Eleições no DF: Peças ainda fora do tabuleiro

Alguns analistas políticos gostam de se valer da imagem do xadrez para tecer suas considerações sobre o jogo político.

Eleições no DF: Peças ainda fora do tabuleiro

Eleições no DF: Peças ainda fora do tabuleiro

Autor: Chico Sant'Anna

Alguns analistas políticos gostam de se valer da imagem do xadrez para tecer suas considerações sobre o jogo político. Na realidade candanga, o jogo indiano de tabuleiro, Pachisi, conhecido por aqui por Ludo, parece ser mais adequado. Assim como a bandeira do Distrito Federal, o Ludo possui quatro quadrantes onde se posiciona cada time. Todos têm por objetivo chegar ao Buriti, digo, ao centro do tabuleiro, e no meio do caminho os jogadores – ou players políticos – podem ser atingidos e obstruídos pelos adversários. Ganha o jogo, quem conseguir levar toda sua equipe, mais rapidamente, ao centro do poder.

 

Por Chico Sant’Anna

As eleição de 2022, além da polarização entre Lula e Bolsonaro, trarão regras novas. Proibição de coligações para deputados federais, estaduais e distritais e a necessidade de que cada partido, sozinho agora, obtenha, ao menos, 2% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, ou conseguir eleger 11 deputados federais distribuídos em nove estados. Pelo desempenho eleitoral apresentado nas eleições municipais de 2018, dos 33 partidos existentes, pelo menos dezesseis correm sério risco de desaparecer. Por isso, muitos partidos, em especial os de porte médio e pequeno, tendem a reforçar as nominatas de candidatos à Câmara Federal em detrimento de outras postulações. Além disso, as chapas nacionais devem exercer localmente forte influência, inclusive aqui em Brasília.

Alguns analistas políticos gostam de se valer da imagem do xadrez para tecer suas considerações sobre o jogo político. Na realidade candanga, o jogo indiano de tabuleiro, Pachisi, conhecido por aqui por Ludo, parece ser mais adequado. A versão indiana é milenar e constitui um jogo de estratégia e astúcia, onde cada jogador deve decidir o momento certo de fazer um movimento e qual movimento realizar. Assim como a bandeira do Distrito Federal, o Pachisi possui quatro quadrantes onde se posiciona cada time. Todos têm por objetivo chegar ao Buriti, digo, ao centro do tabuleiro, e no meio do caminho os jogadores – ou players políticos – podem ser atingidos e obstruídos pelos adversários. Ganha o jogo, quem conseguir levar toda sua equipe, mais rapidamente, ao centro do poder.

Assim como a bandeira do Distrito Federal, o ludo possui quatro quadrantes onde se posiciona cada time. Todos têm por objetivo chegar ao Buriti, digo, ao centro do tabuleiro, e no meio do caminho os jogadores – ou players políticos – podem ser atingidos e obstruídos pelos adversários.

No tabuleiro, existem quatro peões ou cavalos de cada jogador, um de cada cor (azul, verde, amarelo e vermelho). Versões antiques ilustram cada quadrante do tabuleiro com animais sagrados indianos: tigre, elefante, cavalo e a vaca. No Ludo, ou Pachisi, candango a fase é de preparar os times. Na política real, serão apenas três: governador, vice e senador. Esses serão os únicos cargos que nessas eleições permitirão a coligação de dois ou mais partidos. Para deputados federais e distritais, cada partido terá que contar exclusivamente com suas forças.

Por enquanto, apenas o time azul, que vamos atribuir a Ibaneis Rocha (MDB), se posicionou no tabuleiro. E mesmo assim, parcialmente, pois somente o governador já se decidiu candidatar, mas não confirmou nenhum parceiro. A ministra Flávia Arruda (PL), esposa do ex-governador José Roberto Arruda – que acaba de ter confirmada pelo TJDF mais uma condenação ainda por conta do Mensalão do Democratas ou escândalo da Caixa de Pandora – tem sido cortejada. Celina Leão (PP), também. A ideia seria ter as duas numa coligação, o que atribuiria um bom tempo de propaganda eleitoral e recursos do Fundo Eleitoral para Ibaneis. E deixaria de lado o atual vice, Paco Brito (Avante).

Mesmo já posicionado no tabuleiro, nem tudo está claro pra Ibaneis. Lideranças de raiz do próprio MDB não estão satisfeitas com a postura dele para com o partido e até consideram a possibilidade de não lhe conceder a legenda. Isso seria ainda mais factível se o MDB nacional vier a fechar com a candidatura Lula, como o fez em 2010, com Dilma Roussef. É um cenário difícil de acontecer – um racha do MDB nacional é mais provável – mas não está de todo descartado. O MDB local também pode vir a apoiar outros players no tabuleiro.

Ibaneis tem ciência de que não é bem visto e tem feito sondagens em outras legendas – como o Partido Progressista de seu conterrâneo, o senado Ciro Nogueira –, para ver se encontra nova morada, caso fique impossível a sua permanência no MDB. Ele vem perdendo pontos com escândalos, como as irregularidades na secretaria de Saúde, que levaram seu ex-secretário, Francisco Araújo, pra Papuda, e também os regalitos para o Piauí, como a transferência de R$ 7 milhões do “orçamento secreto”, vulgo “bolsolão”, que tinham como destino o Distrito Federal e equipamentos de proteção individual da secretaria de Saúde do DF. Agora, terá que depor na CPI da Pandemia e esclarecer como gastou as verbas federais pra Saúde.

Um maior desgaste de Ibaneis, pode fazer com que Flávia Arruda não feche chapa com ele e se lance ela mesmo ao Buriti ou opte pelo Senado. “Arruda (José Roberto) é uma raposa experta e não vai deixar que sua esposa entre numa barca furada” – analisa outra velha raposa, essa do próprio MDB.

A arquitetura que se monta entre PT e uma ala do PSB é Leila de governadora, a vaga de vice ainda aberta e a deputada Erika Kokai (PT) para o Senado. A vaga de vice seria ofertada ao Psol, PCdoB ou mesmo ao PDT.

Peças Vermelhas

Em outro quadrante do tabuleiro, as dos jogadores vermelhos, as conversas estão em pleno vapor. Parte expressiva do Partido dos Trabalhadores defende uma frente progressista e, para isso, consideram até abrir mão da cabeça de chapa. Essa postura seria a contrapartida ao apoio dos partidos envolvidos à candidatura Lula ao Planalto.

A arquitetura que se monta entre PT e uma ala do PSB é Leila de governadora, a vaga de vice ainda aberta e a deputada Erika Kokai (PT) para o Senado. A vaga de vice seria ofertada ao Psol, PCdoB ou mesmo ao PDT. “A Leila (do Volei) amadureceu bastante, tem tido bom desempenho e posicionamentos corretos no Senado. Hoje, não teríamos resistência quanto a ela encabeçar uma chapa ao GDF” – informa uma alta liderança do PT-DF.

O presidente do PT-DF, Jacy Afonso, reconhece que ela é um nome forte, mas salienta que o PT também tem bons nomes. “Estamos aberto ao diálogo para construir uma aliança para derrotar o Ibaneis” – diz ele. Pensamento semelhante tem a deputada distrital, Arlete Sampaio. “Pessoalmente, defendo a mais ampla aliança da esquerda e centro esquerda e acho que o PT, embora tenha nomes, pode abrir mão da candidatura ao governo” – diz ela.

Nessa escalação, há alguns problemas. Algumas das dezoito tendências internas do PT defendem a recandidatura de Erika a deputada federal e outras citam seu nome ao GDF. Geraldo Magela, que possui peso na executiva regional, anseia ser o candidato do PT ao GDF e acredita que, com o crescimento da candidatura Lula à presidência, a sua seria fortalecida. Entretanto, pessoas próximas a ele afirmam que Magela assegurou a Lula que fará no DF o que o ex-presidente achar melhor pra campanha dele.

Caso vingue a fusão entre o PCdoB e o PSB, para a criação dos Socialistas, conforme antecipou a revista Fórum, a vaga de vice teria maiores chances de ficar com o Psol, caso ele deseje integrar essa frente. Nas eleições de 2018, o PCdoB não conseguiu superar as cláusulas de barreiras e teve que se fundir ao PPL para sobreviver. Em 2022, as exigências das cláusulas de barreiras serão ainda maiores e uma fusão ao PSB, que possui 30 deputados federais, poderia ser a fórmula da sobrevivência.

Do lado do PSB, há uma resistência velada do ex-governador, Rodrigo Rollemberg, a essa dobradinha com o PT. Rodrigo alega que é cedo para qualquer articulação, que deve se esperar a definição do quadro nacional, e não vê com bons olhos a fusão com o PCdoB.

“Podemos até receber quadros do PCdoB e, mesmo do Psol, como estão pra vir o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), mas fundir e trocar de nome, não. Se tivermos uma candidatura própria, com o governador do Espirito Santo, Renato Casagrande, ou mesmo com Flávio Dino, vamos precisar de um palanque próprio na Capital Federal. Aqui em Brasília, além de Leila, há a possibilidade de Reguffe. Ambos são fortes nomes e que podem mesmo liderar candidaturas próprias” – diz o ex- governador.

“O mais importante é que não permitamos a permanência dessa turma que trouxe o GDF de volta às páginas policiais. Temos secretário de Saúde preso, operações na Casa Civil, na secretaria de Economia. Tudo isso tinha ficado no passado em meu governo e não podemos permitir o seu retorno” – salienta.

O terceiro quadrante é formado por aqueles que irão dar sustentabilidade local à candidatura de Ciro Gomes

Reflexos de Ciro no DF

O terceiro quadrante é formado por aqueles que irão dar sustentabilidade local à candidatura de Ciro Gomes. Assim, a frente progressista não deve contar com o PDT. Os herdeiros de Brizola estudam o lançamento ao Buriti de Joe Valle, ex-presidente da CLDF. A tarefa de construir um palanque candango com musculatura está nas mãos do presidente do PDT-DF, Georges Michel, mas o próprio Joe Valle tem se reunido com outras lideranças. Reguffe foi uma das que ele procurou para ter apoio, mas ouviu do senador que será igualmente candidato ao GDF.

As conversas estão correndo soltas. O PDT quer atrair o PCdoB, o senador Reguffe (Podemos) e até mesmo Leila do Vôlei (PSB) e Tadeu Filippelli (MDB), que foi vice-governador de Agnelo Queiroz.

Embaixadas serão feitas ainda junto à Rede, de Leandro Grass, pois uma das opções de Ciro Gomes é ter Marina Silva como vice-presidente, e ao Partido Verde. Segundo apurou esse blog, a maioria da Rede aqui no DF acha um erro Marina sair de vice de Ciro Gomes e não quer fazer parte do palanque dele na Capital Federal.

A direção do PDT não comenta nomes, mas indica rumos. “Não apoiaremos o Ibaneis. Estamos aberto para construir uma frente antifascista. Queremos conversar, discutir, o objetivo é derrotar Bolsonaro e seus asseclas. O tempo é curto e a pandemia dificulta. Não podemos demorar” – diz Georges Michel.

Tucanato

O quarto quadrante é do tucano Izalci Lucas (PSDB) que mantém conversas estreitas com o governador de São Paulo, João Doria, potencial candidato à presidência. Em 2018, quando foi candidato ao Senado, Izalci conseguiu formar uma coligação com o Democratas, comandado pelo coronel Alberto Fraga, e com a Democracia Cristã, de José Maria Eymael. Com apoio da ala considerada de centro-direita e parcela considerável do segmento evangélico, obteve 403.735 votos, mas ficou cerca de 64 mil votos atrás de Leila. No Senado, foi vice-líder do governo de Jair Bolsonaro e foi acusado de ter a maior equipes de cargos comissionados. Para 2022, Izalci não dá detalhes, se limita a dizer que seu “foco agora é a vacina, é dar luz à corrupção no governo local”.

Fora do tabuleiro

Do lado de fora do tabuleiro outras equipes tentam reunir musculatura para entrar no jogo. São partidos de médio e pequeno porte que normalmente entram em campo coligados a outras forças políticas.

O Psol vai realizar congressos local e nacional proximamente quando novas direções serão definidas e também as linhas de ação. De novembro a abril, segundo o TRE-DF, foi o partido que teve o crescimento de filiados mais importante, 16,62%, enquanto 21, dos 33 partidos, vivenciaram a perda de mais de cinco mil eleitores que cancelaram suas filiações. A partir dessas definições congressuais, o Psol deve ter uma posição amadurecida: se lançará candidatura própria ao Senado e ao GDF ou se apostará nas propostas de se somar a uma frente progressista para vencer as eleições.

Outro caso é o Cidadania – antigo PPS – que, segundo seu presidente, Chico Andrade, não descartou a ideia de candidatura própria ao GDF. Tenta convencer o ex-governador Cristovam Buarque a disputar o retorno ao GDF. A esse blog ele confidenciou não estar pensando em trocar sua vida atual por eleição ou por mandato. Outra opção é o ex-secretário de Educação do governo Ibaneis, Rafael Parente. Rafael, contudo, está comedido: “na minha visão, o ideal seria ter uma frente ampla local com o objetivo de tirar Ibaneis e os Arruda do Buriti e colocar a política e o governo do DF em outro patamar” – diz ele.

O Cidadania tem como maior desafio superar as cláusulas de barreira. Por isso, tentará eleger pelo menos um federal. Atualmente, esse federal é Paula Belmonte. O futuro dela no Cidadania é incerto, pois ela e o marido, o empresário e suplente de senador, Luiz Felipe Belmonte – um dos coordenadores da fundação do partido Aliança pelo Brasil, em criação para dar sustentabilidade a Jair Bolsonaro –, são muitos próximos ao ideário de direita do presidente da República.

“O Cidadania é um partido com valores de centro-esquerda, defendemos intransigentemente a democracia e repudiamos qualquer demonstração de xenofobia, discriminação ou política de ódio. Acompanhamos o viés da deputada e seu comportamento. Nós não iremos apoiar Bolsonaro. Se necessário, teremos outros nomes pra deputado federal” – disse Chico Andrade.

O plano B do Cidadania seria apoiar um candidato ao GDF de outro partido, No radar estão o senador Izalci Lucas (PSDB), com quem o Cidadania quase se coligou nas eleições passadas. A outra opção é o atual governador, Ibaneis Rocha. Embora não tenha sido uma indicação do Cidadania, o atual secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, é visto pelo partido como participação da legenda no governo.

Com relação as forças que disputaram o GDF em 2018, ainda faltam definições do PSD, de Rogério Rosso; o Novo, de Julia Lucy; a Rede, de Leandro Grass; o Dem, do coronel Alberto Fraga; o Patriotas, que incorporou o PRP, do general Paulo Chagas e outras legendas que tem por tradição orbitar em torno das campanhas mais fortes.