POR UMA NAÇÃO COLETIVA
Há muito tempo perdura em nosso país uma profunda descrença em relação à política. Sempre foi assim, e provavelmente sempre será. Tal sentimento negativo, como conseqüência de tantos escândalos sucessivos, é o mesmo que invadiu as mentes de muitos jovens de ontem, que assola os de hoje, e, certamente, será o senso comum da análise política elaborada por nossos filhos. E o resultado natural desta descrença é conhecido: uma massa de jovens analfabetos políticos, sujeitos a manipulações nocivas ao futuro da pátria brasileira, no momento em que deixam de questionar o porquê desta realidade.
É dessa forma que os jovens se tornam coniventes com a pulverização gradativa de um conceito de nação coletiva. Muitos sequer questionam a idéia de um país que realmente seja para todos, e não somente para alguns. A mesma população que elege é a que depois critica. Óbvio demais, não é mesmo? Em todos os processos eleitorais prega-se a renovação, mas a obviedade das mazelas sociais, políticas e econômicas persistem no tempo.
Nos discursos proferidos, a intenção de manter acesa a esperança do povo está sempre presente. Afinal, o povo vive de esperança, e os políticos vivem da esperança do povo. Mas o que este povo tão sofrido não pode jamais esquecer, é que aqueles que os representam devem estar comprometidos com causas públicas. É o bem comum da sociedade que está em jogo. É a pretensão de colocar em prática um ideal de nação coletiva, onde todos os brasileiros estejam inseridos.
Vale lembrar que não existe fatalismo na política, pois ela será o que nós fizermos dela. Portanto, é determinante o entendimento exato de coisa pública, e jamais misturar tal conceito com o âmbito de interesse privado. Mais do que isso. Os homens públicos devem estar preparados para enfrentar a difícil tarefa de nunca ceder às tentações do poder, e, ao mesmo tempo, combater detentores de privilégios. Afinal, um político é apenas um empregado do povo. Ou pelo menos assim deveria ser.
É hora de aplicarmos na prática a essência de uma nação coletiva. Mas o que é mesmo uma nação? Ernest Renan, escritor, filósofo e historiador francês que viveu no Século XIX, em conferência realizada na Sorbonne, em 11 de março de 1882, assim a definiu: “Uma nação é uma alma, um princípio espiritual”. “Uma nação é, então, uma grande solidariedade, constituída pelo sentimento dos sacrifícios que fizeram e daqueles que estão dispostos a fazer ainda”.
O Brasil ainda é um bebê em relação à democracia e, por isso, ainda é preciso consolidar a cultura do coletivo, contrapondo-nos ao perigo de sacramentar uma sociedade alienada, individualista, amoral e sem identidade cultural. Seguidamente nos deparamos com uma pergunta básica: “O que eu vou ganhar com isso?” Porque então não começarmos a perguntar “O que o meu país ganha com isso”?
Christopher Goulart
Presidente da Associação do Memorial João Goulart