A imprensa tentou servir frito o futuro ministro do STF

A imprensa tentou servir frito o futuro ministro do STF

A imprensa tentou servir frito o futuro ministro do STF

LEANDRO DEMORI

 
Lula indica Flávio Dino para o STF
 
   

Quase três meses após a aposentadoria da ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente apresentou o substituto. Inicialmente cotado para a vaga, o atual ministro da Justiça Flávio Dino parecia ter perdido terreno na disputa pela cadeira na Suprema Corte. Porém, depois de muita especulação, acabou sendo o escolhido na última segunda-feira (27), a contragosto de parte da imprensa, sobretudo o jornal O Estado de S. Paulo, que fez de tudo para minar a candidatura de Dino. Não levou, e agora exercem o sagrado direito de espernear.

Eu fui lá contar: o Estadão publicou 21 matérias sobre Flávio Dino no dia 27 de novembro; 13 no dia 28; e 12 no dia 29. Ou seja: 46 matérias em 3 dias. Como podem imaginar, não são textos elogiosos.

     
Na verdade a família Dino está no poder desde a época da Família Dinossauro. O Estadão erra mais uma vez ????

crime da “Indicação Política”

É fato que a condição de homem de confiança do presidente pesou na escolha, mas algum presidente fez diferente? FHC colocou pessoas que não conhecia lá? Collor? A indicação ao STF é política, como manda a Constituição.

Os “ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado”, diz a Constituição. São duas instâncias políticas eleitas pelo povo. Se alguém tenta desqualificar a indicação de Dino apontando para o fato de ser uma “indicação política”, saiba, essa pessoa vai tentar nos ensinar que a água é molhada. O problema não é esse, mas sim, os nomes específicos em cada indicação. Nunes Marques que o diga. André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”, também.

Estadão em pânico

O Estadão publicou 21 matérias sobre Flávio Dino no dia 27 de novembro; 13 no dia 28; e 12 no dia 29. Ou seja: 46 matérias em 3 dias.

   
“O que será que Flávio Dino esconde neste ovo?”, será a próxima manchete do jornal.

Estadão em pânico II

Vejam a diferença: no print 1, o Estadão (em editorial) faz uma crítica amena ao fato de André Mendonça ter chegado ao STF por ser "terrivelmente evangélico", e pede ao leitores: "a partir de agora, portanto, os olhares devem estar voltados para o futuro."

E o jornal ressalta, no texto sobre Mendonça: "Evidente que toda indicação ao STF é política. A própria Corte é eminentemente política." O que está correto: se pela nossa Constituição a escolha dos ministros cabe ao presidente e aprovação cabe ao Senado, é política. A água é molhada.

   
Print 1: editorial do Estadão sobre a indicação de André Mendonça.

Agora, no print 2, o tratamento dado a Flávio Dino: "Ao indicar Dino, Lula deixa claro de uma vez que STF deixou de ser instância jurídica e se transformou em arena política".

No caso de Mendonça, portanto, temos algo como "ah tudo bem, o cara chegou lá por ser evangélico, mas toda escolha é política, bola pra frente".

No caso de Dino: "Lula destruiu o STF fazendo indicação política".

Jornalismo profissional, isento e neutro, eles dizem. Militantes são os outros.

   
No mundo lá fora

Parte da militância de esquerda não viu a indicação de Dino com bons olhos. Campanhas foram encampadas na tentativa de persuadir Lula a indicar uma mulher negra para o cargo, mas, ao que tudo indica, a ideia não parece ter sido nem ao menos ventilada, uma vez que Lula afirmou que gênero e raça não seriam critérios para a escolha. O nome de Flávio Dino foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e agora o ex-governador do Maranhão aguarda pela sabatina no Senado Federal.

Com o sumiço de nomes femininos em cargos do alto escalão do Governo, o nome da ministra do Planejamento, Simone Tebet, aparece como um dos candidatos à vaga deixada por Dino no Ministério da Justiça. A intenção é agilizar o processo da sabatina para que ao menos a aprovação no Senado ocorra ainda este ano. Caso contrário, tanto a sabatina quanto uma eventual posse só ocorreriam em fevereiro ou março do ano que vem.

Discussão na Globo news

A imprensa não-Estadão repercutiu de forma bastante acalorada, digamos, a escolha de Lula para o STF. Na Globo News, Gerson Camarotti e Demétrio Magnoli trocaram farpas ao vivo durante o programa Em Pauta. Magnoli tentou desqualificar a indicação e afirmou que Dino não possuía “notório saber jurídico”, considerado um requisito básico para assumir um cargo na Suprema Corte. Já Camarotti defendeu a indicação e ainda disse ao colega: “Você está com um olhar irônico, isso é desagradável”. A discussão só foi encerrada após a intervenção do apresentador Marcelo Cosme. Dino, pra lembrar, passou em primeiro lugar no concurso para juíz federal.

Negacionista na Jovem Pan

Já na Jovem Pan, a convidada Paula Schmitt deu declarações bizarras acerca da indicação de Dino. "Eu até admiro o fato de ele ter sido colocado por uma cota. Não foi isso? É... Obesidade. Não sei se é obesidade. Eu ouvi dizer que tem que ter representatividade. Teve uma jornalista da CNN que falou sobre isso. Acho que ela entrou em uma cota também. Então eu sei que ela queria que ele fosse coleguinha de cota. Aí falaram que ele era pardo, né? As ideias assim que saem da cabeça de uns jornalistas é uma coisa fascinante até”.

Paula Schmitt é uma notória negacionista que fez fama durante a pandemia batendo palma para a extrema direita. Em sua coluna, mantida pelo site Poder 360, ela publica informações falsas sobre vacinas e tratamento alternativos. O site já foi alertado inúmeras vezes, mas parece não se importar.

Corrida eleitoral

Na busca pela aprovação no Senado, ao longo da semana, Dino se reuniu com vários senadores, inclusive da oposição. A princípio, a sabatina deverá ocorrer por volta do dia 15 de dezembro, juntamente com o indicado por Lula para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Paulo Gonet.