Os riscos da manutenção do golpe na Eletrobrás, por Luís Nassif

Os riscos da manutenção do golpe na Eletrobrás, por Luís Nassif

Os riscos da manutenção do golpe na Eletrobrás, por Luís Nassif

A Eletrobrás é peça central no equilíbrio do setor elétrico brasileiro. Possui quase 50% dos reservatórios nacionais.

Luis Nassif[email protected]

 

Brasília – O novo presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, durante cerimônia de posse (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Em um deserto de boas reportagens, a Folha publicou um trabalho detalhado, de autoria de Alexa Salomão, sobre a privatização da Eletrobras. Nele, ela mostra como tendo menos de 1% de participação nas ações com direito a voto, passou a controlar o Conselho Deliberativo da empresa. É o mesmo jogo que transformou Daniel Dantas em controlador da Brasil Telecom e da Telemig Celular, com parcela mínima de capital.

O que chama a atenção é o silêncio constrangedor de lideranças industriais e das próprias comercializadoras de energia, a um poder extraordinário nas mãos dos chamados “piranhas financeiros” – na figura de Jorge Paulo Lehman e da 3G.

O termo foi cunhado no Chile, pós-queda de Salvador Allende, quando financistas sem nenhum escrúpulo passaram a se apossar de bens públicos. Coube a Pinochet acabar com a brincadeira, mandar para a prisão o mais atrevido dos “piranhas” e reestatizar o maior banco público privatizado.

A Eletrobrás é peça central no equilíbrio do setor elétrico brasileiro. Possui quase 50% dos reservatórios nacionais. Tratam-se de peças centrais para o modelo elétrico, pois são o fator de equilíbrio para as flutuações das chuvas.

Quando há escassez de chuvas, os reservatórios ajudam a regularizar a oferta de água, impedindo a explosão de preços. Em períodos de abundância de chuvas, consegue reduzir o custo da energia.

O que acontecerá com a Eletrobras privatizada, sendo gerida da mesma maneira que as Americanas? Hoje em dia, ela é a grande fornecedora de energia contratada – com preço regulado, destinada às distribuidoras e ao abastecimento de residências e pequenas empresas. Com abundância de água, a energia poderia estar muito mais barata. Mas são beneficiados apenas os grandes grupos, que adquirem energia no mercado livre.

Justamente por isso, grandes consumidores de energia julgam estar a salvo dos malefícios trazidos pela privatização da Eletrobras. 

O argumento para a privatização foi a necessidade de investimentos no setor.  A primeira atitude da Eletrobras privatizada foi recomprar suas ações. Agora, está utilizando sobras de caixa para adquirir usinas hidrelétricas, aumentando a participação na geração.

O que ocorrerá em um ano de poucas chuvas? O país inteiro ficará nas mãos da Eletrobras, e do estilo Jorge Paulo Lehman. Conforme mostramos em vários artigos, o estilo Lehman consiste em explorar o máximo possível as empresas controladas, sugando recursos através da geração de dividendos, esmagando fornecedores e funcionários.

Com a geração de energia em suas mãos, a 3G jogará o preço da energia onde pretender, Nesse momento, grandes indústrias, comercializadoras, distribuidoras entenderão o monstro que foi criado sem nenhuma reação.