'Em 64 não precisou ninguém assinar nada', disse Cid ao defender tomada de poder à força

'Em 64 não precisou ninguém assinar nada', disse Cid ao defender tomada de poder à força

MINUTA DO GOLPE

'Em 64 não precisou ninguém assinar nada', disse Cid ao defender tomada de poder à força

Declaração revelada pela PF expõe caráter golpista de tenente-coronel que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na Presidência da República

Por Hédio Ferreira Júnior

 

 

O tenente-coronel Mauro Cid disse que Jair Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas foram "covardes" ao não colocarem em prática plano de golpe e tomada de poder O tenente-coronel Mauro Cid disse que Jair Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas foram "covardes" ao não colocarem em prática plano de golpe e tomada de poderFoto: Lula Marques/Agência Brasil

 

BRASÍLIA - O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), defendeu em 4 de janeiro de 2023 que as Forças Armadas tomassem o poder do país à força, como fizeram os militares em 31 de março de 1964, ao depor João Goulart da Presidência da República.

A declaração de Cid foi revelada pela Polícia Federal no inquérito de 884 páginas enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta terça-feira (26). O sigilo do documento foi aberto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte.

De acordo com o relatório, que pede o indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas, Mauro Cid e o tenente-coronel Sérgio Cavaliere trocaram mensagens sobre o recuo na aplicação do plano golpista no Brasil. A desistência foi tratada por eles como covardia.

"64 estavam na mesma embromação"

“Fomos covardes, na minha opinião”, disse Cavaliere, ao que Cid responde: “Fomos todos. Do PR [presidente da República] e os Cmt F [Comandantes das Forças].” Mauro Cid então continua: “64 não precisou de ninguém assinar nada”. E Cavaliere respondeu, em cinco mensagens de texto subsequentes: “64 estavam na mesma embromação. Até que 1, apenas 1, surtou e votou (sic) a tropa na estrada. Daí o efeito cascata. O primeiro que colocar os cães na rua leva o resto. A revolta está imensa”.

Cavaliere mandou a Cid prints de uma outra conversa com um pessoa de codinome “Riva”. Nela, esse interlocutor fala do abandono do plano e admite que Bolsonaro tinha plena consciência da ação golpista, tendo, inclusive, assinado a chamada "minuta do golpe".

“Rasgaram o documento assinado pelo 01 [presidente da República]”, ratificando que o então presidente tinha articulado a elaboração do decreto para tomada de poder. 

Mensagens dão a entender o que viria a acontecer em 8 de janeiro

A conversa ocorreu quatro dias antes das invasões e depredações das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro daquele ano. Cavaliere perguntou a Mauro Cid se “Ainda tem algo para acontecer?”, referindo-se, possivelmente, a uma ruptura institucional. Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas.

Diante do conteúdo das mensagens apagadas, o militar indaga ao colega: “Coisa boa ou coisa horrível?” e em seguida diz: “Bom”. O ex-ajudante de ordens então responde: “Depende para quem. Para o Brasil é boa”.