Manchetes dos jornais de domingo 17 de março de 2023

Manchetes dos jornais de domingo 17 de março de 2023

Edição de Chico Bruno

Manchetes dos jornais de domingo 17 de março de 2023

O ESTADO DE S.PAULO – Erros internos, contra-ataque de políticos e autoproteção do STF enterraram a Lava Jato

FOLHA DE S.PAULO – Empreiteiras tentam voltar a obras 10 anos após Lava Jato

CORREIO BRAZILIENSE – Casos de dengue só devem diminuir a partir de maio

O GLOBO – Comida 2.0 Indústria de bebidas e alimentos vive revolução digital

Destaques de primeiras páginas, fatos e bastidores mais importantes do dia

Fracasso - A operação que enquadrou criminalmente ex-presidentes da República, parlamentares, grandes empreiteiros e ex-executivos da Petrobras no mais significativo escândalo de corrupção visto no País completa hoje dez anos. A Lava Jato recuperou R$ 2 bilhões para os cofres públicos com acordos de delação premiada e de leniência homologados pelo STF. O tribunal foi protagonista do apogeu e um dos atores do declínio da operação. Decisões contrárias vieram sobretudo depois de pubçicarem mensagens hackeadas do ex-juiz Sérgio Moro e de procuradores com sede em Curitiba. Abusos na condução de processos minaram a investigação, alvo ainda de políticos que afrouxaram leis anticorrupção. Empresas que confessram repasses bilionários de propina tentam agora revisar os acordos.

Realidade cruel - Multas bilionárias, programas robustos de compliance, abertura do mercado brasileiro para estrangeiros, mudança de nomes, recuperações judiciais, empreiteiras que diminuíram para um décimo do tamanho que tinham e traumas que persistem até hoje na assinatura de contratos de obras públicas. Deflagrada há dez anos, a Lava Jato provocou uma revolução no setor de infraestrutura e construção pesada no Brasil. Seus efeitos persistem até hoje, enquanto as grandes empresas voltam à arena pública após assumirem responsabilidade em esquemas de corrupção. O retorno mais recente ocorreu na sexta-feira (15), quando empresas dos grupos Andrade Gutierrez e Novonor (ex-Odebrecht) apareceram mais bem posicionadas no leilão de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima —um dos pivôs da operação. As companhias haviam sido reabilitadas em julho do ano passado a disputar contratos da Petrobras, depois de serem vetadas em meio às condenações por crimes de corrupção. O retorno às obras públicas é considerado crucial para a sobrevivência do setor, avaliam especialistas, uma vez que as empresas têm operado no prejuízo e muitas pediram recuperação judicial (caso da Odebrecht, UTC e OAS) ou até entraram em processo de falência —como a Coesa, braço da OAS, que depois teve a falência revertida pela Justiça. O faturamento do setor caiu mais de 80%, segundo o Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura), enquanto as empresas venderam subsidiárias e grande parte das operações.

Dengue DF - O alerta foi dado pelo subsecretário de Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos. “Nós ainda estamos em um período considerado de aumento”, ressaltou. A vice-governadora Celina Leão e a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, anunciaram durante o Dia D, em Santa Maria, a abertura de mais 11 tendas de hidratação, três delas vão funcionar 24 horas por dia. O DF teve um aumento de 1.575,9% de casos prováveis em relação a 2023. Segundo Celina, o GDF já realizou 300 mil atendimentos de dengue.

Processados - A indústria de bebidas e alimentos tem fome de tecnologia. Com o desafio de compatibilizar crescimento populacional e sustentabilidade, empresas do setor no mundo somarão, em 2030, R$ 3,5 trilhões investidos por ano na digitalização de linhas de produção para fazer mais com menos recursos, como energia e água. O movimento é forte em grandes processadores de alimentos como a Espanha e já chega ao Brasil, onde o setor investiu R$ 20 bilhões em inovação em 2023.
[08:50, 17/03/2024] Celso Tesoureiro Ppl Sp: Resumo de domingo - 17/03/2024 - 2ª PARTE 

Bolsonaro ignora depoimentos e lança Ramagem no Rio - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou o sábado no Rio de Janeiro, onde lançou a pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura da cidade, mesmo com o “mundo caindo” sobre sua cabeça. Foi a primeira declaração pública de Bolsonaro desde a divulgação, na sexta-feira, dos depoimentos da cúpula militar do então governo à Polícia Federal (PF) sobre uma conspiração articulada no Palácio do Planalto para anular as eleições presidenciais de 2022 e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. “Curiosamente, quando ele (Ramagem) se lança pré-candidato, o mundo cai na cabeça dele. Como vem caindo ainda na minha cabeça, porque eu sou um paralelepípedo no sapato da esquerda”, declarou o ex-presidente no ato de lançamento da pré-candidatura do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), também envolvido no inquérito que apura as responsabilidades pelos atos anti-democráticos que culminaram na depredação das Sedes do Três Poderes, em 8 de janeiro. 

Testes para Lira - Em meio às denúncias de tentativa de golpe, a semana promete desafios para o governo Lula. Há um pedido dos parlamentares para votar, antes da Páscoa, o projeto que extingue as “saidinhas” de presos e o de mudanças no ensino médio. Ambos representam risco de derrota para o governo, e tem gente na base governista pensando em pedir a Arthur Lira que não ponha os projetos em pauta. No caso do novo ensino médio, só o fato de a relatoria ter sido entregue ao deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE) já foi considerado um problema. As reuniões com o governo até aqui não conseguiram acordo, especialmente, no quesito carga horária das matérias básicas. O governo quer 2.400 horas, e o relator propôs 2.100, aumentando a carga para as optativas dos cursos técnicos de 600 para 900 horas. Em tempo: se forem a votos esta semana, a tendência é de que ambos os projetos sejam aprovados. Lira já avisou o governo que não cabe a ele, enquanto presidente da Casa, construir maioria para aprovação de propostas e/ou mudanças no texto. Esse é um papel dos articuladores do governo junto a cada partido. Ele continua na linha de defender o parlamento.

Militar foi informado que Bolsonaro sabia de carta dos oficiais - O tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros disse em depoimento à Polícia Federal que foi informado por Mauro Cid, ex-assessor de Jair Bolsonaro, que o ex-presidente tinha conhecimento de uma carta de oficiais aos comandantes militares. A declaração de Medeiros à PF foi prestada em 22 de fevereiro, no âmbito do inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que apura um plano de golpe de Estado articulado pelo grupo do ex-presidente. A PF apura se o objetivo da carta dos oficiais era pressionar o comandante do Exército em 2022, general Marco Antônio Freire Gomes, a aderir a movimentos golpistas para manter Bolsonaro na Presidência.

Minuta na casa de Torres era última versão do decreto - Investigadores da Polícia Federal dizem acreditar que o documento encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em janeiro do ano passado era a última versão de uma série de minutas golpistas discutidas por Jair Bolsonaro (PL) com aliados. O texto achado pela PF na casa de Torres era o esboço de um decreto para Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), como revelou a Folha à época. A avaliação de que se tratava da última versão das minutas, porém, foi reforçada após depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e do brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica.

Cabo de guerra - Os depoimentos de testemunhas e suspeitos e as provas obtidas pela investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de derrubar o resultado eleitoral mostram a posição e a atuação de cada integrante da cúpula do governo Bolsonaro, cujo círculo mais próximo era dominado por facilitadores do golpe.

O andamento das investigações sobre um suposto golpe no governo de Jair Bolsonaro evidenciou a atuação de duas forças diferentes no ambiente do então presidente ao final de seu mandato. De um lado, um grupo de assessores e militares é apontado pela Polícia Federal (PF) como responsável por incentivar e discutir formas de implementar medidas que previam uma ruptura institucional após as eleições de 2022. Por outro lado, uma ala menor resistiu às intenções antidemocráticas do ex-presidente. Essa divisão foi exposta nos relatos dos ex-comandantes Marco Antonio Freire Gomes, do Exército, e Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica, divulgados na última sexta-feira. Os dois militares disseram à PF que faziam parte do segundo grupo, o que mostrou descontentamento de Bolsonaro com o plano de reverter a vitória do presidente Lula nas urnas. Em sua versão, o colega Almir Garnier, ex-chefe da Marinha, engrossou o coro dos que defendiam um suposto golpe ao colocar suas tropas à disposição para uma medida antidemocrática. Garnier ficou em silêncio em seu depoimento. 

Líder do governo acena à oposição e cutuca Planalto - Durante sessão do Senado, na última terça-feira, Jaques Wagner (PT-BA) passou dez minutos em uma conversa individual com Sergio Moro (União-PR). O ex-juiz, que mandou o presidente Lula para a cadeia em 2018, pediu ao líder do governo que fosse tirado do projeto sobre as regras para a venda e produção de ouro no país um artigo que proibia a comercialização do minério extraído de terras indígenas. Wagner intercedeu junto ao relator, Jorge Kajuru (PSB-GO), para que o pleito de um dos mais ferrenhos opositores da gestão petista fosse atendido. O gesto expõe uma das artimanhas do senador pela Bahia para manter diálogo na Casa com o grupo de parlamentares de direita e assim enfrentar menos resistência para aprovar os projetos do governo. — Meu problema aqui é aprovar matéria. Só. O resto não me interessa. Não vou subir na tribuna para marcar posição — diz Wagner, ao ser questionado sobre o estilo usado para liderar o governo na Casa em um momento de polarização intensa. “Amigo de Lula há 45 anos”, como gosta de lembrar, o parlamentar não vê problema em defender posições diferentes das do presidente, mas alega fazer isso por convicção e não como estratégia política para enviar sinais à oposição. Wagner, que é judeu, fez, por exemplo, reparos à comparação feita por Lula entre a ofensiva militar de Israel em Gaza e o Holocausto. Também se posicionou a favor do fim da reeleição, em contrariedade à posição do presidente. Neste caso, o senador, que foi reeleito quando governava a Bahia, alega ter sido pego de surpresa, porque no passado Lula era contra o mecanismo. Na avaliação do congressista, a reeleição não fez bem para a política do país — ele aceita, no entanto, mudar de posição se o PT fechar questão sobre o tema. Na Esplanada, o senador tem fama de ser a única pessoa do governo com liberdade para apontar diretamente os erros de Lula. O status foi conquistado não só pela longeva amizade, mas também pelo desempenho eleitoral de Wagner: em 2006, ele desdenhou dos prognósticos negativos de Lula e do PT de São Paulo, conquistou o governo da Bahia tirando do poder o grupo político de Antonio Carlos Magalhães e inaugurando uma era que já garantiu hegemonia de 20 anos aos petistas no estado.

Reunião terá cobrança por comunicação e mais entregas - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve usar a reunião ministerial de amanhã para cobrar dos integrantes do governo mais empenho na comunicação das ações do Executivo. O movimento reflete a preocupação do Palácio do Planalto com a queda na aprovação do presidente, captada em pesquisas no início do mês. Dois ministros palacianos ouvidos pelo GLOBO afirmam que Lula tem demonstrado cada vez mais impaciência em apresentar entregas e vai cobrar dos ministros resultados de programas que já foram anunciados. O presidente quer ver ministros de todas as áreas rodando o Brasil, dando entrevistas e ocupando espaços de mídia em geral para divulgar ações consideradas positivas. Há uma avaliação entre auxiliares que esse movimento poderia ajudar a contrabalançar repercussões negativas de falas do presidente, que também acabam afetando sua popularidade. O presidente, por exemplo, comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto — extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial. Os ministros também devem ser cobrados a explorar melhor o canal direto que têm com eleitores por meio dos seus perfis pessoais nas redes sociais e a não se restringirem a assuntos de suas respectivas áreas. Em viagens, por exemplo, falar das pautas do governo de forma abrangente. Desde o segundo semestre do ano passado, os ministros têm recebido informações sobre ações do governo no estado para onde viajarão e são orientados a falar em defesa de Lula. Ministros do Planalto, no entanto, entendem que essa estratégia não está funcionando e que parte do primeiro escalão não tem conseguido propagar feitos da sua área e do governo.

Lula investe em boa relação com militares no aniversário de 1964 - A cerca de duas semanas do aniversário do golpe militar de 1964, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a estratégia de não fustigar as Forças Armadas. Decisões como a suspensão das celebrações oficiais em memória daquele 31 de março de 60 anos atrás e a demora para recriar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, no entanto, viraram alvo de críticas de historiadores que pesquisam as relações entre a política e a caserna. O Ministério Público Federal (MPF) recomendou este mês a recriação da comissão, uma bandeira do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Desde março de 2023, Lula tem pronta uma minuta de decreto para reinstalar o colegiado, mas ainda não bateu o martelo sobre quando isso ocorrerá. A interlocutores, conforme noticiou a colunista Bela Megale, Lula tem dito que se preocupa mais com o golpismo contemporâneo, manifestado no processo que culminou no 8 de janeiro do ano passado, do que com o de 1964. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já acertou com os comandantes das Forças Armadas, segundo a colunista Malu Gaspar, que não haverá manifestação oficial dos militares da ativa no próximo dia 31 de março. A intenção de Múcio, endossada pelos comandantes, é deixar o assunto de lado, em mais um esforço para distensionar o ambiente entre o Palácio do Planalto e a caserna.