Jornalistas de todo o mundo se levantam em defesa de Assange e da liberdade de imprensa
Governo britânico assinou extradição do fundador do Wikileak para os EUA, onde pode pegar prisão perpétua por ter denunciado crimes do exército americano nas invasões do Iraque e do Afeganistão
Jornalistas de todo o mundo se levantam em defesa de Assange e da liberdade de imprensa
Governo britânico assinou extradição do fundador do Wikileak para os EUA, onde pode pegar prisão perpétua por ter denunciado crimes do exército americano nas invasões do Iraque e do Afeganistão
Por Gabriel Valery, da RBA
Wiki Commons
Entidades brasileiras somam-se às Federações Europeias de Jornalismo (EFJ) e à Internacional de Jornalistas (IFJ), que também se manifestaram em defesa de Assange
São Paulo – Entidades de imprensa em todo o mundo repudiaram a assinatura da extradição do jornalista Julian Assange para os Estados Unidos. O fundador do Wikileaks é um ativista pela liberdade de imprensa e está preso na Inglaterra desde 2019. Antes disso, ficou exilado por sete anos na embaixada do Equador, no mesmo país. O governo norte-americano quer julgar Assange por suposta “espionagem” pelo vazamento de documentos do exército do país que apontavam uma série de irregularidades em operações militares no Afeganistão e no Iraque.
“A decisão pode estabelecer um precedente perigoso a ser aplicado a qualquer jornalista, meio de comunicação ou fonte, em qualquer lugar do mundo, que publique notícias baseadas no vazamento de informações de interesse público”, afirma a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em nota conjunta.
Interesse público
As entidades brasileiras somam-se às Federações Europeias de Jornalismo (EFJ) e à Internacional de Jornalistas (IFJ), que também se manifestaram em defesa de Assange. “Esta decisão, que envergonha o governo britânico, deixará autocratas e inimigos da liberdade de imprensa felizes. Pode criar precedentes que serão suficientes para acusar jornalistas que exponham crimes de guerra ou corrupção. É um verdadeiro escândalo”, disse a presidenta da EFJ, Maja Sever.
O presidente da IFJ, Dominique Pradalié, reforçou a fala de Maja: “A decisão do governo britânico de permitir a extradição de Assange é vingativa e uma verdadeira bomba contra a liberdade de imprensa. Assange simplesmente expôs problemas de interesse público e a falha em reconhecer isso é vergonhoso e cria um precedente terrível para todos aqueles que diariamente lutam pela verdade. Nossa esperança agora repousa em um apelo contra essa decisão. Todos os jornalistas devem apoiar Assange, que revelou crimes de guerra do exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão”.
Assange francês
Enquanto jornalistas do mundo se levantam contra o ataque à liberdade de imprensa, o líder da esquerda francesa, Jean-Luc Mélenchon também se posicionou sobre o caso. A França está em meio a eleições parlamentares, e o país deve escolher seu novo primeiro-ministro na segunda-feira (20). Mélenchon está entre os favoritos para assumir o cargo. “Se eu for primeiro-ministro na segunda-feira, o senhor Julian Assange – que julgo que fez o pedido – será naturalizado francês e nós pediremos que ele seja transferido para França”, disse o socialista.
Leia a nota das entidades brasileiras na íntegra:
Apesar de todas as pressões, o governo britânico assinou, na manhã desta sexta-feira (17/06), a ordem para extraditar Julian Assange para os Estados Unidos. A decisão foi anunciada pela Secretaria Nacional do Interior, comandada por Priti Patel, sob o argumento de que os tribunais do Reino Unido não entenderam que a extradição seria injusta ou incompatível com os direitos humanos.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) somam-se às Federações Europeia (EFJ) e Internacional de Jornalistas (IFJ) e classificam a decisão como um duro golpe contra a liberdade de imprensa.
Para as entidades, a decisão pode estabelecer um precedente perigoso a ser aplicado a qualquer jornalista, meio de comunicação ou fonte, em qualquer lugar do mundo, que publique notícias baseadas no vazamento de informações de interesse público.
Os EUA querem julgar o jornalista pelo vazamento de documentos obtidos com o ex-oficial de inteligência do exército, Chelsea Manning, que apontavam irregularidades das forças americanas no Iraque e no Afeganistão. Os documentos foram publicados no site WikiLeaks e reproduzidos pela mídia internacional.
Julian Assange responde por 17 acusações sob a Lei de Espionagem e uma acusação sob a Lei de Fraude e Abuso de Computadores, que combinadas podem levá-lo à prisão por até 175 anos. É altamente provável que ele seja detido nos EUA em condições de isolamento ou confinamento solitário, apesar das garantias do governo norte-americano, o que exacerbaria severamente seu risco de suicídio.
Cidadão australiano, Assange permanecerá na penitenciária de segurança máxima Belmarsh, em Londres, onde está desde 2019, aguardando a tramitação do pedido de extradição feito pelos EUA. A defesa do fundador do Wikileaks tem agora 14 dias para tentar um recurso contra a decisão. A batalha judicial, portanto, não está encerrada.
As entidades instam o governo australiano, para que assegure a integridade de seu cidadão. E o governo britânico, para que reveja a decisão com base nos critérios da liberdade de imprensa e seus desdobramentos para o jornalismo mundial. Por fim, conclamam todos/as os/as jornalistas a apoiarem Julian Assange e a defesa intransigente do exercício profissional. O jornalismo e os/as jornalistas não podem ser criminalizados!
Brasília, 17 de junho de 2022.
- Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
- Associação Brasileira de Imprensa – ABI
- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji
- Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC