça para as vítimas do regime.
“A importância desse filme é exatamente trazer de novo a história e memória da tragédia que foi o golpe de Estado, da tragédia que são os golpes em geral, a tragédia que nós não podemos repetir”, afirmou.
Ele alertou ainda para a persistência da ameaça golpista no Brasil e criticou a falta de conhecimento histórico entre os mais jovens.
“O filme mostra que o país precisa ainda recordar. Não só recordar, mas aprender o que foi a ditadura. Nós vivemos aí tempos do bolsonarismo, com, inclusive, pessoas jovens, pessoas que não conhecem essa trajetória das baionetas exigindo a volta do militarismo. Eu acho que a maior importância desse filme hoje é essa memória, essa memória que tem que estar presente para que o povo brasileiro conheça a tragédia que foi em 64.”
Em 2025, a Operação Condor completa 50 anos. Essa rede de cooperação entre as ditaduras da América do Sul teve o objetivo de reprimir organizações de esquerda, resultando em perseguições, sequestros e assassinatos de opositores. Goulart Filho acredita que a morte de seu pai tem relação com a operação e defende que o Estado brasileiro investigue o caso.
“A Operação Condor, na real, não é uma operação em si. É uma cooperativa do terror, que une vários serviços secretos de todos os países, que começa com troca de informações, depois passa para troca de prisioneiros e depois passa a liquidar os inimigos.”
Ele defendeu a reabertura das investigações sobre a morte de lideranças políticas, incluindo seu pai, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, que formaram a Frente Ampla no exílio.
“Já que houve essa intenção de reabrir o caso do Juscelino, eu acho que o Brasil deveria voltar a investigar todos esses casos. Principalmente esses três personagens que fundaram, fizeram a primeira frente ampla no exílio, que eram o Juscelino, o Jango e o Lacerda”, relembra, destacando que Lacerda, apesar dos discursos inflamados como líder de direita na UDN, foi cassado pela ditadura.
Por fim, Goulart Filho criticou o discurso que tenta apagar os crimes da ditadura.
“Nós não podemos fazer como o ano passado, nos 60 anos do golpe, e dizer não vamos remoer o passado. É outra necessidade e outra grande questão que esse filme, Ainda estou aqui, nos trouxe: que se investigue de uma vez por todas na história nacional o que aconteceu com esses dois ex-presidentes e com esse ex-governador.”
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Edição: Nicolau Soares
