China muda regra de quase 30 anos e libera montadoras estrangeiras no país com projeção de fabricar 30 milhões de veículos para 2025

Gigantes globais fabricantes de veículos Volkswagen, General Motors, Toyota, Mercedes-Benz e a BMW miram mercado automotivo chinês e podem abandonar o Brasil

China  muda regra de quase 30 anos e libera montadoras estrangeiras no país com projeção de fabricar 30 milhões de veículos para 2025

China, que terá o maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo em 2030, muda regra de quase 30 anos e libera montadoras estrangeiras no país com projeção de fabricar 30 milhões de veículos para 2025; decisão afetará toda a indústria mundial automotiva

Flavia Marinho

por-–

 

Economia, Negócios e Política

eike - china - chineses - inflação - produção - volkswagen - Honda - Toyota - Beijing,china, china President Xi jinping talking about trade deal between China and USA

Encerra período de mais de duas décadas de estrangulamento na China. Governo chinês libera gigantes europeias, japonesas e americanas para participação comercial no maior mercado do mundo!

A combalida indústria automotiva brasileira, afetada pela crise mundial de falta de chips e da pandemia do coronavírus, sofrerá duríssimos reflexos da abertura do setor na China. O governo chinês deu fim a restrições de montadoras estrangeiras nos seus próprios negócios, no país. A notícia foi confirmada pelo Ministério do Comércio e pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) da China, no último dia 28, e passou a valer a partir de 1º de janeiro de 2022. 

Leia também

Medida encerra um período de quase 30 anos de estrangulamento na China. Agora, as gigantes fabricantes de veículos europeias, japonesas e americanas terão maior participação no maior mercado do mundo, o chinês! 

China mantinha uma legislação conhecida como “regra 50:50”

Há 27 anos, a China mantinha uma legislação conhecida como “regra 50:50”, a norma doméstica previa, desde 1994, que as montadoras estrangeiras que se instalavam no país só podiam fazê-lo através de parceiros locais, jamais detendo mais de 50% do controle acionário da operação. São as chamadas joint ventures.

PUBLICIDADE

“Com o fim desta barreira, as multinacionais ganharão independência, ao passo que as empresas chinesas perderão o fluxo de caixa que advinha dessas joint ventures, gradativamente”, prevê o analista da Automotive Foresight.

Na época, a “regra 50:50” visava proteger a indústria automotiva chinesa, possibilitando que ela tivesse acesso à tecnologia de ponta, pelas mãos das multinacionais estrangeiras, permitindo que o setor se consolidasse nacionalmente, antes de dar acesso irrestrito ao seu mercado para as gigantes globais.

Com a “regra 50:50”, as multinacionais fabricantes de veículos que se instalaram na China foram, nos últimos anos, enxugando suas áreas industriais. A Hyundai, por exemplo, fechou duas de suas sete fábricas chinesas. Podemos citar também a PSA Peugeot-Citroën (agora parte da Stellantis, junto com a FCA Fiat-Chrysler) que fechou sua joint venture com a Changan Automobile e reduziu seus volumes de produção na parceria com a Dongfeng.

China, que terá o maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo consolidado, em 2030, projeta fabricar 30 milhões de veículos para 2025 e afetará toda a indústria mundial automotiva

China, que há 35 anos tinha um PIB menor que o Brasil e uma participação no comércio exterior equivalente à metade da brasileira, mira crescimento para 30 milhões de carros anuais em 2025, e mercado chinês segue atropelando norte-americanos, britânicos e japoneses.

Apesar da nova legislação, muitas multinacionais estrangeiras já anunciaram que pretendem manter a parceria com as montadoras chinesas, sem as quais não teriam os suportes técnico e de suprimentos de que dependem. Nunca é demais lembrar que a China terá o maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo consolidado, em 2030.

“As marcas estrangeiras já perceberam que estão emparedadas. Se, de um lado, o controle acionário lhes dará uma fatia maior na divisão dos lucros, do outro, elas se veem muito dependentes dos parceiros chineses. Não há como romper os laços”, pontuou o chefe de consultoria da IHS Markit para Ásia e Pacífico, James Chao, à agência Reuters

“Acho que, para a maioria das joint ventures, não ocorrerá uma mudança rápida, logo após a abertura, pois ainda existem contratos de longo prazo a serem cumpridos”, pondera Wang Cun, da Associação chinesa dos Distribuidores de Veículos. 

“Hoje, o mercado chinês não é só o maior do mundo, mas também o mais competitivo, e vemos que marcas domésticas, como a BYD e a Geely, ganham terreno, enquanto a participação de muitas joint ventures vem diminuindo”, complementa.

China liberou em 2018 seu mercado para os fabricantes de modelos elétricos e Tesla iniciou seu casamento com o governo de Pequim

Vale citar que, desde 2018, a China já havia aberto seu mercado para os fabricantes de modelos elétricos. Foi em julho daquele ano que a Tesla iniciou seu casamento com o governo de Pequim e, de lá para cá, o país recebeu grandes investimentos estrangeiros para implantação de fábricas voltadas à eletromobilidade. 

“Neste segmento, notamos um avanço importantíssimo, seja nos produtos desenvolvidos e produzidos pelas joint ventures, seja na política de preços que vem, constantemente, pressionando os fabricantes chineses para serem mais competitivos”, enfatiza o secretário-geral da Associação local dos Carros de Passeio (equivalente à Anfavea brasileira), Cui Dongshu. 

Prova disso é que, em 2020, a Mercedes-Benz e a Geely anunciaram uma joint venture global para a eletrificação da marca Smart.

Gigantes globais fabricantes de veículos Volkswagen, General Motors, Toyota, Mercedes-Benz e a BMW miram mercado automotivo chinês e podem abandonar o Brasil

“Grupos como a Volkswagen e a General Motors estão felicíssimos, afinal, não terão mais que dividir 50% de seus lucros com seus parceiros locais”, disse o analista da consultoria Automotive Foresight, Yale Zhang, diretamente de Xangai, para o jornal Industry Week.

É provável que, com a nova regra, as multinacionais estrangeiras do setor foquem no mercado chinês, deixando ainda mais à deriva países como o Brasil, onde as vendas seguem ruins e sem uma perspectiva de recuperação. 

“O jogo da equidade começa para valer por aqui”, declarou ao Global Times o diretor do comitê de importação da associação chinesa dos distribuidores de veículos (espécie de Fenabrave de lá), Wang Cun. 

“Ainda veremos muitas negociações e a alocação de capital dependerá da formatação de cada uma dessas joint ventures”, acrescentou, deixando claro que o fluxo de investimentos das gigantes do setor será desviado para a China.

Para Wang, marcas como a Mercedes-Benz e a BMW vão aproveitar seu prestígio e seu poder tecnológico para assumirem um controle cada vez maior dos seus próprios negócios.

“Recebemos a abertura deste mercado e outras reformas como um novo gesto de boas-vindas. Nos últimos 18 anos, fomos muito bem-sucedidos no país, graças ao apoio das autoridades chinesas e o compromisso do governo da Província de Liaoning – que fica no nordeste da China – que são a pedra angular de nosso negócio”, afirmou o presidente do Board of Management do grupo, Oliver Zipse, em comunicado oficial.

A General Motors informou, em comunicado oficial, que “seu crescimento na China é resultado do trabalho com os parceiros da joint venture, e que continuará com eles. A confiança e o trabalho com nossos parceiros é que nos permite fornecer produtos e serviços de alta qualidade aos consumidores chineses”. 

Outra gigante global fabricante de veículos, a Honda, disse através de um assessor que não pretende mexer sequer na composição societária de sua operação na China: “No momento, não temos planos de mudar nossa relação de capital”.

A Toyota é outra multinacional estrangeira que deixou claro que não tem nenhum plano para explorar novos parceiros locais ou buscar estabelecer um negócio exclusivo na China. Hoje, a marca japonesa tem dois parceiros estatais chineses, a FAW e a GAC. 

por – mobiauto