LIT-QI: A guerra na Palestina e a situação da luta de classes internacional

LIT-QI: A guerra na Palestina e a situação da luta de classes internacional

LIT-QI: A guerra na Palestina e a situação da luta de classes internacional

O genocídio de Israel segue com a invasão terrestre da Faixa e da cidade de Gaza. O avanço nas comunicações traz a brutalidade das práticas nazifascistas instantaneamente para o mundo

LIT-QI, Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional

 

Vigília na Av Paulista, em SP, contra o massacre do Estado de Israel em Gaza Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Grandes manifestações de apoio à Palestina (em alguns países, de massas) mostram que o sionismo começa a perder a batalha pela consciência das massas no mundo.

A guerra na Palestina se transformou no centro da luta de classes mundial. As duas guerras (Palestina e Ucrânia) aprofundam a crise na ordem mundial e a disputa interimperialista e interburguesa.

A crise da ordem mundial se aprofunda com a guerra na Palestina

A crise da ordem mundial se aprofunda com a guerra na Palestina. Essa crise tem uma base material na onda descendente da economia, presente desde a recessão de 2007-09, amplificada pelo conflito EUA- China.

A decadência mundial se expressa na instabilidade crescente, com crises políticas e pesadas divisões nas burguesias, ascensos importantes do movimento de massas e crise de direção revolucionária.

Os reflexos são muito pesados nas condições de vida das massas, com elementos de barbárie crescentes, que levam a explosões em várias regiões do mundo, por vezes inesperadas ou mesmo inéditas. Em outros lugares, pelo peso da crise de direção revolucionária, impera um refluxo do movimento.

Os imperialismos norte-americano e europeu estão assumindo diretamente as consequências políticas do apoio ao genocídio israelense. Biden já está começando a sofrer as consequências políticas desse apoio direto dentro dos EUA. As pesquisas indicam uma reprovação majoritária entre a juventude dos EUA contra sua política para a Palestina, com crises também com os setores negros e a esquerda democrata.

A grande mídia burguesa segue cumprindo um papel importante no apoio ao sionismo, falando do “direito de defesa” de Israel. Crescem os setores de ultradireita em apoio a Israel, com apelo de correntes religiosas evangélicas.

O imperialismo russo está se aproveitando da guerra na Palestina. Por um lado, busca bloquear o avanço ucraniano, contando com a crise dos EUA que está limitando ainda mais o apoio militar do imperialismo norte-americano à Ucrânia.

Tanto a Rússia como a China têm interesses econômicos e políticos na região, tanto com Irã como com Israel. Interessa a eles a estabilidade e não uma guerra. Nenhum deles deseja a destruição de Israel. Com a guerra, passaram a criticar os dois lados. e a defender novamente a estratégia dos Acordos de Oslo, os “dois Estados”.

Isso tem uma importância dupla: por um lado, capitalizam o desgaste do imperialismo norte-americano na região. E por outro, se candidatam a serem parte de um “plano de paz para a região” pós-guerra.

O imperialismo russo tem peso sobre o bloco chamado “eixo da resistência”: Síria, Irã e Hezbollah (no Líbano), Jihad Islâmica e os rebeldes Houthis do Iêmen.

Esse bloco tem se mantido fora da luta militar direta contra Israel. As ameaças e declarações contra Israel feitas até esse momento, não se concretizaram em nenhuma ação militar real de peso, deixando Gaza sozinha contra o genocídio israelense. Já existe uma certa perplexidade e inquietude em setores de ativistas que apoiam o Hezbollah e o Irã a nível mundial com essa atitude.

As mobilizações podem e precisam avançar

As mobilizações em apoio à Palestina têm peso de massas em países imperialistas como EUA e Inglaterra, assim como nos países árabes. Os judeus norte-americanos contra a invasão israelense ocuparam o Capitólio e estações de trem em manifestações de peso. Há uma presença importante de juventude e de imigrantes em boa parte das mobilizações.

A amplitude do apoio de vanguarda e de massas à luta palestina permite que se organizem comitês de solidariedade em todas as cidades e , muitas vezes nas categorias de trabalhadores e jovens.

Começam a existir algumas ações de solidariedade ativa de trabalhadores a luta palestina. Três sindicatos de trabalhadores de transporte belgas chamaram seus membros a não permitir o embarque de armas para Israel. Em Oakland (EUA) uma ação de vanguarda retardou a saída de um navio com armas para Israel.

Nem Israel nem o imperialismo esperavam que houvesse esse repúdio crescente contra o genocídio no mundo. Isso está na base da ruptura das relações diplomáticas da Bolívia e Belize, do chamado para consulta dos embaixadores da Colômbia, Honduras e Chile. Isso explica o tom duro de Erdogan, que foi obrigado a chamar uma mobilização em apoio a Palestina para frear as manifestações.

Quinze sindicatos espanhóis levaram uma declaração ao parlamento exigindo a ruptura com Israel. Isso aponta a necessidade de que as entidades do movimento de massas se contraponham à propaganda sionista e se posicionem contra o genocídio, exigindo que os governos de seus países rompam com Israel.

Muitos dos protestos estão sendo proibidos, grupos e partidos que apoiam a resistência palestina tem sido criminalizados, tachados de “terroristas” e “antissemitas”. Em geral, enfrentamos uma grave estrição das liberdades democráticas de expressão e organização. Mesmo assim, as mobilizações crescem cada vez mais.

Não somos pacifistas

As mobilizações em apoio à Palestina têm um ponto de acordo de barrar o genocídio israelense. Mas, apesar de entender suas posições, queremos dialogar com os pacifistas.

Nós não igualamos a violência do opressor e do oprimido. Existe uma guerra, e nela temos um lado, o lado dos palestinos.  Nós defendemos a vitória militar dos palestinos e a derrota de Israel. A culpa pela morte de civis israelenses é do Estado sionista.

A guerra já dura mais de um mês e deve se estender por mais tempo. A evolução desse processo pode tomar características novas, na medida em que as mobilizações nos países possam ou não se radicalizar, se combinem ou não com os processos locais da luta de classes. O que podemos afirmar é que o conflito em Gaza está agudizando a polarização política que já existe no mundo.

Em defesa de um programa revolucionário

A única possibilidade de derrotar Israel é transformando essa guerra de libertação nacional em um processo revolucionário internacional.

Trata-se de uma guerra muito desigual desde o ponto de vista militar. Israel não só é a quarta potência militar do planeta, como tem o apoio direto do imperialismo norte-americano e europeu.

Como sabemos, é possível derrotar mesmo a potência imperialista hegemônica, quando se alia a mobilização das massas e a luta armada. Os EUA foram derrotados no Vietnã em 1975, pela combinação da heroica resistência dos vietnamitas, combinada com as mobilizações em todo o mundo e, em particular, nos EUA.

O centro de nosso programa para a Palestina é uma consigna democrática: por uma Palestina laica, democrática e não racista. Mas para realizá-la, será necessário destruir o Estado de Israel.

Defendemos a derrota militar de Israel, e não paramos aí: nossa estratégia é a destruição do Estado israelense. Sem isso é impossível uma Palestina laica, democrática e não racista.

E isso exige uma revolução que terá de se enfrentar com as burguesias locais que são contra esse objetivo. Ou seja, estamos falando da necessidade de um processo revolucionário objetivamente socialista, pois naturalmente se voltará contra a burguesia e suas organizações.

Por isso, mesmo tendo a consigna democrática “por uma Palestina laica, democrática e não racista” no centro de nosso programa para a região, a nossa estratégia de transição aponta para uma Federação Socialista dos países do Oriente Médio e Norte da África.

Qualquer visão que ignore a questão da libertação nacional palestina, adiando e diluindo essa perspectiva para “o socialismo”, é completamente equivocada e termina capitulando a pressão sionista.

Por outro lado, qualquer visão que só veja a guerra de liberação nacional palestina, sem o marco da revolução permanente e o necessário combate socialista e revolucionário contra as direções burguesas da região, terminará por capitular a essas direções.

É necessário apostar em um processo internacional, como a combinação de uma nova intifada palestina, a retomada da chamada “primavera árabe “ nos países da região (colocamos entre aspas, porque abarcaram países não árabes) , e mobilizações de massas em todos os países do mundo, em particular nos países imperialistas. Lembremos da importância que tiveram as mobilizações contra a guerra do Vietnã nos EUA para a vitória vietnamita.

Defendemos um movimento de massas democrático e independente, apelando à classe trabalhadora, aos setores imigrantes e à juventude para apoiarem a luta do povo palestino contra o genocídio e a ocupação, um movimento centrado nas táticas de greves, boicotes, massas com a luta armada como elemento auxiliar. Essa foi a natureza da Primeira Intifada (1987-1993), da marcha pelo regresso em 2018, da greve dos trabalhadores palestinos em Israel em 2021 e, em geral, da campanha do BDS que devemos amplificar em todos os países.

A política dos “Dois Estados” é um erro

Aparentemente, a política dos “Dois Estados” pode parecer “mais realista”. Na verdade, essa política foi provada desde os acordos de Oslo (1993).

Passados já 30 anos, pode se comprovar que não existe nada de realismo em uma política que ignora o caráter colonialista, com métodos nazifascistas, de Israel.

O resultado foi o desastre atual da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia, que cumpre um papel de capataz de Israel, sem nenhuma autoridade e autonomia real, e completamente desgastada com os palestinos.

Essa política segue sendo um plano imperialista, tanto dos EUA como do bloco Rússia- China, a depender dos resultados da ofensiva israelense.

A única possibilidade de chegar a uma “Palestina Laica, Democrática e Não Racista” é através da destruição do Estado de Israel.

A existência do Estado israelense é defendida pelos governos burgueses, assim como pelos partidos reformistas. Assumem as ideologias (“ser contra o sionismo é igual a antissemitismo”, “a única democracia contra os bárbaros árabes”, etc.), para justificar essa política.

Não aceitamos o Estado de Israel, nem com as fronteiras atuais, nem com as depois de 1967 (guerra dos seis dias), nem com as de 1948 (resolução de fundação do estado de Israel, da ONU). Defendemos a sua destruição.

Ou seja, defendemos o programa histórico da Organização de Libertação da Palestina, que se sintetiza na consigna “Por uma Palestina única, laica, democrática e não racista”. Esse é o significado profundo do lema “Palestina livre, do rio ao mar”. No caso, do rio Jordão ao mar Mediterrâneo.

Só assim será possível uma convivência pacífica de uma maioria palestina (que inclua o retorno dos milhões de refugiados dispersos no mundo), e uma minoria judia e de outras religiões. Isso existia antes da fundação do Estado de Israel. Não se trata de um problema essencialmente religioso, mas da utilização das religiões por classes sociais e a defesa dos interesses imperialistas.

Alguns setores dos ativistas, mesmo muito comprometidos com a defesa dos palestinos e contrários à política dos “dois Estados”, não defendem a destruição do Estado de Israel. Uma das expressões disso é o chamado ODS (One Democratic State, Um Estado Democrático). Ou seja, um estado único e democrático, mas sem precisar que esse Estado seja palestino, como resultado da destruição de Israel.

Nossos acordos e diferenças com as direções palestinas, incluindo com o Hamas

Defendemos a mais ampla unidade de ação com o Hamas, a direção palestina mais respeitada nesse momento. Mas discordamos de seu programa.

A estratégia do Hamas é derrotar Israel, com suas alianças com as burguesias regionais do “Eixo de Resistência”, o que inclui os governos do Irã, Síria e Líbano, e não a mobilização independente das massas.

Em seu documento programático de 2017, o Hamas rejeita os acordos de Oslo, dos dois Estados, mas recua da estratégia de destruição do Estado de Israel, admitindo as fronteiras de 1967.

Junto com esse recuo estratégico, o Hamas faz um movimento em sentido mais democrático, contra as opressões religiosas, se diferenciando nisso do Estado teocrático do Irã. Trata-se de um movimento islâmico, mas sem a proposta de um Estado teocrático islâmico. Segue sendo um programa distinto do nosso também nisso, porque defendemos explicitamente uma “Palestina laica, democrática e não racista”, e isso o Hamas não faz.

Por último, o Hamas não tem um programa revolucionário socialista, mas desenvolvimentista burguês.

Nada disso nos impede de lutar junto ao Hamas e das massas palestinas contra o Estado de Israel e os imperialismos. Mas mantemos a tradição leninista de golpear juntos, mas marchar separados, não só do Hamas, mas de todas as correntes burguesas e reformistas.

A necessidade de uma direção revolucionária

Em toda a região do Oriente Médio e Norte da África, a crise de direção revolucionária é absoluta. Não existem direções, organizações revolucionárias marxistas.

A tragédia nessa região até hoje é que não foi possível organizar uma direção alternativa durante os processos revolucionários que repetiram, e foram derrotados.

O papel do stalinismo foi e é chave para explicar essa situação. A URSS, sob direção de Stalin, apoiou a criação de Israel, inclusive financiando armas para o movimento sionista. Esse foi um de seus mais graves crimes históricos, dentro de uma longa série.

Depois, o stalinismo apoiou o nacionalismo burguês na região. Hoje, o stalinismo a nível mundial, apoia as direções burguesas da região, desde a Síria, Irã, Hezbollah e Hamas.

Por isso, é tão fundamental avançar na construção de uma outra direção alternativa às atuais. Uma nova direção que tenha um programa marxista revolucionário, que inclua a consigna “Palestina única, laica e não racista” como uma consigna de transição em uma estratégia revolucionária socialista, em uma perspectiva de uma Palestina Socialista, como parte de uma Federação livre dos Estados Socialistas das Repúblicas do Oriente Médio e Norte da África.

Essa direção só pode ser construída na luta cotidiana pela derrota de Israel, ombro a ombro com a juventude palestina e de todo o mundo.

-Apoio incondicional à luta do povo Palestino

– Em defesa de uma nova Intifada! Por uma nova “Primavera dos povos”, um novo levante dos povos do Oriente Médio e Norte da África contra seus governos

-Por um movimento internacional de apoio à luta palestina com ações de rua, greves, boicotes a Israel

-Em defesa da ruptura das relações econômicas, políticas e diplomáticas dos países com Israel

– Pelo fortalecimento da campanha do BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) contra Israel

-Pela formação de comitês de apoio à Palestina

– Pela derrota militar de Israel. Armas para a Palestina

– Denunciamos os governos do Oriente Médio e Norte da África, mesmo os que se pronunciam contra o genocídio israelense, como o Irã, por não terem entrado na guerra e deixado Gaza isolada.  Exigimos, em particular a entrada na guerra contra Israel do Irã e Hezbollah!

-Defendemos a solidariedade dos povos da Ucrânia e Palestina, duas guerras de liberação nacionais

– Por uma Palestina laica, democrática e não racista. Isso só é possível com a destruição do estado de Israel

– Por uma Palestina Socialista

– Por uma Federação Livre e Socialista dos estados do Oriente Médio e Norte da África

Publicado no Portal da LIT-QI