A esquerda mundial deve liderar a luta contra a Otan e o imperialismo, apontam líderes russos

A esquerda mundial deve liderar a luta contra a Otan e o imperialismo, apontam líderes russos

A esquerda mundial deve liderar a luta contra a Otan e o imperialismo, apontam líderes russos

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Gennady Zyuganov, presidente do PC Russo e Vladimir Putin, presidente da Rússia (Fotomontagem HP)

Articulistas do Valdai Club defendem que a esquerda mundial entre firme na luta anti-imperialista. “Isto servirá tanto ao interesse nacional de cada país como ao interesse geral da Humanidade”, afirmam. Gennady Zyuganov, líder do PC Russo, é hoje um dos mais lúcidos e contundentes defensores da unidade contra a Otan

O artigo “Uma esquerda anti-imperialista mundial: porque é necessária e o que deve fazer“, de autoria de Alan Freeman e Radhika Desai, pesquisadores da Universidade de Manitoba, no Canadá, publicado e debatido recentemente no site do “Valdai Discussion Club”, um dos principais “think tanks” russos, aponta as mudanças que ocorrem na política interna e externa do Kremlin e a necessidade urgente do surgimento de uma esquerda mundial anti-imperialista.

O IMPÉRIO E OS NAZISTAS

O texto divulgado pelo “Valdai” afirma que, diante da ofensiva do imperialismo americano e de seu reforço aos bandos nazistas da Europa, particularmente da Ucrânia, os integrantes do governo russo, a elite política e, principalmente, o presidente Vladimir Putin, estão se afastando rápida e radicalmente das posições que pregavam a adulação do imperialismo e que prevaleceram no país durante um bom tempo.

A aproximação mais recente e a unidade cada vez mais estreita entre o governo de Putin e o Partido Comunista da Federação Russa revelam também que está havendo uma coesão crescente da sociedade russa e de seus dirigentes políticos na luta contra o imperialismo.

Os autores destacam que, diante do aumento da agressividade do imperialismo americano – tão mais agressivo quanto mais decadente -, a esquerda em todo o mundo deve se unir e entrar na luta contra a politica de guerra da Otan.

Ela deve “passar a representar as pessoas que são comprometidas com uma ordem mundial multipolar justa e pacífica”, argumentam. “Isto”, dizem os autores, “servirá tanto ao interesse nacional de cada país como ao interesse geral da humanidade”.

AUSÊNCIA NA LUTA CONTRA A OTAN

O texto critica a ausência dos movimentos de esquerda na luta contra a Otan. “No Ocidente, os partidos que se identificam como ‘esquerda’ e os supostamente de esquerda, endossam quase unanimemente a guerra por procuração liderada pelos EUA contra a Rússia”, denuncia o artigo.

Alan Freeman e Radhika Desai, os autores, relembram e destacam outros momentos da história da Humanidade em que a esquerda esteve unida na luta contra a exploração econômica e as injustiças do grande capital contra os trabalhadores e os povos.

“Baseamos nosso caso em uma avaliação histórica da última organização desse tipo, a Internacional Comunista ou Comintern, fundada em 1919 e dissolvida em 1943, e suas duas antecessoras, a Associação Internacional dos Trabalhadores ou ‘Primeira Internacional’, fundada em 1864 e dissolvida em 1872, e a Segunda Internacional ou Internacional ‘Socialista’, fundada em 1889 e dissolvida em 1914”, dizem eles.

A Segunda Internacional foi dissolvida, como acima referido, em 1914, exatamente no momento em que os seus líderes traíram a causa do socialismo e se aliaram aos promotores da primeira guerra imperialista mundial. Há sinais claros de que uma parte dos movimentos que se consideram de esquerda estão atualmente, com consciência ou não, agindo da mesma forma que fizeram os pseudo-socialistas de 1914.

“O Comintern, a terceira tentativa de uma organização mundial única da classe trabalhadora”, prosseguem os autores, “foi tão filho da revolução histórica de 1917 quanto a União Soviética”.

DISSOLUÇÃO DA URSS: MAIOR TRAGÉDIA DO SÉCULO XX

Segundo o texto, muitos russos, incluindo o presidente Vladimir Putin, estão reconsiderando a ideia de que teria sido acertada a dissolução da URSS. Neste sentido mesmo, o presidente Vladimir Putin chegou a afirmar em 2007, que a dissolução da União Soviética “foi a maior tragédia geopolítica do século XX”.

 

O artigo destaca ainda que a ausência da ‘esquerda’ na luta contra a Otan e o imperialismo tem causado muita confusão na luta dos povos. “Muitos governos da direita, como a Índia, a Arábia Saudita e a Turquia, se opõem ativamente às sanções contra a Rússia, promovem relações comerciais alternativas às até agora impostas pelos EUA e insistem em que as legítimas preocupações de segurança da Rússia sejam devidamente consideradas”, apontam os articulistas.

Eles alertam para o fato de que esta indefinição ou mesmo este ‘equívoco’ de forças que se consideram de esquerda, de se ausentarem da luta contra a Otan, “levou muitos setores da ala nacionalista da política russa a concluir que os interesses de seu país exigem alianças com os partidos da direita ocidental – notadamente o Partido Republicano trumpista”.

“Por outro lado, os partidos ocidentais de ‘esquerda’ justificam seu apoio aos objetivos de guerra da Otan como necessários para derrotar as forças de direita, com as quais se une o atual governo russo”, afirma o texto. Tudo isso joga muita água no moinho da mentira, da confusão e, no final das contas, do Império e na guerra.

GUERRA MUNDIAL EM GESTAÇÃO

O “Valdai Discussion Club” chamou a atenção, durante esses debates, para a gravidade do momento que vive o planeta e alerta para os riscos da nova guerra imperialista em gestação. Uma guerra que vem sendo fomentada intensamente pelo governo dos EUA.

A ausência da esquerda, particularmente a europeia, na luta contra a Otan é um problema que afeta todo o mundo, dizem os autores. “À medida que as potências da Otan, lideradas pelos EUA, escalam o conflito na Ucrânia para uma nova guerra mundial, esse desequilíbrio está se tornando intolerável”, advertem.

Os debates no “Valdai Club” mostram ainda que o partido de Putin, o Rússia Unida, e o PC da Federação Russa estão vivendo um processo intenso de unidade e luta contra a agressão da Otan.

Em discurso na Duma de Moscou no dia 16 de maio, o presidente do partido, Gennady Andreyevich Zyuganov, falando em nome dos deputados da segunda maior bancada do parlamento russo, defendeu a “unidade da Pátria para derrotar a agressão imperialista”. “Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para unir a sociedade”, disse ele.

“Nossa causa é justa – a vitória será nossa!”, disse ele. “No entanto”, destacou Zyuganov, “é urgente que o governo e o seu partido enfrentem e superem os problemas que ainda existem”. “Lembremo-nos que a vitória na Grande Guerra Patriótica só foi conquistada depois que reconstruímos a máquina econômica, criamos uma indústria poderosa, revivemos a grande ciência, fizemos tudo para educar comandantes patrióticos”, disse ele.

RESGATAR A ERA SOVIÉTICA

“Para vencer”, prosseguiu Zyuganov, “precisamos nos unir e resgatar a grande Era Soviética com suas grandes conquistas e com o desejo comum das forças progressistas de todo o mundo de combater o fascismo”.

“Mais da metade do pessoal do exército vitorioso de 11 milhões de integrantes da União Soviética na guerra contra a Alemanha nazista eram comunistas e membros do Komsomol”, lembrou o dirigente dos comunistas russos.

“Sete em cada dez comandantes que invadiram Berlim eram professores e diretores de escolas soviéticas. E hoje o partido no poder é obrigado a lembrar-se disso, e a não ceder à anti-União Soviética e à calúnia do nosso passado”, enfatizou o líder do PC.

Zyuganov descreveu a energia patriótica que vem se espalhando no país e falou do fórum antifascista realizado recentemente em Minsk, na Bielorrússia. “O fórum reuniu delegações de mais de 50 países. Os representantes da China falaram brilhantemente. Mesmo os antifascistas europeus – alemães, húngaros e portugueses – não vacilaram”, relatou o presidente do PC Russo, no encerramento de seu discurso na Duma de Moscou. Ele enfatizou a defesa da unidade férrea de todo o povo para a defesa da Pátria agredida pela Otan.