Após intervalo de 14 anos, Brasil terá novo plano nacional de Ciência e Tecnologia

Após intervalo de 14 anos, Brasil terá novo plano nacional de Ciência e Tecnologia

Após intervalo de 14 anos, Brasil terá novo plano nacional de Ciência e Tecnologia

5ª Conferência Nacional (CT&I) terá plano concreto envolvendo diversos setores; 76ª Reunião Anual da SBPC também ocorre em julho

Carla Castanho[email protected]

 

Andifes

 

Dois eventos significativos para o debate e a formulação de políticas que impulsionam o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil ocorrerão no mês que vem, em julho: a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e a 76ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). 

GGN conversou com o físico e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e com o ex-ministro da Educação e presidente da SBPC, Renato Janine, sobre as expectativas para ambos os encontros, que reunirão diversos representantes do setor e ministros. Leia mais no Especial GGN >> desafios e sinais de retomada da Ciência Brasileira.

5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)

5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação está prevista para ocorrer nos dias 30, 31 de julho e 1º de agosto, em Brasília (DF). 

Convocada pelo presidente Lula em julho de 2023, após um intervalo de 14 anos desde a última conferência, o evento tem como principal objetivo analisar os programas de ciência e tecnologia de 2016 a 2023 e propor recomendações para uma estratégia nacional de 2024 a 2030 e desafios a longo prazo, visando desenvolver um plano concreto envolvendo diversos setores. 

“Um plano é muito mais concreto do que uma estratégia, nós só tivemos um plano de Ciência e Tecnologia em toda a história do Brasil, que foi entre 2007 e 2010. Esperamos que como resultado da 5ª Conferência, o ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação convoque o grupo representativo de pessoas do governo, de ministérios, da comunidade científica, empresarial, de trabalhadores, para fazer essa proposta”, explica Sérgio Rezende.

Envolvido na causa, Rezende também chamou atenção para a organização do evento, que contou com uma série de reuniões temáticas sobre temas estratégicos, conferências estaduais, regionais e também livres, novidade deste ano. “Eu só queria só chamar atenção porque é impossível fazer isso em três dias de reunião em Brasília”.

As Conferências Livres, segundo Rezende, têm o objetivo de promover discussões sobre temas estratégicos de forma mais descentralizada, representando uma demanda espontânea da comunidade. Ao todo, 157 conferências sobre diversos temas relacionados à Ciência e Tecnologia foram realizadas, gerando um vasto acervo de conclusões e recomendações para a 5ª Conferência Nacional.

“Essa é a principal diferença para o evento de 2010, a participação dos eventos prévios entre participação presencial e on-line chegou a 70.000 pessoas, então, o desafio que nós temos é exatamente estudar todos os relatórios que foram apresentados, e os coordenadores das conferências livres assumiram o compromisso de produzir um relatório com o resumo das discussões e com as principais recomendações, o que não temos desde 2010”, acrescenta.

76ª Reunião Anual da SBPC

Também no mês que vem será realizada de 7 a 13 de julho a 76ª Reunião Anual da SBPC, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA). O tema da edição deste ano é “Ciência para um futuro sustentável e inclusivo: por um novo contrato social com a natureza”. O evento tem como objetivo difundir os avanços da Ciência nas diversas áreas do conhecimento para toda a população e debater políticas públicas nas áreas de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação. 

Sobre a escolha do tema, o presidente da SBPC, Renato Janine, explica que a ideia foi pensada de forma abrangente, a fim de destacar sustentabilidade e inclusão para tratar além da preservação da Amazônia, mas também reconhecer o papel das populações indígenas e caboclas na proteção do bioma e defender que os benefícios da bioeconomia e da economia verde sejam distribuídos de maneira a reduzir as desigualdades sociais. 

“Os movimentos sociais acreditam que esses novos termos apenas beneficiam quem já é rico. Concordamos porque entendemos que a Floresta Amazônica, segundo as descobertas científicas mais recentes, não é uma dádiva da natureza, mas ela foi sendo manejada, formada pelas populações indígenas e depois caboclas. Essas populações precisam ter o direito de serem recompensadas”.

O tema do evento também conta com um subtítulo que faz referência à ideia de contrato social, proposta pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau, expandindo-a para um contrato com a natureza. 

“A ideia de contrato social é a de democracia, mas pensamos que é um contrato com a natureza, embora obviamente não seja sujeito consciente para firmar um contrato, entendemos que o coletivo da humanidade, a sociedade, deve passar um acordo com a natureza, um acordo simbólico que é: não vamos devastá-la, não vamos destruí-la, vamos respeitá-la. Como se diz hoje, a floresta vale mais de pé do que derrubada”.

Renato Janine aproveitou para destacar os desafios na conscientização sobre práticas inadequadas, em alusão à postura do antigo Ministério do Meio Ambiente durante o governo Bolsonaro, que priorizou a exploração ambiental em detrimento da preservação.

“Aquela foto do ministro do Meio Ambiente [Ricardo Salles] em que ele aparece na frente de um monte de toras cortadas, é extremamente simbólica porque indica uma ideia de que árvores que podem ser muito antigas, talvez até mais do que um século de vida, podem e devem ser derrubadas para lucro imediatoÉ errada a frase ‘salvar o planeta’, porque o planeta não precisa ser salvo, quem está em risco de acabar é a humanidade”.