Democratas pressionam Biden pela quebra de sigilo dos documentos sobre ditadura brasileira
Democratas pressionam Biden pela quebra de sigilo dos documentos sobre ditadura brasileira
Por ‘compromisso com valores democráticos e direitos humanos’, 16 parlamentares escreveram ao presidente pedindo acesso a arquivos
Uma carta assinada por 16 deputados norte-americanos foi enviada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quinta-feira (04/04), pedindo a retirada de sigilo de 13 documentos do governo dos EUA sobre a ditadura militar brasileira.
A correspondência pede, também, ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a abertura de arquivos de 30 de março, véspera do golpe militar contra o então presidente João Goulart, a 9 de abril de 1964.
“A desclassificação de documentos relacionados ao período da ditadura brasileira não só enriquecerá o conhecimento histórico, mas também fortalecerá o compromisso dos EUA com os valores democráticos e os direitos humanos”, diz a carta.
A iniciativa é liderada pelas deputadas do Partido Democrata Nydia Velazquez e Susan Wild. “Estados liderando um apelo ao presidente Biden para desclassificar documentos sobre a ditadura brasileira, que foi marcada por um abuso sistêmico dos direitos humanos”, escreveu Velazquez sobre o pedido, nas redes sociais.
https://twitter.com/NydiaVelazquez/status/1775935561473147192
Os parlamentares norte-americanos signatários, todos democratas, reforçam seu pedido no marco dos 60 anos do golpe no Brasil e a comemoração de 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países, no próximo mês de maio.
Outro argumento utilizado é o fato de que no aniversário de 50 anos do golpe de Pinochet, no Chile, os EUA retiraram os sigilos de documentos referentes à ditadura naquele país.
Entre os assinantes está Alexandria Ocasio-Cortez, deputada mais jovem da história dos EUA, latina e socialista e Rashida Tlaib, única representante palestino-americana no Parlamento.
Os demais deputados são: Jim McGovern, Jamaal Bowman, Cori Bush, Greg Casar, Joaquin Castro, Chuy García, Raúl Grijalva, Hank Johnson, Barbara Lee, Janice Schakowsky, Juan Vargas e Jamie Raskin.
Essa não é a primeira iniciativa para que os documentos sob tutela do governo norte-americano tenham o sigilo quebrado. Em julho de 2023, um grupo de organizações de direitos humanos escreveu uma solicitação semelhante a Biden, mas não conquistou seu objetivo.
Já em junho de 2014, Biden, então vice-presidente na gestão Barack Obama, entregou ao governo brasileiro 43 documentos produzidos por autoridades norte-americanas entre os anos de 1967 e 1977. Os relatórios detalham informações sobre censura, tortura e assassinatos cometidos pelo regime militar no Brasil.
Envolvimento norte-americano na ditadura militar
A comprovação do envolvimento dos Estados Unidos no golpe militar brasileiro é conhecida desde 1974, quando os primeiros documentos secretos foram tornados públicos.
De acordo com a pesquisadora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Mariana Joffily, “houve contribuição efetiva dos Estados Unidos na conspiração para derrubar o governo”.
“Os EUA ajudaram a orquestrar toda uma operação não declarada de desestabilização do governo João Goulart, sob a forma de financiamento da oposição nas eleições de 1962, no suporte a governadores críticos ao governo e fomentando a propaganda política oposicionista”, explica em entrevista à Agência Brasil, também informando sobre os programas de treinamento de forças policiais e militares brasileiras por oficiais norte-americanos.
Além de estimular manifestações contrárias a Jango, havia um plano pronto para ser executado, caso os militares brasileiros não conseguissem derrubar o presidente. Chamado de operação Brother Sam, o plano previa o uso de apoio militar norte-americano aos golpistas para garantir que um novo regime fosse implantado.
(*) Com Agência Brasil