Bolsonaro e Guaidó: Biden trai o ‘ocidente’

Na minha ideia, todos já deveríamos ter aprendido a sempre esperar o pior de Democratas norte-americanos liberais idealistas

Bolsonaro e Guaidó: Biden trai o ‘ocidente’

Bolsonaro e Guaidó: Biden trai o ‘ocidente’

Martin Sieff, Strategic Culture Foundation

Redação Paraíso Brasil

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Na minha ideia, todos já deveríamos ter aprendido a sempre esperar o pior de Democratas norte-americanos liberais idealistas. Esperar o pior dessa gente é a receita para mostrar-se previdente e sábio. Porque oferecer a essa gente o benefício da dúvida ou esperar de lá alguma decisão decente, humana ou de simples bom-senso sempre porá você em posição de deixar que a bomba rebente na sua cara.

Dia 10 de dezembro, sugeri nessa coluna que o presidente eleito Joe Biden poderia pelo menos melhorar as políticas dos EUA para a América Latina, sempre mal-intencionadas, hipócritas, repressivas e ruinosas, políticas que dessa vez ele receberia de seu predecessor Donald Trump. Sugeri que Biden poderia pôr fim aos esforços vergonhosos e realmente estúpidos para derrubar o presidente democraticamente eleito da Venezuela, para substituí-lo pelo imprestável Juan Guaidó – de fato pior do que apenas aparentemente sinistro,.

Sequer chegaria a ser problema para Biden, dado que Guaidó foi pessoalmente escolhido, a dedo, como o mais recente assaltante de beco, falso líder e seu brinquedinho preferido do momento, pelo então Conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, figura tão violenta, estúpida e incompetente que envergonhava até os Republicanos.

Mas não. Biden – mostrando exatamente a mesma mítica independência intelectual e de pensamento que sempre o caracteriza desde que, há 48 anos, tornou-se senador dos EUA –, está obsessivamente trilhando a mesma trilha que Bolton insistiu em trilhar. Biden está elevando as apostas no apoio a Guaidó e persevera na vergonhosa ficção de que Guaidó seria o verdadeiro presidente da Venezuela.

Biden poderia facilmente ter deixado desaparecer discretamente esse ridículo Guaidó – que também foi entusiástica e vergonhosamente defendido por fantoches como o ex-secretário de Estado Mike Pompeo e os senadores Marco Rubio Lindsey Graham – todos da ala direita dos Republicanos.

Mas, pelo menos, a decisão de agora é totalmente consistente com os padrões de tomada de decisões ao longo de toda a carreira, passada e presente de Biden. Afinal, subscreveu a guerra econômica movida pelos EUA para destruir e arruinar o povo da Venezuela, que começou com a imposição das primeiras sanções econômicas em 2014, pelo então patrão de Biden, o então presidente Barack Obama.

A prontidão com que Biden pôs-se a trabalhar – sem perder um segundo de sono – em golpes e mais golpes para derrubar o líder democraticamente eleito de nação independente localizada do outro lado do mundo, a partir de Washington, já aparecera bem claramente antes, no apoio que garantiu ao golpe de Maidan, que tão violentamente derrubou o presidente democraticamente eleito na Ucrânia, presidente Viktor Yanukovych, em 2014, no que a Wikipedia chama – e impossível designação mais farsesca – de “Revolução da Dignidade”.

E agora, claro, Biden está a cada dia mais insano, tentando intrometer-se nos assuntos políticos internos de uma superpotência termonuclear. E põe-se a tentar ‘dar lições’ ao presidente Vladimir Putin sobre o que fazer sobre Akexei Navalny, o qual Biden e seus espantalhos da política exterior (desculpem – acho que deveria escrever “equipe”) claramente selecionaram como clone de Guaidó, dessa vez para desmantelar a Rússia.

Biden nada aprendeu e nada esqueceu – como disse Talleyrand num famoso epigrama, dos últimos reis Bourbon de França no século 19. Semana passada, Aung San Suu Kyi, ganhadora de um prêmio Nobel e primeira-ministra de Myamar, graduada pela Universidade de Oxford, foi derrubada pelas forças armadas do país, depois de uma “vitória” escandalosamente manipulada nas urnas. Talvez Biden até sentisse por ela alguma empatia pessoal. Fato é que foi derrubada, e derrubada ficou.

Mas nem todos os irresistíveis poderes de influência e persuasão da “hiperpotência indispensável”, nem todos os mais perfeitos exemplos de perfeita democracia que os EUA vêm dando ao mundo e ao resto da raça humana bastaram para manter Suu Kyi no poder por um segundo a mais. E nem toda a correria e infindáveis ‘declarações’ à imprensa de Washington dão qualquer sinal de que os EUA cogitem devolvê-la ao poder em Myanmar.

Guaidó, Suu Kyi e Navalny vivem com a cabeça tão cheia dos fumos de ópio da própria ‘correção democrática’, de elogios ‘midiáticos’ e da aclamação global e do poder total que confiam que alcançarão, que é possível que jamais despertem para a realidade simples de que apostar em Joe Biden para impulsioná-lo aos píncaros do poder é como reservar, pagando antecipadamente, uma cabine de segunda classe no “Titanic.”

Mas a decisão tipicamente anal-reativa de Biden, de continuar a apoiar passivamente gente do padrão Guaidó pode vir a ter implicações mais amplas e mais graves em toda a América Latina.

Primeiro, a continuada guerra econômica e diplomática contra a Venezuela continuará a manter nações como a Colômbia, que tem seus próprios gigantescos problemas, sempre fechada em total isolamento e em confronto autodestrutivo com a Venezuela. E, agora, Biden e seu secretário de Estado Antony Blinken absolutamente não permitirão que seja diferente. Evidência disso foi a conversa telefônica dia 30 de janeiro entre Blinken e a ministra de Relações Exteriores da Colômbia Claudia Blum.

Segundo, o presidente Jair Bolsonaro no Brasil, figura pessoalmente insensata e descontrolada e inepta, a ponto de o presidente e sua entourage terem levado o vírus da COVID-19 que contaminou o círculo mais íntimo de Trump numa visita que fizeram à Florida, parece ser tolerado e até encorajado pela equipe de Biden – e lá está Bolsonaro, no governo da grande nação brasileira, e de seus mais de 200 milhões de habitantes.

Durante o governo de Trump, fantoches políticos dos EUA negaram ao povo do Brasil – a maior democracia em toda a história da América Latina – a realização do desejo afirmado e reafirmado em quatro eleições honestas, transparentes, livres e justas, de os brasileiros serem governados por sucessivos presidentes social-democratas, que optaram por se aproximar muito mais de Rússia e China, para fugir do mortal abraço traidor dos EUA.

Mas agora Bolsonaro está aberta e desavergonhadamente manipulando as futuras eleições no Brasil, para fixar, por mais um mandato, a infraestrutura da ditadura que se está implantando no Brasil. Até o momento, Biden não emitiu um pio de desaprovação contra esses movimentos vergonhosos.

Sinais iniciais de Washington indicam fortemente que Biden e Blinken adotaram a linha ‘folha de parreira’, satisfazendo-se com promessas autoproclamadas ambientalmente ‘responsáveis’ de que o governo brasileiro conterá a destruição da Floresta Amazônica, em troca de deixar livres os funcionários de Bolsonaro, para fazerem o que bem entendam, em todos os casos.

Claro, no que diga respeito a Democratas letrados, ricos e urbanos, os Democratas ‘verdes’, centenas de milhões de seres humanos podem ser servidos como comida aos lobos sem qualquer arrependimento e todos os dias, desde que sejam cultivadas também as fantasias ‘ambientais’ dos ‘verdes’.

Só a pequena Bolívia, firmemente em defesa das próprias heroicas realizações recentes sob o governo do presidente Evo Morales e de seu valoroso novo sucessor Luis Arces, ex-ministro da Economia e de Finanças Públicas, parece estar-se opondo no curto prazo contra a posição de Biden, de defesa maligna do que Trump converteu em status quo no hemisfério.

Para o restante da América Latina, o futuro não poderia ser mais sombrio.*******

Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “Strategic Culture Foundation”, do dia 16 de fevereiro de 2021.

Tradução: Coletivo Vila Mandinga