Datafolha desta semana: “Lula tem 41% de intenções de voto no primeiro turno, 18 pontos à frente de Bolsonaro; petista marca 55% contra 32% do atual presidente no 2º turno.”
Está longe da eleição, mas a mesa parece posta. Salvo qualquer surpresa fora do radar, Lula e Bolsonaro estarão no segundo turno do ano que vem. Se tudo pode acontecer, cada vez menos parece que algo vá acontecer, e sendo assim, Ciro Gomes tem um problema. Não parece haver espaço para aquilo que ele tanto sonha: uma terceira candidatura sólida, outro nome na boca do eleitor, alguém que anime a torcida, que leve gente pras ruas, que balance bandeiras nas janelas. Mas o Brasil não parece precisar de mais do que duas opções.
As coisas seriam mais fáceis no passado, os votos estavam bem mais diluídos no mesmo período de 2017, um ano e meio antes da eleição. Bolsonaro e Marina empatavam no segundo lugar, e Lula chegava no máximo aos 30%. A vaga ao segundo turno estava em aberto. Hoje, não.
Ciro ainda tem um cálculo, e só um. Sem margem de erro. É este: precisa chegar em meados de 2022 com mais votos do que qualquer um entre Mandetta, Moro, Huck, Eduardo Leite, Doria – ou quem quer que esteja nessa mistura chamada centro, um campo político em busca de um candidato. E aí negociar com todos, tentar se tornar o candidato do meio, rezando para que a maioria desses nomes desista de candidatura própria e o apoie publicamente. Seria, visivelmente, uma candidatura de direita.
Uma direita que, no holofote, finge estar unida e até assina cartinha. Na prática, cada um está lutando por espaço e voto. Ciro que o diga, quando queimou a largada colocando sua campanha na rua (na vdd na internet).
Isso porque Ciro queimou muitas pontes com a esquerda que votou nele em 2018. Acusa Lula de personalismo por não abrir mão da candidatura ou do protagonismo na esquerda. O que é verdade. O problema é que Lula tem votos, muitos mais do que qualquer outro. Abriria mão por quê? Sem total apoio dos progressistas, decidiu bater em Lula. E ao bater com força em Lula, repete o que já havia feito com Tasso Jereissati e Luizianne Lins, ex-aliados que se tornaram inimigos em um jogo muito parecido. Nos dois casos, Ciro foi acusado de fazer política com o fígado e de queimar amigos. Lula é hoje o que Tasso e Luizianne foram no passado. O resultado virá? Parece bem difícil.
Sabendo que a esquerda fechará com Lula para destronar Bolsonaro e sua gestão assassina da pandemia e do país, Ciro já declarou publicamente que busca o voto da centro-direita. Vai conseguir isso sendo contra o teto de gastos? Contra a independência do Banco Central? Nenhum farialimer apoiaria um projeto desses. Antes, cairiam de novo no colo de Bolsonaro. O farialimer é um ser imoral que não se importa em ter o próprio berço balançado por qualquer fascista.
Ciro quer ser presidente. Se quisesse ver a vitória de um projeto de esquerda, apoiaria Lula, tentaria ser seu vice, ou faria uma campanha amigável ao PT para somar votos no segundo turno. Mas não é isso que ele quer. Ele quer ser presidente, e acredita que tem o melhor projeto para o país. Não está adotando a estratégia de confronto com o PT por burrice, portanto. Burro, obviamente não é.
Para que as coisas deem certo, no entanto, Ciro precisa ser o candidato da “direita democrática” (boa parte dela elegeu Bolsonaro). É isso ou torcer para que Bolsonaro não chegue sequer ao segundo turno. Parece loucura sem tamanho acreditar nisso. A base sólida de eleitores da extrema direita (os tais 20%) só pularia do barco do bolsonarismo se surgisse algo pior do que Bolsonaro. Cruz credo.
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