O Banco Central abandona o Brasil e desiste do crescimento
O último Boletim Focus do Banco Central publicado no dia 19 de junho, projetou uma meta de inflação para o ano de 2020 abaixo do limite inferior da meta, beirando 1,60%. Inflação com meta fixada de 4% ao ano com espaço para flutuação de 1,5 p.p. Esta projeção abaixo do limite inferior da meta era esperada para este ano, essencialmente por conta do efeito do coronavírus sobre a cadeia produtiva.
No dia 25 de junho de 2020, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, emitiu uma nova resolução em que alterava a meta de inflação para o ano de 2023 e reduzia o centro da meta mais uma vez. A meta de inflação para o ano de 2021 estava proposta para míseros 3,75%, com flutuação de 1,5 p.p., esta nova resolução, projeta para o horizonte uma meta de inflação de 3,25%, mantendo o limite de flutuação. Leia na integra a resolução:
RESOLUÇÃO N° 4.831, DE 25 DE JUNHO DE 2020
Fixa a meta para a inflação e seu intervalo de tolerância para o ano de 2023.
O Banco Central do Brasil, na forma do art. 9º da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, torna público que o Conselho Monetário Nacional, em sessão realizada em 25 de junho de 2020, tendo em vista o disposto no § 2º do art. 1º do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999,
R E S O L V E U:
Art. 1º É fixada, para o ano de 2023, a meta para a inflação de 3,25% (três inteiros e vinte e cinco centésimos por cento), com intervalo de tolerância de menos 1,50 p.p. (um e meio ponto percentual) e de mais 1,50 p.p. (um e meio ponto percentual).
Art. 2º O Banco Central do Brasil efetivará as necessárias modificações em seus regulamentos e normas, visando à execução do contido nesta Resolução.
Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Roberto de Oliveira Campos Neto
Presidente do Banco Central do Brasil
Isto implica em pouco espaço para manobrar a política monetária e fiscal de maneira que possa atingir o Pleno Emprego, se considerada a necessidade de crescimento econômico, com uma meta de inflação tão baixa, o Banco Central do Brasil está sinalizando para os agentes econômicos que não haverá crescimento e que devem ajustar as suas expectativas ao redor da meta definida.
Observando de maneira crítica, o Banco Central está fixando o futuro com um olhar pessimista, crível a esta altura, mas prejudicial se estendido neste espaço de tempo. Sendo assim, diante do cenário projetado, a tendência é que os empresários observem um futuro pouco promissor para o consumo e o investimento, buscando reter a liquidez e, logo então, agravando a situação (que particularmente não é reflexo do coronavírus, visto a capacidade instalada ociosa de 1/3 do setor produtivo no ano passado) pandêmica.
Como Keynes bem observa no Quinto Capítulo da Teoria Geral, a economia é movida pelas expectativas dos agentes econômicos em obter lucro, portanto, ela é determinante do Produto e do Emprego. Keynes (1936) discute que “No caso de adições ao equipamento de capital ou mesmo de vendas a distribuidores, estas expectativas a curto prazo dependerão, em grande parte, das expectativas a longo prazo (ou prazo médio) de outrem. São estas diversas expectativas que determinam o volume de emprego oferecido pelas empresas.” (KEYNES, 1936, p. 77)
Ao projetar este cenário, sem conduzir a economia, o Banco Central lança a mão (mais uma vez) de estabilizar as expectativas de investimento de médio e longo prazo. Portanto, não há como eximir a instituição de culpa, frente ao processo retrógrado liberal de interpretação e condução da economia.