A queima da estátua do Borba Gato: Este é o caminho?

Duas condições para uma boa tática: “a primeira é não estar em contradição com o curso da vida social e a segunda é que deve elevar cada vez mais o espírito revolucionário das massas”. J. Stálin, 1906

A queima da estátua do Borba Gato: Este é o caminho?

A queima da estátua do Borba Gato: Este é o caminho?

 

.por Wevergton Brito Lima

Publicado 29/07/2021 11:12

Foto: Reprodução redes sociais

Duas condições para uma boa tática: “a primeira é não estar em contradição com o curso da vida social e a segunda é que deve elevar cada vez mais o espírito revolucionário das massas”. J. Stálin, 1906

Qual a principal tarefa política no Brasil de hoje? Qualquer pessoa que viva fora da terra plana ou que não aceite receber parte do oceano de dinheiro que jorra para o centrão e as milícias vai concordar que é tirar, o mais cedo possível, Bolsonaro da presidência, enterrando seu projeto autoritário.

E para tirar Bolsonaro da presidência, dentro do terreno das possibilidades concretas, só existe a via institucional: o impeachment.

 

É uma luta dura pois Bolsonaro conta com o concurso de parte importante das Forças Armadas e das polícias estaduais.

O impeachment enfrenta, além disso, outro grande obstáculo: a aliança, que agora se fortaleceu, entre Bolsonaro e o chamado “centrão”, que detêm inclusive o comando da Câmara dos Deputados.

Diante desses fatos, qual o diagnóstico que une desde setores da direita pró- impeachment até a esquerda mais consequente (e inconsequente também)? O de que só existe uma chance de o impeachment avançar: a pressão de massas nas ruas.

 

As meritórias manifestações até aqui realizadas estão em bom caminho. Aumentam sua capilaridade, com mais municípios participando, mas ainda não atingiram o ponto de reunir milhões, sendo este, portanto, o objetivo primordial: para derrubar Bolsonaro é preciso reunir milhões nas ruas de todo o Brasil.

Para reunir milhões igualmente enfrentamos toda sorte de problemas. Além de nossas próprias deficiências, que superaremos, o principal é que o povo brasileiro foi vítima de uma grave propaganda anti-política, que o ensinou a desconfiar de toda mobilização organizada. Para superar esta intoxicação será necessária a máxima habilidade e amplitude.

E nisso entramos na discussão sobre o incêndio da estátua do Borba Gato, em São Paulo. Não temos defesas apriorísticas de uma certa “memória nacional” construída, em geral, a partir do ponto de vista da memória da classe dominante. Afinal, isso é assim em todo país capitalista. Uns mais, outros menos. Procure-se em Chicago um monumento aos 8 trabalhadores (os mártires de Chicago) enforcados pelo crime de lutar pelo direito a uma vida digna. Você não encontrará. Talvez ache uma estátua do Pateta.

 

Só a atuação política organizada pode redimir e valorizar a memória nacional e dois dos melhores instrumentos que ajudam o povo a elevar sua consciência política e ideológica são a mobilização e a luta de rua com caráter massivo.

Se milhões nas ruas queimam monumentos que, certo ou errado, são identificados como símbolos dos opressores, devemos defender este ato de sentido revolucionário, pois é obra da massa insurgente. Massa que durante séculos foi sufocada e cuja revolta, quando explode, tem a força de um furacão. Assim, a massa acerta, erra, mas tendo um rumo e uma direção geral justa e honesta, pode aprender na prática, retificar seus erros e avançar.

Diante disso, faço duas perguntas: a queima da estátua do Borba Gato foi obra das massas nas ruas ou obra de um pequeno grupo?

 

Não tendo a legitimidade de uma ação de massas, ela contribui ou não para atrair os trabalhadores à luta?

Neste sentido, e apenas neste sentido, e tão somente neste sentido, a queima da estátua de Borba Gato é um claro, nítido e cristalino tiro no pé.

Com o povo repudiando a política e com importantes camadas ainda reféns da onda conservadora que nos atingiu, brigas entre manifestantes e ações isoladas que convencem apenas os já convencidos, apontam claramente para o caminho do gueto.

Assim, os autores do incêndio à estátua de Borba Gato contribuem objetivamente para afastar o trabalhador comum da melhor escola da luta de classes.

 

Aqui pouco importam as boas intenções do grupo que promoveu a ação. Como nos ensinava Lênin, as ações devem ser julgadas pelos seus resultados práticos para a luta política dos trabalhadores.

Lênin, quando jovem tinha um irmão mais velho que adorava. Quando pequeno, se era perguntado o que faria em tal ou qual situação, respondia invariavelmente: “faria como Sacha (apelido de Alexandre)”. Alexandre fazia parte de um grupo chamado “Vontade do Povo”, uma organização revolucionária que defendia a formação de sociedades secretas para planejar e executar atentados contra a família real e altos funcionários, como forma de derrubar o czarismo. Em março de 1887, seu querido Sacha foi enforcado por participar do planejamento da morte do Czar.

Apesar da dor e do imenso amor que devotava ao irmão, conta-se que, ao receber o telegrama da mãe com a notícia do enforcamento do irmão, teria dito Lênin: “Não, não é esse o caminho a seguir, seguiremos um caminho melhor”.

 

Ações de pequenos grupos, isoladas das massas, e que ainda por cima estejam “em contradição com o curso da vida social”, não ajudam a ampliar nem a elevar a consciência política, o que nos obriga a repetir a crítica fraterna, mas implacável de Lênin: este não é o caminho.