21 anos sem Brizola: o legado de um dos maiores líderes da política brasileira

Foto: divulgado Senado federal
21 anos sem Brizola: o legado de um dos maiores líderes da política brasileira
Para entender o Rio, é preciso entender Brizola’, diz historiador Guilherme Galvão Lopes, ao MyNews
Neste sábado (21) de junho, completa 21 anos da morte de Leonel Brizola, líder histórico do PDT, Governador do Rio Grande do Sul e também do Rio de Janeiro, por duas ocasiões. Além de candidato à presidência em 1989, 1994 e em 1998, sendo vice numa chapa com Lula.
Dessa forma, o MyNews conversou com o historiador Guilherme Galvão Lopes, autor de um livro sobre Brizola. E aqui ele detalha a história de um dos maiores políticos do Brasil. Essa é a arte 1 da entrevista.
Importância de Brizola
R: “Importância do Brizola para a política brasileira, principalmente a política carioca. Brizola foi uma figura fundamental para a política carioca e fluminense ao longo de mais de 50 anos. Eu sempre digo o seguinte, que quem quiser compreender a dinâmica política do Rio de Janeiro, principalmente da cidade do Rio de Janeiro, tem que entender duas figuras. Tem que entender Carlos Lacerda e tem que entender Leonel Brizola. Carlos Lacerda, por ser um adversário do varguismo, do trabalhismo varguista, ter construído sua carreira política em cima dessa oposição a Getúlio Vargas, se construindo como seu principal antagonista através da UDN; e Brizola, que vem do Rio Grande do Sul, se apresentando para o eleitorado do Rio de Janeiro”
“E Brizola, como sendo herdeiro dessa tradição política, não havendo nenhuma outra figura além dele, depois das grandes lideranças — a última foi o próprio presidente João Goulart —, Brizola construiu uma carreira política muito sólida a partir do Rio de Janeiro, na eleição de 62, na Guanabara, quando ele foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com quase 300 mil votos”.
“Ele conseguiu se posicionar como a principal liderança política de esquerda no Brasil ao longo de toda a década de 80 e boa parte da década de 90. Claro que nessa disputa por esse campo, Brizola tinha do outro lado a figura do Lula. E o ano de 89 foi o divisor nesse sentido, porque quem conseguisse chegar mais longe naquela disputa, de fato, conseguiria ter ali um papel de grande influência no campo da esquerda. Foi o Lula, que chegou no segundo turno e perdeu. Então, Brizola entrou, ao longo da década de 90, num processo de declínio eleitoral e distanciamento em relação ao PT. Mas, sem dúvida alguma, foi uma das mais importantes lideranças políticas da esquerda, não só ao nível de Brasil, mas ao nível de América Latina e talvez internacional, desde a década de 60 até o seu falecimento em 2004”.
Atritos com antigos aliados
Com Brizola, outras grandes figuras da política carioca fizeram nome ao serem lançadas por ele. Aqui, Guilherme fala sobre isso e também como Leonel brigava até mesmo com seus pares — antes aliados, depois desafetos —, casos de Garotinho e de Cesar Maia.
R: “César Maia, Garotinho… Brizola reivindicou essa tradição política do trabalhismo. E, no Brasil, quem quisesse se agrupar a essa tendência deveria se submeter à liderança de Leonel Brizola. Só que Brizola possuía também uma tradição política de influência positivista, que vem desde lá de Júlio de Castilhos, desde lá do século XIX, no Rio Grande do Sul — uma tradição política que alguns acusavam de ser caudilhesca, uma tradição política muito centralizadora. Esse era o estilo de liderança de Leonel Brizola”
“Ele era uma liderança política centralizadora, era uma pessoa que, por conta dos traumas que ele carregou, por conta da ditadura, por conta do golpe, ele dirigia o PDT, muitas vezes, de forma autoritária. Muitas lideranças políticas saíram do PDT depois disso, por conta dessa questão, por conta dessa característica do Brizola. Algumas procuraram um caminho próprio, algumas delas conseguiram, inclusive, traçar um caminho de forma independente, como foi o caso do César Maia. O Garotinho ainda tentou se manter vinculado, de certa forma, ali ao trabalhismo, reivindicando — depois da morte do Brizola, claro — reivindicando o Brizola, reivindicando Getúlio Vargas, Juscelino”. Hoje o mesmo é praticamente bolsonarista.
Legado do PDT e da família Brizola
Leonel faleceu em 2004, mas sua família é muito ativa na política. No entanto, a grande maioria não seguiu no partido que foi criado por ele, o PDT. Guilherme fala sobre isso.
R: “A família sempre teve uma relação muito conflituosa com o PDT, porque alguns membros tratavam o PDT como se fosse parte do espólio do Brizola, como se fosse um patrimônio familiar. E, algumas vezes, o próprio Brizola, em vida, entrou em atritos com seus filhos — principalmente com o José Vicente, que tinha sido deputado federal pelo Rio de Janeiro. Depois, ele rompeu com o PDT e foi do grupo de Dilma Rousseff, que foi para o PT ali por volta de 2000, mais ou menos. Então, teve esse atrito. E há esse atrito ainda de uma parte da família do Brizola que encara dessa forma. Outros que viram o aparelhamento do partido de forma muito negativa resolveram sair do PDT”
“Hoje tem a Juliana, advogada, concorreu à prefeitura de Porto Alegre pelo PDT, e é atualmente deputada federal. Mas outros nomes, como o Carlito, Leonel Brizola Neto, do Rio de Janeiro, foram do partido, saíram, voltaram e seguiram suas vidas políticas em outras legendas”, concluiu Guilherme ao MyNews
Sobre Guilherme
Guilherme Galvão Lopes é Professor, pesquisador, doutor em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Mestre em História Política (UERJ) e especialista em História do Brasil.
Seu livro: https://clubedeautores.com.br/livro/brizola-62-da-guanabara-para-o-brasil